Ontem, com a televisão ligada no jogo e eu concentrado no notebook, mal conseguia prestar atenção na narração. Minha dispersão era tamanha que só percebi a movimentação em campo quando a queda da bandeirinha de escanteio chamou mais atenção do que o próprio jogo. O locutor, em um esforço forçado de intimidade, arriscou apelidos para o técnico Carlo Ancelotti. O resultado? Um momento constrangedor e artificial.
A derrota da seleção brasileira em 1982 não foi a maior tragédia daquele ano. A verdadeira calamidade foi a Itália conquistar a Copa do Mundo com um futebol feio, pragmático e sem alma. Desde então, a imprensa ajudou a consolidar a ideia de que futebol é apenas resultado. Grave erro! Afinal, até hoje a seleção de 82 é lembrada com carinho, mesmo sem ter vencido o Mundial. Era um futebol vistoso, envolvente, admirado por quem ama o esporte. Hoje, não apenas perdemos, como jogamos feio e somos facilmente ridicularizados por qualquer seleção. O respeito pela amarelinha se esvaiu.
Ancelotti não é, e nunca será, a salvação para o retorno do futebol arte. O Brasil está caminhando para dias sombrios caso continue insistindo em jogadores que não demonstram amor pela camisa, que veem a convocação como mera vitrine para contratos milionários. Sem identidade, sem alma, sem coragem, nossa seleção está se tornando apenas mais um time comum no cenário internacional.