“Como podem reinvindicações tão severas serem esbravejadas com tanta alegria e irreverência?” Este foi meu pensamento enquanto analisava as fotos feitas na marcha de abertura do Fórum Social Temático 2012. Foi a primeira vez que acompanhei o acontecimento e, durante a caminhada, somente o viaduto Otávio Rocha, na Avenida Borges de Medeiros, e os ônibus e carros congestionados na via contrária me lembravam Porto Alegre. Pessoas de etnias diferentes, origens diversas, ideologias contrárias, num colorido que não se vê – ou não se nota – normalmente na cidade.
Como se tivesse na própria quadra, onde acontecem festas tradicionais pela animação, a Banda da Saldanha mostrou seu samba a favor de uma causa muito importante, a preservação da mata brasileira.
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Com diversas intervenções dentro da marcha, este movimento, o #florestafazadiferença, foi um dos mais marcantes e criativos. O grupo SOS Mata Atlântica velava o assassinato do ecossistema. Como em um deslocamento para o enterro, os causadores da morte eram especulados: o Código Florestal e Belo Monte.
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No mesmo clima fúnebre, mas com uma carga de realismo muito maior, o Depósito de Teatro de Porto Alegre atacava as causas dos ruralistas. Por causa delas, a floresta morre logo quando nasce.
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Além da Natureza, a visibilidade dos gêneros e as orientações sexuais foram defendidas e expostas de forma irreverentes. O voluntário da ONG Somos, William Santos, cantava seus sonhos pela Avenida enquanto exibia a bandeira do arco-íris, símbolo do movimento LGBT.
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Direitos iguais no cotidiano é o que pediam as integrantes da Articulação Nacional de Travestis e Transexuais.
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Entre as faixas na cor lilás, evoluíam numa caminhada decidida mulheres peruanas, sulafriacanas, argentinas. Da voz de Claudia Prates sovam críticas. A Marcha Mundial das Mulheres deixa claro a que vem: além das questões de igualdade de gênero, o movimento propõe discussões mais profundas sobre Rio +20 e a Copa de 2014.
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A querida Nô Homero conversou comigo sobre a causa da Organização Maria Mulher. “Estamos buscando a visibilidade das negras, os nossos direitos e mais poder para todas nós”. Depois de um “beijo, fofinho”, Nô me chamou para mais um lembrete. “Não esquece de colocar uma coisa: Racismo faz mal à saúde.” .
A reivindicação social e econômica foi forte, diversos grupos pediam a ausência de governo, novos partidos no poder, alternativas aos gestores atuais.
A criatividade e a alegria se mostram ativistas das mais diversas causas. Críticas, reclamações e sugestões para um mundo melhor. Um destaque para duas intervenções que abriram e fecharam a marcha. Ambas buscando a sustentabilidade na prática.
Apressei o passo por alguns minutos, enquanto conversava com Miguel Baierli. Ele mora no Instituto Arca Verde, em São Franscico de Paula, e integra o movimento Aldeia da Paz, que já montou um acampamento autogestionário no Parque Harmonia. “A ideia não é batermos contra o sistema, é buscarmos soluções saudáveis de vida através da autogestão”.
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Os participantes da Aldeia da Paz, um dos movimentos mais volumosos da marcha, pediam, além disso, um sentimento, o amor.
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No mesmo embalo, um trupe de bike fechava a marcha. Na mão, o cartaz com uma sugestão esperançosa: mais amor, menos motor.
A marcha, que começou sob o sol escaldante do verão, acabou com os participantes dançando na chuva. Eu, com a certeza que um mundo diversificado e colorido é muito mais bonito do que uma cidade cinza.
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