Íntegra do voto do ministro Teori Zavascki na ADI sobre financiamento de campanhas eleitorais
abril 4, 2014 4:25 - no comments yetLeia a íntegra do voto-vista proferido pelo ministro Teori Zavascki, do Supremo Tribunal Federal, no julgamento da Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI) 4650, que questiona dispositivos da legislação que disciplina o financiamento de partidos políticos e campanhas eleitorais (Leis 9.096/1995 e 9.504/1997). O julgamento está suspenso por pedido de vista do ministro Gilmar Mendes.
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Definidos painéis do debate sobre o tráfico de pessoas
abril 4, 2014 4:05 - no comments yetALMG realizará evento sobre o tema com a participação de órgãos públicos e sociedade civil.
Foi definida, em reunião realizada nesta quinta-feira (3/4/14), a programação do ciclo de debates que discutirá, na Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG), o tráfico de pessoas no Estado. O evento contará com três painéis que abordarão diferentes aspectos do tema. Toda a programação será realizada no dia 8 de maio, no Plenário, e contará com a presença de especialistas sobre o tema.
No período da manhã, a partir das 9h30, os participantes acompanharão painel que apresentará conceitos, contextualização, dados e os desafios do enfrentamento do tráfico de pessoas. Já na parte da tarde, a partir das 14 horas, serão debatidas as dimensões do tráfico de pessoas, com foco em três problemáticas: exploração sexual, trabalho escravo e adoção ilegal. O terceiro e último painel, previsto para começar às 15h30, abordará a formação/consolidação de uma rede de enfrentamento ao tráfico de pessoas.
Durante os trabalhos preparatórios, presididos pelo deputado João Leite (PSDB), foram levantados também os objetivos que se pretende alcançar com a iniciativa. Entre eles, foi destacada a difusão dos conceitos e aspectos relevantes relacionados ao tráfico de pessoas, o compartilhamento de dados entre as entidades que trabalham com o tema e o fomento à formação de uma rede de enfrentamento ao tráfico de pessoas com a participação de órgãos públicos e entidades da sociedade civil.
Campanha da CNBB - A Campanha da Fraternidade de 2014, promovida pela Confederação Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) durante a quaresma, tem como tema o tráfico de pessoas. A Igreja está alertando a comunidade para crimes como o trabalho escravo, a exploração sexual, o tráfico de crianças e a venda de órgãos. Atualmente, de acordo com a Organização das Nações Unidas (ONU), 2,5 milhões de pessoas no mundo são vítimas do tráfico humano.
Encontro debate cenário atual e futuro da Segurança Pública no Brasil
abril 4, 2014 4:04 - no comments yet
Encontro debate cenário atual e futuro da Segurança Pública no Brasil

Diante de um cenário preocupante, com a Polícia Federal passando por uma séria crise de proporções inimagináveis e resultados imprevisíveis, um evento em Vitória será palco de amplos debates sobre a Segurança Pública no Brasil. Realizado pelo Sindicato dos Policiais Federais do Espírito Santo, com apoio da Federação Nacional dos Policiais Federais, o 1º Encontro Nacional pela Inovação da Segurança Pública será promovido nesta sexta-feira, 04 de abril de 2014, no auditório da Faculdade de Direito de Vitória. Na pauta do evento, o teor da Proposta de Emenda Constitucional 51, que propõe reestruturação das polícias no Brasil..
Comissão de Direitos Humanos recebe reclamações de interferências nas perícias médicas da Junta Central de Saúde da PM.
abril 3, 2014 7:49 - no comments yetPoliciais militares denunciam perseguições e assédio moral

Comissão debateu denúncias contra possíveis violações de direitos humanos sofridas por policiais militares - Foto: Guilherme Bergamini
Diversas ocorrências de perseguição e assédio moral na Polícia Militar (PM) foram relatadas por membros da corporação aos deputados da Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG) em audiência pública realizada nesta quarta-feira (2/4/14). O debate, solicitado pelo deputado Durval Ângelo (PT), recebeu também representantes do Ministério Público e da Corregedoria e da Ouvidoria da PM.
A maior parte das denúncias apresentadas tratam de suposta influência de oficiais de carreira em perícias médicas. De acordo com os militares, seus superiores estariam interferindo no trabalho dos peritos da Junta Central de Saúde da PM para evitar licenças e dispensas ou, ainda, para forçar afastamentos de servidores.
O capitão Vicente Cássio Nogueira, por exemplo, teria deixado de ter suas licenças médicas homologadas após recomendação de sua superior hierárquica. Da mesma forma, o soldado Mateus Eustáquio Cândido teve afastamento negado, mesmo estando interditado judicialmente por esquizofrenia e outros problemas psiquiátricos.
A sargento Sônia de Jesus, ao contrário, teria sido afastada de suas atribuições por se negar a ceder a assédio sexual. “Disseram que eu tinha problemas psiquiátricos e doenças que eu nunca tinha ouvido falar. Isso sem mencionar as comunicações de falta sem que tivesse deixado de ir trabalhar um dia sequer”, denunciou.
O também capitão Marcos Soares Gandra afirmou que sofreu assédio moral por denunciar irregularidades cometidas por seus superiores. Relato semelhante foi feito pelo capitão Daílson Freitas, que teria sido envolvido em supostas fraudes em concursos públicos por estar ligado a outro comando policial em Montes Claros (Norte de Minas).
Parlamentares defenderam maior autonomia dos médicos em suas análises clínicas.
Diante de todas as denúncias apresentadas, o deputado Sargento Rodrigues (PDT) disse que as interferências de militares de patentes superiores em perícias médicas é recorrente e, por isso, é necessário que se faça uma intervenção direta nas rotinas da Junta Central de Saúde da PM. Para ele, se os médicos não tiverem autonomia em suas análises clínicas, o assédio moral vai continuar acontecendo na Polícia Militar.
O deputado Durval Ângelo também condenou essa prática. Ele disse que uma polícia cidadã não pode agir dessa forma, pois assim não irá preparar seus membros para um trato humanizado com as pessoas. “Os direitos humanos têm que ser respeitados de dentro para fora da corporação”, defendeu.
Junta Central de Saúde nega irregularidades
O vice-presidente da Junta Central de Saúde da PM, major Marco Túlio de Aquino, lembrou que as perícias médicas acontecem há quase 100 anos e atendem mais de 50 policiais militares todos os meses. Ao ser questionado pelos deputados, ele negou que as perícias sofram interferência de oficiais e afirmou que todos os casos passam pelos dez peritos lotados no setor. “É uma área delicada, e muitas vezes, quando damos um parecer que contraria a vontade do militar, acabamos por sofrer críticas e acusações”, salientou. Ele ainda reforçou que apenas médicos da PM enviam relatórios com análises dos quadros clínicos dos periciados.
O representante da Corregedoria da PM, major Wanderlúcio Vaz dos Santos, preferiu não fazer juízo de valor dos casos apresentados, por não ter acesso às informações detalhadas dos supostos casos de assédio moral. No entanto, ele destacou a seriedade da Polícia Militar e defendeu que todo processo é feito com base em motivações lógicas e jurídicas.
MP defende união de esforços
A coordenadora do Centro de Apoio Operacional das Promotorias de Defesa dos Direitos Humanos, Nívia Mônica da Silva, pediu uma atenção especial aos direitos fundamentais dos militares. Segundo ela, há uma condução equivocada em muitos casos, o que provoca um despreparo do policial e, consequentemente, um mal atendimento ao cidadão. “Isso explica, também, a imagem negativa da PM junto à opinião pública nos dias de hoje”, lamentou. Ela pediu, ainda, união de esforços entre as forças de segurança para sanar o problema. “O Ministério Público se propõe a mediar este debate para que o tema seja exposto para a sociedade”, completou.
Diante da fala da promotora, os deputados Sargento Rodrigues e Cabo Júlio (PMDB) fizeram um apelo para que o Ministério Público instaure mais processos de investigação de casos de assédio moral, de forma a evitar que a impunidade motive novos casos na Polícia Militar.
O ouvidor de polícia do Estado, Rodrigo Xavier da Silva, reforçou as palavras da promotora e solicitou às entidades representativas dos militares que provoquem mais o órgão, uma vez que ele existe também para receber casos de violações de direitos que afetem a corporação internamente. Segundo ele, dos sete fatos relatados na audiência, a Ouvidoria só tem registro de dois, ambos prontamente encaminhados para a Corregedoria da PM, a quem tem provocado em busca de solução.
Deputados pedem providências
Foram aprovados diversos requerimentos para a apuração das denúncias trazidas pelos militares à comissão. O deputado Durval Ângelo pede o envio das notas taquigráficas da audiência aos convidados, ao setor de direitos humanos da PM, à Corregedoria da PM, aos conselhos federal e estadual de Medicina, às comissões de direitos Humanos da OAB-MG e do MP e ao Conselho Regional de Psicologia.
