Precipitar opiniões em tempos de golpe e de informações céleres, quando as derrotas em nosso campo se sucedem a todo momento, talvez seja o erro mais comum e perdoável que ocorra, tanto entre os anônimos quanto entre as figuras proeminentes do setor progressista. Vivemos num período de profundas incertezas e medos. Medos irreais ou não. Certezas? Sobraram muito poucas. Mas as incertezas povoam os dois lados em disputa. Neste tocante, não há espaço para a neutralidade, um fato.
Por mais que tentemos prever o amanhã político no nosso país, conjecturar sobre possibilidades (um direito natural do cidadão ativo e consciente politicamente) ou impossibilidades, a verdade é que ninguém sabe como vai ser escrito o caminho logo à frente. Existem sim indicativos, estes muito tenebrosos. Mas, ainda assim, cheios de variantes de um jogo ainda não jogado.
Opções estão sendo colocadas à mesa. E nestas opções, também se tenta impor certos atores que, em nenhum momento da história, conquistaram o direto de sequer sonhar em liderar um país. São atores que dependem da imponderável decisão de um partido em dizer aos seus combalidos, mas ainda resistentes apoiadores, que devem deixar um ferido à própria sorte no campo de batalha.
Mesmo que os argumentos pragmáticos, tão utilizados pelo Partido dos Trabalhadores a partir do ano de 1983, quando a legenda abraçou democraticamente a hercúlea tarefa de ganhar as massas, sejam agora utilizados para justificar a chance de minimizar o estupro que vem sendo cometido no Brasil pelos canalhas golpistas, um pedido formal para que o PT olhe o outro candidato é, no mínimo, uma crueldade sem tamanho, inominável. O fato de apenas imaginar apoiar um outro candidato, enquanto seu maior líder sofre nas masmorras do golpe, já ganha um nome. Este nome é traição.
Pedir para o partido que mais lutou pelo país, que mais capilaridade tem na população, que mais ganha filiados entre os grandes, que mais detém a preferência popular e o eleitorado, que ainda tem o melhor Projeto de País e que ainda está vivo e consciente abrir mão do seu direito de ir em frente não é só infantil, é também cínico.
Quando um grupo político pequeno, uma pequena sigla ou um movimento decide apoiar o que chamam de "menos pior", o faz por lógica. Já o contrário seria absurdo.
Não é a união das esquerdas que vai salvar o país. O que vai impedir a concretização do golpe é o apoio irrestrito ao único sujeito que foi capaz de dar esperança à Nação.
Nós, os petistas, chegamos até aqui quando ninguém mais poderia aguentar. Carregamos estigmas e somos atacados, fisicamente ou na alma. Mas chegamos até aqui com Lula. Simplesmente não dá mais para abandonar ninguém, muito menos uma ideia. Seria pedir demais.
Aqueles que partiram para outros horizontes captaram tudo o que há no instante atual. Mas se esqueceram de algo que, mesmo sendo subjetivo (e até abstrato), permeia o Brasil e o brasileiro no seu subconsciente há quase 4 anos. Isso que está implícito em cada manchete de jornal, em cada golpe dado à nossa soberania e nas nossas conquistas sociais começou antes, mas cristalizou numa coisa chamada traição, quando Dilma Rousseff perdeu o direito de governar.
Diante disso, exigir a plenos pulmões que devemos fazer o que deve ser feito em nome do país, fazendo com que viremos as costas para o companheiro que mais deu seu sangue e suor por todos nós, não está certo.
Entendam de uma vez por todas que o brasileiro poder perdoar e até esquecer tudo. Só não esquece e nem perdoa a traição.
Por Tarcisio Vargas.