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Política, Cidadania e Dignidade

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April 3, 2011 21:00 , by Unknown - | No one following this article yet.

Prazo para remoção de mensagens ofensivas nas redes sociais comentários ao REsp 1.323.754-RJ - STJ - 3ª Turma

February 3, 2016 7:49, by POLÍTICA CIDADANIA E DIGNIDADE

Consoante entendimento mantido no julgamento do REsp. nº 1.323.754, o STJ definiu que os provedores de páginas na internet devem, preventivamente, retirar do ar conteúdos denunciados pelos usuários, no prazo máximo de 24 horas.
A Terceira Turma do STJ finalmente definiu o prazo considerado razoável para que os provedores de páginas da internet retirem do ar os conteúdos abusivos denunciados pelos usuários, qual seja, 24 (vinte e quatro) horas.
No caso, a Google levou mais de dois meses para retirar do ar o conteúdo denunciado como abusivo pela autora da ação, reconhecendo que esse ínterim afigura-se despido de razoabilidade.
Asseverou-se, ainda, que não cabe ao provedor analisar o mérito da denúncia feita pelo usuário, tendo tal prazo natureza acautelatória, sendo que, caso seja desobedecido, poderá o provedor ser responsabilizado solidariamente, por omissão, junto com o autor da ofensa.
Veja-se:
    REDES SOCIAIS. MENSAGEM OFENSIVA. REMOÇÃO. PRAZO
    A Turma entendeu que, uma vez notificado de que determinado texto ou imagem possui conteúdo ilícito, o provedor deve retirar o material do ar no prazo de 24 horas, sob pena de responder solidariamente com o autor direto do dano, pela omissão praticada. Consignou-se que, nesse prazo (de 24 horas), o provedor não está obrigado a analisar o teor da denúncia recebida, devendo apenas promover a suspensão preventiva das respectivas páginas, até que tenha tempo hábil para apreciar a veracidade das alegações, de modo que, confirmando-as, exclua definitivamente o perfil ou, tendo-as por infundadas, restabeleça o seu livre acesso. Entretanto, ressaltou-se que o diferimento da análise do teor das denúncias não significa que o provedor poderá postergá-la por tempo indeterminado, deixando sem satisfação o usuário cujo perfil venha a ser provisoriamente suspenso. Assim, frisou-se que cabe ao provedor, o mais breve possível, dar uma solução final para o caso, confirmando a remoção definitiva da página de conteúdo ofensivo ou, ausente indício de ilegalidade, recolocá-la no ar, adotando, na última hipótese, as providências legais cabíveis contra os que abusarem da prerrogativa de denunciar. Por fim, salientou-se que, tendo em vista a velocidade com que as informações circulam no meio virtual, é indispensável que sejam adotadas, célere e enfaticamente, medidas tendentes a coibir a divulgação de conteúdos depreciativos e aviltantes, de sorte a reduzir potencialmente a disseminação do insulto, a fim de minimizar os nefastos efeitos inerentes a dados dessa natureza. REsp 1.323.754-RJ, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 19/6/2012.
Comentários:
O primeiro ponto relevante a ser destacado nesse julgado refere-se à indefinição do prazo considerado razoável para que os provedores retirem do ar os conteúdos considerados abusivos, impróprios etc., por quem os denunciar. A relatora do processo, Ministra Nancy Andrighi, consignou no acórdão que, antes dessa decisão, ambos os colegiados de Direito Privado do STJ (3ª e 4ª Turmas) já reconheciam a necessidade de bloqueio desse tipo de informação, porém, não chegaram a definir qual seria esse prazo. A esse respeito, confira-se: REsp. 1.186.616/MG, 3ª Turma, Rel. Min. Nancy Andrighi, DJe de 31.08.2011 e REsp 1.175.675/RS, 4ª Turma, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, DJe de 20.09.2011.
Com relação ao último julgado, acima noticiado, na origem a decisão monocrática havia considerado como razoável o prazo de 48 (quarenta e oito horas) para que a Google retirasse do ar toda e qualquer manifestação difamatória à pessoa do autor da ação, mas, sobrevindo o recurso especial, a 4ª Turma, como dito, nada sedimentou acerca do prazo para que tal providência fosse tomada pelo provedor, o que só veio a ocorrer no processo que deu origem ao acórdão em estudo.
O segundo ponto que merece destaque reside exatamente na polêmica envolvendo a medida drástica de remoção do conteúdo denunciado. Mal a decisão veio ao conhecimento público, vozes já se levantaram acusando-a de ofensiva à liberdade de expressão, consagrada no Texto Maior (art. 5º, IV). Comentando o "decisum", o advogado Guilherme Damásio Goulart, em artigo publicado na revista Consultor Jurídico assim se manifestou:
    “Não se discute o fato de que a decisão procura equacionar e compatibilizar, basicamente, dois interesses: por um lado a liberdade de expressão e, por outro, a proteção daqueles que forem lesados por meio de conteúdos ofensivos. No entanto, não pode ser afastado o fato de que a definição da ilicitude de um material publicado na internet deve passar obrigatoriamente pelo crivo do Judiciário. No afã de proteger os interesses dos ofendidos na internet, a decisão estabelece a desnecessidade de recorrer ao Judiciário, dando aos provedores o poder de "julgar" o que venha a ser um "conteúdo desabonador". O raciocínio é perigoso e, se aplicado a outras situações, pode gerar situações bastante perigosas para a própria liberdade de expressão” (http://www.conjur.com.br/2012-jun-26/definir-prazo-retirada-conteudo-internet-precedente-perigoso).
Opinião semelhante foi exarada pelo também advogado Gustavo Rocha, que assim pontuou:
    “Ou seja, mesmo diante de nenhum pedido oficial, nenhuma ação, nenhum tipo de crivo, basta alguém clicar em denuncio e isto será tirado do ar?
    Então, se eu escrevo dizendo que gosto mais do Iphone do que de um Samsung, um usuário do Samsung, não concordante da minha opinião, clicará em denuncio o conteúdo e o facebook (por exemplo) terá que tirar do ar o meu artigo/tese/opinião…
    Arriscado. Como bem delimitou o colega Kaminski, em ano eleitoral isto será uma balbúrdia. Será uma enxurrada de pedidos de denuncio dentro das redes sociais e cada vez que não atendidos, demandas e mais demandas judiciais, com base num paradigma decidido na semana passada.
    E a minha liberdade (já amplamente vigiada pela Constituição e leis civis) onde anda?
    Ainda prefiro uma decisão judicial a ser obedecida do que uma ideia de padronizar algo que não é igual, ou seja, um exemplo típico de injustiça (ser desigual aos iguais).
    Tomara que seja uma decisão isolada (senão este artigo será censurado com denuncio em redes sociais)…” (http://gestao.adv.br/index.php/redes-sociais-ofensas-24-horaseo-judiciario/)
Apesar das respeitáveis opiniões, é de se concordar com a decisão proferida pela Terceira Turma do STJ.
Em primeiro lugar, entendemos que não se trata de “julgamento” à margem do Poder Judiciário, como colocado por Guilherme Damásio Goulart, pois o STJ demarcou apropriadamente a questão, ao consignar, expressamente, que a medida possui caráter preventivo, fundamentando o entendimento pretoriano na técnica de ponderação de princípios, como bem destacado pela ministra relatora em seu voto condutor, com destaque para o seguinte trecho:
    “Embora esse procedimento possa eventualmente violar direitos daqueles usuários cujas páginas venham a ser indevidamente suprimidas, ainda que em caráter temporário, essa violação deve ser confrontada com os danos advindos da divulgação de informações injuriosas, sendo certo que, sopesados os prejuízos envolvidos, o fiel da balança pende indiscutivelmente para o lado da proteção da dignidade e da honra dos que navegam na rede”.
Assim, no caso concreto, é de se concordar inteiramente com o afastamento momentâneo do princípio que garante o direito fundamental à liberdade de expressão, fazendo com que sobre ele prevaleça o superprincípio da dignidade humana, de modo a proteger os direitos da personalidade de outrem.
Ademais, a nosso aviso, a retirada do ar de conteúdo supostamente ilícito pelo prazo exíguo de 24 horas não pode caracterizar ofensa substancial à liberdade de expressão quando, de outro lado, estiver em evidência potencial ofensa à honra, liberdade, intimidade, privacidade etc. Em outras palavras, para quem ventila o conteúdo supostamente ilícito (ao menos em tese), não conseguimos visualizar nenhum prejuízo substancial. Mas, o contrário não pode ser dito para quem esteja exposto à possível ofensa, pois em razão da velocidade com que os conteúdos circulam na grande rede, algo depreciativo adquire proporções bem maiores e consequências mais graves, conforme considerado pelo colegiado julgador.
Em segundo lugar, acaso alguém se lance a denunciar conteúdos alheios, sabedores de que não contém qualquer ilicitude, abusividade, impropriedade etc., como ventilado por Gustavo Rocha, certamente incorrerá em abuso de direito, caracterizado como ato ilícito, consoante disposto no art. 187 do Código Civil:
    Art. 187. Também comete ato ilícito o titular de um direito que, ao exercê-lo, excede manifestamente os limites impostos pelo seu fim econômico ou social, pela boa-fé ou pelos bons costumes.
Não foi outra a conclusão da Turma julgadora, que assim se pronunciou sobre esse ponto específico:
    “Ademais, o diferimento da análise do teor das denúncias não significa que o provedor poderá postergá-la por tempo indeterminado, deixando sem satisfação o usuário cujo perfil venha a ser provisoriamente suspenso. Cabe ao provedor, o mais breve possível, dar uma solução final para o caso, confirmando a remoção definitiva da página de conteúdo ofensivo ou, ausente indício de ilegalidade, recolocando-a no ar, adotando, nessa última hipótese, as providências legais cabíveis contra os que abusarem da prerrogativa de denunciar.”
Sendo assim, se alguém, agindo abusivamente, denunciar um conteúdo que saiba não ser ilícito, fazendo-o por puro capricho ou com o objetivo de provocar, lesar, se vingar; enfim, visando prejudicar outrem, estará agindo de má-fé, e consequentemente de forma ilícita, o que autoriza a parte lesada a reclamar a respectiva indenização caso sofra um dano em decorrência da conduta daquele que denuncia abusivamente.
No que toca especificamente ao caso em comento, outro importante fato merece atenção, e se relaciona com o argumento no sentido da alegada inviabilidade técnica de se proceder ao controle de conteúdos na internet. Consta do acórdão que:
    “No que tange à viabilidade técnica de se proceder à exclusão em tempo tão exíguo, consta da sentença que a própria GOOGLE informa aos usuários que, feita a reclamação por intermédio da ferramenta ‘denúncia de abusos’ e concluindo-se que ‘o conteúdo denunciado viola as leis vigentes no mundo real ou infringe as políticas do Orkut, poderemos removê-lo imediatamente e reportar as informações às autoridades competentes”.
Esse detalhe é de suma importância, pois somente vem a corroborar a responsabilidade expressamente assumida pelo provedor, no sentido de dispor de ferramentas eficientes ao controle de conteúdo. Sendo assim, se o provedor cria suas próprias regras, segundo as quais assume o dever de remover conteúdos abusivos, não pode, em momento posterior alegar que não dispõe de meios para cumpri-las. Omitindo-se, deve responder solidariamente pelos danos eventualmente causados ao ofendido pelo conteúdo não removido.
Finalmente, a nosso juízo, a decisão da 3ª Turma do STJ, apesar das críticas que recebe, merece aplausos, pois mostra-se perfeitamente fiel e harmônica com os princípios supremos que norteiam nosso ordenamento jurídico, na medida em que se preocupa exatamente em delimitar um lapso temporal para que nenhum dos direitos fundamentais envolvidos (dignidade humana e liberdade de expressão) restem prejudicados.


