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Luiz Muller Blog

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Da Alemanha nazista à “israel” sionista: o supremacismo Étnico a exclusão do “outro” ⁸(Por Emir Murad)

8 de Junho de 2025, 15:16 , por Luíz Müller Blog - | No one following this article yet.
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A comparação entre regimes políticos e ideologias deve ser feita com rigor, prudência e compromisso com a verdade histórica. Quando observamos paralelos estruturais entre o nazismo — a ideologia oficial da Alemanha de Adolf Hitler — e o sionismo político que norteia as ações do Estado de Israel, especialmente em relação ao povo palestino, emerge uma série de semelhanças inquietantes. Embora cada contexto histórico tenha suas especificidades, há convergências que não podem ser ignoradas: supremacismo étnico, desumanização sistemática do “outro”, uso da força como ferramenta de dominação e tentativas de apagamento cultural e físico de uma população.

A análise comparativa entre o regime nazista e o sionismo israelense hegemônico não busca equipará-los de forma simplista, mas expor estruturas comuns de opressão. Trata-se de refletir criticamente sobre como a memória do Holocausto foi politicamente instrumentalizada por setores que, ao ascender ao poder, passaram a exercer uma opressão sistemática sobre outro povo — o palestino.

Supremacismo étnico e exclusão do “outro”

Um dos pilares do nazismo era a crença na superioridade da “raça ariana” e na necessidade de purificação étnica da sociedade alemã. Essa ideia gerou políticas de exclusão, segregação e, por fim, extermínio em massa de judeus, ciganos, comunistas, homossexuais e outros grupos.

O sionismo, desde suas origens e especialmente nas práticas políticas adotadas pelas lideranças do movimento sionista no período anterior e posterior à criação do Estado de Israel, opera sobre a lógica da supremacia: o Estado foi concebido como um “Estado judeu”, o que implica na marginalização e exclusão dos não judeus — em particular dos palestinos nativos. Já em 1947, o Plano Dalet (ou Plano D), elaborado pela liderança militar da Haganah, previa operações sistemáticas de expulsão da população árabe das áreas designadas ao futuro Estado, incluindo a destruição de aldeias palestinas. Essa lógica de limpeza étnica é corroborada por declarações de figuras centrais do sionismo, como David Ben-Gurion, que afirmou em carta de 1937: “Devemos expulsar os árabes e tomar seu lugar.” Leis como a “Lei do Estado-Nação” (2018), que define Israel exclusivamente como “o lar nacional do povo judeu”, institucionalizam essa desigualdade, negando aos árabes-palestinos — que representam cerca de 20% da população cidadã de Israel — a condição de iguais perante o Estado.

Nos territórios ocupados da Cisjordânia e em Gaza, a situação é ainda mais grave. Colônias ilegais, postos de controle militar, separação física por meio de muros e a imposição de um regime jurídico diferenciado para judeus e palestinos revelam uma estrutura de apartheid — termo usado inclusive por organizações como Human Rights Watch e Anistia Internacional.

Instrumentalização da narrativa histórica

O nazismo construiu uma narrativa de vitimização da Alemanha após a Primeira Guerra Mundial, responsabilizando judeus e comunistas pelo colapso econômico e político do país. Essa retórica alimentou o ressentimento popular e justificou políticas cada vez mais autoritárias.

O sionismo, por sua vez, utilizou — e em muitos momentos sequestrou — a dor legítima do Holocausto para justificar a criação e expansão de um Estado étnico-religioso no Oriente Médio. Ao transformar a memória do genocídio judeu europeu em uma ferramenta política, o sionismo a converteu em escudo moral para a ocupação e colonização da Palestina. Como denuncia o historiador Norman G. Finkelstein, filho de sobreviventes do Holocausto e autor do livro “A Indústria do Holocausto”, “o Holocausto tornou-se uma ideologia que serve interesses israelenses e americanos” — não apenas silenciando críticas à política israelense, mas também alimentando um discurso de impunidade internacional.

Inúmeros outros judeus, como o historiador israelense Ilan Pappé e o escritor Gidéon Levy, têm alertado que Israel se esconde atrás do trauma do Holocausto para deslegitimar qualquer crítica à sua política expansionista e militarista, acusando de antissemitismo qualquer voz dissonante, inclusive de judeus.

Desumanização e propaganda

O regime nazista utilizou-se de uma máquina propagandística para desumanizar seus inimigos. Judeus eram representados como ratos, parasitas, ameaça biológica. Essa desumanização preparava o terreno para sua eliminação física, facilitando a aceitação popular dos horrores do Holocausto.

A propaganda israelense, por sua vez, frequentemente retrata os palestinos como “terroristas” por natureza. Crianças são mortas sob o pretexto de estarem “colaborando com terroristas”; bairros inteiros são bombardeados em nome da “autodefesa”. A desumanização do povo palestino é contínua, alimentada por uma retórica que os reduz a inimigos intransigentes da paz e da civilização, como se fossem um obstáculo permanente à segurança israelense — e não seres humanos com direitos e história.

