Buscamos uma Frente Ampla de União Nacional
Roberto Requião*
Hoje é um dia simbólico. Faz 13 anos que faleceu um dos mais nacionalistas dos líderes brasileiros, Leonel Brizola. Hoje estamos lançando com aguerridos companheiros de vários partidos a Frente pela Soberania Nacional, nossa Frente Nacionalista para enfrentar este governo entreguista.
Essa Frente Nacionalista está aberta a todos os parlamentares que expressem uma genuína preocupação com os destinos da Nação, hoje claramente ameaçada por forças internas e externas.
Ela transcende a partidos, mas tem uma profunda marca ideológica de compromisso com a defesa da soberania nacional e com o nacionalismo.
Nacionalismo sem xenofobia. Nacionalismo que corresponda ao padrão histórico do brasileiro comum, orgulhoso de sua miscigenação e de sua múltipla religiosidade, aberto a todas as culturas, e integrado pelo desejo comum de promover o desenvolvimento sócio-econômico do país.
Não pretendemos ser uma plataforma retórica.
Pretendemos pôr os nossos esforços a serviço da defesa da nacionalidade e da construção de uma sociedade de bem-estar social que atenda a todos os brasileiros.
Não temos inimigos, exceto aqueles que colocam o poder econômico como instrumento de subordinação da política aos interesses do mercado e dos grandes capitais.
Hoje, a maior ameaça à soberania brasileira vem da financeirização da economia, na medida em que o sistema financeiro tornou-se um meio de escravização do nosso povo através de juros escorchantes e de escassez de crédito de longo prazo.
A economia e a sociedade estão sangrando. Pretendemos, com nossa união, acabar com isso.
Várias frentes da soberania nacional estão sendo agredidas pelo atual Governo numa velocidade espantosa. A Petrobrás, símbolo da nacionalidade, está sendo fatiada para efeito de privatização. Entrega-se ao capital privado a exploração da água, desconsiderando que esse dom de Deus não poderia ser transformado em base de negócios lucrativos.
Entregam-se ao capital privado, sem limites, grandes porções de nossas terras. Doa-se a base de Alcântara a uma potência estrangeira que espionou – e provavelmente ainda espiona – nossa maior empresa e o próprio Palácio do Planalto. Ataca-se e desvirtua-se o BNDES, âncora do financiamento público de longo prazo da economia, como alternativa ao capital vadio.
A abertura indiscriminada ao capital estrangeiro e o estrangulamento da própria economia nos tornou uma área de caça de grande interesse para o capital vadio, cujo fluxo de entrada no país é festejado como se a desnacionalização acelerada fosse uma grande vantagem para o Brasil.
Estamos destruindo empresas e empregos em detrimento da sociedade.
O agronegócio se tornou a aparente âncora da economia, como não se soubesse, pela história, que confiar exclusivamente na exportação de commodities é um risco tremendo para a economia, que fica à mercê de grandes carteis de comercialização e de financeirização global.
Tenho assinalado insistentemente que há formas diferenciadas de globalização, algumas virtuosas, como a industrial, quando gera empregos internamente e é submetida a forte controle doméstico com vistas à afirmação de objetivos nacionais.
Só os néscios não perceberam o caráter de pilhagem da globalização financeira que se tornou um instrumento de neo-colonização, com a subordinação dos sistemas financeiros nacionais aos centros financeiros hegemônicos, especialmente Estados Unidos, Inglaterra e Alemanha, com seus sócios menores nos países em desenvolvimento, como o nosso.
Não somos hostis ao capital estrangeiro, ou ao capital em geral.
Somos hostis à exploração desenfreada da classe trabalhadora, independentemente da origem do capital.
Nisso me coloco alinhado ao Papa Francisco, na predicação moral mais importante de um papa neste século: a firme condenação da busca obsessiva pelo dinheiro em si, por múltiplos expedientes, inclusive de corrupção, espalhando em contrapartida a miséria por amplas camadas da sociedade.
Dessa forma, o capital predatório é um típico adorador de Mamom, o deus dinheiro, sendo responsável por inédita concentração de renda na história mundial.
O povo tem dificuldades de identificar os inimigos mais inescrupulosos da Nação, representado pelo capital financeiro, porque vivemos numa sociedade de desinformação.
A grande mídia, comprada pelos financistas, desinforma pelo que diz e pelo que deixa de dizer. Daí nossa responsabilidade estratégica nessa Frente, no sentido de fazer chegar à sociedade uma crítica honesta e corajosa em relação ao funcionamento da economia e, insista-se, ao processo de financeirização e desnacionalização.
Sem uma sociedade informada, os nossos esforços em defesa de uma economia não apenas nacional, mas nacionalista serão em vão. Entretanto, gostaria de expressar também a nossa opinião sobre outro tema relacionado com a globalização e a integração regional que circula há anos no mundo e na América do Sul. É a questão da integração comercial. Muitos a defendem por analogia com o processo original de integração na Europa. Esquecem-se de que, no pós-guerra, quando se colocou a proposta de integração comercial europeia, os seis países membros, saídos da guerra, apresentavam bases industriais similares ou complementares, sem grandes desníveis. A desgraça europeia foi o euro, instituído numa época em que a Alemanha assumira, inequivocamente, a hegemonia monetária e financeira no continente. Isso liquidou com a soberania fiscal de grande parte dos países europeus, sobretudo do sul da Europa.
Na América do Sul, tem-se aventado insistentemente a hipótese de uma integração comercial do Mercosul com a Europa. Por trás do comércio querem nos impor goela abaixo o livre trânsito de investimentos, de propriedade intelectual, de serviços. É a união do lobo com o cordeiro. E não me venham dizer que isso é nacionalismo exacerbado. É defesa da economia nacional.
Vários trabalhos acadêmicos têm demonstrado que a proteção industrial é fundamental para o desenvolvimento. “Chutando a escada”, do coreano Ha Joon Chang, mostra de forma inequívoca que todos os países hoje desenvolvidos recorreram a medidas protecionistas na época de sua decolagem.
E esses mesmos países, ao se tornarem desenvolvidos, passaram a pregar o liberalismo econômico para os outros. As posições ideológicas, claro, se movem segundo os interesses nacionais deles.
Portanto, convido meus pares dessa Frente a fazerem uma reflexão a respeito e ajudarem a tomarmos posições comuns.
A chama que moveu Leonel Brizola por suas longas décadas de luta continua viva.
*Roberto Requião, senador pelo PMDB do Paraná, é presidente da Frente Ampla Nacional.