O deputado Sargento Rodrigues solicitou nova audiência pública para que o presidente da Junta Central de Saúde da PM seja convocado a dar explicações. E o deputado Cabo Júlio anunciou, ainda, que deu início à coleta de assinaturas para a instalação de uma CPI para investigar as denúncias de irregularidades nas perícias médicas da PM.
Fonte: Site ALMG
Anastasia comunica renúncia ao cargo de governador do Estado
abril 3, 2014 7:31 - no comments yetPlenário recebe comunicado do chefe do Poder Executivo informando sua renúncia a partir de sexta-feira (4).

Ofício do governador comunicando sua renúncia ao cargo foi lido em Plenário nesta quarta (2) - Foto: Willian Dias
Na Reunião Ordinária de Plenário da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG) desta quarta-feira (2/4/14), foi lido ofício do governador Antonio Anastasia comunicando sua renúncia ao cargo a partir desta sexta-feira (4). Ele informa que renuncia para poder assumir outras responsabilidades, "o que não significa deserção ao compromisso de defender a causa mineira".
Ao fazer o balanço de sua administração, Anastasia afirma que o Governo do Estado foi capaz de incrementar as políticas sociais, fomentar a cultura, valorizar a ciência, continuar priorizando a educação de qualidade e honrar a democracia e a verdade republicana.
Ao final, o governador destaca que renuncia com a tranquilidade de quem transmite o cargo a um destacado homem público, o atual vice-governador Alberto Pinto Coelho. E aproveita para agradecer à ALMG pelo apoio e também ao povo de Minas, a quem manifestou profunda gratidão e reconhecimento.
Outro ofício recebido na reunião traz o Balanço Geral do Estado relativo ao exercício financeiro de 2013. De acordo com a mensagem, o balanço está acompanhado dos demonstrativos analíticos, com os esclarecimentos da Superintendência Central de Contadoria-Geral, juntamente com o relatório da Controladoria-Geral do Estado. O balanço também foi enviado para o Tribunal de Contas de Minas Gerais.
Policiais Militares denunciam perseguições e violações de direitos humanos
abril 2, 2014 20:55 - no comments yetSão tantos os caso de assedio moral na Polícia Militar, que inclusive levam ao autoextermínio, que para compreensão dos que ainda não conseguem compreender a gravidade dos atos, ou simplesmente se calam e se acovardam, que resolvemos resumir a ação dos assediadores: “É possível destruir alguém, apenas com palavras, olhares e subentendidos: a isto se dá o nome de violência perversa ou assedio moral, que nada mais é que um assassinato psíquico.”
NOSSA LUTA É PELA TIPIFICAÇÃO DO ASSEDIO MORAL COMO TRANSGRESSÃO DISCIPLINAR CONTRA O DECORO DA CLASSE, E A HONRA PESSOAL, SUJEITANDO O AGRESSOR A PROCESSO ADMINISTRATIVO DISCIPLINAR, COM AFASTAMENTO E DESTITUIÇÃO DO CARGO, SEM EMBARGO DA DEVIDA AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS.
José Luiz BARBOSA - SGT PM - RR.
Durante a reunião, vários policiais militares fizeram denúncias de perseguição e violações de direitos humanos realizadas por Coronéis da Polícia Militar de Minas Gerais (PMMG). O Capitão Vicente de Cássio Nogueira relatou que a três anos começou os problemas de perseguição por dois comandantes. “Eu venho sendo pressionado, me encontro em péssimo estado, em tratamento médico e psicológico. Tenho 26 anos de polícia, uma ficha intocável, mesmo assim fizeram uma comunicação disciplinar, mesmo eu estando de licença. Eu estava licenciado e fui obrigado a comparecer no quartel, pois minhas licenças não são homologadas”, afirma. Seu advogado, Jorge Vieira da Rocha, explicou que a perseguição começou em 2011, quando o Capitão era lotado no 39 BPM, ele começou a ser constrangido tendo na frente de suas escalas o seguinte teor “dispensado médico”, mesmo sendo sigiloso. Após os fatos, ele foi transferido para a Diretoria de Tecnologia e Sistema. Depois disso, o Capitão pegou licença por cólica renal. Sua licença foi homologada, mas uma semana depois chegou um Painel Administrativo (PA) pedindo para rever a homologação com uma orientação “conforme conversado” com o Presidente da JCS, Cleinis de Alvarenga Mafra Jr, informando os peritos o que fazer.
Segundo o deputado Sargento Rodrigues, estas práticas de perseguição são corriqueiras. “Não é a primeira vez que denuncio a Junta Central de Saúde (JCS) apontando as ligações de coronéis que falam que os policiais militares estão dando o “chapéu”, que estão sendo “matrifusos”. Quero dizer da minha alegria em ter o Capitão Vicente de Cássio Nogueira fazendo esta denuncia, pois os policiais militares são seres humanos. Precisamos fazer, urgentemente, uma intervenção. É um escândalo o que a JCS está fazendo”, disse.
Já o médico Alexandre Augusto Vianna Costa foi denunciado no Conselho Regional de Medicina (CRM). “Fui denunciado no CRM devido ao fato de não existir minha especialidade, que é neuropsiquiatria. Passei em três concursos, um para neurologia e dois para psiquiatria, mesmo assim para o CRM eu não tenho ética. Odeio toda forma de perseguição e de ferir”, destaca.
O Sargento Edson Pereira Campos dos Santos relatou que foi denunciado, por um cidadão infrator no município de Montes Claros, sendo suspeito de gerar “bicos” de segurança na cidade, sendo aberta uma sindicância para apurar a situação. O mesmo cidadão denunciou, também, na Corregedoria de Montes Claros, que o Sargento Edson, o Capitão Dailson e o advogado Rui Pereira da Fonseca, o procuraram, em sua residência e lhe ofereceram R$ 6 mil para executar um Coronel. “Isso nos leva a crer que existe outros policiais militares instigando o infrator a fazer outras denúncias. Acredito que essas informações infundadas, as perseguições, tenham a ver, sim, com outros militares. Por causa disso,
hoje me encontro com problemas psicológicos, tomo remédios fortíssimos e faço tratamento psicológico”, disse. Sargento Edson também foi denunciado por ameaçar o cidadão e por formação de milícia em Montes Claros.
Já o Soldado Mateus Eustáquio Cândido e sua esposa Jéssica Neres afirmaram que mesmo interditado judicialmente por esquizofrenia e outros problemas psiquiátricos, ele teve seu afastamento negado. “Mateus entrou na PM em 2007 e em 2008 sua arma disparou e matou um infrator em suas mãos. Desde então, ele começou a ter problemas psicológicos. Hoje ele toma 18 comprimidos por dia, sendo 7 tipos diferentes. O médico, na perícia, o mal tratou, gritando com ele e batendo na mesa. Além disso, a polícia militar não está pagando seu salário, estamos passando necessidades, pedindo ajuda aos vizinhos”, relatou Jéssica Neres, esposa do Soldado Mateus. “O cardiologista disse que eu estou de birra, mas fui diagnosticado com surto-psicótico e esquizofrenia”, afirma. 
Em seu relato, o Capitão Marcos Soares Gandra deixa claro que sofreu assédio moral por seu superior. “Meu caso começou em 2012, na Gerência de Assistência a Educação Escolar, quando fui assediado moralmente pelo Major. Ele enviava mensagens falando que eu estava sendo omisso e conivente com erros. Entrei com todos os recursos internamente, mas um comandante não discorda do outro. Eles acham que estão exercendo um reinado. Depois de 26 anos de polícia militar, com conceito A50, sem nenhuma punição disciplinar, tive que tirar licença de 30 dias para fazer tratamento psicológico”, afirma.
O Vice-Presidente da JCS, Major Marco Túlio de Aquino, afirmou que de janeiro de 2013 à março de 2014 foram realizadas 6797 perícias, totalizando 463 por mês. Ele
discordou da Sargento Sônia Samora e afirmou que sempre há mais de um médico nas perícias. “É um setor delicado. Toda vez que temos uma negativa há questionamentos. Houve uma denúncia gravíssima aqui, jamais terá apenas um perito na sala, sempre há pelos menos dois. Os casos são avaliados sequencialmente e sempre há reuniões para discutí-los. Não reformamos ninguém em três dias, há uma sequência, sendo passado por um crivo”, disse.
O deputado Sargento Rodrigues destacou que há uma enorme interferência dos coronéis nos atos dos médicos. O parlamentar afirmou que esperava uma postura mais firme, de ética, dos médicos. “O que esperávamos de um médico é uma postura de não aceitar essas interferências. Se eu fosse médico, não teria coronel nenhum que mudaria meu parecer”, destaca.