Autor

  • Vitor Guglinski

    Advogado. Pós-graduado com especialização em Direito do Consumidor. Membro correspondente do Instituto Brasileiro de Política e Direito do Consumidor (BRASILCON). Ex-assessor jurídico da 2ª Vara Cível de Juiz de Fora-MG. Colaborador dos principais periódicos jurídicos do país. Professor-conteudista do site Atualidades do Direito (www.atualidadesdodireito.com.br/vitorguglinski). Currículo Lattes: http://buscatextual.cnpq.br/buscatextual/visualizacv.do?id=K4246450P6



Pena de perdimento não pode ser revertida após trânsito em julgado

February 3, 2016 7:47, by POLÍTICA CIDADANIA E DIGNIDADE

DECISÃO DEFINITIVA



Se a decisão que decretou a pena de perdimento de um bem utilizado em crime transitou em julgado, não é possível revertê-la por meio de mandado de segurança. Com esse entendimento, a 2ª Turma do Superior Tribunal de Justiça negou pedido de uma diarista para que seu veículo, apreendido juntamente com drogas, fosse restituído.
No caso, o automóvel foi usado pelo filho da autora da ação, preso em flagrante por posse de drogas supostamente para fins de tráfico. A defesa alegou que o veículo não teria relação com a atividade criminosa e, assim, não seria aplicável o artigo 34 da Lei 6.368/76, na redação dada pela Lei 9.804/99.
Segundo esse artigo, “os veículos, embarcações, aeronaves e quaisquer outros meios de transporte, assim como os maquinismos, utensílios, instrumentos e objetos de qualquer natureza, utilizados para a prática dos crimes definidos na lei, após a sua regular apreensão, ficarão sob custódia da autoridade de polícia judiciária, excetuadas as armas, que serão recolhidas na forma da legislação específica”.
Em seu voto, o relator, ministro Humberto Martins, afirmou que, ao consultar o sistema eletrônico do Tribunal de Justiça de São Paulo, notou que houve apelação no caso e que, após isso, a ação criminal transitou em julgado, de forma definitiva. "Assim, a pena de perdimento do bem tornou-se impossível de ser revertida por meio de mandado de segurança", registrou o ministro. Com informações da Assessoria de Imprensa do STJ.
RMS 45.713
Revista Consultor Jurídico



Autor de parecer não é responsável por suposta irregularidade em licitação

February 3, 2016 7:45, by POLÍTICA CIDADANIA E DIGNIDADE

CARÁTER OPINATIVO



Pareceres jurídicos têm caráter opinativo, e não vinculante. Desse modo, o autor do documento não pode ser responsabilizado pelo conteúdo produzido, a não ser que seja constatada motivação para a conduta. Com esse entendimento, a Câmara Criminal do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Norte decidiu, por unanimidade, trancar liminarmente uma ação movida pelo Ministério Público do estado contra um advogado.
O réu foi denunciado perante o juízo da Vara Criminal da Comarca de Pau dos Ferros (RN) por suposta montagem licitatória para reforma e ampliação de unidades escolares geridas pela administração municipal. O advogado foi responsabilizado porque emitiu parecer favorável à seleção pública.
Ao analisar o caso, o relator do processo, desembargador Glauber Rêgo, destacou o fato de o parecer jurídico ter competência opinativa, e não vinculante. Também citou que não foram encontradas provas no documento que confirmassem o crime pelo qual o advogado era acusado.
“Dentro da perspectiva de conhecimento que um advogado, na condição de parecerista jurídico, alcançaria, o objeto da licitação foi corretamente discriminado na mesma minuta do edital [...] Em outras palavras, não houve erro grosseiro ou teratologia jurídica na peça produzida pelo paciente”, disse Glauber Rêgo. Com informações da Assessoria de Imprensa do Conselho Federal da OAB.
Clique aqui para ler a decisão.
Habeas Corpus 2015.017729-7
Revista Consultor Jurídico



Juiz não pode oferecer transação penal de ofício, diz Turma Recursal Criminal

February 3, 2016 7:44, by POLÍTICA CIDADANIA E DIGNIDADE

PRERROGATIVA DO MP



O Ministério Público, como titular da ação penal pública, tem a prerrogativa exclusiva de propor os benefícios da transação penal e da suspensão condicional do processo, como dispõe o artigo 76 da Lei 9.099/95. Por isso, a Turma Recursal Criminal dos Juizados Especiais Criminais do Rio Grande do Sul desconstituiu decisão que ofertou, de ofício, esse benefício a um acusado residente na Comarca de Guaporé. Com o provimento da apelação, o colegiado declarou a nulidade do processo desde a audiência preliminar, determinando a renovação dos atos processuais.
O relator do recurso, juiz Edson Jorge Cechet, disse que a legitimidade exclusiva do parquet decorre de princípio constitucional previsto no artigo 129, inciso I, da Constituição. Assim, o juiz de origem, mesmo diante da ausência do promotor na audiência, não poderia formular diretamente essa proposta. Antes, deveria remeter os autos ao Ministério Público para colher manifestação acerca da oferta ou não do benefício.
Além disso, alertou Cechet, há outra irregularidade que determina a renovação do ato: não havia advogado para o acusado na solenidade judicial na qual foi ofertada a transação penal. Como se trata de providência prevista na legislação, tem-se a nulidade absoluta.
‘‘Diferente seria o caso de adequação, pelo magistrado, de proposta que partisse do Ministério Público. Essa possibilidade tem sido aceita pela jurisprudência, haja vista que o juiz pode, examinado o caso, adaptar a proposta à realidade dos fatos, observando a capacidade do transigente, o que também se insere no poder discricionário que lhe é conferido, sem que isso caracterize alteração do cerne da oferta’’, esclareceu o relator em seu voto.
O juiz Luiz Antônio Alves Capra, que atuou como revisor no julgamento, afirmou que tal solução permite afastar eventual lesão a direito, como decorrência da violação a direito público subjetivo do autor do fato. ‘‘Pensar de forma diferente importaria consagrar em uma interpretação assistemática e em desconformidade com a Constituição Federal’’, disse. A decisão do colegiado foi lavrada na sessão do dia 14 de dezembro.
Clique aqui para ler o acórdão.
 é correspondente da revista Consultor Jurídico no Rio Grande do Sul.

Revista Consultor Jurídico



Com crise represada até fevereiro, Governo tenta destravar a economia

February 3, 2016 7:43, by POLÍTICA CIDADANIA E DIGNIDADE


Em 2015, Dilma Rousseff amargou a deflagração de um pedido de impeachment na Câmara, um desentendimento público com seu vice-presidente, a demissão de um ministro da Fazenda e sua menor taxa de aprovação em cinco anos. Após um ano como esse, de caos e imobilidade, os quase dois meses de recesso no Congresso Nacional, quando os parlamentares não têm sessões nem a Justiça trabalha, chegam em tom de trégua e alívio na guerra política, represada até o mês que vem. É por isso que a gestão do PT pretende aproveitar essa janela de calmaria em Brasília para apresentar um plano de estímulo econômico, capaz de dar algum impulso à economia que enfrenta sua pior recessão em ao menos 25 anos, mas sem esquecer a promessa de ajuste, que deve envolver mudanças nas regras de pensões, impostos e leis trabalhistas.
A reportagem é de Rodolfo Borges, publicada por El País, 06-01-2016.
Na esperança de destravar a economia enquanto não precisa domar a própria base no parlamento, Dilma prepara um plano para apresentar no fim do mês ao Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social, mais conhecido por Conselhão, o grupo composto por líderes empresariais e sindicais criado por seu antecessor e esquecido pela presidenta desde julho de 2014. A ideia é apresentar uma agenda pós-ajuste fiscal — ainda que o Governo não tenha conseguido finalizá-lo em 2015 — e incluir no pacote medidas com ao menos verniz de reformas estruturais. É com essa agenda que o substituto de Joaquim Levy na Fazenda, Nelson Barbosa, parte para o Fórum Econômico Mundial, em Davos, no próximo dia 20.
Caberá a Barbosa convencer os investidores estrangeiros, como já tentou sem muito sucesso no dia de sua posse, de que, apesar de sua proximidade com Dilma, pretende dar continuidade à política de ajuste conduzida a duras penas por seu antecessor. A tarefa é dupla: foi incumbido também de promover a retomada do crescimento em um país cuja economia deve encolher mais de 2% pelo segundo ano consecutivo.
Segundo o ministro-chefe da Casa Civil, Jaques Wagner, a equipe econômica pretende retomar a confiança de trabalhadores, empresários e de investidores estrangeiros, mas "não estamos mais em tempo de pacotes". "Não tem coelho na cartola", disse a jornalistas nesta quarta-feira, em Brasília, o ministro, destacando que o Governo vai "buscar o equilíbrio macroeconômico, o equilíbrio fiscal, abrindo trilhas para uma retomada do crescimento".
A missão econômica do Planalto é multifacetada e tem de disputar espaço na agenda com a crise política e com os interesses do ano eleitoral. O Governo tentará retomar, a partir de fevereiro, a batalha para aprovar a indigesta CPMF, mas para isso depende de dois apoios frágeis: o do PMDB, até agora principal aliado do Governo, que realiza em março a convenção que pode selar seu desembarque da gestão Dilma Rousseff, e o do próprio PT.
A tentativa de reaproximação com os peemedebistas, em particular o vice-presidente Michel Temer, está sendo capitaneada por Jaques Wagner. É dos nomes do PMDB que depende a prova de fogo mais elementar, a do impeachment, cujos capítulos também voltam a se desenrolar em fevereiro. Enquanto tenta colocar seu Governo de pé — o que pode exigir algumas concessões à agenda liberal apresentada recentemente pelo vice Temer —, a presidenta Dilma sofre pressões do PT por uma agenda econômica mais progressista, ou pelo menos algo capaz de amenizar o impacto das derrotas que os petistas devem sofrer nas urnas em outubro, devido ao desgaste do partido.
Uma mostra da resistência na legenda da presidenta apareceu nesta terça-feira. O senador Paulo Paim (PT), que, a exemplo do que fizeram colegas de partido, ameaça deixar a sigla, divulgou uma nota para criticar os planos de reforma trabalhista e da previdência anunciados pelo Governo, que classificou como "barbárie", e convocou uma mobilização popular. "Propor a idade mínima de 65 anos para efeito de aposentadoria para homens e mulheres, desvincular o salário mínimo dos benefícios previdenciários, querer aprovar projetos como o da 'terceirização', que não respeita a atividade-fim, e, ainda o famigerado 'negociado sobre o legislado', que permite que a negociação prevaleça, desrespeitando a lei, nem a ditadura e os liberais do passado o fizeram", critica Paim. O senador promete convocar audiência pública sobre o assunto na Comissão de Direitos Humanos, presidida por ele, na primeira semana de trabalho do ano.
Incertezas
Ainda que faça todos os cálculos e movimentos corretos, contudo, o Governo seguirá 2016 assombrado pela Operação Lava Jato, que mudou o tabuleiro político mais de uma vez em 2015 — na jogada mais decisiva, o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB), rompeu com o Palácio do Planalto após ser atingido em cheio pelas investigações. Para este ano, a maior expectativa recai sobre a forma como o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB), hoje o grande fiador da presidenta no Congresso, será afetado pela operação, e de que maneira reagirá em caso de revés.
Não por acaso, a consultoria Eurasia pôs o Brasil entre os dez maiores riscos globais do ano, ao lado de Arábia Saudita, China, Turquia e Estado Islâmico. Os analistas da Eurasia consideram que, apesar das pressões e do tumultuado processo iniciado na Câmara e paralisado após intervenção do Supremo Tribunal FederalDilma escapa do impeachment, mas que o Governo seguirá sem força para implementar as reformas necessárias para ajustar suas contas — o mesmo deve ocorrer, segundo a consultoria, em um possível Governo Temer.
O quadro não parece muito animador, mas economistas ligados ao PT se esforçam para construir uma narrativa mais otimista. Em nota distribuída pela agência de notícias do PT, Marcio Pochmann, professor da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e presidente do IPEA, o principal órgão de pesquisa econômica do Governo, na gestão Lula, diz que"o quadro é difícil", mas que consegue enxergar "um horizonte do ponto de vista econômico para a recuperação".
Pochmann prevê “um ano de menor inflação, de menor queda do PIB, um ano de maior expansão das exportações em relação às importações, um ano de contas públicas equilibradas". Para o economista, "2016 será o ano em que o Brasil estará melhor preparado para poder retomar a recuperação econômica”. Pelo histórico, é difícil acreditar que 2016 será pior que 2015 para o Governo Dilma, mas o que o Planalto conseguirá fazer a partir dessa constatação é uma questão que começa a ser respondida em fevereiro, quando a crise política romper a represa.



Por que precisamos levar a sério o decoro parlamentar ou a moralidade administrativa?

