Isabella Sander
Era para ser um dia alegre, mas o Abraço ao Viaduto Otávio Rocha, promovido ontem por moradores e comerciantes da região, foi apenas a representação dos últimos oito meses no local. Muitas lojas nem abriram para participar do evento e, por outro lado, poucos frequentadores caminhavam para assistir às atrações. As atividades culturais, que costumavam ocorrer na parte inferior coberta do monumento, foram realocadas para a área descoberta, pois o espaço onde não chove está repleto de pessoas em situação de rua, com colchões e princípios de casas montadas.
Segundo o morador da região e organizador do evento, Auber Lopes de Almeida, a promoção do abraço foi um “ato de desespero” para divulgar a situação em que se encontra o viaduto Otávio Rocha. “Nossa ideia é recuperar esse espaço que está esquecido e abandonado pela população. Esse espaço é nosso, mas as pessoas estão ignorando-o”, critica.
Almeida aponta que a insegurança causou a necessidade de ajustes na vida dos moradores e comerciantes da região. “Eu tenho uma vizinha que mora em um prédio em cima do viaduto e trabalha perto de casa. Um dia, um morador de rua disse que, a partir daquele dia, se ela quisesse passar pela escadaria com segurança, pagaria uma gorjeta diariamente para eles. Desde então, ela se vê obrigada a pegar uma lotação para andar duas quadras”, lamenta. Conforme informações do morador da região, um mínimo de R$ 10,00 também é cobrado de motoristas que estacionam seus carros no local.
Almeida conta que a população de rua começou a aumentar a partir de março ou abril deste ano. “Antes, tinha um ou dois moradores de rua embaixo do viaduto. De uma hora para outra, começou a chegar uma Kombi branca regularmente para despejar pessoas ali, com colchões, roupas e instalações. Trazem de algum lugar que eu não sei qual é, e nem com qual interesse”, afirma.
Apesar de não saber de quem é a Kombi, o morador da região acredita que pertença a alguma Organização Não Governamental (ONG) que, de acordo com a vizinhança, chegou a solicitar ao Departamento Municipal de Limpeza Urbana (DMLU) que não lavasse mais aquelas calçadas, para não incomodar a população que lá vive. “Antes o DMLU fazia a lavagem duas vezes por semana e, hoje, não acontece mais. Quem passa por ali sente um cheiro horroroso”, ressalta.
Comerciante de um sebo no local e presidente da Associação Representativa e Cultural dos Comerciantes do Viaduto Otávio Rocha (Arccov), Adacir José Flores estima uma queda no faturamento das lojas em mais de 70% desde que as pessoas em situação de rua se instalaram no viaduto. “Sábado costumava ser um dia em que vendíamos bem, porque todos estão de folga, mas teve sábado que o meu vizinho de loja, que trabalha com discos há 30 anos, não vendeu nem um centavo. Os compradores sumiram”, pontua.
Casos de assalto são ouvidos cotidianamente por quem frequenta os arredores do monumento. “Durante a semana é muito comum ver as pessoas caminhando pelo canteiro central, correndo o risco de serem atropeladas, porque se passam pelo corredor, há delinquentes entre a população de rua que não têm dó nem piedade”, destaca Almeida. Mesmo com esse cuidado, há quem seja assaltado à luz do dia. “Às vezes eu fico sabendo, mas não posso fazer nada, porque não tem o que fazer. Não passa policiamento por aqui, não sei para que serve a Guarda Municipal”, reclama. Em tese, a Guarda Municipal existe para cuidar dos patrimônios municipais, como o viaduto Otávio Rocha.
Lê também aqui no Blog o Artigo Viaduto Otávio Rocha: recuperação já!
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