"A democracia é vida. E na vida se edifica. Na luta se sustenta e pela luta se espalha." (Marcelo Déda)
Segunda-feira, dia 22/10/2018, semana de eleições. Escrevo pra esse cara, que talvez não vá ler, pq talvez não exista esse tal outro lado. Mas escrevo assim mesmo, com o coração cheio da esperança que herdei dele.
Old man, já estou acostumada a ouvir das pessoas sobre a falta que você faz. Sempre alguém me puxa num canto e diz “seu pai faz falta nesse estado, nesse país”. Mas essa eleição é diferente. Eu vejo o desespero no olho de quem me aborda pra dizer “Déda deveria estar aqui agora”. Você costumava dizer que eu te via como um herói de história em quadrinho, mas que você era apenas um personagem dos quadros da História. Hoje, com maturidade, entendo o que você queria dizer. Você foi realmente apenas um personagem dos quadros da História (maiúsculas respeitosíssimas!), mas um personagem essencial, um personagem cuja ausência grita nos quatro cantos dos quadros.
Hoje, meu pai, nosso país pode eleger um fascista pra presidência. E escrevo isso com lágrimas nos olhos. Lembra quando estudei Hannah Arendt na faculdade e liguei pra dizer o quão horrorizada eu estava? Não chega nem perto do horror que sinto agora. Pessoas próximas, familiares, amigos que cresceram comigo... Pessoas normais estão declarando voto (isso pra não falar nos que votarão nulo em tempos como esse) em um homem que PUBLICAMENTE DEFENDE A TORTURA, A DITADURA, BRILHANTE USTRA. Um homem racista, machista, homofóbico, sem escrúpulos. Um homem que afirma em discursos que as minorias devem se curvar às maiorias – ou simplesmente DESAPARECERÃO. Um homem que representa a mais alta ameaça à nossa tão sofrida e jovem Democracia (mais uma vez, letra maiúscula em forma de respeito). Isso pra não entrar na incapacidade intelectual, na corrupção e nos mil outros defeitos deste homem (sim, um homem, não um monstro com garras... não é assustador?).
Quando você imaginaria isso, velho Déda? Fomos pegos de surpresa. Por mais que os sinais gritassem, a gente não entendeu... Na verdade, talvez você, com essa inteligência fora da média, já tivesse cantado a pedra. Eu não. Eu ainda custo a acreditar.
Termino essa espécie de carta (?) pra te dizer que apesar do medo, apesar da tristeza, apesar de tantos pesares, eu tenho esperança. Graças a você, minha mãe, meus irmãos, minha madrasta, meus tios, primos, avós, amigos. Eu acredito ainda no que você costumava de chamar de arma do povo: a Política. Com P maiúsculo. Sei que os próximos quatro anos podem (PODEM, a batalha não está perdida) ser de terror, talvez sem tanques nas ruas, um terror velado. Mas eu tô pronta. Eu e um batalhão. Não vamos desistir. Pode ficar tranquilo onde estiver, a luta só começou.
Te amo. A saudade ta mais forte que nunca.
Luísa Barreto Déda - filha do ex-governador, Marcelo Déda
#Dédapresente