Os policiais estão hoje confrontando o mesmo poder político jurídico que defendem há mais de 200 anos
Rio - Policiais civis e militares estão nas ruas em protesto pelo atraso no pagamento de seus salários. A crise econômica do estado revela a crise política, inscrita há pelo menos três anos no país, quando as manifestações de 2013 levaram milhares de jovens às ruas, motivados inicialmente pela redução das tarifas de ônibus. Mas não era por 20 centavos...
O melhor momento da política é a crise. Já tem policial dizendo que a única maneira de resolver a falta de pagamento dos salários é tacando fogo em tudo! Será que vão chamar os black blocs? E o sindicato dos delegados de polícia pretende realizar ação conjunta com os agentes para possível greve. Mas não foram os delegados que saíram da carreira policial para ingressar no mundo jurídico?
Mundo jurídico sem salário é igual ao mundo policial. O único momento em que policiais se identificam com os demais trabalhadores é na falta de pagamento dos seus salários.
A polícia é a força de trabalho do sistema de (in)justiça criminal, seja no patrulhamento das ruas, nas operações repressivas, no cumprimento das prisões, bem como nas investigações realizadas pela Polícia Civil. Em contrapartida, magistrados e promotores de justiça recebem salários de “mundo jurídico”, usufruindo na forma da mais-valia o labor das atividades policiais que impulsionam as suas próprias funções.
Os operadores jurídicos em nosso país estabelecem seus salários em patamares completamente desproporcionais aos salários dos policiais. Fazem isso através de acordos espúrios com o poder político, poder este que é mantido pelo árduo trabalho dos policiais.
Recentemente o Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro declarou ilegal a greve dos professores. Esses mesmos professores foram covardemente surrados pela polícia em diversas manifestações por melhoria das condições de trabalho e de salário.
Os policiais estão hoje confrontando o mesmo poder político jurídico que defendem há mais de 200 anos. Quando este moinho de gastar gente, na expressão de Darcy Ribeiro, se voltar ainda mais contra o policial nas suas lutas legítimas, talvez seja tarde demais para os tiras reconhecerem que protestar não é mais crime.
Orlando Zaccone é delegado da Polícia Civil