February 3, 2016 7:41, by POLÍTICA CIDADANIA E DIGNIDADE

A humanidade tem abordado estas questões como parte dos esforços constantes para aperfeiçoar, ainda mais, a democracia, não apenas como uma forma de governo, mas também como um modo de vida.
À medida que o tempo avança, as leis progridem para alcançar a realidade social que deseja e que realiza a pessoa constitucional; paralelo a isso, a corrupção se manifesta de forma incontrolável em uma proporção infinitamente maior.
O mal conhecido como “corrupção” - a “doença dos séculos” - atua de forma aniquiladora, fatal! É possível contabilizar os males da corrupção? Quantos foram prejudicados pela impossibilidade de desenvolvimento social?  Diante dessa indagação, seria o câncer, na verdade, a doença que mais mata no mundo? Todo ano morrem cerca de 7,6 milhões de pessoas com câncer, mas e com a corrupção, quantos morrem anualmente? Os índices da corrupção afetam diretamente e indiretamente quantas pessoas constitucionais, aniquilando seus sonhos, suas garantias de desenvolvimento, de erradicação da pobreza e da marginalização, de redução das desigualdades sociais, suas esperanças de uma vida melhor?
“(…) Nas favelas, no Senado
Sujeira pra todo lado
Ninguém respeita a constituição
Mas todos acreditam no futuro da nação
Que país é esse?” (Renato Russo)
“(…) Vamos celebrar a estupidez do povo
Nossa polícia e televisão
Vamos celebrar nosso governo
E nosso Estado, que não é nação
Celebrar a juventude sem escola
As crianças mortas
Celebrar nossa desunião.” (Renato Russo)
A corrupção é culpa da impunidade secular e eles, os corruptos e os corruptores, contam também com o “nosso esquecimento”. Precisamos de mudanças nas regras!
Praga insidiosa que tem uma ampla gama de efeitos corrosivos sobre as sociedades, a corrupção enfraquece a democracia e o Estado de Direito, leva a violações dos direitos humanos, distorce os mercados, corrói a qualidade de vida e permite que o crime organizado, o terrorismo e outras ameaças à segurança humana possam florescer[1].
Ainda, de acordo com Annan, este fenômeno do mal é encontrado em todos os países, seja de grande ou pequeno porte, rico ou pobre, mas é na perspectiva do desenvolvimento que seus efeitos são mais destrutivos. A corrupção atinge os pobres de forma desproporcional, por desviar fundos destinados ao seu desenvolvimento, minando a capacidade de um governo de prestação de serviços básicos, principalmente os direitos fundamentais sociais. É um elemento-chave no mau desempenho econômico e um importante, se não o mais grave obstáculo para o alívio da pobreza e da redução das desigualdades sociais.
A corrupção foi declarada mundialmente uma ameaça para o desenvolvimento sustentável das pessoas, à estabilidade e segurança das sociedades e do governo, minando as instituições e os valores da democracia, os valores éticos e de justiça e pondo em risco o desenvolvimento sustentável e do Estado de Direito.
E os códigos de “decoro” foram criados, também com a finalidade de combater a corrupção. Devem promover a integridade, honestidade e responsabilidade entre os funcionários públicos, de acordo com os princípios fundamentais do sistema jurídico. E devem ser aplicadas as medidas disciplinares adequadas!
Decoro[2], decência, compostura, dignidade, honestidade, honradez. A concepção semântica da palavra já nos remete à virtude moral. A palavra em sua concepção, por inúmeras razões, possui núcleos distintos de aderência.
Decoro parlamentar já nos remete a outro núcleo semântico. Tal é seu valor que, segundo Narain[3], disciplina, decoro e dignidade são de suma importância para o bom funcionamento e sucesso das instituições democráticas. Esta é uma preocupação mundial, visto no contexto da evolução da democracia. A falta de decoro é um problema grave, considerado aberração.
O sucesso, a eficácia e o prestígio de qualquer instituição está associado à medida que adere aos padrões de disciplina. Além disso, constitui norma fundamental. Isto é particularmente mais importante, quando a dita instituição representa o povo, uma vez que aí são constituídos fóruns de democracia para levar a cabo, entre outras atividades, a principal tarefa de condução do estado, segundo Narain. Estas normas fundamentais sempre foram consideradas “sagradas” e, portanto, são protegidas, preservadas e defendidas.
A humanidade tem abordado estas questões como parte dos esforços constantes para aperfeiçoar, ainda mais, a democracia, não apenas como uma forma de governo, mas também como um modo de vida. Significa dizer que se a reputação de nossos corpos representativos estão em declínio, a própria democracia está em perigo. Portanto, a honra destas legislaturas devem rigorosamente ser vigiadas e qualquer mau comportamento deve conduzir à investigação e ação.
Em terras brasileiras, a Constituição Política do Império do Brazil, de 1824, se referia ao “decoro” no capítulo III, nos art. 107 e 108. No art. 107, a referência estava centrada respectivamente a dotação que receberia a Imperatriz e que deveria corresponder ao “decoro de Sua Alta Dignidade”. Já no art. 108, a presente norma aludia à  informação de que esta dotação deveria ser aumentada, visto que as circunstâncias à época não permitiam que se fixasse uma soma adequada ao “decoro” de “Suas Augustas Pessoas, e Dignidade da Nação”.
Já as Constituições de 1891, de 1934 e 1937 não fizeram menção ao termo.
A Carta de 1946, no capítulo III - do poder legislativo, em seu art. 48, que tratava da perda do mandado parlamentar, afirmou, no § 2º do inciso II, que:
“Perderá, igualmente, o mandato o Deputado ou Senador cujo procedimento seja reputado, pelo voto de dois terços dos membros de sua Câmara, incompatível com o decoro parlamentar.” (grifo nosso)
A Carta de 1967 tratou de manter o dispositivo, em seu art. 37, inciso II, com referência a perda do mandato, ampliando sua redação. Desta vez, assegurando que o processo seria declarado, em votação secreta, por dois terços da Câmara ou do Senado, mediante provocação de qualquer de seus membros, da mesa ou de partido político.
A  Emenda Constitucional nº 01, de 17 de outubro de 1969 que alterou a Carta de 1967, tratou de acrescer ao dispositivo da perda do mandato, previsto no art. 35, inciso II, outra hipótese de quebra de decoro parlamentar, como o ato atentatório das instituições vigentes. Ressalta-se que o referido dispositivo mencionou também que: “além de outros casos definidos no regimento interno, considerar-se-á incompatível com o decoro parlamentar o abuso das prerrogativas assegurada aos congressistas ou a percepção, no exercício do mandato, de vantagens ilícitas ou imorais.”
E, por fim, a Carta Democrática de 1988 prevê, em seu art. 55, inciso II, que a perda de mandato parlamentar está relacionada a procedimentos que fossem declarados incompatíveis com o decoro parlamentar. O §1º do art. 55 detalha essa situação, informando que “é incompatível com o decoro parlamentar, além dos casos definidos no regimento interno, o abuso das prerrogativas asseguradas a membro do Congresso Nacional ou a percepção de vantagens indevidas”, suprimindo as vantagens imorais previstas na carta anterior. O processo de cassação, desta vez, ocorrerá por maioria absoluta, mediante provocação, assegurado ampla defesa.
Em busca do conteúdo substantivo, pela Constituição será considerado,  portanto, incompatível com o decoro parlamentar: percepção de vantagem ilícita, abuso de prerrogativa, além dos casos previstos nos respectivos regimentos internos.
O Código de Ética e Decoro Parlamentar da Câmara dos Deputados, Resolução nº 25 de 2001, alterada pela Resolução nº 2 de 2011, prevê, em seu art. 3º:  
São deveres fundamentais do Deputado:

I – promover a defesa do interesse público e da soberania nacional;

II – respeitar e cumprir a Constituição Federal, as leis e as normas internas da Casa e do Congresso Nacional;
III – zelar pelo prestígio, aprimoramento e valorização das instituições democráticas e representativas e pelas prerrogativas do Poder Legislativo;

IV – exercer o mandato com dignidade e respeito à coisa pública e à vontade popular, agindo com boa-fé, zelo e probidade;

V – apresentar-se à Câmara dos Deputados durante as sessões legislativas ordinárias e extraordinárias e participar das sessões do Plenário e das reuniões de Comissão de que seja membro, além das sessões conjuntas do Congresso Nacional;

VI – examinar todas as proposições submetidas a sua apreciação e voto sob a ótica do interesse público;
VII – tratar com respeito e independência os colegas, as autoridades, os servidores da Casa e os cidadãos com os quais mantenha contato no exercício da atividade parlamentar, não prescindindo de igual tratamento;
VIII – prestar contas do mandato à sociedade, disponibilizando as informações necessárias ao seu acompanhamento e fiscalização;
IX – respeitar as decisões legítimas dos órgãos da Casa.” (grifo nosso)
Já em seu Art. 4º, define os procedimentos considerados incompatíveis como o decoro parlamentar e puníveis com a perda do mandato os seguintes:
“I – abusar das prerrogativas constitucionais asseguradas aos membros do Congresso Nacional (Constituição Federal, art. 55, § 1º);
II – perceber, a qualquer título, em proveito próprio ou de outrem, no exercício da atividade parlamentar, vantagens indevidas (Constituição Federal, art. 55, § 1º);
III – celebrar acordo que tenha por objeto a posse do suplente, condicionando-a à contraprestação financeira ou à prática de atos contrários aos deveres éticos ou regimentais dos Deputados;
IV – fraudar, por qualquer meio ou forma, o regular andamento dos trabalhos legislativos para alterar o resultado de deliberação;

V – omitir intencionalmente informação relevante ou, nas mesmas condições, prestar informação falsa nas declarações de que trata o art. 18;
VI – praticar irregularidades graves no desempenho do mandato ou de encargos decorrentes, que afetem a dignidade da representação popular.” (grifos nossos)
Atentariam, ainda, contra o decoro parlamentar as seguintes condutas, conforme o Art. 5º:
“I – perturbar a ordem das sessões da Câmara dos Deputados ou das reuniões de Comissão;
II – praticar atos que infrinjam as regras de boa conduta nas dependências da Casa;

III – praticar ofensas físicas ou morais nas dependências da Câmara dos Deputados ou desacatar, por atos ou palavras, outro parlamentar, a Mesa ou Comissão ou os respectivos Presidentes;
IV – usar os poderes e prerrogativas do cargo para constranger ou aliciar servidor, colega ou qualquer pessoa sobre a qual exerça ascendência hierárquica, com o fim de obter qualquer espécie de favorecimento;
V – revelar conteúdo de debates ou deliberações que a Câmara dos Deputados ou Comissão hajam resolvido que devam ficar secretos;
VI – revelar informações e documentos oficiais de caráter sigiloso, de que tenha tido conhecimento na forma regimental;