Sargento Rodrigues faz um apelo a Coordenadora do Centro de Apoio Operacional das Promotorias de Justiça de Direitos Humanos do Ministério Público: “O apelo que faço para a senhora é que comece a provocar os seus colegas para que instaurem inquéritos. Precisamos que o MP abra procedimentos, apure os fatos, pois temos casos graves, concretos, de perseguição”, disse.
Segundo o Ouvidor de Polícia do Estado de Minas Gerais, Rodrigo Xavier da Silva, a ouvidoria só tinha ciência de dois, dos sete casos tratados na reunião. Ele também afirmou que sempre estão prontos para ouvir as graves violações de direitos humanos dos servidores militares.
A comissão de direitos humanos realizará nova audiência pública, a requerimento do deputado Sargento Rodrigues, para que o presidente da JCS seja convocado para dar explicações. A comissão também enviará as notas taquigráficas da audiência aos convidados, ao Comandante-Geral da PMMG, à Corregedoria da PMMG, aos conselhos federal e estadual de Medicina, às comissões de direitos Humanos da OAB-MG, a Promotoria de Direitos Humanos e ao Conselho Regional de Psicologia.
FONTE: SITE DO DEPUTADO SGT RODRIGUES
PT E PMDB JUNTOS NA LUTA PELO PODER, E ATÉ NA CORRUPÇÃO. CONFIRA!!
abril 2, 2014 19:04 - no comments yetNOVA LIMA
PM é chamada para tirar prefeito cassado do cargo.
Vereador tenta assumir a prefeitura, mas Cassinho (PMDB) se tranca na sala e só sai com a polícia

Dilma Rousseff empossou, ontem, Ricardo Berzoini como ministro
PUBLICADO EM 01/04/14 - 22h07
ISABELLA LACERDA
A troca de comando na Prefeitura de Nova Lima, na região metropolitana da capital, virou caso de polícia ontem. Cassado pelo pleno do Tribunal Regional Eleitoral de Minas (TRE-MG), o então prefeito Cássio Magnani (PMDB) se recusou a deixar seu gabinete na sede do Executivo para o prefeito interino, o presidente da Câmara Municipal, vereador Nélio Aurélio (PMDB).
Segundo o parlamentar, ele esteve ontem na sede do Executivo para assumir o comando do município, já que o segundo colocado nas eleições de 2012, deputado federal Vitor Penido (DEM), ainda não foi empossado pelo Legislativo. No entanto, ao chegar ao prédio, na parte da manhã, foi impedido por Cassinho.
“A posse dele na Câmara está marcada para o dia 10. Como é só na semana que vem, a prefeitura não pode ficar sem comando. Por isso, eu fui até o Executivo para me inteirar das coisas, mas acabou acontecendo esse constrangimento”, relatou ontem Nélio Aurélio. De acordo com o peemedebista, Cassinho só aceitou sair do gabinete após a Polícia Militar ser acionada.
“Tentamos entrar para conversar. Os assessores tentaram, mas precisou da polícia. Eu não quero tomar o lugar de ninguém. Se ele conseguir uma liminar, ele voltará. Mas se não conseguir, tenho que cumprir o que manda a legislação”, disse o presidente da Câmara.
Ontem, Cassinho não foi localizado pela reportagem para explicar o que aconteceu. O peemedebista foi cassado no último dia 21, depois que o tribunal entendeu que houve abuso de poder político dele e do ex-prefeito Carlos Roberto Rodrigues (PT).
Na noite da última segunda-feira, Vitor Penido foi diplomado pela Justiça Eleitoral e aguarda ser empossado pelos vereadores para assumir a administração municipal.
Para estudiosos, Brasil não completou transição democrática
abril 2, 2014 7:46 - no comments yetNo segundo dia do ciclo de debates sobre os 50 anos do golpe de 1964, especialistas destacam herança da ditadura.

Plenário da ALMG foi palco do segundo dia do ciclo de debates sobre os 50 anos do golpe militar - Foto: Guilherme Bergamini
“O que resta da ditadura entre nós? Muita coisa ruim”, afirmou o jurista José Luiz Quadros Magalhães, um dos palestrantes do segundo dia do Ciclo de Debates Resistir Sempre, Ditadura Nunca Mais – 50 anos do Golpe Militar. Na manhã desta terça-feira (1º/4/14), foram discutidas as políticas de transição da ditadura para a democracia e as heranças do período ditatorial. A Lei de Anistia e o caráter econômico por trás das decisões políticas que levaram ao golpe militar e ao seu fim permearam as palestras, conduzidas pelo deputado Paulo Lamac (PT).
José Luiz Quadros sustentou que a ditadura brasileira foi marcada por um teatro no qual se simulava a democracia – e que o fim do regime militar seguiu o mesmo caminho. O teatro, segundo ele, se caracterizava especialmente pela suposta existência de instituições democráticas – havia a sucessão de pessoas no poder a cada quatro anos, o Congresso foi mantido e até o Poder Judiciário continuou a funcionar. “Foi uma formatação diferente do que aconteceu, por exemplo, no Chile, onde Augusto Pinochet permaneceu no poder durante todo o regime militar”, explicou.
Para o jurista, o último ato desse teatro foi a convocação, por meio do que foi chamado de emenda constitucional, de uma Assembleia Constituinte. “Que só pode ser legítima se vier de uma quebra, portanto, não há nenhum instrumento jurídico válido para sua convocação. Esse ato, levado a cabo por José Sarney, não passou de um recado claro de que não se tratava de uma ruptura, mas apenas do começo de uma nova fase”, avaliou.
A falta dessa ruptura teria garantido, de acordo com Quadros Magalhães, que certos mecanismos de distorção, encobrimento da verdade e manutenção de alguns grupos no poder se mantivessem até hoje. Para ele, a herança desse período se manifestaria atualmente, por exemplo, na Polícia Militar. “Não dá para ter, em um regime democrático, uma polícia que é contra o povo, que diariamente humilha os mais pobres. Precisamos é de inteligência policial que seja usada para proteger todos. A desmilitarização da corporação é um debate que precisa ser enfrentado”, defendeu.
A mídia também foi criticada pelo palestrante, que alertou para um possível “bloqueio de informação”. “Não temos liberdade de imprensa, é possível até encontrar brechas, mas a grande mídia, concentrada nas mãos de poucos, faz parte do mesmo teatro que existiu na ditadura. Ela mente sistematicamente”, disse. Luiz Quadros Magalhães defendeu que até o uso do termo “anistia” para se referir aos presos políticos do período é equivocado. “Anistia é perdão, e não temos nada a perdoar daqueles que deram suas vidas para defender a democracia: temos que agradecê-los”, afirmou.
Para professor, transição para a democracia não se completou

O professor adjunto da Faculdade de Direito da UFMG, Emílio Peluso Neder Meyer, foi um dos palestrantes - Foto: Guilherme Bergamini
A Lei de Anistia, de 1979, que teria garantido “anistia ampla e irrestrita”, foi o principal tema abordado pelo doutor em direito Emílio Peluso Neder Meyer, professor adjunto da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Segundo ele, processos de transição entre regimes tradicionalmente contam com anistias, que têm o objetivo de estabelecer condições para que opositores políticos possam voltar a conviver em um regime democrático em processo de implantação.
No Brasil, porém, a lei teria sido gestada no gabinete do então ministro da Justiça Petrônio Portela e teve a finalidade de garantir um pano de fundo que não permitiria a responsabilização individual daqueles que agiram em nome do regime. "A ditadura foi pródiga em estabelecer instrumentos que pudessem permitir a transição controlada de regime”, disse.
Assim, Peluso salienta que não houve ações de relevo nas décadas de 1980 e 1990 para garantir a responsabilização dos agentes da ditadura, o que para ele demonstra que a transição para o regime democrático foi incompleta. De acordo com o jurista, uma resolução do Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU) determina que uma real justiça de transição precisa basear-se em quatro fundamentos: direito à memória e à verdade, sistema de reparações de danos, reformas institucionais e responsabilização individual.
O professor lembrou o ajuizamento de ação no Supremo Tribunal Federal (STF) por familiares de vítimas do regime militar, mas segundo ele, em abril de 2010 a corte proferiu decisão judicial no sentido de manter a anistia aos agentes do Estado.
A defesa da anistia aos torturadores baseou-se, de acordo com Peluso, em dois argumentos principais. O primeiro seria o de que a Lei de Anistia teria sido fruto de um acordo político e, portanto, seria legítima. Também levou-se em consideração que a Assembleia Constituinte que deu origem à atual Constituição Federal foi convocada a partir desse acordo e, dessa maneira, negar a Lei de Anistia seria negar a própria Carta Maior. O professor, no entanto, refuta os dois argumentos e disse que não havia condições, durante a ditadura, de se estabelecer um acordo político. Assim sendo, na sua avaliação a lei teria sido imposta.
