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Motivações em trabalhar como gerente operativo da RIPESS

4 de Junho de 2012, 21:00 , por Desconhecido - 0sem comentários ainda | No one following this article yet.
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Comecei, a partir de junho de 2012, a trabalhar em tempo parcial como genrete operativo da RIPESS (Rede Intercontinental de Promoção da Economia Social e Solidária). Segue abaixo a carta que expressa as minhas motivações em assumir esta tarefa. Ela foi enviada ao Conselho de Administração da Ripess como parte do processo de seleção, em abril deste ano.


Carta de motivações

Abril de 2012

Estamos vivendo um momento turbulento da história. Um momento de múltiplas crises: ambiental, financeira, política, social e cultural. Trata-se de uma crise civilizatória. Ela tem engendrado, por um lado, manifestações populares (como as/os indignadas/os e occupy) e, por outro lado, reações cada vez mais duras do grande capital às mesmas. A noção de que “algo vai mal” já começa a chegar para a/o cidadã/o comum. E isso abre uma janela de abertura à proposição de alternativas ao atual modelo de sociedade e de desenvolvimento.

Minha primeira motivação no cargo de gerente operativo da Ripess é estar conectado a esta esfera de eventos em nível internacional e contribuir efetivamente na construção de alternativas concretas a estas crises, a partir das práticas e iniciativas de Economia Social e Solidária.

Vejo a Economia Social e Solidária como um movimento social, que tem muito a oferecer ao mundo no atual contexto histórico. Acredito que a Ripess tem um papel importante em avançar para a consolidação e expressão deste movimento de democratização da economia a partir das redes e lutas nos países e regiões.

Sendo um movimento social, entendo que a Economia Social e Solidária deve se articular cada vez mais com outros movimentos sociais, em especial os indígenas, de mulheres, de agroecologia, de reforma agrária, de soberania alimentar e nutricional, o ambiental, o sindical, de consumo responsável, tanto em nível local como nacionais e internacionais. Uma crise sistêmica exige uma maior convergência e articulação entre movimentos sociais, e sinto que a Ripess, através de suas redes e realidades nacionais e regionais, precisa contribuir e estar conectada a estes processos. Tenho um interesse muito grande em participar desta construção de convergências entre os movimentos sociais, a partir das lutas e experiências concretas nos territórios.

Além disso, é preciso evoluir a forma de se fazer política. Acredito que há uma necessidade de tratarmos de maneira indissociável a crítica ao atual modelo, a resistência em andamento pelos mais diversos setores da sociedade, e a construção de alternativas. Não basta apenas falar de alternativas, sob o risco de perder a noção estrutural e política da conjuntura da sociedade e dos atores envolvidos. Não basta também ficar apenas na crítica ao modelo, sem apresentar propostas concretas e viáveis para podermos tomar outros rumos. Por fim, não é possível ficar apenas na resistência, pois as consequências do isolamento e fragilização são muito grandes em termos de violência e abusos dos poderes econômicos ou oligárquicos locais. Sou movido a buscar avançar em processos de organização do movimento de Economia Social e Solidária que consigam manter a indissociabilidade destas três dimensões: a crítica, a resistência e a proposição de alternativas.

Outra motivação que tenho é na disponibilização, de maneira criativa e dinâmica, de informações a respeito das iniciativas de Economia Social e Solidária no mundo, como forma de dialogar cada vez mais com a sociedade e também de promover e estimular atores locais a se apropriarem do que acontece em outras partes do globo e assim poderem multiplicar estas alternativas em seu território. Isso envolve relatórios, mapas e padrões de intercomunicação entre os sistemas de informação das diferentes redes de Economia Social e Solidária. Tenho interesse em contribuir para que a Economia Social e Solidária se torne cada vez mais visível em sua diversidade e pluralidade, e supere o desafio da invisibilidade.

Estes elementos têm sido parte de meu trabalho da Secretaria Executiva do Fórum Brasileiro de Economia Solidária (FBES) e no projeto ESSglobal nos últimos anos. Entreguei-me totalmente a contribuir com a construção e organização do movimento de Economia Solidária do Brasil, que envolve dezenas de milhares de empreendimentos solidários, entidades de apoio e administrações públicas em diferentes níveis (municípios, estados e no âmbito federal) .

Em 2011, tomei a decisão de sair do cargo de secretário executivo do FBES, processo que consolidamos entre maio e dezembro do ano passado. A principal razão é o fechamento de um ciclo de sete anos, de fortes aprendizados, e no sentimento de novas motivações e desafios que me estimulam hoje. Há anos tenho o sonho de voltar a morar em uma pequena cidade no interior do Brasil, contribuir com as lutas locais, e participar de um empreendimento de Economia Solidária.

É por isso que hoje estou de volta a Caldas, uma cidade de menos de 20 mil habitantes no interior de Minas Gerais, Brasil. E é por isso que estou construindo, com outras pessoas, a EITA (Educação, Informação e Tecnologia para Autogestão), uma cooperativa autogestionária de desenvolvimento de tecnologias da informação (e construção de metodologias para seu uso) voltadas para apoiar as lutas dos movimentos sociais.

Neste sentido, fiquei muito interessado no cargo oferecido, pois poderia trabalhar junto à Ripess via internet por meio período, e no outro período participar das lutas no meu território local e na construção da EITA. Ou seja, ter um pé nos processos globais de articulação e organização do movimento de Economia Social e Solidária, participando e contribuindo nos desafios deste momento histórico que estamos vivendo, e outro pé nas lutas locais e na consolidação de um espaço profissional em uma iniciativa concreta de Economia Solidária.

Sinto que tenho um perfil bastante afinado com o trabalho de gerente operativo da Ripess. Mas para que possa ser bem sucedido, é fundamental que haja um ambiente de muita confiança política, institucional e ética entre o Conselho de Administração, o Coordenador Executivo e o Gerente Operativo. Além da confiança, é necessário um trabalho bastante articulado e fluido, de forma colegiada, do Conselho de Administração, em especial nas manifestações políticas e representações da Ripess em espaços governamentais e dos movimentos sociais. É fundamental que a Ripess possa ser representada, sempre que possível, por integrantes do Conselho de Administração do Continente em que estiverem acontecendo atividades ou seminários ou pelo Coordenador Executivo. O papel do Gerente Operativo deve ser o de contribuir com subsídios para estas representações, sem necessariamente implicar em viagens a todo momento, a não ser quando necessário e com posicionamentos construídos a partir do diálogo colegiado no Conselho de Administração.

Uma informação sobre o meu perfil que talvez não transpareça no meu currículo é que não tenho boas habilidades no campo administrativo e financeiro. Esta limitação é bastante acentuada e espero que não recaia sobre o meu trabalho, caso seja selecionado.

Tenho um compromisso muito profundo e apaixonado com as lutas por transformação da sociedade e com a defesa da vida em todas as suas dimensões. Este compromisso orienta minha vida. É a estas lutas por uma sociedade justa e solidária que dedico meus esforços militantes e profissionais, sem perder de vista meu enraizamento local. Esta é a motivação que me fez tomar a decisão de candidatar-me a este cargo e da qual não pretendo perder o foco.

 

vida quer viver

economia social e solidária: uma economia nas mãos dos 99%


Fonte: http://cirandas.net/dtygel/blog/motivacoes-em-trabalhar-como-gerente-operativo-da-ripess

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