VII – usar verbas de gabinete ou qualquer outra inerente ao exercício do cargo em desacordo com os princípios fixados no caput do art. 37 da Constituição Federal;
VIII – relatar matéria submetida à apreciação da Câmara dos Deputados, de interesse específico de pessoa física ou jurídica que tenha contribuído para o financiamento de sua campanha eleitoral;
IX – fraudar, por qualquer meio ou forma, o registro de presença às sessões ou às reuniões de Comissão;
X – deixar de observar intencionalmente os deveres fundamentais do Deputado, previstos no art. 3º deste código.
Parágrafo único. As condutas puníveis neste artigo só serão objeto de apreciação mediante provas.”
Sendo de competência do Conselho de Ética e Decoro Parlamentar, que é composto de 21 membros titulares e igual número de suplentes, examinar as condutas puníveis e propor as penalidades aplicáveis aos Deputados submetidos ao processo disciplinar, previsto no Código de Ética e Decoro Parlamentar, que integra o Regimento.
O Código de Ética do Senado Federal foi instituído pela Resolução nº 20, de 1993, e prevê:
Art. 4° É, ainda, vedado ao Senador:
I - celebrar contrato com instituição financeira controlada pelo Poder Público, incluídos nesta vedação, além do Senador como pessoa física, seu cônjuge ou companheira e pessoas jurídicas direta ou indiretamente por ele controladas;
II - dirigir ou gerir empresas, órgãos e meios de comunicação, considerados como tal pessoas jurídicas que indiquem em seu objeto social a execução de serviços de radiodifusão sonora ou de sons e imagens;
III - praticar abuso do poder econômico no processo eleitoral.
§ 1º É permitido ao Senador, bem como a seu cônjuge ou companheira, movimentar contas e manter cheques especiais ou garantidos, de valores correntes e contrato de cláusulas uniformes, nas instituições financeiras referidas no inciso I.
§ 2° Excluem-se da proibição constante do inciso II a direção ou gestão de jornais, editoras de livros e similares.
Art. 5º Consideram-se incompatíveis com a ética e o decoro parlamentar;
I - o abuso das prerrogativas constitucionais asseguradas aos membros do Congresso Nacional (Constituição Federal, art. 55, § 1°);
II - a percepção de vantagens indevidas (Constituição Federal, art. 55, § 1º), tais como doações, benefícios ou cortesias de empresas, grupos econômicos ou autoridades públicas, ressalvados brindes sem valor econômico;
III - a prática de irregularidades graves no desempenho do mandato ou de encargos decorrentes.
Parágrafo único. Incluem-se entre as irregularidades graves, para fins deste artigo:
I - a atribuição de dotação orçamentária, sob a forma de subvenções sociais, auxílios ou qualquer outra rubrica, a entidades ou instituições das quais participe o Senador, seu cônjuge, companheira ou parente, de um ou de outro, até o terceiro grau, bem como pessoa jurídico direta ou indiretamente por eles controlada, ou ainda, que aplique os recursos recebidos em atividades que não correspondam rigorosamente as suas finalidades estatutárias;
II - a criação ou autorização de encargos em termos que, pelo seu valor ou pelas características da empresa ou entidade beneficiada ou contratada, possam resultar em aplicação indevida de recursos públicos.”
O Supremo Tribunal Federal, por diversas vezes, tratou de analisar o alcance da definição do termo “quebra de decoro parlamentar”, em se tratando de excesso de linguagem[4], de crimes contra a administração pública[5], dentre inúmeros outros casos, muito embora a compêtencia para instauração do processo seja a da respectiva casa parlamentar.
Ressalta-se, aqui, que, ao abordar o tema decoro parlamentar, parte-se do princípio que restringimos seu alcance aos congressistas, ou seja deputados e senadores. A moralidade para o exercício do mandato, a probidade administrativa, a responsabilidade, a normalidade contra a influência do poder econômico ou abuso do exercício da função alcançam também os representantes do poder executivo.
Os Crimes de Responsabilidade do Presidente da República estão previstos no art. 85 da Carta fundamental, definidos  na Lei 1079/50 .
Mas, afinal qual é a diferença? O termo? O fim, o propósito, o objeto de proteção é o mesmo. Proteger o Estado Democrático contra a corrupção, atos imorais, abusos, degeneração, adulteração, desvirtuamento, deturpação, aliciação, putrefação, devassidão, depravação, indecência.
Não está o presente ensaio a defender atos atentatórios a democracia, como qualquer tentativa de golpe, mas a defender o decoro no exercício da representação popular.
É justificável o pedido de impedimento da Presidente da República, eleita democraticamente pelo exercício legítimo da soberania popular, através do Ofício 2210/2015/SGM/P, dirigida ao Presidente da Câmara dos Deputados Federais? Os  argumentos contidos no pedido se fundamentam pela prática da denominada “pedaladas fiscais” e pela emissão de quatorze “decretos não numerados” editados, abrindo créditos suplemantares sem autorização do Congresso.
Ricardo Lodi[6], em brilhante e esclarecedor texto, informou que “é forçoso reconhecer que a tentativa de enquadrar as chamadas “pedaladas fiscais” como crime de responsabilidade a justificar o impeachment da Presidente da República não passa de uma tentativa de golpe de estado”. De fato, segundo Lodi, a conduta que visa dar uma certa aura de equilíbrio às contas públicas, em momento de aperto de caixa, não é boa prática de finanças públicas, mas está longe de constituir crime de responsabilidade. Há que se observar se houve quebra de decoro e, se houve, deve-se aplicar a penalidade compatível com a conduta.
É justificável a prisão de Senador da República, não prevista constitucionalmente? Esta foi a medida tomada pela Ação Cautelar 4.039, através do Ministro Teori Zavaski.  A prisão é, sem sombra de dúvida, inconstitucional, mas o pedido do Procurador Geral da República trouxe à tona um importante fundamento, a qual extraio em fragmentos:
“a. A regra prevista no dispositivo constitucional é, aparentemente, absoluta, e a exceção limitadíssima. Portanto, não sendo cabível na literalidade do texto. Mas, o tom absolutista do preceito proibitivo não se coaduna com o modo de ser do próprio sistema: se não são absolutos sequer os direitos fundamentais;
b. Esta prerrogativa, embora institucional, é de fruição estritamente individual e, lida, na normalidade democrática com a presunção de que o congressista seja honrado e honesto;
c. Fazia sentido, na alvorada da República conferir proteção constitucional extraordinariamente densa aos congressistas, pois o risco de retorno ao regime autoritário era ainda presente. Desta forma, exigir que o crime fosse inafiançável condicionava a prisão em flagrante a um mínimo de gravidade que incorresse o congressista;
d. Destaca-se ainda que a imunidade parlamentar é garantia do mandato (não da pessoa que exerce de forma transitória) e do livre exercício da função parlamentar. A hipótese revela inconteste desvio de finalidade do exercício do mandato, visto que, integrante de organização criminosa, vem utilizando as prerrogativas e os poderes ínsitos à função com desiderato de influenciar e embaraçar investigações que se desenvolve perante a mais alta Corte do país;
e. A Constituição não pode ser interpretada de modo a colocar o Supremo Tribunal Federal, em posição de impotência frente à organização criminosa que se embrenhou dentro do Estado. A interpretação literal do art. 53§2º, descontextualizada de todo os sistema, transformaria a relevante garantia da imunidade parlamentar em abrigo de criminosos (…);
f. A jurisprudência da Corte já enunciou no sentido de se buscar uma interpretação que conduza à aplicação efetiva e eficaz do sistema constitucional como um todo. A norma que cuida da prerrogativa parlamentar não pode ser tomada em sua literalidade, menos ainda como regra isolada do sistema constitucional(…)(HC 89417, Relator(a):Min. CÁRMEN LÚCIA, primeira turma, julgado em 22/08/2006, DJ 15-12-2006).”
A atitude do Senador da República revela inconteste desvio de finalidade com o exercício da função, havendo quebra de decoro parlamentar. E, mais uma vez, deve-se aplicar a penalidade prevista em seu respectivo Código de Ética.
E se não houver a devida iniciativa do partido, parlamentar ou da mesa diretora? Ficamos de mãos atadas? O art. 58 da Carta Democrática assim afirma, em seu §2º, que às comissões, em razão da matéria de sua competência, cabem receber petições, reclamações ou queixas de qualquer pessoa contra atos ou omissões das autoridades ou entidades públicas.
Para que a virtude humana seja útil é necessário que ela seja ação. E ação é política. O político ideal é o ser em ação por excelência. Entretanto, sabemos que nem sempre a política é virtuosa. Para que isso ocorra, a ética e o decoro parlamentar não podem ser apenas simples e sacrossantos artigos de um código de condutas. Devem ser, antes, um código exercitado quoditianamente e que vise à felicidade, que objetive o bem coletivo. Estes valores podem conferir dinamismo, atualidade e efetividade a carta fundamental.
Estas foram as palavras utilizadas no I Encontro Nacional sobre Ética e Decoro Parlamentar, realizado no dia 03 de dezembro de 2003, na Câmara dos Deputados, com a finalidade de debater a questão da ética na política.
 Precisamos nos alfabetizar politicamente, para nos tornarmos libertadores ativos e legítimos, pois “os pensadores emancipam o gênero humano”[7] e, parafraseando as palavras de Jean Baptiste, “a grandeza de um país não depende da extensão do seu território, mas do caráter de seu povo”, de seus representantes.
Simplesmente porque estas foram as lições que recebemos através de séculos de lutas - a de que merecemos viver em uma democracia!

[1] ANNAN, Kofi A. United Nations convention against corruption. United Nations office on drugs and crime - Vienna. United Nations: New York, 2004.
[2] POLITO, André Guilherme. Michaelis Dicionário de Sinônimos e Antônimos. 3 ed. São Paulo: Editora Melhoramentos, 2009, p. 174.
[3] YOGENDRA, Narain. Discipline, decorum and dignity of parliament. Disponível em <http://rajyasabha.nic.in/rsnew/publication_electronic/decipline.pdf>. Acesso em 04 de nov. de 2015.
[4] Ver Pet 5647, Relator(a):  Min. ROBERTO BARROSO, Primeira Turma, julgado em 22/09/2015, ACÓRDÃO ELETRÔNICO DJe-239 DIVULG 25-11-2015 PUBLIC 26-11-2015); RE 600063, Relator(a):  Min. MARCO AURÉLIO, Relator(a) p/ Acórdão:  Min. ROBERTO BARROSO, Tribunal Pleno, julgado em 25/02/2015, ACÓRDÃO ELETRÔNICO REPERCUSSÃO GERAL - MÉRITO DJe-090 DIVULG 14-05-2015 PUBLIC 15-05-2015.
[5] Ver AP 470, Relator(a):  Min. JOAQUIM BARBOSA, Tribunal Pleno, julgado em 17/12/2012, ACÓRDÃO ELETRÔNICO DJe-074 DIVULG 19-04-2013 PUBLIC 22-04-2013.
[6] LODI, Ricardo. Pedaladas Fiscais e Impeachment. Disponível em <https://www.facebook.com/ricardolodi/posts/10153716326866382?fref=nf&pnref=story>. Acesso em 02 de dez. de 2015.
[7] Desde que existe a história, duas classes de homens dirigem a humanidade: os opressores e os libertadores. Aqueles dominam pelo mal, estes pelo bem. Mas, de todos os libertadores, o pensador, o intelectual, é o mais eficaz. O espírito fere de morte o mal. Os pensadores emancipam o gênero humano. Sofrem, mas triunfam. E é pelo sacrifício que eles, não raros, alcançam a redenção dos outros. Podem sucumbir no exílio, no cárcere ou no patíbulo. O seu ideal lhes sobrevive; e, mesmo depois de sua morte, continua a tarefa libertadora.” Texto publicado no Diário do Rio de Janeiro, de 7 dez. 1860, transcrito no livro Teófilo Otoni: ministro do povo, de P. Pinheiro Chagas, p. 271-271.


Autor

  • Carina Barbosa Gouvêa

    Advogada especialista em Direito Militar/Constitucional;Doutoranda em Direito pela UNESA; Mestre em Direito pela UNESA; Pesquisadora Acadêmica do Grupo "Novas Perspectivas em Jurisdição Constitucional"; Professora da Pós Graduação em Direito Militar; Professora de Direito Constitucional, Direito Eleitoral e Internacional Penal; Pós Graduada em Direito do Estado e em Direito Militar, com MBA Executivo Empresarial em Gestão Pública e Responsabilidade Fiscal; E-mail: carinagouvea25@gmail.com.
    Blog: Dimensão Constitucional < http://dimensaoconstitucional.blogspot.com.br/>.



Manifestação do dia 02 de fevereiro, na ALMG pode ser um início da campanha eleitoral para 2016.

February 3, 2016 6:22, by POLÍTICA CIDADANIA E DIGNIDADE

* José Luiz BARBOSA, Sgt PM - RR


Policiais-vão-para-as-ruas-reclamar-de-parcelamento-de-salário




Movimento começa a ganhar força em todo estado, e poderá ser o primeiro teste de fogo do Governo do PT em Minas Gerais.



Confira o vidéo de parte da manifestação aqui: https://www.facebook.com/MovimentoIndependenteDosPracasDeMinasGerais/


Com cerca de 3000 mil três participantes, de várias partes do estado, policiais e bombeiros militares reunidos na praça da ALMG, protestaram contra o governador Petista, Fernando Pimentel, que assumiu o governo cheio de promessas e discurso de investir na segurança pública e na valorização de seus agentes, e depois de mais de um ano de governo anunciou como medida para contenção de despesa, e equilibrio das contas públicas, o escalonamento e parcelamento do sálario de todos servidores públicos.

Não sem antes difundir maldosa e maquiavelicamente, insistente e sistematicamente o discurso da terra arrasada, e do caos financeiro pelo mesmo período, mas ao contrário do seu antecessor que assim que assumiu deu novo ritmo ao Estado, e aqui não vamos entrar no mérito das "pedaladas" que evidentemente também ocorreram no Governo tucano e que foram muitas e diversas.

Adotando o discurso de herança maldita de seus antecessores, os Senadores Aecío Neves, e Antônio Anastasia, por divídas, e um grande rombo nos cofres públicos, mas divorciado da prática, criou secretárias, gastou com publicidade, abasteceu o palácio com iguarias de fazer inveja a reis e rainhas, sem contar o perdão de divídas fiscais, e de multas ambientais.

Ficou marcado para dia 24 de fevereiro uma nova manifestação, mas sem uma agenda propositiva de ação e trabalho, estratégias, e pressão conjuntas entre entidades de classe da capital e interior com articulação em rede, valorizando e incluíndo-as no processo político de participação, discussão, e decisão para que o discurso seja unissono e afinado em todo Estado.

