Caso Amarildo – A insustentável urgência de se ter nome
Luiz Antonio Ribeiro
Quinta-feira, Agosto 01, 2013, 7:44 am
CULTURA
Artigo compartilhado entre Literatortura e Causas Perdidas.
Quando Amarildo sumiu, não tinha nome e quase nem era homem perante os olhos do Estado. Entre seus amigos era apenas “Boi”. Eis então que ele sumiu, desapareceu, desvaneceu, “picou a mula” ou, sem evitar o trágico trocadilho, a “vaca foi para o brejo”. O Estado nada viu, nada fez, nem se prontificou a investigar. Os peregrinos religiosos gritavam por paz, justiça social e igualdade, mas gritavam para o vento, para o ar, anonimamente, e Amarildo perto deles ainda não existia. Isso até uns rapazes e moças meio estranhos, com umas roupas esquisitas, uns gritos contra a ordem vigente se juntaram aos moradores de uma Rocinha até então sem voz, terra do Amarildo Boi, para pedir justiça. “Cadê o Amarildo? Pensem no Amarildo, rezem pelo Amarildo”, como se Amarildo fosse o Haiti.
Para quem não conhece o caso: Amarildo Souza Lima sumiu logo depois de prestar depoimento a policiais da UPP no dia 14. Após vários protestos de moradores, que chegaram a fechar a Autoestrada Lagoa-Barra duas vezes, nos dias 17 e 19, e do início da investigação, a Polícia Militar informou o afastamento dos serviços operacionais de quatro PMs envolvidos no caso.
Só. E agora? Amarildo sumiu e precisamos dar o nome aos bois. Precisamos saber o que se passa nessa forma de governar em que jovens de classe média levam bala de borracha e moradores de favela levam tiros de fuzil. A impressão que se tem é que a intenção é que todos sumam, vivam em tocas ou por baixo da terra deixando que eles exerçam seus podres poderes em paz. Não sei, mas é possível imaginar quantos pedreiros moradores de favelas existem e quantos são constantemente humilhados por uma polícia também Amarilda, também anônima e sem controle, que precisam agir em nome de alguma coisa que nem nome tem. E se tem nome se chama simplesmente terror ou violência.
As redes sociais, novamente estão fazendo um importante papel, diversas campanhas no Twitter e Facebook, cobram explicações do desaparecimento de Amarildo.
Só que agora é tarde, não é Cabral? Aceitamos o primeiro Cabral assassino de 500 anos atrás porque estávamos despreparados. Agora é diferente: temos as nossas armas, nossa força e nossa voz: língua é luta. Por isso que Amarildo não será mais esquecido, porque o seu nome está em nossa boca, está tatuado em nosso corpo. Amarildo, aqui, também é verbo. Primeira pessoa do presente: Eu Amarildo. Não é a toa que esse nome começa com Amar…
Revisado por Amanda Prates.
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