Se vivo fosse, Bertold Brecht provavelmente teria que responder a pergunta se a poesia, “Há homens que lutam um dia, e são bons” teria sido feita diretamente para o Zé Dirceu. Digo isto porque ao completar seus 73 anos de idade, o Petista continua sendo referência para a esquerda brasileira. Quer seja por seu passado de luta, quer seja por suas lucidas palavras ditas em reuniões por todo o Brasil.
Dirceu é um dos maiores conhecedores da realidade brasileira. E ouvir é sempre como estar em um banco das melhores universidades do país tendo uma aula de história. Há sempre algo novo a se conhecer.
Talvez quando saiu de Passa Quatro, lá da Minas Gerais, ainda na sua juventude, o hoje político, não tenha tido a mínima ideia de que a sua vida iria se transformar. Como ele mesmo narra em seu livro de memorias, foi preciso conhecer a luta do povo para poder descobrir a realidade em que se vivia.
Participar da “Guerra da Maria Antônia” entre estudantes de filosofia contra alunos do Mackenzie, Participar do congresso da UNE em Ibiúna, ser preso, trocado pelo embaixador dos Estados Unidos, Charles Elbrick, em 1969, deportado e ir parar em Cuba, para depois retornar clandestinamente ao Brasil por dois períodos antes da Anistia Geral que trouxe de volta ao país os degredados políticos pelo regime militar.
Ainda na clandestinidade, Dirceu monta residência na cidade de Cruzeiro do Oeste no Paraná. Mesmo na ilegalidade, o político nunca parou de atuar.
Foi um dos responsáveis pela criação do maior partido das Américas, o PT, junto com Luís Inácio Lula da Silva. Presidente da agremiação, foi o responsável por transformar uma legenda política em vencedora eleitoral. Foi neste período que surgiu o “marketing político de resultados” nas campanhas.
Com a eleição de Lula, Dirceu foi alçado ao cargo de ministro-chefe da Casa Civil. Toda a articulação do governo passava por ele. De tão competente, era o candidato natural do Partido dos Trabalhadores a sucessão de Lula. Mas foi abatido por uma denúncia. E como uma fênix, o Comandante, como é chamado carinhosamente pela militância Petista, ressurgiu no cenário e influencia o debate interno como poucos até hoje.
José Dirceu de Oliveira e Silva já poderia se dar por satisfeito por tudo o que contribuiu politicamente para transforma a vida dos brasileiros. Mas quem o conhece e convive de perto sabe que, está distante o descanso. Ele é o personagem da poesia de Brecht citado no inicio do texto:
“Há homens que lutam um dia, e são bons;
Há outros que lutam um ano, e são melhores;
Há aqueles que lutam muitos anos, e são muito bons;
Porém há os que lutam toda a vida
Estes são os imprescindíveis.”