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Matheus Kreling

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Crítica: "O que se Move" é um dos poucos sinais de vida do cinema paulista

12 de Maio de 2013, 21:00 , por Desconhecido - 0sem comentários ainda | No one following this article yet.
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No começo, parece que tudo está fora de lugar. O primeiro plano da mãe professora, muito ostensivo, o sotaque do garoto, estranhamente interiorano, a conversa no parque com a amiga...
Mas é preciso dar um crédito a "O que se Move". O filme de Caetano Gotardo merece, e é um desses poucos sinais de vida do cinema paulista.
Não que tudo esteja de fato ajustado. Mas é preciso, primeiro, observar que lidamos aqui com uma estética que se inspira no cineasta francês Robert Bresson, onde todo rigor do mundo é necessário a um bom resultado.
Divulgação
Rômulo Braga em cena do filme "O que se Move", de Caetano Gotardo
Rômulo Braga em cena do filme "O que se Move", de Caetano Gotardo
Em segundo lugar, o filme de Gotardo, tematicamente, pega precisamente o contrapé da mídia sanguinária paulista (que, a rigor, tenta agradar ao espírito de intolerância que se disseminou entre nós).
Faz isso a partir de três histórias: uma delas diz respeito à pedofilia; outra, a um reencontro familiar; a terceira, à morte de um filho pequeno em circunstâncias inesperadas.
Sobre as três convém manter certo silêncio: é a surpresa que fará o encanto do filme, é a surpresa que o projetará acima de eventuais imprecisões, é a força de suas elipses que nos arrancará de uma espécie de entorpecimento em que o início tende a projetar o espectador.
Pode-se perguntar por que isso acontece. Em certa medida é porque "O que se Move" busca opor sua linguagem, justamente, à onipresente linguagem midiática, essa que ocupa programas alarmistas de TV e se propaga pela internet.
Esse discurso identifica monstros e culpados em cada acontecimento.
"O que se Move" toma o contrapé desse tipo de linguagem. Como se a nos lembrar que é preciso muito mais para definir um ser humano (esse, aliás, é o tema da primeira canção do filme, belamente cantada por Cida Moreira).
Esse contrapé é que nos dá a ver com clareza a ambição do projeto e sua importância. Daí a necessidade de o espectador dar ao filme esse crédito inicial: desconheço a ordem em que foram filmados os episódios, mas do primeiro ao terceiro é perceptível o maior conforto na definição das distâncias, na escolha (e direção) de atores e mesmo na montagem.
Ao mesmo tempo, vale acomodar os olhos a um espetáculo significativo, contemporâneo, que não se acanha diante dos riscos.
Não custa lembrar que o mesmo grupo de realizadores (Filmes do Caixote) já havia criado um filme intrigante, "Trabalhar Cansa" (2011).
De lá para cá, verifica-se uma evolução que indica a consistência do grupo. Ainda se pode esperar mais.
O QUE SE MOVE
DIREÇÃO Caetano Gotardo
PRODUÇÃO Brasil, 2012
ONDE Espaço Itaú - Frei Caneca
CLASSIFICAÇÃO 14 anos
AVALIAÇÃO ótimo

Fonte: http://newsmatheus.blogspot.com/2013/05/critica-o-que-se-move-e-um-dos-poucos.html

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