A desumanização do outro é um traço recorrente no discurso político e social israelense. Refugiados africanos, por exemplo, são rotineiramente chamados de “infiltrados”, como se fossem criminosos ou ameaças biológicas. Ministros já chegaram a declarar que é preciso “matar as mães palestinas para impedir que deem à luz futuros terroristas”, associando toda a população palestina, inclusive mulheres e crianças, ao “terror”. Além disso, são recorrentes as cenas de celebrações públicas da destruição de Gaza, em que parte da sociedade israelense vibra diante do sofrimento palestino. Essas expressões revelam uma lógica profundamente racista e desumanizante, que naturaliza a violência e nega à população palestina qualquer traço de humanidade ou direito.

Genocídio em curso

A política de Lebensraum (espaço vital) do regime nazista previa a expansão territorial da Alemanha e o reassentamento forçado ou eliminação dos povos considerados inferiores. Essa política foi aplicada com brutalidade na Polônia, na Ucrânia e em outros países do Leste Europeu ocupados pelos nazistas.

O movimento sionista, desde o Plano Dalet em 1948 até os assentamentos atuais, persegue objetivos semelhantes: expansão territorial às custas da população nativa. O que começou com a Nakba — a catástrofe palestina que expulsou cerca de 750 mil pessoas de suas casas — continua hoje com a demolição sistemática de aldeias, como em Masafer Yatta ou Khan al-Ahmar, e com o cerco cruel à Faixa de Gaza, onde mais de dois milhões de pessoas vivem em condições que a ONU classificou como “inumanas e insustentáveis”.

Desde o início da ofensiva militar israelense em outubro de 2023 até junho de 2025, mais de 54.470 pessoas foram mortas em Gaza, incluindo aproximadamente 17.000 crianças, conforme relatado pelo Ministério da Saúde local, cujos dados são reconhecidos pela ONU. Além disso, estima-se que cerca de 70% das vítimas sejam mulheres e crianças, indicando uma desproporcionalidade alarmante no impacto sobre civis. A ONU também reporta que aproximadamente 7.000 pessoas estão desaparecidas, presumivelmente soterradas sob os escombros. Em janeiro de 2024, a Corte Internacional de Justiça reconheceu a plausibilidade de que Israel esteja cometendo genocídio contra o povo palestino, conforme definido pela Convenção para a Prevenção e Repressão do Crime de Genocídio de 1948, que caracteriza o genocídio como atos cometidos com a intenção de destruir, no todo ou em parte, um grupo nacional, étnico, racial ou religioso.

Silenciamento, censura e perseguição a opositores

O nazismo perseguiu todos os que se opunham ao regime: socialistas, jornalistas, artistas, intelectuais. O controle da informação era essencial para manter o apoio popular e ocultar os crimes do regime.

Hoje, Israel e seus aliados utilizam mecanismos legais e políticos para silenciar opositores ao sionismo. Ativistas pró-palestinos são presos, censurados ou assassinados, como foi o caso da jornalista Shireen Abu Akleh, morta por um atirador israelense apesar de estar identificada como imprensa. No Ocidente, movimentos como o BDS (Boicote, Desinvestimento e Sanções) são criminalizados, e universidades que acolhem vozes críticas ao sionismo sofrem pressões e cortes de financiamento.

A manipulação midiática é outro fator crucial. A grande imprensa global raramente chama os fatos pelo nome: evita usar “ocupação”, “apartheid” ou “genocídio” quando se refere à política israelense. A narrativa dominante é enviesada, condicionada por interesses geopolíticos e pela pressão de lobbies organizados.

Conclusão: entre o nunca mais e o Holocausto Palestino

A frase “nunca mais” ressoou com força após o fim da Segunda Guerra Mundial. Era o grito contra o Holocausto, contra o extermínio em massa, contra a desumanização do ser humano. No entanto, esse “nunca mais” parece ter se tornado seletivo. O Holocausto não pode ser usado como escudo para justificar a opressão de outro povo. 

A crítica ao sionismo enquanto ideologia política e expansionista não equivale ao antissemitismo. Pelo contrário: muitos judeus no mundo inteiro denunciam os crimes cometidos em nome de Israel justamente por honrarem a memória dos que pereceram sob o jugo nazista. Comparar Israel à Alemanha nazista não é negar o Holocausto, mas sim impedir que crimes semelhantes, ainda que com roupagens diferentes, se repitam diante dos nossos olhos. 

A história cobra coragem. É preciso dizer, com todas as letras, que o que ocorre hoje contra o povo palestino carrega marcas evidentes de uma política de genocídio — um verdadeiro holocausto palestino, promovido a olhos vistos diante da inação das potências internacionais. A resistência palestina, sob todas as suas formas, é o grito desesperado de um povo que se recusa a desaparecer. E nós, como humanidade, seremos julgados não apenas pelo que fizemos, mas também pelo que deixamos de fazer.

Emir Mourad Secretário Geral da COPLAC – Confederação Palestina Latino-americana e do Caribe


Fonte: https://luizmuller.com/2025/06/08/da-alemanha-nazista-a-israel-sionista-o-supremacismo-etnico-a-exclusao-do-outro-%e2%81%b8por-emir-murad/

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