Giselle Soares
Em 1980, quando o Plano de Ação de Lagos foi estabelecido, todos os países africanos se comprometeram a investir 1% do seu PIB em pesquisa científica. Hoje, mais de trinta anos depois, apenas cinco países atingiram esse objetivo: Egito, Marrocos, Tunísia, Maurício e Ruanda, o único que não só atingiu, como excedeu a meta, chegando a investir 3% do PIB em pesquisa científica. Quem fornece esses dados é Elizabeth Rasekoala, fundadora da Rede da África e do Caribe para a Ciência e a Tecnologia (ACNST), uma ONG com sede na Cidade do Cabo que trabalha para promover o desenvolvimento do capital humano; raça e igualdade de gênero; e inclusão social no empreendimento científico, na diáspora africana e no continente africano. Razekoala foi uma das palestrantes do 13a Conferência Internacional de Comunicação Pública da Ciência e Tecnologia (PCST), realizada de 5 a 8 de maio em Salvador, Bahia.
A porcentagem estabelecida no Plano de Ação de Lagos equivale ao que o Brasil investe atualmente em ciência, tecnologia e inovação, aproximadamente 1% do Produto Interno Bruto. Enquanto isso, nos países membros da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) a média de investimento é de 2,3% do PIB.
Segundo Rasekoala, os principais desafios para o desenvolvimento científico na África são a liderança e a vontade política, o financiamento para ciência e para pesquisa - que em grande parte vem do exterior -, a desconexão entre as pesquisas realizadas e o cotidiano das pessoas, e o capital humano limitado. "O tipo limitado de pesquisa que se faz na África é totalmente desconectado da realidade das pessoas comuns. A ciência continua sendo praticada por uma elite muito pequena", lamenta a pesquisadora. Ela destaca também a "fuga de cérebros" no continente: "As pessoas conseguem se qualificar, fazem seus doutorados e vão para o exterior porque não há oportunidades aqui. Nós continuamos neste ciclo vicioso", explica.
Pais e filhos participam de workshops de ciência em família - aqui, eles utilizam recursos materiai inovadores e inclusivos de capacitação, produzidos pela ACNST, para aprimorar a compreensão de conceitos básicos de ciência e expandir o conhecimento e a percepção das contribuições, em nível mundial, de pessoas de ascendência africana para o progresso da ciência e da tecnologia no passado e no presente. Crédito: ACNST
Rasekoala ressalta, ainda, a necessidade de estimular o debate público da ciência em países em desenvolvimento, a fimde que a população perceba a relação entre temas científicos e seu cotidiano. "Como você faz as mulheres entenderem a relação entre a vacinação e as doenças infantis, como polio, sarampo e o impacto na mortalidade infantil?", questiona. "Nós não olhamos para nossa própria realidade e não percebemos como podemos inovar para lidar com esses paradigmas. Acredito que a ciência pode auxiliar a inclusão social nesses países e que isso evitaria vários conflitos. Um dos consensos sobre o continente africano é que a falta de inclusão social é a causa principal de conflitos", afirma a fundadora da ACNST.
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