Em tom decisivo, o encontro teve por objetivo unificar o discurso da tropa, diante da apreensão gerada pelas declarações de alguns generais do Exército. Parte deles defende, abertamente, uma intervenção militar no Brasil.
Por Gilberto de Souza – do Rio de Janeiro
O Exército Brasileiro estaria longe de uma nova quartelada, embora uma parcela da ultradireita e setores isolados de partidos de esquerda tenham ventilado tal intenção, pelas redes sociais. Segundo apurou a reportagem do Correio do Brasil, junto a uma fonte ligada ao Comando Militar do Leste (CML), apesar do ambiente tenso, nas Forças Armadas, não haveria a pretensa disposição do Alto Comando do Exército em patrocinar uma intervenção armada, com o objetivo de “colocar ordem na casa”, conforme sugeriu o general Antonio Hamilton Mourão. A declaração ocorreu durante a reunião de uma loja maçônica, ligada à extrema direita, na Capital Federal.
As Forças Armadas, ainda segundo a fonte próxima ao generalato, que prefere permanecer anônima, estariam, de fato “preocupadas com os destinos do país”.
— A sensação de impunidade é muito grande. Vê-se o núcleo de um partido como o PMDB envolvido em denúncias graves e ainda presente na condução do governo. É algo inadmissível não apenas para os militares, mas para qualquer cidadão brasileiro. Mas se trata de uma questão civil, e as Forças Armadas têm plena consciência que não será por meio da força que o problema será equacionado — disse.
Generais na ativa
Na véspera, com a presença do Comandante-Militar do Leste e chefe do Estado-Maior, general Fernando Azevedo e Silva — cotado para substituir o general Eduardo Villas Bôas, no Comando do Exército — os comandantes de todas as regiões militares do país reuniram-se, na sede do CML, no Centro do Rio, para uma explanação direta, por parte dos seus superiores, sobre o momento político. A palestra teve cerca de uma hora e meia de duração.
Em tom decisivo, o encontro teve por objetivo unificar o discurso da tropa. Ocorreu diante da apreensão gerada pelas declarações de alguns generais que defendem, abertamente, uma intervenção militar no Brasil. O próprio general Villas Bôas, em uma rede social, afirmou que o objetivo do encontro foi passar uma orientação aos generais.
De acordo com aquela fonte, que teve conhecimento da pauta discorrida no CML, a maioria dos comandantes é contrária a “qualquer nova aventura” no campo político. E o encontro serviu para deter alguma iniciativa, nesse sentido; embora quem pense diferente não seja punido por isso, a exemplo do general Mourão. A reunião desta terça-feira é uma extensão, ampliada, do encontro realizado em Brasília, no início da semana.
Comando do Exército
Oficialmente, participaram da reunião no CML três ex-comandantes do Exército. Também, o ex-chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) nos dois mandatos do governo Lula (2003-2010), Jorge Félix. Em sua página, no Twitter, o comandante Villas Bôas também divulgou uma foto do auditório; embora o assunto não tenha sido publicado entre as notícias do setor de Comunicação Social do Comando do Exército. A agenda do comandante, na terça-feira, também não foi divulgada, publicamente.
Na página do CML, na internet, há somente um pequeno texto sobre a “recepção” ao comandante Villas Bôas. O início foi às 10h30 desta terça-feira. Segundo a publicação, participaram do encontro o chefe do Estado-Maior do Exército, general Fernando Azevedo e Silva; o chefe do Departamento de Educação e Cultura do Exército, general Mauro Cesar Lourena Cid; e o comandante do CML, general Walter Souza Braga Netto, “acompanhados por demais oficiais generais da ativa”.
De acordo com o CML, participaram além de Jorge Félix outros três ex-comandantes do Exército, hoje na reserva. Foram eles Carlos Tinoco Ribeiro Gomes, Gleuber Vieira e Enzo Martins Peri. O ex-ministro dos Transportes, general Rubens Bayma Denys também se fez presente, entre outros oficiais da reserva.
Nota à tropa
Na semana passada, o Centro de Comunicação Social do Exército divulgou uma nota, acerca das declarações de Mourão. O mesmo tom marcou o discurso de Villas Bôas aos generais.
Leia, adiante, a nota do Exército:
“1. O Exército Brasileiro é uma instituição comprometida com a consolidação da democracia em nosso país.
“2. O comandante do Exército é a autoridade responsável por expressar o posicionamento institucional da Força e tem se manifestado publicamente sobre os temas que considera relevantes.
“3. Em reunião ocorrida no dia de ontem (20 de setembro), o comandante do Exército apresentou ao Sr. Ministro da Defesa, Raul Jungmann, as circunstâncias do fato e as providências adotadas em relação ao episódio envolvendo o general Mourão, para assegurar a coesão, a hierarquia e a disciplina.
“4. O Comandante do Exército reafirma o compromisso da Instituição de servir à Nação Brasileira, com os olhos voltados para o futuro”.
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