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NA COMISSÃO DA VERDADE

11 de Abril de 2014, 19:48 , por Osair Manassan - 0sem comentários ainda | No one following this article yet.
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Licenciado sob CC (by)

... "Como sobreviveu a tudo isso?"
"Ainda estou sobrevivendo... Sobrevivendo à maior de todas as aflições, que é a dor moral. É a humilhação de ter o seu eu exposto à violência gratuita, sua intimidade devassada, seu corpo exposto e explorado em todas as suas reentrâncias com uma fúria bestial."
"Que animal faz esse tipo de coisa?"
"Nenhum, que não seja humano. Os animais se respeitam, não torturam, matam por necessidade vital, matam dignamente. Os animais não torturam nem se ejaculam diante do sofrimento do outro. O homem não merece ficar na categoria dos animais: é um desrespeito ao instinto primário..."
"E como foi?"
"As dores que sofri entre gritos desesperados, aquela sensação cruel da eletricidade sacudindo o corpo molhado e despido, e tantos outros requintados métodos de martírio físico já passaram e deles só restam algumas cicatrizes. Mas a dor moral, não. Essa se aloja na alma da gente, gruda no existir e nos assombra para o resto da vida. Vira pesadelo recorrente, num eterno retorno, num eterno ferir e machucar, que desespera e entristece os restos dos nossos dias".
"Os algozes sentem-se orgulhosos dos seus feitos covardes, não conhecem o constrangimento. Arrotam vitória, sem ter a noção de que não há vitória no subjugo pela força, na incapacidade do outro se defender com dignidade e igualdade de condição".
"E o que mais?"
"Sentiam-se reis, mas eram reis sem coroa, sem glórias reais. Perdidos, agora, sem reinado, vestindo as máscaras da desonra, vagueiam sem conhecer o amor, sem a alegria dos que combateram o bom combate. Sem a grandeza dos que ousaram sonhar e foram em busca do sonho, que se somaram entre outros de igual gentileza, num sonho coletivo".
"O que são, hoje, esses algozes dos solidários?"
"Não nego a minha repulsa: são seres desprezíveis, vermes que rastejam na lama ensanguentada de seus atos execráveis, abjetos. São velhos arrogantes que, ainda hoje, cospem na verdade da história..."

Osair Manassan


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