Por Diário de Pernambuco (http://www.diariodepernambuco.com.br/)
Um pequeno produtor é um pequeno produtor. Dois pequenos artesãos dois pequenos artesãos. Três pequenos pescadores são três pequenos pescadores. Mas quando são muitos e estão reunidos, eles viram outra coisa tornam-se protagonistas da Economia Solidária, uma vertente da economia que deixou para trás o estigma de "ação de desempregados" e hoje é cada vez mais uma alternativa relevante de ocupação e renda. Em todo o país há cerca de 1,5 milhão de trabalhadores associados a empreendimentos solidários, movimentando recursos que chegam a 1% do PIB nacional o que parece pouco percentualmente falando, mas que atinge a significativa soma de R$ 50,5 bilhões.
O destaque da Economia Solidária, porém, não se deve apenas ao montante de dinheiro que faz circular. É importante também porque atua de forma coletiva e associativa (tornando fortes os que isolados são fracos), compartilhando os recursos do que produz e funcionando em modelo de autogestão (sem "donos" nem "empregados"). E também pela variedade das áreas em que atua: agricultura familiar, pesca artesanal, artesanato, agroecologia, catadores...
O Diario de hoje traz uma ilustrativa matéria sobre a Economia Solidária em Pernambuco. Em nosso estado existem 1.503 empreendimentos solidários. O município que lidera o quantitativo é Jaboatão dos Guararapes, na Região Metropolitana do Recife, com 89 projetos, correspondente a 6% do total. Já o município com mais projetos no interior do estado é Garanhuns (Agreste), com 43. Merece destaque também o fato de que um em cada dois dos sócios pernambucanos almejam ter o próprio negócio com a Economia Solidária.
A reportagem conta histórias de empreendimentos solidários como o do grupo Troque por Arte, de Jaboatão, que recolhe como doações material que iria para o lixo e o transforma em produtos de artesanato. E o de Catende (Zona da Mata), em que existem 39 projetos solidários com características rurais, com a participação de muitos trabalhadores egressos da Usina Catende, criada em 1890 e que teve falência decretada em 1995. No seu período de maior prosperidade, foi a maior usina da América Latina.
A Economia Solidária tem se mostrado uma alternativa valiosa de combate à pobreza no Brasil. Em uma economia incapaz de absorver a todos, é importante a existência de modelos alternativos que garantam produção e renda. Mas não se trata de uma forma de organização do trabalho destinada a funcionar apenas em países com problemas de desenvolvimento. Está presente também em nações com economia pujante, como a Alemanha. Em comparações com os participantes dos projetos nesses países, há diferenças significativas. Na Alemanha, por exemplo, os empreendedores solidários têm um alto nível de instrução e fazem parte dos projetos não para sair da pobreza, e sim em busca de um modelo alternativo de vida, conforme mostrou o filósofo alemão Bastian Ronge, que participou de evento sobre o tema no Recife, em outubro passado.
Os primeiros empreendimentos solidários surgiram aqui nos anos 1980, no rastro de grave econômica vivida então pelo país, e ganharam solidez a partir dos anos 1990. Como fenômeno recente, ainda há muito que se discutir sobre ele. Mas não há dúvidas que é algo que já mostrou que veio para ficar.