Como observador atento, e com a experiência e participação em movimentos e manifestações, inclusive como membro convidado de outras associações em outros estados, tendo atuado como mediador e consultor das associações do Rio Grande do Norte, em Natal, há outras importantes critícas dignas de nota sobre a participação e o processo de mobilização dos policiais e bombeiros militares, que mal manejadas e subvertidas podem transformar as manifestações em um grande palanque e comício para arroubos, fálacias, e bravatas, de précandidatos, lideranças e oportunistas de plantação.

Sempre atenderemos ao chamado para luta, e defesa dos direitos e interesses da segurança pública, dos policiais e bombeiros militares, mas se o discurso como vimos hoje não vier acompanhado de ações e estratégias de pressão e tensionamento, em pouco tempo o governo escudado pelo comando desmobilizará, esvaziará as manifestações, e o desgaste de convocações levará a descrença, desconfiança e inversão de agenda e pauta.


Desnecessário salientar, que há muitas testemunhas vivas do movimento histórico dos praças de 1997, e que como sempre estão presentes na luta.


* Fundador do Movimento Mineiro pela Segurança Pública, Ativista de direitos e garantias fundamentais, especialista em segurança pública.



Agentes de segurança protestam em BH contra parcelamento de salários

February 3, 2016 6:19, by POLÍTICA CIDADANIA E DIGNIDADE



  • POLICIAIS
    Grupo finalizou ato na praça da Liberdade
  • GRUPO
    Categorias são contra parcelamento de salários
  • ATO
    Protesto começou na praça da ALMG

MILITARES E CIVIS


Segundo organizadores, evento reuniu pelo menos oito mil servidores; a partir de sexta (5), delegados do Estado pretendem trabalhar apenas três horas por dia




CAROLINA CAETANO

O início da tarde desta terça-feira (2) foi marcado pela manifestação de agentes da segurança pública de Minas Gerais pelas ruas de Belo Horizonte. Segundo os organizadores do evento, o encontro reuniu pelo menos oito mil pessoas, entre elas policiais civis, militares, agentes penitenciários e bombeiros, que protestaram contra o parcelamento de salário para servidores que ganham mais de R$ 3 mil. Já a assessoria de imprensa da Polícia Militar afirma que aproximadamente duas mil pessoas estiveram no evento.
De acordo com a assessoria de imprensa do Sindicato dos Delegados de Polícia do Estado de Minas Gerais (Sindepominas), o protesto começou às 13h na praça da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG), no bairro Santo Agostinho.
De lá, o grupo deslocou a pé até a praça da Liberdade, onde fica o prédio do Comando da Polícia Militar (Copom). Ainda conforme o Sindepominas, a partir de sexta-feira (5),  os delegados de Minas Gerais vão trabalhar apenas três horas por dia.

Esse protesto será feito por seis dias. Já no dia 12, data da segunda parcela, os delegados passam a trabalhar seis horas. Só depois da última parcela, prevista para ser paga no dia 16 de fevereiro, que os profissionais voltam com o trabalho no horário normal. Representantes da Associação dos Praças Policiais e Bombeiros Militares de Minas Gerais (Aspra) ainda não informaram se pretendem organizar alguma manifestação para os próximos dias, quando acontece o Carnaval.
Por meio de nota, o governo de Minas informou que está aberto ao diálogo com as entidades sindicais. Além disso, relembra que que 75% dos servidores  continuam recebendo o salário, integralmente, no quinto dia útil.
Veja a nota na íntegra:
"O Governo do Estado de Minas Gerais reitera sua posição de ampla transparência e pleno diálogo com as entidades sindicais que representam as diversas categorias dos servidores públicos estaduais.
Quanto à folha de pagamento do funcionalismo, cabe lembrar que 75% dos servidores continuam recebendo o salário, integralmente, no quinto dia útil. O calendário adotado para os demais funcionários e amplamente divulgado no último dia 15/01, em reunião com representantes do funcionalismo, é uma das medidas emergenciais necessárias, diante do cenário de déficit orçamentário até então desconhecido pela população mineira.
Nesse sentido, o governo vem adotando medidas austeras para reduzir os gastos públicos e estimular a arrecadação, a fim de superar as dificuldades financeiras que afetam todos os estados brasileiros e a União.
Por fim, o Governo do Estado reafirma sua postura de estreito e constante diálogo com as entidades que representam os servidores públicos estaduais".
 



Guerra entre traficantes expõe ausência da polícia do morro

February 1, 2016 16:31, by POLÍTICA CIDADANIA E DIGNIDADE

AGLOMERADO DA SERRA


Inaugurada há dois anos, área de segurança não deixou população mais segura

A-G
Deserto. Ruas da região, que ficavam movimentadas no fim de semana, agora estão mais vazias; moradores têm medo dos tiroteios

RAFAELA MANSUR E BERNARDO MIRANDA

"A polícia irá atuar permanentemente para que o cidadão não fique refém de organizações criminosas”. Essa foi a promessa do então secretário de Estado de Defesa Social (Seds) Rômulo Ferraz, quando inaugurou a Área Integrada de Segurança Pública (Aisp) no aglomerado da Serra, em BH, em janeiro de 2014. Dois anos depois, os moradores ainda vivem no fogo cruzado entre criminosos e reclamam que o policiamento só é significativo em crises pontuais. Em meio a constantes tiroteios há quase uma semana, alguns pensam em se mudar e a maioria sequer ousa sair de casa. Para eles, a guerra do tráfico expõe a ausência das autoridades de segurança pública.
 
A última crise começou na quarta-feira, após a prisão de um dos principais líderes do tráfico. Em conversa com a reportagem, moradores afirmam que a Aisp não cumpriu o objetivo de aproximar a polícia da população, nem de intimidar criminosos. Em situações ordinárias, é difícil ver policiais no aglomerado e em casos extremos como o dos últimos dias, a opção, diante da insegurança, é por um toque de recolher voluntário.

Tiros. Moradores quase não eram vistos ontem em becos e ruas próximas ao morro ontem. Apenas bandidos ostentavam armamentos pesados na rua. A reportagem foi em duas ocasiões ao local. Pela manhã, por duas horas, não viu nenhum policial na praça do Cardoso e em vias próximas do morro que abriga cerca de 50 mil pessoas. À tarde, duas horas após a PM ter sido acionada e ser recebida a tiros, a equipe deO TEMPO voltou à região, mas já não havia nenhum militar, apenas o helicóptero da corporação sobrevoava a região. 

“A polícia sumiu nos últimos tempos e só aparece quando tem tiroteio e, mesmo assim, não prende ninguém. Os traficantes comandam aqui”, disse um morador. Outro afirmou que a presença da área de segurança não mudou o local. “Com ou sem Aisp, a polícia só aparece após haver um problema, nunca de forma preventiva”.
 
Para o professor de sociologia da PUC Minas Moisés Augusto, a solução vai além da presença policial. “Não adianta a polícia ter uma sede lá. É preciso que o poder público como um todo chegue ao aglomerado, e isso só ocorre com a oferta de serviços de saúde, educação e transporte público de qualidade. Enquanto isso não chegar, os traficantes terão espaços para dominar territórios”.

Em nota, a PM informou que “está atuando de forma efetiva em pontos estratégicos no bairro da Serra”. O capitão Flávio Santiago não informou quantos policiais estão empenhados na operação. “Estamos trabalhando com estratégias difusas, inclusive para não causar impacto na comunidade. A polícia está em constante contato com a comunidade”, garantiu. (Com Bárbara Ferreira)

Sem registro de prisão de pivô da guerra
Líder. Apontada como motivação para o início dos tiroteios, a Secretaria de Estado de Defesa Social (Seds) informou que não tem registro da prisão de Augusto Nunes Martins. Bandidos rivais estariam disputando as bocas do criminoso. O último registro dele no sistema é de junho de 2008, quando foi solto do Centro de Remanejamento do Sistema Prisional (Ceresp) Gameleira. A assessoria da Polícia Civil não soube informar o que aconteceu com o traficante, encaminhado para a Central de Flagrantes (Ceflan).
Prisões. Conforme o capitão Flávio Santiago, da PM, três homens foram presos e um menor foi apreendido desde quarta-feira.


Com medo, morador se tranca em casa

 
A praça da rua Doutor Alípio Goulart, ponto de encontro e de compras comum entre moradores de dentro e do entorno do aglomerado da Serra, na região Centro-Sul da capital, costuma ficar lotada aos domingos, mas ontem foi diferente. “As pessoas estão com medo de sair de casa, porque os tiroteios não têm hora para acontecer”, disse um morador do local, que não quis ser identificado.

Para outra moradora, a melhor solução é manter a discrição. “Não somos amigos nem inimigos, somos neutros. Não adianta gritar ou pedir ajuda, a melhor coisa a fazer é abaixar a cabeça e ficar calada”, disse. 
 
Inerte. Eles reclamam da falta de atividades para integrar polícia e comunidade. Na página da Secretaria de Estado de Defesa Social (Seds), a última grande ação da Aisp da Serra foi em maio de 2014. A assessoria da pasta informou que só poderia passar outras informações sobre as ações hoje. 



Carnaval: Revolta da Felicidade ou carta a Marcio Lacerda

January 31, 2016 10:39, by POLÍTICA CIDADANIA E DIGNIDADE

Lucas Simões



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PUBLICADO EM 30/01/16 - 03h00
Caro, prefeito. Sei que o senhor não mora na nossa cidade (spoiler...), mas deve saber que Belo Horizonte sempre foi o enterro do Carnaval. Nossa folia se resumia a ruas desertas, comércios fechados, taxistas mal-humorados, caracterizações de feriados mórbidos: não de festas transformadoras. 
 
Até que um belo dia o senhor acordou disposto a proibir protestos em praça pública sabe-se lá por que diabos. E teve como resposta a maravilhosa Praia da Estação (vrááá); que de tanta vontade de mostrar ao senhor que proibir era bobagem, de tanta criatividade intensa para redescobrir a cidade e nossas necessidades criou um Carnaval de verdade no asfalto: sem mar ou areia, só com disposição. Mas parece que o senhor ainda não entendeu o que o Carnaval tem a ver com a construção da cidade. Calma, nem tudo está perdido.

Bom, desde a época da minha avó, nos idos de 1955, Carnaval se resume a uma regra: fazer a sua própria regra. E foda-se – sem precisar foder com ninguém, claro. Naquele tempo, como a velha conta, ela tinha que pular o muro de casa escondida do pai, encorajar a adrenalina com uma rajada de lança perfume, e só então sair correndo por aí como a louca da motoca sem capacete à procura de beijos e máscaras brilhantes. E isso não é subversão simplista. Isso é a busca da felicidade de quem foi reprimida a vida toda, em casa, na rua, nos sonhos, mas criou dois filhos sem ajuda de ninguém. Conhece?
 
Então. As ruas da capital mineira estão cheias dessas pessoas. O mundo está. Gente como a gente. Gente que explode o sufoco cotidiano em confete. Gente que encontra nas ruas carnavalescas espaço para criar personagens melhores, dias mais saudáveis. Não esbarrar nos mesmos preconceitos e subjugações. Aí quando vejo o senhor tentando proibir churrasco e isopor na rua, barrando protestos populares, incentivando a instalação de áreas VIPs e se referindo às suas próprias ações como benefícios da “festa do povo”, imagino que o senhor deveria sair às ruas para entender esse povo – de Nova Lima até nossa amada capital dá pouco menos de meia hora de carro, é de boa para o senhor chegar junto na folia sem tanto esforço, vamos combinar.
 
Talvez só assim o senhor perceba que não queremos ser a Sapucaí televisionada pela TV Globo. Nem os enredos do Sambódromo do Anhembi. Nem o cordão de Salvador que separa a Cláudia Leitte da maioria absoluta negra atrás do trio elétrico. Nem a festa bancada por uma empresa de cerveja que vai nos cobrar dez mangos por long neck. E o que queremos, senhor prefeito? Queremos ser o que somos, oras. E o que quisermos ser.
 
Nosso patrocínio vem a pé pela cidade inteira, se for preciso. Não nos ônibus da Skol que vão circular de graça apenas pela zona Sul. Nosso conforto é o amor multicolorido. Não os camarotes open bar de gente predominantemente branca, bonita e nem tão sincera, que pode gastar o salário inteiro do ambulante só para tirar selfie da multidão e brindar lá do alto um Carnaval que acontece no chão – e apenas no chão. 
 
