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Everton de Andrade

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Em memória de Nelson Gomes de Castro

15 de Setembro de 2017, 23:26 , por Everton de Andrade - 0sem comentários ainda | No one following this article yet.
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Licenciado sob CC (by)

Nesse dia 15 de setembro de 2017, recordo os dez anos de falecimento do querido e inesquecível Nelson Gomes de Castro, ex-servidor administrativo do Departamento de Economia da Universidade Federal do Paraná.

O Nelson foi, durante aproximadamente quatro anos, uma das poucas pessoas do corpo institucional da universidade com a qual eu tinha condições de dialogar sobre algumas circunstâncias que se passavam naquele ambiente acadêmico, algumas das quais me abalaram a ponto de eu quase desistir de frequentar o ambiente educacional e quase desistir de viver.

A partir dos meus dezesseis anos, trabalhei quase um ano e meio exaustivamente para pagar um curso pré-vestibular com preço acessível. Depois de obtida a vaga na almejada universidade, passei a maior parte da graduação intercalando as atividades profissionais com as acadêmicas. Ao frequentar a mais tradicional instituição de ensino do Paraná, imaginava que seria tratado com o mesmo respeito dado pela sociedade à universidade mais antiga do Brasil.

Entretanto, a realidade era outra, especialmente por causa da maneira como certos professores universitários conduziam as atividades na graduação no período noturno, em que muitos alunos, assim com eu, tentavam conciliar as atividades acadêmicas com as laborais.

Por exemplo, um premiado docente que manifestou pessoalmente a mim a crença de que era letra morta o texto constitucional cujo teor prevê o ensino noturno adequado às condições do educando. Outro episódio foi o de um ex-militar que se achou no direito de bancar o general Pinochet em sala de aula, atirando giz em direção aos alunos, como uma suposta forma didática de prender a atenção dos pupilos, e usando palavras de baixo calão diante de um aluno divergente, perante toda a classe. 

Nessa atmosfera de fatos, surge minha última lembrança do meu homenageado ainda vivo: era uma noite de sexta-feira, em meados de setembro de 2007, no intervalo, após a aula de uma disciplina relacionada à metodologia de pesquisa científica, na qual o professor empregava métodos excessivos de controle sobre a turma. Eu estava indignado com a postura desse docente e relatei os fatos ao Nelson, no enorme recinto que dá acesso às salas e aos andares superiores do Setor de Ciências Sociais Aplicadas. Imediatamente, o Nelson se disponibilizou a intermediar a situação e, avistando o docente do outro lado do enorme hall, se deslocou e comunicou-se com o autoritário professor. Essa é a última imagem mental que tenho do Nelson, ele atuando como um interlocutor para tentar me ajudar.

Devido ao trauma, não me recordo se a mencionada sexta-feira foi a véspera do falecimento dele ou se esse fato ocorreu nas semanas posteriores. Minha lembrança seguinte é a leitura da mensagem de e-mail de uma amiga comunicando o óbito e, posteriormente, o mais doloroso luto que eu vivi até o momento presente.

Porém, o mundo deu voltas: em 2009 dediquei minha monografia ao Nelson e, dez anos depois do falecimento, com o presente texto, tenho a honra de dedicar a conclusão do meu curso de bacharelado em Ciências Econômicas a ele.

Do ponto de vista da espiritualidade, rogo ao Senhor para que o querido Nelson Gomes de Castro já tenha sido recebido de braços abertos pelo Rei, e ouvido a seguinte mensagem, adaptada do versículo bíblico de Mateus 25,34: “Venha, Nelson, bendito de meu Pai, receba por herança o Reino preparado para você desde a fundação do mundo!” 


Tags deste artigo: Nelson Gomes de Castro Luto resiliência

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