Peluso salientou, ainda, que a decisão contraria a Convenção Americana de Direitos Humanos, segundo a qual leis de autoanistia, como a brasileira, não devem ser consideradas legítimas. Por fim, ele destacou decisão da Corte Interamericana segundo a qual o STF se equivocou e o Estado brasileiro deve se desculpar e estabelecer sistemas de reparações. “Com base nesse entendimento, o Ministério Público Federal começa a reabrir casos arquivados e pedir responsabilizações”, diz. Para o jurista, porém, é preciso permanecer vigilante porque segundo ele as ações abertas até o momento têm sido novamente arquivadas pelo Poder Judiciário.
Sociólogo explica razões econômicas do golpe
O caráter econômico do golpe militar foi abordado pelo sociólogo Ronald Rocha, membro do Instituto 25 de Março de Sérgio Miranda. De acordo com ele, a década de 1960 foi o auge da expansão do capitalismo e o golpe serviu para consumar o processo de concentração de capitais. “O Estado centraliza seus órgãos e os funde aos monopólios internacionais, o que resulta em crescimento econômico entre os anos de 1967 e 1974. O modelo, porém, entra em crise internacionalmente, e o crescimento cessa. O 'milagre brasileiro' foi o último suspiro desse período”, disse.
Segundo ele, a falência desse modelo econômico levou à crise do regime militar. “Claro que a burguesia brasileira percebeu que a manutenção do regime 'a ferro e fogo' levaria à perda de eficiência, culminaria em uma situação revolucionária no País e criaria condições para um ruptura iniciada por baixo e com consequências imprevisíveis. Por isso, passaram a considerar uma transição controlada para a democracia”, afirmou. O sociólogo disse ainda que, nessa transição programada e gradual, houve predomínio das correntes conservadoras e, portanto, das prerrogativas da tutela militar na política nacional.
Por essas questões, muitos estudiosos defendem, de acordo com Rocha, que a transição teria sido incompleta e, portanto, não teríamos até hoje democracia no Brasil. Outros, menos radicais, defendem, ainda de acordo com Rocha, que a democracia brasileira teria características próprias, fundadas em suas condições sócio-históricas e em aspectos remanescentes da legislação da ditadura, com métodos autocráticos na gestão do Estado e ordem monopolista financeira. “Por isso, reformas sociais profundas não foram realizadas, e uma transformação só poderá ser feita com a renúncia dessas heranças militares”, afirmou.
Para fechar a manhã de debates, o deputado Adelmo Carneiro Leão (PT) citou o filósofo alemão Herbert Marcuse: “a primeira condição para um escravo se libertar é ele ter consciência de que é escravo”. O parlamentar fez um paralelo com a necessidade de se ter conhecimento da história da ditadura para construir a democracia. Convidou também para o Ciclo de Debates Comunicação, Regulação e Democracia, que será realizado na ALMG nos dias 10 e 11 de abril, ressaltando que democratizar a imprensa é essencial para a construção da verdadeira democracia.
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abril 2, 2014 6:54 - no comments yetCom trabalho, perseverança, fé, compromisso e ética, vamos ganhando respeito, confiança e credibilidade dos leitores, seguidores e colaboradores. Valeu pelo reconhecimento. E VAMOS A LUTA! OBRIGADO A TODOS! http://conscienciapoliticapmbm.blogspot.com.br/ familiabolsonaro.blogspot.com.br http://noqap.blogspot.com.br http://www.papodepm.com http://www.pec300.com http://www.pec300.com http://abordagempolicial.com *http://politicacidadaniaedignidade.blogspot.com.br http://nivando.blogspot.com.br http://www.blogalferes.com/ www.blogcabofernando.com caboclaudiodias.blogspot.com http://www.blogdoalexandreguerreiro.com/ wellingtonflagg.blogspot.com Fonte: Blog da Renata. |
Quando ingressei na Polícia Militar ainda existia coronel assim...hoje nem se procurar de vela acesa!
abril 1, 2014 19:30 - no comments yetApontado como líder da greve da PM, Coronel Melo é preso em São Luís

O coronel foi preso próximo ao Terminal da Praia Grande e foi levado para o Comando Geral da Polícia Militar, no Calhau. Os militares continuam em greve e um grupo considerável de militares está aquartelado no estacionamento da Câmara Municipal de São Luís. As entradas da Câmara tanto pelo estacionamento quanto à principal foram fechadas.
Antes de chegar à frente da Câmara Municipal, os militares fizeram um protesto em frente ao Terminal da Praia Grande, causando congestionamento no trânsito em toda a Avenida Beira-Mar.
Os militares reclamam do reajuste de apenas 7% concedido, em ano eleitoral, pela governadora Roseana Sarney à categoria. Segundo os policiais, não se trata de aumento, mas de reposição salarial, pois refere-se a perdas salarias e não a aumento real de vencimentos.
Com menor efetivo de policial do país, os policiais militares maranhenses pedem implantação de reajuste de 18% (mesmo percentual que foi concedido a servidores de outras categorias) e das perdas salariais, além de mudanças nos critérios de escalonamento, promoção e jornada de trabalho, adicional por periculosidade, substituição dos coletes balísticos e das munições que estão sendo usados com prazo de validade vencido. Falta armamento e até fardas para os policiais.
Doutrina dos porões: a escola que disciplinou a tortura
abril 1, 2014 16:48 - no comments yetUm número enfeita a ficha resumida de oficiais que marcaram a história recente das Forças Armadas: “063”. No Almanaque do Exército, o código identifica os militares graduados no curso de Informações do Centro de Estudos do Exército (CEP), no Forte do Leme. Suas bancas escolares forjaram uma geração de majores, capitães e tenentes que operou a máquina de torturar, matar e fazer desaparecer dos porões do regime.
A reportagem é de Chico Otavio, publicada pelo jornal O Globo, 30-03-2014.
Desde 1964, logo após a derrubada de Jango, os militares contavam com o Serviço Nacional de Informações (SNI)para coordenar as atividades de inteligência e perseguir os inimigos do regime que se estabelecia. Mas foi no Forte do Leme, pelas mãos do general Octavio Pereira da Costa, que jovens oficiais conheceram a doutrina de “operações de informações”: o enfrentamento direto, no qual teriam de buscar a qualquer custo, sem os limites impostos por lei, aquilo que era negado pelo adversário.
Os cursos de Informações do CEP, categorias B (para oficiais de nível médio) e C (subtenentes e sargentos), começaram em 1966, motivados pelo crescimento das ações armadas de organizações de esquerda e pelo fantasma do comunismo. Enquanto as altas patentes aprendiam a teoria no curso de Informações oferecido pelaEscola Superior de Guerra (ESG), o CEP ensinava os alunos a conduzir interrogatórios, a disfarçar-se, a penetrar em residências sem deixar vestígios e a pensar e agir como guerrilheiros, à paisana, além de estourar “aparelhos subversivos”.
Os instrutores não tiveram o trabalho de elaborar as aulas. O projeto chegou pronto do Forte Gulick, no Canal do Panamá, onde funcionava a Escola das Américas, base militar americana acusada de treinar quadros da repressão política na América Latina. Na lista de graduados na escola, figuravam ditadores como o nicaraguense Anastácio Somoza, o argentino Jorge Videla e o paraguaio Alfredo Stroessner.
Execuções: um mal necessário
Era preciso aprender rápido. Baseados em manuais que desaconselhavam o uso de ameaças contra o inimigo, “a menos que pudessem ser cumpridas”, e que consideravam prisões e execuções um mal necessário, os instrutores preparavam os quadros da repressão em menos de seis meses. Até 1971, quando foi transferido para Brasília e assumido pelo SNI, o curso tornou-se o caminho mais curto para quem seguiu carreira nos porões.
Paulo Malhães, o coronel que confessou recentemente às comissões estadual e nacional da Verdade o envolvimento da morte e ocultação de corpos de guerrilheiros, cursou o CEP. Arrancava dedos, dentes e vísceras dos corpos dos militantes para evitar que fossem identificados. Freddie Perdigão Pereira, um dos mais violentos agentes do regime, responsabilizado pela bomba do Riocentro (abril de 1981), também. O então tenente Ailton Guimarães Jorge, que mais tarde seria o Capitão Guimarães do jogo do bicho, só ingressou nas operações repressivas da Polícia do Exército, na Vila Militar, depois de passar pelo Forte do Leme.
Perdigão esteve no curso de janeiro a julho de 1966, logo na primeira turma. Ao concluí-lo, foi elogiado pelo generalOctavio Costa pelo “valor intelectual, pela marcante curiosidade intelectual, seu valor humano, pela lealdade e espírito de colaboração”. Mas o comandante ressalvou que o jovem capitão poderia produzir mais se mostrasse amadurecimento emocional. Cinco anos depois, mais maduro, Perdigão seria um dos torturadores da Casa da Mortede Petrópolis, um dos mais bárbaros aparelhos clandestinos do Centro de Informações do Exército (CIE).