Nosso bloco é o batuque acessível até para quem não samba, não ginga, mas não abre mão de remexer o corpinho desajeitado como quiser, com um copo de catuçaí do Nandão em mãos – a combinação mágica entre catuaba, açaí e gelo, tudo bem misturado num balde de plástico: bate que é uma beleza na cuca, refresca e custa cinco pratas.
 
Nossa Juventude é Bronzeada porque fizemos do concreto, luz e diversão. Nosso melhor Tchanzinho vem da zona Norte e é para lá que nós vamos. Nossas Baianas são Ozadas demais para a tradicional família mineira e é assim que vai ser. Nosso espírito são as Garotas Solteiras catando “Liberté, Egalité, Beyoncé”, preste atenção. Nosso filho mais novo e prodígio é o Unidos do Queima Largada, que instaurou o Carnaval em pleno início de janeiro chuvoso por entender que qualquer um é capaz de se juntar por aí, quando e como quiser, com ou sem estrutura. Nossas mais de duas centenas de orquestras percussivas foram construídas, não por acaso, nas praças, em aulas gratuitas embaixo do céu aberto que o senhor tentou nos privar. Nosso grito é Então, Brilha! porque gente é para brilhar mesmo, não para ficar no sofá quando o senhor diz a elas para não se revoltar com a estupidez.

Agora me diz: quem há de ser contra a revolta da felicidade, senhor prefeito? Quem?
O Carnaval vem logo. Vem com glitter e purpurina e peitinho de fora e surdo soando alto ladeira acima e boa parte dos blocos ainda reunindo doações do povo, olha só, para conseguir um som decente, sabia? De um jeito ou de outro, o Carnaval nos ensinou que nosso vício irrevogável é aquele troço chamado liberdade. E ser livre é um sentimento que Belo Horizonte aprendeu a querer ter para nunca mais esquecer. Isso não tem volta. Nem por meio de decreto. 

Vem para rua ver a confusão de pluralidade dizendo o que ela quer, senhor prefeito. Vem entender quem faz o Carnaval dessa cidade – e o que ele nos diz de quem somos ou podemos ser logo mais. Por que vai ser do balacobaco, como diz a minha avó.



Fonte: http://www.otempo.com.br/opini%C3%A3o/lucas-sim%C3%B5es/carnaval-revolta-da-felicidade-ou-carta-a-marcio-lacerda-1.1223413



QUEM É TORTURADO NO CURSO DE FORMAÇÃO, APRENDE O QUE?

December 14, 2015 10:37, by POLÍTICA CIDADANIA E DIGNIDADE




Enquanto não forem responsabilizados solidariamente pelos chamados "desvios de conduta", esses monstros em comando na PM paulista não vão aprender a aplicar a dignidade humana aos seus subordinados...







Olha, nos dias de hoje, quando buscamos direito a ter direitos humanos, essas imagens e muitas outras, causadas a futuros policiais militares, que estão cursando a Escola de Soldados, em Registro, SP, e de doer a alma.

Ouvi um áudio de um capitão, que disse que as denúncias dos alunos não está agradando Pirituba. Ouvi ainda, que isso não é nada, que somos nós que estamos inventando.

SABE QUE EU ACHO? QUE DEVEMOS PROCESSAR O COMANDO DA ESCOLA E DO CURSO, POR CONIVÊNCIA.
 

Agora a coisa vai pra outro rumo. Com certeza, o SGT deveria estar com problemas sérios, pra agir com tanta crueldade. Talvez na época dele, foi assim que fizeram com ele, mas nada justifica. Agora, vir ameaçar até o grupo de zap, por expressar a indignação, faca me o favor, em seu capitão! Vamos lá, na mesma temperatura, pagar flexão..., bora? Tem a moral? Boca fechada não entra mosquito.

Continuem denunciando, mandando fotos. E ai, se algum desses alunos forem perseguidos, ai! estaremos bem de perto...de olho!!
Olha as imagensCondepe - SP   Direitos Humanos
Adriana Borgo

FONTE: FACEBOOK ADRIANA BORGO
https://www.facebook.com/adriana.borgo





Um impeachment a serviço de governos, empresas e partidos.

December 14, 2015 7:47, by POLÍTICA CIDADANIA E DIGNIDADE

Entrevista especial com Marcelo Castañeda

“Quero fazer um contraponto e chamar atenção para o fato de que os múltiplos problemas com que lidamos não vão ser resolvidos de uma hora para outra, nem pela boa ação do Estado através dos governos e partidos”, destaca o pesquisador.
Foto: http://tvdoservidorpublico.com


A quem interessa um processo de impeachment a essa altura? Para Marcelo Castañeda, é ilusório crer que os problemas práticos do Brasil de hoje vão ser resolvidos com a saída de Dilma Rousseff do Planalto e a entrada de quem quer que seja. “Esse pedido de impeachment só interessa ao poder constituído pelo imbricamento de governos, empresas e partidos”, destaca. O pesquisador entende que a real solução das crises tem de essencialmente emergir do social, da população. “É importante que nos voltemos para as pautas de luta pelo mundo que queremos, que são múltiplas, pois é o que importa para sair da nuvem institucional e das polarizações que o poder constituído fabrica para melhor dominar”, completa.
Na entrevista a seguir, concedida por e-mail à IHU On-LineCastañeda busca entender o que está por trás dos movimentos políticos que culminaram na aceitação do pedido de impeachment. “É fundamental entender que, até aqui, a disputa principal ocorre entre aliados na coalizão governista vitoriosa, e não com os tucanos”, aponta. “Torna-se importante destacar o papel do PMDB como protagonista neste processo e na própria coalizão, em especial por conta da baixa popularidade e das medidas impopulares adotadas neste primeiro ano de governo Dilma reeleito”, completa, ao examinar o papel dos protagonistas nesse processo.
O pesquisador ainda destaca o “fator econômico”, que, segundo ele, jamais pode ser dissociado de uma crise política. “Não são dimensões separadas, ainda mais quando são os interesses econômicos que elegem os representantes, e não o povo”. Entretanto, alerta que o debate político tende a provocar o embaçamento da perspectiva econômica, deixando o tema à revelia dos técnicos e do ministro Joaquim Levy. “O problema na economia é outro: a falta de democratização da discussão sobre a crise e as possibilidades de lidar com ela a partir da mobilização produtiva”, aponta.
Marcelo Castañeda (foto abaixo) é doutor em Ciências Sociais em Desenvolvimento, Agricultura e Sociedade pela Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro - CPDA/UFRJ e graduado em Ciências Sociais pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro - UERJ. Atualmente é bolsista de pós-doutorado no Programa de Pós-Graduação em Comunicação da Universidade Estadual do Rio de Janeiro - PPGCom/UERJ.
Confira a entrevista.
Foto: Arquivo pessoal
IHU On-Line - Como você interpreta a aceitação do pedido de impeachment? De que forma podemos interpretar os movimentos no cenário político nacional depois da aceitação do pedido?
Marcelo Castañeda - A aceitação do pedido se deu no momento em que o PT resolveu votar pela cassação de Eduardo Cunha (PMDB-RJ) no Conselho de Ética da Câmara no dia 02-12-2015. Essa posição foi adiada por meses e a reação de Cunha já era esperada pelo partido da presidente. Isso foi calculado. Ninguém foi pego de surpresa, nem no PT, nem na coalizão governista. Os ministros da Saúde e da Ciência e Tecnologia, indicados por Cunha, continuam firmes e fortes em seus cargos, sem falar que o vice-presidenteMichel Temer (PMDB-SP) pode ser alvo do mesmo processo pelos mesmos motivos.
Preciso deixar claro que não apoio o governo Dilma e muito menos este pedido de impeachment, que parece não se sustentar tecnicamente, sem falar que a instalação da ditaComissão Especial na terça (08-12-2015) foi ilegal. É uma afronta à democracia promovida pelo presidente da Câmara, Eduardo Cunha, tendo em vista que foi adotado o voto secreto na vitória da oposição na composição da mesma (por 272 a 199 - com 72 abstenções, brancos, nulos ou ausentes).
É louvável que, pela democracia representativa, o Supremo Tribunal Federal tenha se posicionado pedindo a nova polarização dos atos delineados na Câmara na última terça. No entanto, a partir do momento em que o pedido for de fato aceito e essa Comissão Especial for instalada, seu desenvolvimento se dará mais pela política do que pela técnica jurídica, e é por esta via que vou tecer as colocações.
O cenário
O cenário é indefinido e pode mudar bastante a partir de manifestações de rua e da própria instalação da Comissão Especial que está para ser formada a fim de apreciar a defesa de Dilma Rousseff (PT) em relação ao pedido de impeachment e elaborar o parecer que vai definir se o processo segue para o plenário da Câmara. É fundamental entender que, até aqui, a disputa principal ocorre entre aliados na coalizão governista vitoriosa, e não com os tucanos, que podem até embarcar no movimento pró-impeachment, mas não estão protagonizando o mesmo. Torna-se importante destacar o papel do PMDB como protagonista neste processo e na própria coalizão, em especial por conta da baixa popularidade e das medidas impopulares adotadas neste primeiro ano de governo Dilma reeleito.
Talvez a posição do PT em relação a Cunha tenha passado por um esgotamento das manobras possíveis no Conselho de Ética, ou o cálculo tenha sido inverso. Ou seja, Cunha poderia aceitar o pedido a qualquer momento e o PT agiu primeiro. Outra questão que não é tão destacada no contexto, mas que pode ter influência na deflagração deste processo, é o recente período de mobilização social crescente e autônoma que poderia ser perigoso para o poder constituído, em especial no momento em que várias crises continuam avançando.
Quando o PT faz o primeiro movimento contra Cunha, um aliado até as eleições de outubro de 2014 que se tornou “inimigo”, abre-se um campo de possibilidades incontrolável ainda mais quando tem como antagonista o PMDB, partido oficialmente aliado do PT há 10 anos. Vou desconstruir adiante a ideia de que o PMDB é um agregado de interesses divergentes e defender uma organicidade do partido que faz com que se mantenha na esfera do poder na escala federal há mais de 20 anos.
Polarização atualizada
Trata-se de uma nova polarização, agora no âmbito da coalizão governista. É com o PMDB, e não mais com os tucanos, ainda que esses se aproximem do vice Michel Temer neste momento inicial, enquanto o PT recebe apoio doPDT e do PC do B na nova tensão que se estabelece em uma coalização cada vez mais protagonizada pelo PMDB, mesmo que o PT continue na cabeça do governo.

“Isso foi calculado. Ninguém foi pego de surpresa, nem no PT, nem na coalizão governista

   


