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Fri, 02 Aug 2013 01:21:30 +0000

1 de Agosto de 2013, 19:21 , por Desconhecido - 0sem comentários ainda | No one following this article yet.
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A ferida narcísica: primeiro olhar

Posted: 28 Jul 2013 08:00 PM PDT

A lenda conta que Narciso tomou por outra pessoa seu reflexo em um lago e enamorou-se dessa imagem. Ao tentar beijar o objeto de seu amor, caiu na água e morreu afogado, o otário. Essa é a base mítica daquilo que é denominado “ferida narcisíca”, algo que interessa a todos nós.

Interessa sim, pois provavelmente você ainda não a sentiu o suficiente

Narciso, pintura atribuída ao pintor Caravaggio, pintado entre 1597 e 1599

Narciso, pintura atribuída ao pintor Caravaggio, pintado entre 1597 e 1599

Uma forma bem fácil de explicar a ferida narcísica é dizer que as três principais feridas da humanidade ocorreram nos últimos séculos: com Copérnico, descobrimos que não somos o centro do universo; com Darwin, descobrimos que somos apenas chipanzés superdesenvolvidos — com Freud, descobrimos que nossas atitudes nobres mal ocultam nossos instintos primitivos.

A cada descoberta, o Narciso-Humanidade mergulhou no lago e viu que aquela imagem projetada na superfície não passava de uma miragem. Apesar da decepção, a cada mergulho afogaram-se suas ilusões e o homem emergiu fortalecido.

(fortalecido sim, pois há uma grande potência em descobrir o quão pouco se pode)

Assim como a humanidade, cada ser humano, em sua vida íntima, depara-se com a ferida narcísica ao perceber que seus melhores sonhos, maiores vaidades e mais queridas expectativas não correspondem em absoluto à realidade. Na verdade, quase sempre que algo nos incomoda no cotidiano é porque, no fundo, levantaram a casquinha da ferida e cutucaram justo lá, onde a pele é bem vermelha e mais sensível.

Mas isso é bom.

É uma oportunidade e tanto de realmente evoluir. É essencial que Percival reconheça a ferida de Anfortas. Afinal, um homem comum que se julga gigante vê um objeto longínquo e supõe que basta esticar o braço para alcançá-lo. Esse gesto, contudo, será obviamente em vão. Porém, se tiver a sorte de decepcionar-se e descobrir que não passa de um homem com estatura normal, poderá ir até o objeto e efetivamente agarrá-lo, nem que para isso precise caminhar um bocado.

Caminhar um bocado sim, pois é a planta do pé firmada no chão batido que nos permite seguir com a cabeça erguida

Toda vez que alguém falece em nossa família, sofremos uma ferida narcísica, pois temos a consciência do quão pouco podemos diante de um destino que parece, sejamos sinceros, aleatório e inclemente. Nossa incapacidade de, às vezes, aliviar a dor de um ente querido revela o quão nossa própria condição humana é frágil.

Mas nem todo mundo nasceu para ver e — principalmente — entender Gritos e Sussurros. Desse modo, se quisermos, podemos ignorar a lição e narcotizar nossa consciência com alguma distração. Mas, agindo assim, continuaremos para sempre crianças perdidas.

Crianças perdidas sim, pois só um adulto sabe dar valor ao poder que emerge de cada derrota

"Eu não quero mais ser criança!"

“Eu não quero mais ser criança!”

Toda vez que algo ou alguém nos rejeita, seja em uma entrevista de emprego, em uma amizade proposta, em um flerte ensaiado, em uma prova de capacidade ou em um concurso público, mergulhamos novamente no lago.

É quando mais um pouco do Narciso morre e, se formos perspicazes, o que emergirá será alguém mais desperto.

Aprenderemos que o universo não é um espelho pronto para refletir nosso ego — esse pequeno ego que, nas palavras de Muriel, deveria apenas operacionalizar nossa relação com o mundo circundante, ao invés de agir como déspota de nossa psique, como reizinho mimado e arrogante.

Bom, nada melhor para destronar esse tirano do que um banho no lago onde está a verdade, pois a cada mergulho ele perde um pouco de seu mando.

Perde um pouco de seu mando sim, pois percebemos que a vida é muito maior que nossos desejos

Por isso (ah, e era aqui que eu queria chegar!), caso façamos o dever de casa direitinho, atingiremos certa idade na qual se desenvolver é um processo automático, exercendo uma força gravitacional sobre nossas escolhas.

Não há decepção que não seja, a par toda tristeza inerente, um degrau a mais em que nosso pequeno ego esmorece e é deixado para trás. E esse esmorecer é sempre uma espécie de vitória sobre si mesmo. A partir de então, sempre que somos feridos, algo em nós sorrirá gentilmente, por saber que se trata de uma oportunidade de ouro para fazer brotar uma consciência maior.

Eu ouso até dizer que há um momento de nossas vidas no qual passamos a procurar a desordem, o caos e o problemático, não por masoquismo, mas por termos aprendido que, a cada queda, o que morre era destinado a assim morrer, e o que se ergue é o que tinha de assim nascer.

Tinha de nascer sim. E a tudo que nos derruba devemos um “muito obrigado”

truman

E àqueles que nos derrubaram ou ainda vão derrubar, devemos um dia dizer: “é uma pena que você jamais venha a dar-se conta do quão longe fui graças ao que ocorreu, pois há certas distâncias que seu olhar simplesmente não pode alcançar e, aqui do alto onde estou, tudo tem outra proporção”.



Fonte: http://anisionogueira.wordpress.com/2013/08/02/14683/

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