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As sentenças da justiça doida

27 de Junho de 2017, 10:31 , por segundo clichê - | No one following this article yet.
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Quando soube que o ex-presidente Lula estava sendo processado por causa de um apartamento no Guarujá e um sítio em Atibaia, que, na cabeça dos acusadores, eram produtos de propina, achei que tudo se resolveria em questão de alguns dias, pois pensava que uma simples ida ao cartório de registro de imóveis seria suficiente para determinar a posse dos ditos cujos.

Tolo engano.

O caso do triplex e do sítio tomou proporções gigantescas, virou uma novela, e fez com que tudo aquilo que eu sabia sobre o direito da propriedade - e sobre a justiça do meu país - desaparecesse.

Com o passar do tempo percebi que a rapaziada do Paraná, tal a ousadia em aplicar métodos para lá de estranhos, misturando alhos com bugalhos, botando fé na palavra de dedos-duros, implicando apenas com gente de determinados partidos político, preservando tipos mais que suspeitos de outros, e usando métodos do tempo em que os animais falavam, para arrancar confissões, ou estava lelé da cuca ou então atendia interesses que não têm nada a ver com justiça.


Era inevitável que, diante de tantos disparates, me lembrasse do "Samba do Crioulo Doido", do imortal cronista Sergio Porto, que também atendia pelo nome de Stanislaw Ponte Preta - o criador do Festival de Besteiras que Assola o País, ou Febeapá -, que fez sucesso nas vozes do Quarteto em Cy, lá pelo fim dos anos 60 do século passado.

A música imita um samba-enredo, em cujos versos Chica da Silva obriga a princesa Leopoldina a se casar com Tiradentes, que, por sua vez, se elege Pedro II, o qual, aliado ao padre Anchieta, proclama a escravidão no Brasil - uma confusão só:

Foi em Diamantina
Onde nasceu JK
Que a princesa Leopoldina
Arresolveu se casar
Mas Chica da Silva
Tinha outros pretendentes
E obrigou a princesa
A se casar
Com Tiradentes...

Lá! Iá! Lá Iá! Lá Iá!
O bode que deu
Vou te contar...

Joaquim José
Que também é
Da Silva Xavier
Queria ser dono do mundo
E se elegeu Pedro II
Das estradas de Minas
Seguiu pra São Paulo
E falou com Anchieta
O vigário dos índios
Aliou-se a Dom Pedro
E acabou com a falseta
Da união deles dois
Ficou resolvida a questão
E foi proclamada
A escravidão
E foi proclamada
A escravidão...

Assim se conta
Essa história
Que é dos dois
A maior glória
A Leopoldina virou trem
E Dom Pedro
É uma estação também...

Oh Oh! Oh Oh Oh Oh!
O trem tá atrasado

Ou já passou...

Agora, depois de ler alguns trechos da sentença que condena o ex-ministro Palocci a 12 anos de prisão, fiquei com a certeza de que esse pessoal da chamada Lava-Jato de louco não tem nada, já nem mesmo o mais compenetrado Napoleão de hospício seria capaz de afrontar de maneira tão ousada tudo o que se entende por justiça neste Brasilzão de tantas dores e esperanças.

Tudo isso dá uma saudade imensa do crioulo doido, de tia Zulmira, do Altamirando, do Rosamundo, de tantos personagens criados pela genialidade de Sergio Porto, que, se ainda estivessem na ativa, com certeza se perguntariam de onde vem essa fantástica capacidade da justiceira rapaziada paranaense de criar uma realidade apenas com as suas convicções. (Carlos Motta) 


Fonte: http://segundocliche.blogspot.com/2017/06/as-sentencas-da-justica-doida.html

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