Provas recolhidas por agentes federais mostram envolvimento do presidente de facto, Michel Temer, no esquema corrupto.
Por Redação – de Brasília
Com apenas 3,4% de aprovação do eleitor brasileiro, segundo a última pesquisa CNT/MDA, o presidente de facto, Michel Temer, perdeu o controle sobre parte das Forças Armadas. Embora o ocupante do Ministério da Defesa, deputado licenciado Raul Jungmann (PPS/PE), preposto de Temer junto aos militares, tenha previsto uma punição ao general Hamilton Martins Mourão, a orientação foi solenemente ignorada. Mourão disse, na semana passada, em uma reunião de maçons – esteios da ultradireita no país – que uma intervenção militar no governo seria factível e tem sido avaliada, diuturnamente, por generais do Alto Comando.
Butim
Moreira Franco foi ministro da presidenta Dilma Rousseff. Hoje no governo Temer, sob a mira dos militares, é citado em lista de delatores como ‘Gato Angorá’
Comandante do Exército, o general Eduardo Villas Bôas não apenas se recusou a aplicar qualquer medida punitiva contra o subordinado, mas concordou com ele. “Obedeceu a uma lógica óbvia: como vai punir um companheiro de farda, que expressou o sentimento do Alto Comando, se o próprio presidente da República é reconhecidamente corrupto e o Congresso Nacional está dominado por um grupo de parlamentares denunciados?”, avaliou o jornalista Luís Nassif, no Jornal GGN.
Não bastasse a ameaça de um novo desdobramento do golpe de Estado, com os coturnos às portas do Palácio do Planalto, Temer voltou a ser citado na delação premiada do doleiro Lúcio Bolonha Funaro, operador de propina do “quadrilhão”, conforme resumiu o ex-procurador-Geral da República, Rodrigo Janot, na denúncia em curso contra o peemedebista. Segundo o marginal, “(o deputado e hoje presidiário) Eduardo Cunha (PMDB-RJ) redistribuía propina a Temer, com ‘110%’ de certeza”.
A declaração consta de um dos depoimentos prestados por Funaro, em sua delação. Trata-se de apenas uma das referências a situações em que Temer, Cunha e outros integrantes do grupo criminoso teriam recebido dinheiro desviado dos cofres públicos. Há, ainda, nas confissões de Funaro, relatos de momentos em que a gangue brigava pela divisão do butim.
Um destes casos remete à definição de quem ocuparia um cargo na Caixa Econômica Federal (CEF), para roubar do Erário. O hoje detento Geddel Vieira Lima ocupou uma diretoria no banco e, segundo denúncia, desviou montanhas de dinheiro para as contas de seus cúmplices. Parte desses recursos, cerca de R$ 51 milhões, foi encontrada em um apartamento usado por Geddel na capital baiana.
Funaro
Ainda segundo Funaro, o ex-assessor e amigo pessoal de Michel Temer, o advogado José Yunes, lavava dinheiro para a quadrilha. Teria comprado imóveis para Temer, como forma de esconder os recursos ilícitos.
Ainda durante os governos do PT, de acordo com a delação do doleiro, os então deputados Michel Temer (PMDB-SP), Eduardo Cunha (PMDB-RJ) e Henrique Alves (PMDB-RN) eram responsáveis por obter cargos públicos e transformá-los em fontes perenes de propina. Cunha, lembra Funaro, atuava no “varejo”. Ele determinava qual posição no governo poderia render mais em renda. Temer e Alves, relata, operavam “no atacado”.
Estas e outras confissões constam da denúncia contra Temer e outros seis peemedebistas. Janot acusa-os de integrar a organização criminosa que desviou dinheiro de instâncias públicas e empresas como Petrobras, Furnas, Caixa, Ministério da Integração Nacional e Câmara dos Deputados.
FI-FGTS
O delator – em depoimento parcialmente vazado para a mídia conservadora – relata, ainda, que Cunha lhe contou sobre a atuação do ex-sindicalista André Luiz de Souza. Ele teria explicado a Temer como funcionava o FI-FGTS, o fundo de investimento alimentado com recursos do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço. Ele fazia parte do conselho do fundo e hoje é acusado de desviar dinheiro deste setor.
“Cunha disse que André de Souza explicou para Temer como funcionava o FI-FGTS; que aquilo seria como um ‘mini BNDES’”, relata Funaro, na confissão à PGR. Trata-se de uma referência à forma como o fundo libera recursos para empresas investirem em obras de infraestrutura.
Ainda nesta quinta-feira, a PGR revelou, em nota, ter conseguido recuperar dados contidos no sistema Drousys da Odebrecht. Com base nestas informações, elaborou novos relatórios com provas de repasses de propina de R$ 13,3 milhões, em dinheiro vivo. A propina teria sido destinada aos chefes da Casa Civil, Eliseu Padilha, e da Secretaria Geral da Presidência, Moreira Franco. Ambos também são amigos íntimos e principais assessores de Temer. Os três despacham no Palácio do Planalto. Padilha, nos dados que estavam no Drousys, é chamado de “Fodão”, “Primo” e “Bicuira”. Moreira é identificado como “Angorá”.
Porche Cayenne
A Polícia Federal também identificou, nos relatos de Lúcio Funaro, notas fiscais referentes ao suposto pagamento de propinas pagas por Henrique Constantino, dono da Gol Linhas Aéreas. Dentre os pagamentos identificados estaria a compra de um Porsche Cayenne, para o ex-deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ).
Constatino já havia confirmado em depoimentos à PF o repasse de propina a Cunha e a Funaro. Pagava para conseguir a liberação de recursos do FI-FGTS. O empresário busca um acordo de colaboração com as forças-tarefas das operações Sépsis e Cui Bono, que apuram desvios na CEF.
Ainda segundo a PF, Cunha liderava o lobby na Câmara para aprovar leis que beneficiavam as empresas de Constantino. Nos documentos analisados, a PF aponta cinco formas diferentes para o repasse de propinas. A primeira, ‘pagamentos de Notas Fiscais emitidas por empresas de Lúcio Funaro’; depois, ‘pagamentos realizados a terceiros, à ordem de Lúcio Funaro’; ‘pagamentos realizados diariamente às empresas do deputado Eduardo Cunha’; ‘pagamentos de Notas Fiscais de empresas de Lúcio Funaro para compra de um veículo Porsche Cayenne a Eduardo Cunha, com a troca de dinheiro vivo’. Por último, ‘pagamentos de doações ao PMDB, em especial a Gabriel Chalita’.
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