A situação política brasileira, luta de classe e formação política
Penso que muitas coisas diferentes podem passar pela cabeça de qualquer um ao se meter em tentar entender a conjuntura atual no Brasil permeado pela situação mundial que nunca pode ser deixada de lado ou abstraída, ao final de uma análise.
É preciso dizer também que as análises se diferenciam, principalmente, por suas diferentes visões de mundo, por seus métodos e, sobretudo, pelos objetivos aos quais estão ligados o próprio analista. Disto não se pode ter dúvida. Ou acharíamos que é possível a neutralidade. E o que é possível é a proximidade a objetividade dinâmica do movimento que se desenvolve. Complicado? Mas pensar a conjuntura atual é mesmo complicado.
Acho que todos que vêm a situação política atual deve concordar que algo de estranho se desenvolve. E eu aprendi de pequeno que é preciso estudar para falar. Que depois de estudar é preciso pensar. E pensando é preciso agir.
Algumas indicações aos amigos de leituras que podem colaborar no cotejamento das realidades históricas diferentes, mas que pode apontar métodos de analise, apontamentos para separar o relevante do menos relevante, o central, do periférico. Há mais ou menos cinco anos li o livro Formula para o Caos: A derrubada de Salvador Allende de autoria de Luiz Alberto Moniz Bandeira. Este livro é fundamental para entendermos o lugar dos EUA, da CIA, do FBI, das posições das Multinacionais, da Rússia, da China, do lugar da Revolução Cubana que já passava de década na compreensão do golpe que derrubou o presidente Salvador Allende.
Agora acabei de ler O Governo João Goulart: as lutas sociais no Brasil - 1961 - 1964 do mesmo autor. Outro livro fundamental para a compreensão deste período histórico.
Vou transcrever trecho da conclusão do autor:
"O golpe de Estado em 1964 constituiu um episódio da luta de classes, com o qual o empresariado, sobretudo seu setor estrangeiro, tratou de conter e reprimir a ascensão dos trabalhadores, cujos interesses, pela primeira vez na história do Brasil, condicionavam diretamente as decisões da presidência da República, devido às vinculações de João Goulart com os sindicatos. As multinacionais, que investiam em países em desenvolvimento, como o Brasil, em busca de fatores mais baratos de produção, para compensar a queda da taxa de lucro nos Estados Unidos e na Europa, não podiam tolerar, naquela conjuntura, um governo sensível às reivindicações sindicais, o estabelecimento de um regime social-democrata, de garantia do trabalho, semelhante ao existente nos estados de bem-estar-social, de onde os capitais então emigravam. E a CIA, por meio das mais variadas modalidades de ações encobertas e operações para solapar o governo do presidente João engrasvesceu a crise interna, induzindo artificialmente o processo político à radicalização, muito além dos próprios impulsos intrínsecos das lutas sociais, com o objetivo de provocar a intervenção das Forças Armadas e a execução do golpe de Estado." (Moniz Bandeira, 2010, p. 416)
E outro trecho:
"O governo de João Goulart, quando caiu, contava com 76% da opinião pública a seu favor, elevado índice de popularidade, não obstante a formidável campanha, que a oposição interna e externa promovera, com o objetivo de desestabilizar." (Moniz Bandeira 2010, p.421)
Acho que muito ainda pode ser pensando sobre nossa atualidade, mas deixo esta parte, ainda, pois voltarei ao tema, para cada um pensar.
O fato principal é que é preciso estudar para realmente compreender.