Violência, mas “aplicada com inteligência”. Regras sujas, mas sem perder a hierarquia e a disciplina. Poderes ilimitados, mas sem ceder às tentações pessoais. Era essa a aposta dos comandantes. O próprio CIE, unidade vinculada diretamente ao gabinete do Ministro do Exército, foi ungido à luz dos ensinamentos do CEP, no mesmo momento em que Informações transformava-se praticamente em nova Arma do Exército, tão forte quanto a Artilharia, a Cavalaria, a Infantaria e a Intendência.
Até hoje, o Exército resiste a fornecer dados como ementa, disciplinas, carga horária e nomes de instrutores e de alunos do curso. Chegou mesmo a negar a sua existência. Porém, o número “063” aparece em praticamente todas as fichas resumidas de torturadores. Versados em “Fundamentos de Informações”, “Produção de Conhecimento”, “Operações de Inteligência”, “Operações de Contrainformações”, entre outras matérias, eles operariam uma mudança no combate à luta armada.
Para oferecer a primeira resposta à escalada de ações da guerrilha, o Exército praticamente catou a laço os agentes necessários. Muitos deles foram arregimentados nos quadros das polícias Civil e Militar, trazendo das delegacias e quartéis o pau-de-arara e outras técnicas rudimentares e violentas de interrogatórios de criminosos comuns. Contaminou também as casernas com a expertise das ruas e seus vícios.
Soco na cara não ajudava
O curso de Informações do Leme mudou o cenário. Com as primeiras levas de diplomados, foi possível renovar os quadros e aumentar o grau de controle sobre as operações. A lógica do sopapo e do pau-de-arara não chegou a ser afastada, mas passou a coexistir com métodos de tortura mais técnicos, que envolviam o terror psicológico e a criação de uma rede clandestina de cárceres, onde os agentes passaram a agir com extrema liberdade, sem as restrições de uma unidade militar formal.
Paulo Malhães, em depoimento à Comissão Nacional da Verdade, relatou a experiência pessoal com o processo. Ele admitiu que, nos primeiros anos de interrogador, imitava a polícia na dose de violência contra os presos. Disse que, depois, adotou métodos mais científicos, convencido de que um sujeito que leva um soco na cara jamais teria disposição de colaborar com os seus torturadores.
O golpe e a construção da dependência financeira brasileira.
abril 1, 2014 16:47 - no comments yetEntrevista especial com Fábio Antonio de Campos
"A ditadura serviu para garantir a expansão da industrialização pesada dinamizada pelo capital internacional em proveito dos diferenciais do mercado interno, estabelecidos pela elevada concentração de renda que garantia a valorização à custa da superexploração do trabalho”, avalia o economista.
Passados 50 anos do golpe militar que depôs o ex-presidente João Goulart, na madrugada do dia 1º de abril de 1964, pesquisadores de diferentes áreas do conhecimento tentam compreender quais razões fizeram com que a ditadura se mantivesse por mais de 20 anos no país. A economia, nesse sentido, “é fundamental para entender o alcance e os limites da ditadura como instrumento do capitalismo brasileiro”, diz, à IHU On-Line, o economista Fábio deCampos, autor da tese de doutorado A arte da conquista: o capital internacional no desenvolvimento capitalista brasileiro (1951-1992).
Na entrevista a seguir, concedida por e-mail, o professor do Instituto de Economia da Unicamp assinala que as multinacionais que atuavam no Brasil à época apoiaram e financiaram o golpe, porque ele era “extremamente necessário para dar continuidade à valorização capitalista das empresas multinacionais com o mercado interno brasileiro”. Segundo ele, a ditadura “permitiu a conexão dos interesses de valorização das filiais estrangeiras com o sistema financeiro internacional. A reforma da legislação, além de retirar do marco institucional as medidas que impediam as remessas ao exterior a partir de reinvestimentos de lucro, criou novos instrumentos que liberalizavam o acesso da filial estrangeira ao endividamento externo”.
Campos esclarece que a Lei de Remessas de Lucro, como outras propostas do ex-presidente Jango, entre elas a estatização do setor energético e a negociação da dívida externa, bem como “qualquer política que fosse um pouco mais discricionária em relação à entrada e saída de capitais estrangeiros (investimentos, empréstimos, remessas, repatriações, juros, transferências diversas), afetava a valorização capitalista que sustentava os interesses do complexo multinacional”.
Crítico das interpretações de que a ditadura gerou o “milagre econômico” para o Brasil, Campos frisa que o “capital internacional, ao mesmo tempo que permitiu o avanço da industrialização brasileira, constituindo-se no eixo dinâmico dessa expansão, selou a aliança imperialista entre as burguesias internacionais com suas correspondentes nativas que sempre se subordinaram a essa articulação. Longe de isso criar as condições para autodeterminação do desenvolvimento nacional, acabou por sacramentar nossa dependência externa e subdesenvolvimento”. Essa aliança tem reflexos ainda hoje e pode ser percebida no processo de desindustrialização e primarização da economia nacional.
Fábio Antonio de Campos é graduado em Ciências Econômicas pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho, mestre em História Econômica e doutor em Desenvolvimento Econômico pela Universidade Estadual de Campinas - Unicamp.
Hoje continua, no Instituto Humanitas Unisinos - IHU, a programação do Ciclo de Estudos “50 anos do Golpe de 64. Impactos, (des)caminhos, processos. A programação do evento está disponível aqui.
Confira a entrevista.
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Foto: Rádio Piratininga |
IHU On-Line - Quantas multinacionais havia no Brasil antes do golpe de 64 e como elas atuavam?
Fábio Antonio de Campos - A presença de empresas multinacionais na economia brasileira data desde os tempos do Império, quando se fixaram nas áreas de utilidade pública, transporte, finanças, infraestrutura e atividades ligadas à economia cafeeira. No decorrer da primeira metade do século XX, novos investimentos estrangeiros se destinaram aos setores energético, primários, de comunicações e de representação comercial de indústrias manufatureiras. Mas foi na segunda metade dos anos 1950 que tivemos um marco decisivo na internacionalizaçãobrasileira, quando as empresas estrangeiras chegavam ao país para conquistar o mercado interno e, com isso, se constituir estrategicamente nos setores de bens de capital e de consumo duráveis, os mais dinâmicos na implantação e desenvolvimento da indústria pesada brasileira. A origem desse capital foi norte-americana e europeia, e os principais investimentos se destinaram aos setores de transporte, química, metal-mecânica, materiais elétricos, seguidos pelos setores de consultorias, comércio e farmacêuticos.
Mais que uma questão quantitativa que permitiu a economia brasileira crescer a um ritmo de “50 anos em 5”, emJuscelino Kubitschek – JK, e depois intensamente na ditadura militar, o que se consolidou nessa época com o capital internacional foi um novo nexo imperialista que articulou de forma subordinada o Estado brasileiro e os sócios privados internos à estratégia de conquista das grandes corporações. Nesse momento de Guerra Fria, tal articulação era extremamente necessária para dirimir os riscos de valorização capitalista diante da ameaça soviética em espaços periféricos como a América Latina. Junto com a internacionalização produtiva dessa fase que alavancava a industrialização brasileira, estava internalizando também um modo de vida genuinamente fordista e funcional à dominação imperialista. Uma questão complexa, portanto, que ultrapassa em muito a linha de argumentação economicista do período.
IHU On-Line - O então presidente João Goulart tinha alguma proposta em relação à atuação das empresas multinacionais no Brasil?
Fábio Antonio de Campos - João Goulart sempre foi cauteloso nessa matéria porque sabia que qualquer intervenção mais nacionalista intensificava as contradições seculares de nossa dependência externa. No entanto, estas nasceram da nossa formação histórica, convertendo em antagonismos abertos que necessitavam ser enfrentados dentro do contexto da “revolução brasileira”. Demandas históricas de controle ao capital internacional passaram a serbandeiras de sindicados, movimentos sociais organizados, intelectuais, estudantes e os partidos progressistas. A pressão nacional-popular cresceu tanto que a “Lei de Remessas de Lucro” foi aprovada no Congresso em 1962, sendo que Goulart só a sancionou em janeiro de 1964, já na antessala do Golpe. Portanto, a iniciativa de controlar o capital internacional foi resultado de uma conscientização popular que vinha de longo prazo. Tal como a campanha do “Petróleo é Nosso”, Goulart seria pressionado pela movimentação popular.
Em contrapartida, isso aumentaria a apreensão do Governo norte-americano, das empresas multinacionais aqui instaladas e dos setores estatais e de empresas privadas nacionais que formavam uma associação de interesses que tinha na dependência externa a realização de seus negócios. Como observo em minha tese de doutorado, a história se acelerou naquela quadra, e as condições para uma revolução brasileira emergiram dentro da polarização entre um “complexo multinacional” versus forças nacional-populares.