IHU On-Line - Quais são os personagens e como entender seus papéis nesse cenário de pedido de impeachment?
Marcelo Castañeda - Até agora, a movimentação política mais visível, a partir do acolhimento do pedido de impeachment de Dilmapor Cunha, foi capitaneada pelo campo governista. Vejamos:
1. O PT mobilizou imediatamente seus aparelhos e movimentos alinhados para promover marchas tendo como discurso principal “em defesa da democracia e contra o golpe”, pois sabe que o governo Dilma só é defensável por esse prisma.
2. PDT e PC do B decidiram ressuscitar a Rede da Legalidade de Brizola a favor de Jango com o nome de “Golpe Nunca Mais”, com destaque para uma atuação forte no terreno das redes sociais com a circulação de uma série de vídeos de Ciro Gomes (PDT-CE), sendo lançado desde já como candidato para as eleições de 2018. O PSOL tende a atuar nesta frente.
3. O contato explícito — que não é aproximação porque nunca se afastaram, conforme destacado em carta publicizada — de Michel Temer com o PSDB e o DEM. Este é o novo flanco de pressão do PMDB, que teria sua parte do Rio "com" Dilma. Torna-se importante considerar que os atores do PMDB se falam e articulam entre si suas performances configurando uma estratégia coordenada em múltiplas frentes que visa o aumento do capital político do partido, quiçá a cabeça do governo federal, dependendo das possibilidades concretas.
4. Entre os que ainda não se mostram claramente no foco, mas não estão parados, o PSDB vai tentar capitalizar as mobilizações de rua pró-impeachment, visando uma boa presença junto ao PMDB no caso de uma aprovação do processo e sua chegada ao plenário, quiçá aprovação. Já a Rede, que tem os votos de Marina Silva (Rede-AC), aposta na convocação de novas eleições no caso de conseguir impugnar a chapa Dilma/Temer em outro processo, junto ao Tribunal Superior Eleitoral - TSE, restando saber se terá força política para tal.
5. Mesmo com os movimentos de Temer em direção à oposição, a disputa ainda parece ser por mais poder no âmbito da coalizão governista. Mediante os dois movimentos em destaque para além do PT (itens 2 e 3 acima), este processo de impeachment recém iniciado parece aumentar o poder do PMDB, caso Dilma supere o processo ou mesmo no caso de superar Dilma, passando à cabeça da República. Por enquanto, prefiro falar de um alinhamento da governabilidade em curso mais do que propriamente um golpe, mesmo que o desenrolar do processo possa apontar para o impeachment de Dilma, o que está em aberto neste momento, em especial com a suspensão do Supremo Tribunal Federal – STF, que deve levar o processo, caso também não seja contestado juridicamente, para o próximo ano.
IHU On-Line - O que está por trás do pedido de impeachment, no que tange à disputa entre os poderes Executivo, Legislativo e Judiciário? Como essa disputa se atualiza no âmbito partidário?
Marcelo Castañeda - Interessante pensar que a Operação Lava Jato tinha acabado de prender o líder do governo no Senado, Delcídio Amaral (PT-MS). O fato que pode ser colocado como elemento central neste processo, sendo que vale destacar que Delcídio recebeu o benefício da delação premiada na noite desta movimentada terça (08-12), complexificando mais ainda o cenário.
É a hora do acerto da institucionalidade, em especial da chamada governabilidade petista, que parece naufragar. A questão passa mais pelas relações estabelecidas entre Executivo e Legislativo no que diz respeito à manutenção da governabilidade, em especial a partir da catastrófica condução do país com Dilma à frente e o que isso respinga nos seus aliados atuais.
No âmbito partidário, a tendência é um rearranjo das forças da coalizão governista, provavelmente com mais poder para o PMDB, quiçá com a saída do PT, dependendo do andamento do processo. Neste caso, pode ser que PSDB eDEM formem o governo e demais partidos que hoje já estão no governo, exceto PDT e PC do B, que sairiam - não é à toa que ambos se levantam junto com o PT neste momento. Mas isso tudo está no terreno da especulação com base nesses movimentos iniciais.
Esquerda
A esquerda institucional, restrita ao PSOL, mostra um alinhamento ao PT, serrando fileiras na “defesa da democracia contra o golpe”. Por último, com sua estratégia de não ser esquerda, nem direita, a Rede procura um caminho alternativo, apostando em novas eleições e nos votos que Marina Silva carrega. Ambos, PSOL e Rede, não vão assumir qualquer protagonismo neste processo em curso, em especial pela baixa representatividade de ambos na Comissão Especial e no Congresso de uma forma geral.

“É fundamental entender que, até aqui, a disputa principal ocorre entre aliados na coalizão governista vitoriosa, e não com os tucanos

   


IHU On-Line - Como compreender o PMDB no governo Dilma, que se autointitula de esquerda? O que significam seus movimentos e divisões nesse cenário pós-aceitação do pedido de impeachment?
Marcelo Castañeda - O PMDB foi fundamental para a eleição de Dilma e vem tendo cada vez mais espaço no governo, que não é de esquerda, ainda que no imaginário político as pessoas continuem associando o PT à esquerda. Isso é bastante preocupante para o horizonte da esquerda institucional, tendo em vista a derrocada cada vez mais evidente desse partido.
O ponto principal é que o PMDB é o protagonista da coalizão governista atualmente, devendo ser apreciado não como um agregado de interesses avulsos, como muitos pensam, mas como um partido com tendências que definem estratégias e táticas que compreendem ser fundamental, neste momento, ganhar mais espaço na esfera do poder constituído (em especial no governo federal, tendo em vista que já detém a cabeça do Legislativo), fazer o maior número de prefeitos em 2016 e constituir uma base municipal forte que viabilize uma candidatura própria à presidência em 2018, caso não chegue ao poder antes.
Nada mais adequado do que fabricar mais uma crise, desta vez no âmbito da coalizão governista com o PT, no final do primeiro ano de um governo que só foi crise desde que eleito. Essa nova crise vem marcar que o PMDB discorda do que o PT vem fazendo, bastando ver o recente lançamento do programa do partido “Uma ponte para o futuro”.
Em busca de poder
Em relação ao acolhimento do pedido de impeachment, a estratégia do PMDB é ganhar mais poder no governo. Isso sem contar que, dependendo de como o jogo se encaminhe, pode ganhar até mesmo a cabeça do governo neste processo. Para tal, faz um jogo de cena e ações calculadas a partir da figura mais interessada no impeachment. O vice,Michel Temer, que responde à estratégia do partido que delineei sinteticamente acima, inclusive com a divulgação da tal carta em que “discute a relação” com Dilma.
O PMDB é mais que um conjunto de grupos com interesses em conflito, eles se falam constantemente, decidem juntos. É ilusão achar que o PT vai ganhar essa disputa se aliando com frações do PMDB para tentar dividir o partido. Vai continuar alimentando a oposição dentro do governo que encabeça atualmente. O PT chega ao seu limite no final do primeiro ano de governo por conta das escolhas estratégicas que fez, em especial depois do levante de junho de 2013, que talvez tenha sido a sua última chance de se refundar, mas isso não foi feito – ao contrário, resolveu apostar na força da aliança com o PMDB para permanecer no poder.
IHU On-Line - Qual é a postura e estratégia do PT e dos partidos de esquerda diante da perspectiva do impeachment? Que discurso o governo e a oposição estão fazendo do pedido de impeachment?
Marcelo Castañeda - Neste momento, podemos falar mais do governismo do que da oposição, cujo discurso deve ficar mais claro a partir das manifestações pró-impeachment que devem acontecer e do andamento dos trabalhos daComissão Especial que, por conta da suspensão do STF, deve adentrar janeiro e fevereiro. Efetivamente, o que aconteceu foi a guinada de PSDB e DEM rumo ao Deputado Eduardo Cunha, que vem ganhando uma sobrevida andando sempre no fio da navalha, mas que já passou da hora de ser cassado, pelo bem da República.
Da mesma forma, o vice-presidente Michel Temer tem bom trânsito entre esses partidos de oposição à direita, o que aumenta o terreno de especulações sobre a sua traição a Dilma e ao PT. O jogo do PMDB é forte e não duvido que, caso queiram, cheguem à cabeça do governo. Resta saber se querem mesmo ou se preferem enfraquecer mais ainda o PT, tornando 2018 mais fácil para a oposição mais à direita. O teor da recente carta enviada por Temer remete mais a esta última opção do que propriamente assumir o governo, mas, em todo caso, já tem até programa de governo. Tudo pode acontecer neste momento.
Estratégia petista
Já o discurso do PT, como cabeça do governo, é o de “defesa da democracia” contra um “golpe”, que é a única possibilidade neste momento, tendo em vista que o governo Dilma não tem mais pontos de apoio fora o fato de ter sido eleita democraticamente há pouco mais de um ano. Nesta onda, Ciro Gomes ressurge como arauto da democracia, e o partido de esquerda com representação, PSOL, adere a essa narrativa quando poderiam insistir nas pautas e lutas, tendo em vista que tem muito pouco a influenciar no processo em si pela sua baixa representatividade.

“A estratégia do PMDB é ganhar mais poder no governo

   


IHU On-Line - O governo quer pressa para apreciar o pedido de impeachment, enquanto a oposição tenta empurrar para depois do recesso. Como interpreta essas posições?
Marcelo Castañeda - A oposição não tem base para impor uma derrota no curto prazo e só conseguirá fazer com que o pedido chegue ao plenário com apoio de mais deputados do que os 272 de terça caso o parecer da Comissão Especial seja favorável, contando também com a pressão das ruas, em especial se esta for expressiva. Então quanto mais tempo melhor e, neste caso, a suspensão do STF joga neste sentido.
Para o governo, interessa votar o quanto antes para não permitir articulação parlamentar da oposição nem o aumento do apetite do PMDB, bem como inviabilizar manifestações de rua que podem ser infladas pela péssima avaliação do governo e pelas crises que atingem a população, aumentando a possibilidade de influenciar a Comissão Especial e a aprovação do parecer, que levaria a decisão para o plenário da Câmara.
IHU On-Line - Qual o peso e como se dá o ingrediente econômico nas discussões em torno do impeachment? E como situar o discurso de “ajuste econômico” em meio a esse cenário?
Marcelo Castañeda - Tem peso. Dizem que o mercado reagiu bem em relação ao pedido inicialmente, parece que a bolsa subiu. Todo processo político tem seu componente econômico. Não são dimensões separadas, ainda mais quando são os interesses econômicos que elegem os representantes, e não o povo.
A questão é que o pedido de impeachment poderá intensificar e, ao mesmo tempo, abafar a discussão sobre a crise econômica, que vem apontando para recessão e aumento da inflação, e vai continuar a dilapidar a popularidade deDilma e a tal falta de confiança do mercado durante o processo, podendo levar a um desfecho nada agradável paraDilma e o PT. No fundo, a população sente muito mais a crise do que o mercado e a associa ao governo.
Falta de democratização da crise
Por exemplo, com as atenções voltadas para a crise política, a discussão sobre a crise econômica fica cada vez mais restrita aos técnicos e ao ministro Joaquim Levy, que permanece firme e forte. O problema na economia é outro: a falta de democratização da discussão sobre a crise e as possibilidades de lidar com ela a partir da mobilização produtiva. Ao evitar esse caminho, faz com que as decisões sejam tomadas por poucos em prejuízo da população afetada, enquanto uns, como os bancos, continuam lucrando como nunca. Isso não vai mudar caso o PT não consiga se sustentar no governo. Quer dizer que, como sociedade, vamos perder de qualquer jeito, não importa o resultado deste processo, salvo com uma mobilização específica para esse ponto.
IHU On-Line - Em que medida as disputas geradas a partir da instauração do processo de impeachment podem sufocar pautas urgentes ao país? Que pautas sofrem mais essa ameaça?
Marcelo Castañeda - A tendência é sufocar todas as pautas, ainda mais pela época do ano em que tradicionalmente as mobilizações por pautas se enfraquecem. Retomo aqui o que mencionei no início da entrevista: apesar da época do ano, ainda estamos em um período de emergência das mobilizações, em especial a luta dos estudantes secundaristas em São Paulo, mas também das mulheres, dos favelados cariocas, dos atingidos pela Vale,ocupação dos estudantes na Universidade Estadual do Rio de Janeiro - UERJ, para ficar naquelas que acompanho de perto. O campo de lutas deve procurar a autonomia e focar na organização de ações e não embarcar nessa nuvem institucional que promete pairar até o início do ano que vem pelo menos.
Por exemplo, o Código de Mineração estava na pauta de votação desta quarta (09-12-2015) sem qualquer discussão depois do maior crime socioambiental da história brasileira, e o relator, o deputado Leonardo Quintão (PMDB-MG), está cotado para assumir o Ministério da Aviação Civil. Trata-se, de fato, de uma nova restauração em curso, que tem a ver com as tensões da governabilidade a serem geridas e não resolvidas, e o aplacamento das tensões que podem derivar em lutas.
IHU On-Line - Como imagina que a política nacional e a economia devem sair desse processo? O que, de fato, pode mudar no país?
Marcelo Castañeda - Não tenho qualquer esperança de mudança na política institucional e na economia que sejam derivadas desse processo. Seguiremos com um sistema político fechado em si, trocas de favores em função de uma dita governabilidade necessária e o ajuste econômico, que é um nome bonito para arrocho, sendo tocado adiante. Se houver mudanças, estas se darão pela organização, mobilização e pressão da sociedade sobre o conluio Estado/governos/mercados.
IHU On-Line - O que muda no cenário político após o pedido de impeachment? Percebe a formação de alguma articulação política em volta do vice-presidente Michel Temer?
Marcelo Castañeda - O PMDB ganha mais poder do que já tinha em relação ao PT no âmbito da governabilidade, isso fica cada vez mais claro. Não vejo o PSDB com força para capitalizar no terreno da oposição, mas somente servir de ponto de apoio ao PMDB, caso o processo de impeachment seja aprovado na Câmara e no Senado e este partido assuma o governo. No terreno da oposição, a Rede aparece como partido que tem mais a ganhar com vistas a 2018.

