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Porto em Arroio do Sal é o morango do amor dos empreiteiros

Agosto 5, 2025 20:26 , by Luíz Müller Blog - | No one following this article yet.
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Por MÁRCIA TURCATO* no BRASIL DE FATO

Como nasce uma pauta fria? Crie uma causa, acrescente um apelo popular, chame um influencer para ficar à frente do evento e divulgue. É assim que surge um bebê reborn, um morango do amor e o porto Meridional!

Os empreendedores do porto Meridional, obra que pretendem construir no Litoral Norte do Rio Grande do Sul, seguiram essa receita e promoveram o Fórum Impactos do Porto Meridional, no dia 1º de agosto, no parque de eventos de Arroio do Sal. Eles associaram o nome do fórum a 23ª Festa do Pescador, que acontecia na cidade, mas esse evento não consta da programação da festa popular, e chamaram uma influencer da grande mídia para ser a mediadora.

Por último, os organizadores enviaram textos para a mídia informando que o projeto “obteve aval do Ministério de Portos e Aeroportos (MPor)”. Não é verdade. Em 18 de outubro de 2024, ocorreu apenas o ato simbólico da assinatura de um contrato de adesão, como mostrou a reportagem do Brasil de Fato RS publicada em 17/4/2025.

Naquela ocasião, por meio de nota, o Mpor informou que a autorização para o empreendimento é a primeira etapa do projeto. “Comunicamos que o licenciamento ambiental é necessário para o início da execução das obras, conforme prazos previstos nos normativos do Instituto do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) diante das fases de implantação do projeto. Ou seja, para iniciar os trabalhos práticos, o titular do contrato precisa reunir todas as autorizações necessárias e regidas em normativas”.

Técnicos do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), em vistoria à área que pode ser impactada pelo porto, divulgaram o seu Relatório de Vistoria e rejeitaram o Estudo de Impacto Ambiental apresentado pelos empreendedores, destacando que o documento era falho e que não havia considerado aspectos importantes, como fauna e flora e a população local.

Além disso, é necessário levar em conta que a elevação de tarifas impostas pelo presidente dos EUA, Donald Trump, inviabiliza as exportações gaúchas para aquele país e tornam totalmente desnecessário o porto Meridional. De acordo com o presidente da Federação das Indústrias do Rio Grande do Sul (Fiergs), Cláudio Bier, o tarifaço afeta cerca de 85% das exportações gaúchas. A estimativa inicial é de que o PIB do estado possa ter uma redução de R$ 1,5 bilhão no próximo ano.

Não ao Meridional

O porto Meridional parece ir à pique justamente por conta daqueles que apoiam a construção da obra. Eles defendem as ações de Trump impostas em represália à atuação da justiça brasileira ao condenar os vândalos do golpe de 8 de janeiro de 2022 e seus articuladores. Felizmente, o porto afunda antes mesmo de nascer. Mas a economia gaúcha tem salvação. Os gaúchos podem focar suas exportações para outros mercados via porto de Rio Grande como já faz com muito sucesso, como avalia o deputado Halley Lino (PT), presidente da Frente em Defesa do Porto de Rio Grande, por onde os produtos gaúchos são exportados. Ele destaca que “o principal destino é a China, que recebe 43% das nossas cargas”.

“Não sou contra a construção de portos, sou contra o porto Meridional. Os empresários dizem que a obra será feita com verba da iniciativa privada. Não é verdade, haverá verba pública e isto é escondido da população. Não há como os caminhões chegarem em Arroio do Sal sem que haja a construção de uma infraestrutura viária, o que inclui até mesmo a necessidade de uma ponte sobre a lagoa, e isso só é feito com recurso dos governos do estado e federal”, explica o deputado Lino. 

O deputado salienta também que o Meridional é um erro logístico e que o governador do estado, Eduardo Leite (PSDB), está sendo omisso, porque o Meridional apenas vai se apropriar da carga que já tem o porto de Rio Grande como destino, que é maior do que os seis portos existentes no estado de Santa Catarina e é o quarto maior porto do Brasil em movimentação de carga. “E tem mais”, alerta o parlamentar, “se existe alguma dificuldade de acesso ao porto de Rio Grande por causa dos pedágios rodoviários, esse deslocamento será barateado no final de 2026 com o fim da cobrança”.

A bióloga Nance Nardi, professora aposentada da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs), moradora de Arroio do Sal, e integrante do Movimento Unificado em Defesa do Litoral Norte (MOVLN/RS), conta que tentou participar do fórum organizado pelos defensores do porto Meridional, mas a palavra não foi aberta para os “não convidados” e somente os painelistas falaram. Ou seja, foi um evento de autopromoção dos empreiteiros da DTA Engenharia, com apoio de alguns políticos de Arroio do Sal, que querem construir o porto a qualquer custo. Nardi destaca a inviabilidade econômica do porto Meridional, os prejuízos à flora, à fauna, à população local, à atividade de pesca e também ao sítio arqueológico da região, elementos não considerados pelos empreiteiros no estudo entregue ao Ibama.

* Jornalista


Source: https://luizmuller.com/2025/08/05/porto-em-arroio-do-sal-e-o-morango-do-amor-dos-empreiteiros/

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