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Foto: Comunisação Popular |
IHU On-Line - Qual foi a relação das empresas multinacionais com o golpe de 1964? Quais empresas financiaram o golpe?
Fábio Antonio de Campos - A relação mais evidente foi o financiamento do IPES [instituto de Pesquisas e Estudos Sociais] e IBAD [Instituto Brasileiro de Ação Democrática] — que eram órgãos de conexão política do Governo norte-americano —, empresas multinacionais e as burguesias brasileiras. Buscavam na verdade intervir por meio da conspiração contra os interesses que colocariam em risco a valorização capitalista desse complexo multinacional. Os trabalhos de Dreifussapresentam de forma pioneira os atores que financiaram tais órgãos. No entanto, é necessária uma mediação mais profunda para entender o estágio de desenvolvimento capitalista brasileiro conectado com a fase imperialista do pós-IIGM – II Guerra Mundial. Diante da conjuntura da Guerra Fria, a viabilidade da realização dos investimentos estrangeiros mediante a conquista do mercado interno exigia parcerias nacionais sólidas, de modo a sancionar uma política econômica favorável à mobilidade do capital internacional, principalmente para realizar seus lucros extraídos com exploração do trabalho brasileiro em moeda de origem (divisas fortes). Essa valorização externa, geralmente em dólares, alavancava negócios internos dentro de um poderoso arco de alianças.
IHU On-Line - Qual era o interesse dessas empresas em que houvesse um golpe militar no Brasil?
Fábio Antonio de Campos - Qualquer política que fosse um pouco mais discricionária em relação à entrada e saída de capitais estrangeiros (investimentos, empréstimos, remessas, repatriações, juros, transferências diversas) afetava a valorização capitalista que sustentava os interesses do complexo multinacional. O capitalismo dependente brasileiro, quando passou a ser questionado por forças populares, cujas classes subalternas passaram a ter alguma voz, dilatando de forma inédita a democracia que sempre fora restrita e dominada por uma burguesia ultraelitista, fez com que o risco dos negócios aumentasse. Do ponto de vista concreto, é possível observar na “Lei de Remessas de Lucro”, ao lado de outras questões importantes como a estatização do setor energético e a negociação da dívida externa, como se manifestava essa correlação de forças.
Dentre várias atribuições, a lei propunha criar um código inédito de seleção de investimentos e uma sistemática regulação das remessas de lucros, royalties, transferências tecnológicas, juros, etc. Em seu dispositivo mais polêmico estava o limite de remessas de lucro em 10% apenas do capital inicial, ou seja, só podia remeter a partir do que de fato entrou, e não de uma base maior em que se adicionavam os reinvestimentos de lucro. Sem falar que, em caso de crise cambial, previa-se paralisação das remessas e outras medidas de controle na conta capital e de serviços do balanço de pagamentos. Na história econômica brasileira, toda vez que se tentou algo semelhante, como durante o período Vargas, por exemplo, tais medidas não duraram mais do que um ano. Essa legislação, a despeito de seu elevado grau de tecnicidades, que atrapalham a compreensão, revela o sentido político dos poderes do capital internacional que estão em jogo, e também como eles se articulavam para obstruir qualquer instrumento que inviabilizasse seus interesses. A partir do momento que no terreno da democracia esses interesses foram sendo vencidos, como no caso da aprovação da Lei de Remessas de Lucro em 1962, a conspiração e o Golpe seriam extremamente necessários para dar continuidade à valorização capitalista das empresas multinacionais com o mercado interno brasileiro.
IHU On-Line - Qual foi a política econômica implementada durante o golpe militar? O que mudou em relação à política econômica anterior?
Fábio Antonio de Campos - O Programa de Ação Econômica do Governo - PAEG e as reformas financeiras que nasceram logo após o Golpe foram mudanças essenciais. Isso porque de um lado as políticas de oferta ampliaram as condições para o financiamento da economia, sendo que as políticas de demanda criaram, por outro lado, uma intensa restrição via cortes de gasto público e arrocho salarial que penalizou boa parte das forças populares que estavam lutando contra o complexo multinacional antes de 1964. Essa política econômica, ao mesmo tempo que criava as condições para aprofundar a desigualdade social brasileira, restabelecia, por meio do financiamento às grandes empresas e às famílias da classe média alta para cima, as condições vitais para o crescimento econômico a partir de uma estrutura industrial montada na época de Kubitschek. Tais medidas que aprofundaram nosso subdesenvolvimento só tiveram êxito porque, com o Golpe de 1964 e a ditadura, o nexo imperialista foi renovado. Além de destituir da Lei de Remessas de Lucro seus dispositivos mais discricionários em relação ao capital internacional, já em agosto de 1964 (Lei 4.390), foram criadas novas medidas que facilitariam o acesso ao mercado internacional de crédito.
IHU On-Line - Como, depois do golpe, a política econômica beneficiou as multinacionais?
Fábio Antonio de Campos - Além da política econômica mais geral que beneficiava tanto as condições de financiamento da empresa multinacional quanto restabelecia a potencialidade do mercado interno por meio de incentivo ao consumo das classes altas, a ditadura permitiu a conexão dos interesses de valorização das filiais estrangeiras com o sistema financeiro internacional. A reforma da legislação, além de retirar do marco institucional as medidas que impediam as remessas ao exterior a partir de reinvestimentos de lucro, criou novos instrumentos que liberalizavam o acesso da filial estrangeira ao endividamento externo. Na medida em que as matrizes intermediavam no Euromercado esses empréstimos para suas filiais no Brasil, tornavam-se suas credoras, e todo pagamento pelo serviço dessa dívida poderia ser superfaturado remetendo lucros disfarçados em juros. Essa foi uma nova fase do endividamento externo brasileiro, cujas empresas multinacionais foram agentes fundamentais desse processo. Essa liquidez internacional foi drenada pelo complexo multinacional no final dos anos 1960, internalizando crédito externo bem acima das necessidades de financiamento industrial para importação de bens de capital. Desse modo, o endividamento externo assumiu um caráter eminentemente financeiro, haja vista que as reservas cambiais que iam se avolumando deveriam ser esterilizadas por meio de emissão de títulos da dívida pública ante o impacto inflacionário que isso causava na economia.
A oferta de títulos públicos com taxas de juros cada vez mais convidativas para o mercado criava um negócio interno extremante lucrativo para o complexo multinacional, originando no futuro a “ciranda financeira”. Assim, a corporação multinacional ganhava tanto no Euromercado, permitindo que suas filiais se endividassem para remeter lucros disfarçados, como credoras internamente, ao lado do grande capital privado nacional, na rolagem de títulos da dívida pública. A chamada modernização do sistema financeiro pela ditadura garantiu essa facilidade, dentre outras, para o complexo multinacional.
IHU On-Line - A política econômica do período do golpe favoreceu os brasileiros?
Fábio Antonio de Campos - A política econômica pós-Golpe favoreceu a minoria da população brasileira, isto é, os brasileiros da classe média alta para cima. A burguesia e seus aliados usufruíram de novas fronteiras de investimentos e de variados negócios que nasceram nesse período.
IHU On-Line - De que maneira o capital internacional influenciou na formação econômica do Brasil? Qual foi a relação do capital internacional com o desenvolvimento capitalista brasileiro entre 1951 e 1992?
Fábio Antonio de Campos - Ao conquistar o mercado interno brasileiro, impondo o ritmo e o compasso da implantação e desenvolvimento das forças produtivas, o capital internacional, ao mesmo tempo que permitiu o avanço da industrialização brasileira, constituindo-se no eixo dinâmico dessa expansão, selou a aliança imperialista entre as burguesias internacionais com suas correspondentes nativas que sempre se subordinaram a essa articulação. Longe de isso criar as condições para autodeterminação do desenvolvimento nacional, acabou por sacramentar nossa dependência externa e subdesenvolvimento. Se antes essa articulação permitia um certo desenvolvimento capitalista, em função de que os investimentos se orientavam por um regime central de acumulação, cuja necessidade era de integrar o mercado interno por rígidas fronteiras adensando as cadeias produtivas, hoje, com a mundialização financeira, a articulação deve ser global.
O Brasil como o elo fraco no modo de produção capitalista, deve se adaptar apresentando uma política econômica liberal que garanta a mobilidade do capital internacional e, com isso, sofrer desnacionalização, privatização, desindustrialização e primarização da economia. A despeito das particularidades da época neoliberal que vivemos, a continuidade dessa dependência foi resultado de um processo histórico que só a partir do período colonial podemos entender em sua totalidade.
IHU On-Line - Qual era a situação econômica do Brasil no período pós-golpe? Alguns especialistas comentam que o Brasil viveu uma situação de milagre econômico durante a Ditadura, mas, com a reabertura, constatou-se que o déficit externo era altíssimo.