“Não tenho qualquer esperança de mudança na política institucional e na economia que sejam derivadas desse processo

   


Temer
Em relação a Temer, se ficou calado no início, para desespero do PT e para deleite das especulações, e fez movimentos em direção ao PSDB e ao DEM, ele também avança, nem sempre habilmente, como na divulgação da carta que enviou para Dilma, alegando que a mesma vazou antes, ressaltando que a confiança está rompida, sendo alvo de ridicularização esquerdista nas redes sociais. Mas efetivamente está dando seu recado a quem interessa, ou seja, de que está apto a assumir a Presidência caso tenha apoio ao longo do processo de impeachment.
No fundo, isso faz parte de uma estratégia combinada do PMDB na qual diferentes atores desempenham performances que parecem contraditórias e antagônicas em prol do aumento de poder do partido na coalizão governista, quiçá ocupando sua cabeça, visando as próximas eleições, municipais e presidenciais. É hora de o protagonismo do PMDB e do PT colher o que plantou em nome da governabilidade.
IHU On-Line - Deseja acrescentar algo?
Marcelo Castañeda - Esse pedido de impeachment só interessa ao poder constituído pelo imbricamento de governos, empresas e partidos. Quero fazer um contraponto e chamar atenção para o fato de que os múltiplos problemas com que lidamos não vão ser resolvidos de uma hora para outra, nem pela boa ação do Estado através dos governos e partidos.
A resolução dos problemas passa por construções coletivas que envolvem conflitos, tensões e articulações entre diferentes atores que, no máximo, atravessam o Estado quando este se abre para isso, o que acontece raramente. As saídas estão na sociedade e os problemas geralmente começam pelo próprio Estado ao qual delegamos a solução através dos governos.
Neste sentido, as pautas são a guia do poder constituinte, do que está por vir. É importante que nos voltemos para as pautas de luta pelo mundo que queremos, que são múltiplas, pois é o que importa para sair da nuvem institucional e das polarizações que o poder constituído fabrica para melhor dominar.
Experiência paulista
A recente lição dos estudantes paulistas ao campo da esquerda que não foi capturada pelo governismo e resistiu à repressão governamental e midiática passa por aí e pela sua incrível capacidade de organização e mobilização. Não se trata de pureza das lutas, mas a clareza de que é a sociedade, com todos seus dilemas e contradições, contra o Estado/governo/mercado que pode fazer, senão um mundo, um país melhor possível.
Por João Vitor Santos e Patricia Fachin



Em 12 anos, novo líder do PMDB aumentou patrimônio em 56 vezes

December 14, 2015 7:45, by POLÍTICA CIDADANIA E DIGNIDADE



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Picciani, líder destituído, era contra impeachment de Dilma. (Foto: Luis Macedo/ Câmara)
Relator do Código de Mineração, Leonardo Quintão recebeu R$ 700 mil de empresa da Vale em 2014; é autor de leis que beneficiam drogarias, financiadoras de campanha
Por Alceu Luís Castilho (@alceucastilho)
As prestações de contas do deputado Leonardo Quintão (PMDB-MG), novo líder do PMDB após manobra do presidente da Câmara, não podem ser acusadas de ausência de transparência. Lá ficamos sabendo que, entre 2002 e 2014, esse economista de Taguatinga (DF), 40 anos de idade, multiplicou seu patrimônio em 56 vezes: de R$ 315 mil para R$ 18 milhões.
Lá estão também registrados os R$ 2 milhões recebidos, como doações de campanha em 2014, de mineradoras ou empresas ligadas ao setor – ele que é relator do novo Código de Mineração, em franca atividade para aumentar os benefícios das empresas. Leia aqui: Relator do Código de Mineração foi reeleito com milhões do setor.
E lá estão os R$ 800 mil recebidos de farmácias e drogarias também no ano passado, conforme os registros na Justiça Eleitoral. Entre elas a Raia Drogasil, com R$ 257 mil; a Drogaria Araújo, com R$ 120 mil; a Drogaria São Paulo, com 82 mil; a rede de farmácias Indiana (Irmãos Mattar e Cia), com R$ 73 mil; e a Drogaria Pacheco, com R$ 61 mil. As doações são legais.
Quintão é autor de vários projetos de lei que beneficiam o setor. Ou participou diretamente das negociações de outros projetos, como o PL das Farmácias e Drogarias, aprovado em 2014. Segundo o presidente da Federação Nacional dos Farmacêuticos, Ronald Ferreira dos Santos, o deputado atuou como negociador em defesa dos interesses da ABC Farma, a associação dos comerciantes.
Do total de R$ 4,96 milhões registrados na Justiça Eleitoral em 2014, mais da metade – R$ 2,8 milhões – vieram desses dois setores: farmácias e mineração.
Outros R$ 200 mil vieram da Bradesco Saúde, uma espécie de conexão entre o setor da saúde e o da mineração. É que o Bradesco, o banco que controla a seguradora, é um dos acionistas da Vale – aquela que já foi do Rio Doce, dona de metade da Samarco, a responsável pela catástrofe ambiental em Mariana (MG), em novembro.
QUINTÃO E A MINERAÇÃO
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Em 2014, relator do Código de Mineração recebeu R$ 700 mil de empresa da Vale (Foto: ISA)
PMDB controla desde 2007 as indicações para o Ministério das Minas e Energia e para as superintendências do Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM). A Quintão coube indicar o chefe dos superintendentes, o diretor-geral. Para saber mais sobre as conexões entre o PMDB e as mineradoras leia esta reportagem da Agência Pública: Teia de interesses liga políticos a mineradoras.
Poucos políticos de fora do PMDB têm essa prerrogativa de indicar superintendentes do DNPM, o órgão responsável por autorizar e fiscalizar as lavras. Um deles era o senador Delcídio Amaral (PT-MS), hoje preso pela Polícia Federal, que fazia as indicações no Mato Grosso do Sul.
Segundo a BBC Brasil, o texto do novo Código de Mineração – relatado por Quintão – foi escrito no escritório de advocacia Pinheiro Neto, que tem como clientes as duas donas da Samarco, a brasileira Vale e a anglo-australiana BHP Billinton: Novo código da mineração é escrito em computador de advogado de mineradoras.
Estas foram as empresas diretamente ligadas ao setor que mais doaram ao deputado em 2014: Vale Mina do Rio Azul (empresa da Vale no Pará), R$ 700 mil; Anglogold, R$ 300 mil; Gerdau, R$ 263 mil; Arcelormittal, R$ 183 mil; Usiminas, R$ 133 mil; Kinross, Flapa Mineração e Companhia Brasileira de Metalurgia e Mineração (CBMM, do grupo Moreira Salles), com R$ 100 mil cada.
ENRIQUECIMENTO
Em 2002, o economista Leonardo Quintão possuía R$ 315 mil em bens. Era eleito deputado estadual em Minas. Em 2006, R$ 983 mil. Em 2010, reeleito deputado federal, o valor tinha saltado para R$ 2,64 milhões. Em 2014, novo incremento: o novo líder do PMDB declarou ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) possuir R$ 17,9 milhões – entre os quais R$ 2,6 milhões (o total de 2010) em espécie.
Em doze anos, portanto, ele aumentou seu patrimônio em 56 vezes.
Ao Estado de Minas, o deputado disse que o aumento entre 2010 e 2014 se deveu à herança recebida da mãe e à venda de cotas de participação em empresa da família.
O deputado foi escolhido ontem (09/12) pelos rebeldes do PMDB, com o aval do presidente da Câmara, para substituir Leonardo Picciani (RJ) – contrário ao impeachment de Dilma Rousseff – como líder do partido na Casa. É o mesmo cargo que projetou Eduardo Cunha como uma das peças-chave do Congresso.



Estudantes presos ao protestar em SP são soltos em audiência de custódia

December 14, 2015 7:30, by POLÍTICA CIDADANIA E DIGNIDADE

LIVRE MANIFESTAÇÃO


Os três estudantes presos nesta quinta-feira (3/12) durante os protestos contra o fechamento de escolas de São Paulo foram liberados na tarde desta sexta-feira (4/12). Ao fim da audiência de custódia, todos assinaram uma medida cautelar se comprometendo a comparecer mensalmente ao Fórum Criminal da Barra-Funda para justificar suas atividades.
Segundo o advogado Alexandre Pacheco Martins, que representou os estudantes, a liberação só foi possível graças à audiência de custódia. “O simples fato de olhar para a luta dos jovens, que estavam ali exercendo o direito de manifestação, já deixa claro que não havia motivos para mantê-los presos”, disse.
Martins também afirmou que os acusados relataram na audiência que sofreram agressões por parte dos policiais militares em “locais que não deixam marcas” e que a menina do grupo disse ter sido apalpada no seio pelos integrantes da força de segurança pública. Em relação às denúncias, o juiz determinou que os estudantes fossem submetidos a exames para investigar os fatos.
O advogado ressaltou que o principal ponto criticado pelos estudantes na reorganização escolar promovida pelo governador Geraldo Alckmin  é o problema familiar que seria causado pela separação dos ciclos (mantendo apenas alunos da mesma faixa etária em cada escola). De acordo com ele, os estudantes explicaram que muitos pais, por trabalharem o dia todo, tentam inscrever seus filhos em uma mesma escola para que o mais velho leve e busque o menor na instituição de ensino. “Quando o governo vem e separa, isso causa um enorme problema”, argumenta.
“O mote pelo qual eles estavam lutando fazia sentido na perspectiva do direito constitucional de manifestação. Eles sofreram na pele o fechamento das escolas deles. Depois de serem liberados e informados que a reorganização educacional havia sido suspensa, eles se mostraram muito orgulhosos de saber que a luta não foi em vão”, finalizou o advogado.
Estado de Repressão
Para reprimir manifestações de estudantes contra o fechamento de escolas em São Paulo, nesta quinta-feira, a Polícia Militar fez uso de bombas de gás lacrimogêneo, cassetetes e algemas. O procedimento viola o Estatuto da Criança e do Adolescente e entendimento do Supremo Tribunal Federal.

O artigo 178 do ECA impede que o menor de idade acusado de cometer ato infracional seja transportado em compartimento fechado de veículo policial, “em condições atentatórias à sua dignidade, ou que impliquem risco à sua integridade física ou mental, sob pena de responsabilidade”. No entanto, nesta quinta, diversos adolescentes foram levados em camburões pela PM.
Já o STF, em sua Súmula Vinculante 11, afirma que só é permitido o uso de algemas em caso de resistência e de fundado receio de fuga ou de perigo à integridade física própria ou alheia. Aprovada em 2008, a determinação tem efeito vinculante não só no Judiciário, mas em toda a administração pública direta e indireta, nas esferas federal, estadual e municipal.
 é repórter da revista Consultor Jurídico.

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Parlamentar pode propor lei sobre publicidade de atos do Executivo

December 14, 2015 7:27, by POLÍTICA CIDADANIA E DIGNIDADE

DIREITO À INFORMAÇÃO


Lei de iniciativa parlamentar pode dispor sobre publicidade de atos do Poder Executivo. Com esse entendimento, a 2ª Turma do Supremo Tribunal Federal considerou válida lei de Guarulhos (SP) que obriga a prefeitura a publicar, em sua página na internet, informações sobre licenças de funcionamento expedidas para imóveis com capacidade acima de 50 pessoas.
Na ação, a prefeitura alegou que somente o Poder Executivo poderia propor leis que tratam da criação e a forma de prestação de serviços públicos. O Tribunal de Justiça de São Paulo rejeitou o argumento, por entender que a norma ampliou a transparência e a segurança da comunidade local, além de fortalecer o direito fundamental à informação de interesse da sociedade. Segundo o acórdão, a lei não cria ou extingue cargos nem fixa remunerações ou dispõe sobre servidores públicos.
A prefeitura apresentou recurso extraordinário contra a decisão do TJ-SP, mas o presidente daquela corte negou a remessa do caso ao Supremo. O município interpôs agravo para submeter a questão ao Supremo.
No STF, a ministra Cármen Lúcia rejeitou seguimento ao agravo. Em seu voto, ela destacou inicialmente que a prefeitura deixou de impugnar os fundamentos da decisão que havia negado a subida do recurso extraordinário, o que atrai a incidência da Súmula 287 do Supremo.
Quanto à matéria de fundo, ressaltou que o acórdão da corte paulista está de acordo com a jurisprudência do STF sobre a possibilidade de lei de iniciativa parlamentar dispor sobre publicidade de atos do Poder Executivo.
Cármen Lúcia citou como precedentes o RE 613.481, em que a 1ª Turma do STF considerou constitucional lei de iniciativa parlamentar do município do Rio de Janeiro determinando publicidade de atos e contratos do Executivo. A prefeitura de Guarulhos ainda recorreu à 2ª Turma que, por votação unânime, negou provimento ao agravo regimental. Com informações da Assessoria de Imprensa do STF.
Clique aqui para ler a decisão monocrática.
ARE 854.430
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