Fábio Antonio de Campos - A economia é fundamental para entender o alcance e os limites da ditadura como instrumento do capitalismo brasileiro. A ditadura serviu para garantir a expansão do desenvolvimento capitalista brasileiro definido a partir de JK, ou seja, a industrialização pesada dinamizada pelo capital internacional em proveito dos diferenciais do mercado interno, estabelecidos pela elevada concentração de renda que garantia a valorização à custa da superexploração do trabalho. À medida que se avançava na industrialização intensificando a dependência externa e o subdesenvolvimento, os limites estruturais que se impunham (financiamento e liberalização cambial), exigiam reformas institucionais que aperfeiçoassem o modelo econômico funcional ao complexo multinacional.
O Golpe de 1964 e a ditadura tiveram essa função, ou seja, viabilizar um tipo de indústria que recolocava nossos dilemas de formação histórica numa situação ainda mais dramática. Os problemas que surgem desse período, como desaceleração do crescimento, redução na taxa de investimento, aumento da desigualdade, desemprego e estatização da dívida externa só podem ser compreendidos dentro da “contrarrevolução brasileira”. Na essência, ela significou o divórcio dos meios estruturais que tinham, na utopia de desenvolvimento nacional, os fins. O antagonismo que se abriu nos anos 1950, acirrando em forma de inúmeros conflitos e lutas na segunda metade dos anos 1960, foi enfrentado com uma rota desenvolvimentista antinacional, antidemocrática e antissocial.
Enquanto a ditadura serviu para viabilizar os interesses do complexo multinacional, que, aliás, tinham na industrialização seu eixo de valorização capitalista, ela cumpriu seu papel, mas quando a própria articulação imperialista entre a economia brasileira e o padrão mundial de acumulação teve que ser realinhada em favor do capital internacional, ela perdeu sua função.
IHU On-Line - Ainda hoje o capital internacional exerce influência no desenvolvimento capitalista brasileiro? Em que medida? O que diferencia o período analisado com os dias de hoje?
Fábio Antonio de Campos - O Estado, na ditadura, foi instrumentalizado para atender os fins do capital internacional e seus sócios internos em um determinado padrão mundial de acumulação, e era assim que sua face intervencionista se ajustava às necessidades impostas pelas classes dominantes. Seu raio de manobra foi delimitado por essa dimensão, permitindo apresentar certa legitimidade por meio da ideologia desenvolvimentista, um aparente nacionalismo e o crescimento econômico puxado pela indústria.
Hoje, a intervenção estatal é para garantir a viabilidade dos negócios externos e internos que compõem outro arco de interesses do complexo multinacional, sob uma ideologia neoliberal, cujo aumento do poder do capital internacional na economia brasileira sanciona tanto a secular dependência externa quanto o subdesenvolvimento.
IHU On-Line - Deseja acrescentar algo?
Fábio Antonio de Campos - Apenas convidar os leitores para que revisitem a formação econômica brasileira, relendo autores brasileiros clássicos, de modo a extraírem as determinações profundas do significado do capital internacional em nossa história. Naquele difícil contexto do pré-Golpe, o pensamento social brasileiro estava armado para discutir essas questões com enorme fôlego. Atualmente, diante de uma crise estrutural que enfrentamos no capitalismo, se faz urgente estudar nossas particularidades históricas e a posição periférica que o país ocupa em um mundo cujas corporações multinacionais dominam a reprodução material e cultural da sociedade contemporânea.
Verdade é imprescindível para o definitivo golpe na ditadura
abril 1, 2014 16:45 - no comments yetPalestrantes de ciclo de debates lembram participação civil no golpe militar de 1964.

Uma Palestra Magna abriu o Ciclo de Debates Resistir Sempre, Ditadura Nunca Mais – 50 anos do Golpe Militar, na manhã desta segunda-feira (31), no Plenário da Assembleia. - Foto: Ricardo Barbosa
"Os regimes de exceção sobrevivem ao seu tempo justamente pela omissão da verdade". O alerta foi feito pela ministra da Secretaria de Políticas para as Mulheres, Eleonora Menicucci, em Palestra Magna que abriu o Ciclo de Debates Resistir Sempre, Ditadura Nunca Mais – 50 anos do Golpe Militar, na manhã desta segunda-feira (31/3/14). Para ela, enquanto a verdade não for plenamente conhecida, vamos ainda nos deparar com manifestações saudosistas de um período permeado pelo medo e violência.
Menicucci ressaltou o discurso da presidente Dilma Rousseff na solenidade que deu início aos trabalhos da Comissão Nacional da Verdade, em maio de 2012. A ministra destacou, em especial, a citação da presidente, mas de autoria de Ulysses Guimarães, que coordenou, na década de 80, a campanha Diretas Já: “a verdade não desaparece quando é eliminada a opinião daquele que diverge”.
Segundo ela, a origem da palavra verdade se opõe precisamente ao termo esquecimento. Ao lembrar a sua trajetória como militante e como uma das tantas mulheres que foram torturadas pelo regime de exceção, ela afirmou que a verdade não pode abarcar ressentimento ou ódio, mas que não comporta o perdão. "Temos que revelar todas as atrocidades ocorridas no período, temos o direito sagrado à verdade, as famílias que perderam seus entes têm o direito de sepultá-los. Só não podemos deixar de buscá-la, pois a verdade é filha do tempo e não da tirania”.
“Ainda que reviver o passado possa trazer dor é preciso conhecê-lo; é necessário revisitá-lo e percorrer um caminho de crítica e reflexão”, salientou Menicucci, ao falar do enfrentamento com o seu torturador Carlos Alberto Brilhante Ustra, coronel reformado do Exército, que, em 2008, foi o primeiro militar a ser reconhecido pelo Poder Judiciário como torturador. A ministra contou que, durante o depoimento do militar, ele simplesmente olhou para ela e sua amiga que o denunciaram e disse: “vocês não existem, vocês são vacas que passaram pela história”.
Invisibilidade – Para Eleonora Menicucci, há realmente um esforço significativo para apagar as mulheres da história. De acordo com ela, as inúmeras barbáries praticadas contra o sexo feminino ainda hoje encontram ressonância. Nesse aspecto, disse a ministra, parece que nada se aprendeu com o passado, com as duas grandes guerras, quando não foram considerados crimes os estupros de mulheres. “A violência sexual foi demasiadamente utilizada como arma de guerra e ainda hoje é praticada contra nossas filhas, irmãs, esposas e mães - dentro e fora de casa”.
Expositores destacam participação civil no golpe de 1964
O presidente da Comissão de Direitos Humanos da ALMG, deputado Durval Ângelo (PT), conduziu os trabalhos do painel "Contexto do golpe militar de 1964", juntamente como o coordenador da Comissão da Verdade de Minas Gerais, Antônio Ribeiro Romaneli. O parlamentar ressaltou as leis aprovadas na ALMG que buscaram indenizações para as vítimas do regime militar, inclusive para os três deputados cassados em 1964 pela Casa: Sinval Bambirra, Clodesmitdt Riani e Dazinho.

Para Vânia Bambirra, o golpe de 64 ocorreu em meio a uma crise estrutural - Foto: Pollyanna Maliniak
A expositora Vânia Bambirra, doutora em Economia pela Universidade Nacional Autônoma do México, explicou que o golpe de 1964 ocorreu em meio a uma crise estrutural política, econômica e cultural, a mesma situação que, segundo ela, se repetiu em outros países latino-americanos. Para a professora, a ascensão de movimentos populares, greves estudantis, de operários e camponeses, contribuiu significativamente para impulsionar quadros de militares e da elite brasileira a repreender os novos rumos políticos que se estavam delineando no País.
Ela enfatizou o surgimento, sobretudo, do movimento camponês. Em 1961, camponeses de todas as partes do Brasil se uniram para reivindicar a reforma agrária, com o lema “Reforma agrária na lei ou na marra”. Bambirra disse que os dois chefes do Executivo que antecederam o presidente João Goulart (o Jango), Getúlio Vargas e Juscelino Kubitschek, não implementaram política alguma de fomento aos pequenos produtores. “As ações das ligas camponesas eram centradas na questão da propriedade, o que ocasionou grandes conflitos com os latifundiários, que são a classe mais conservadora de qualquer sociedade”, explicou.
Vânia Bambirra afirmou ainda que os movimentos populares se pautaram nas reformas de base (reformas agrária, bancária, política, eleitoral, dentre outras) e que a política econômica baseada em muitas restrições, como redução do gasto fiscal, contenção dos salários e do crédito aos pequenos agricultores eram incompatíveis com os anseios da população e da noção de justiça social.
As agitações de massa despertaram, assim, a reação de parte do empresariado, dos latifundiários e militares, que depuseram o então presidente Jango, uma vez que ele estava se mobilizando para implementar as reformas reivindicadas pelos trabalhadores. Essa postura foi interpretada como uma “perigosa” aproximação com as políticas de esquerda, que poderia culminar, na visão da elite empresarial-militar, na instalação do comunismo, ponderou Bambirra.
De acordo com ela, a antessala do golpe foi a marcha da família com Deus pela liberdade e pela propriedade, ocorrida em março de 1964 para apoiar a intervenção militar contra o suposto inimigo: o comunismo. “É preciso destacar que a grande burguesia nunca delegou plenamente aos militares a execução de suas políticas, sobretudo as econômicas, o que revela que o golpe foi, na verdade, civil-militar”, afirmou a professora.
Negócio – Também para o professor da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Theôtonio dos Santos, os militares não eram ingênuos nem anticomunistas, mas apenas serviram aos interesses da elite brasileira. “Os quadros militares que efetivaram o golpe não eram maioria, mas tinham o controle dos cargos de direção das instituições militares. Os generais que comandaram o golpe estavam relacionadas a grandes corporações multinacionais”, explicou.

O professor Theôtonio dos Santos disse que os militares serviram aos interesses da elite brasileira - Foto: Pollyanna Maliniak
Segundo ele, a criação do Banco Central - “vendida como a solução para o desenvolvimento econômico do Brasil” - possibilita que o mercado seja mais soberano que aquele que o representante eleito pela população. “A defesa do povo, é claro, acaba em segundo plano”, lamentou. Para o professor, a lógica que permeou a ditadura continua presente: a perpetuação dos interesses da iniciativa privada nacional ou estrangeira.
Impasse - Já para Marcelo Andrade Cattoni de Oliveira, doutor em Direito pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), um dos impasses que culminou no golpe foi gerado pela própria singularidade das eleições da época, que permitiam candidaturas à presidência da República e à vice-presidência de forma desvinculada.
Ele lembrou que João Goulart foi eleito juntamente com Jânio Quadros, mas que eles eram adversários. A renúncia de Jânio levou Leonel Brizola a encabeçar a campanha pela legalidade, pedindo a posse de Jango, que foi democraticamente eleito para vice e, portanto, deveria ocupar a presidência.
Oliveira recordou ainda a tentativa de aprovar emenda que modificaria os artigos 141 e 147 da Constituição Federal de 1946. Os dispositivos permitiam desapropriações para fazer reforma agrária, mas previam que as indenizações deveriam ser pagas em dinheiro. Com a emenda, seria possível executar o pagamento com títulos públicos. Na sua avaliação, essa proposta contribuiu para o acirramento das posições políticas. “A instabilidade política, somada à econômica, culminou na concretização do golpe”, concluiu o professor.
O Ciclo de Debates Resistir Sempre, Ditadura Nunca Mais – 50 anos do Golpe Militar prossegue na tarde desta segunda-feira (31) e continua nesta terça-feira (1º/4).
Ciclo de debates mostra as várias faces do mal na ditadura
abril 1, 2014 16:44 - no comments yetMilitantes e artistas contam suas experiências de resistência à repressão durante o regime militar.

A programação do Ciclo de Debates Resistir Sempre, Ditadura Nunca Mais – 50 Anos do Golpe de 64 continua nesta terça-feira (1°/4), no Plenário - Foto: Raíla Melo
Ao longo de 20 anos, a ditadura militar que se instalou no Brasil foi capaz de mostrar desde a sua face mais cruel, visível em assassinatos e torturas, até a mais insidiosa e nem por isso menos prejudicial, como a censura. Esse leque de maldades foi desnudado na tarde desta segunda-feira (31/3/14), no painel "Múltiplos olhares da resistência", sequência do Ciclo de Debates Resistir Sempre, Ditadura Nunca Mais – 50 Anos do Golpe de 64, realizado no Plenário da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG).
Por meio do depoimento emocionado de vários convidados, o público presente teve contato com um panorama dos vários instrumentos de repressão, alguns ainda pouco conhecidos, como a expulsão de 50 milhões de agricultores do campo, conforme lembrou o deputado Rogério Correia (PT), que coordenou os trabalhos. O ciclo de debates acontece atendendo a requerimento assinado pelos deputados Rogério Correia, André Quintão, Durval Ângelo e Paulo Lamac, todos do PT, e ainda Celinho do Sinttrocel (PCdoB). A deputada Luzia Ferreira (PPS) também acompanhou os depoimentos no Plenário.
“Em nome da chamada Revolução Verde, milhões foram expulsos para as cidades em favor da instalação do agronegócio. Essa falácia do desenvolvimento não deu chance, em um regime de exceção, para que a sociedade pudesse discutir qual o melhor modelo de desenvolvimento para o País. O Brasil seria bem diferente hoje, com menos concentração de renda, se pudéssemos, já naquela época, ter implantado programas que estimulassem a agricultura familiar”, afirmou o deputado Rogério Correia.
Relatos históricos - O ex-vereador Betinho Duarte, que auxiliou o deputado Rogério Correa na condução dos trabalhos, definiu como “histórica” a mesa de convidados formada para o ciclo de debates. “Nunca foram reunidos tantos lutadores, tantos sobreviventes da ditadura militar. Nós, mortos e sobreviventes, derrubamos a ditadura, que tinha como política de Estado o extermínio de todos os democratas, não apenas dos esquerdistas”, afirmou, emocionado.
Betinho Duarte lembrou ainda que o Supremo Tribunal Federal (STF) anistiou os torturadores e merece ser, ainda hoje, responsabilizado por isso, já que em lugar nenhum do mundo isso é juridicamente permitido. “Os torturadores têm que ser julgados, condenados e ir para a cadeia. Nós, sobreviventes, estamos aqui para garantir que isso aconteça. Sofremos muito, mas continuamos de pé. E assim vamos continuar para que o Brasil continue sendo um país justo, democrático e pacífico”, completou.
Completando a fala de Betinho, o presidente da Associação dos Perseguidos Políticos do Brasil, Vicente Gonçalves, disse que as pessoas hoje não sabem o que foi o sofrimento imposto aos opositores do regime à época. “A ditadura massacrou as pessoas. Perdemos muitos amigos, jovens idealistas, porque queríamos apenas avançar na luta contra a exploração, pela reforma agrária, por mais direitos”, afirmou. Para ele, esses fatos têm que ser conhecidos pelas novas gerações para que elas repudiem qualquer ditadura ou outro regime que acabe com a liberdade. “Temos que plantar no espírito dos jovens: 'Liberdade, liberdade, ditadura nunca mais!', concluiu.
Sindicatos amordaçados e repressão até no campo

Frei Osvaldo lamentou a postura inicial de perplexidade pela maior parte da Igreja diante do golpe - Foto: Raíla Melo
“Sei que tudo aconteceu há 50 anos, mas para mim parece que foi ontem. O estrago causado pela ditadura militar está aí até hoje na sociedade brasileira, sobretudo para os trabalhadores e o movimento sindical”, afirmou o então presidente, em 1964, do Sindicato dos Trabalhadores Metalúrgicos de Belo Horizonte e Contagem (Sindimet), Ênio Seabra.
Ele traçou um panorama histórico dos antecedentes do golpe desde os anos 1950, quando começou sua militância sindical na Cidade Industrial, passando pelas duas greves organizadas em 1968. “Sempre diziam que nós, sindicalistas, estávamos armados, dispostos a entregar o País aos comunistas, mas só queríamos que os trabalhadores conquistassem aquilo que mereciam. E a famosa greve de outubro de 1968 fez a ditadura mostrar as verdadeiras garras da perseguição”, contou, lembrando as duas intervenções no sindicato que comandava, em 1964 e, depois, em 1968.
Da mesma forma, a ex-presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Unaí (Noroeste de Minas), Maria Aparecida Rodrigues de Miranda, relatou os malefícios que permanecem até hoje na organização dos trabalhadores rurais e na impunidade daqueles que cometem violência no campo. A militante teve o pai assassinado e a mãe baleada por jagunços de um fazendeiro contrário a uma ocupação. Mas os culpados, mesmo identificados, não foram devidamente punidos.
“Com relação à omissão do Estado, nada mudou. No campo, ainda há ditadura. A questão da terra continua cheia de atrocidades, e uma das reformas de base pregadas por João Goulart, a reforma agrária, ainda está sem resposta”, destacou.
Ligas camponesas - Sobre a repressão no meio rural, o coordenador da Comissão da Verdade de Minas Gerais, Antônio Ribeiro Romaneli, falou sobre um episódio que marcou o início da atuação das Ligas Camponesas em Minas Gerais, da qual fez parte. “Como advogado, tinha escritório no Edifício Acaiaca, bem ao lado do local em que as lideranças dos camponeses se reuniam. Um dia eles pediram minha ajuda para 14 famílias que estavam sendo ameaçados de expulsão de uma ocupação em Três Marias", lembrou.
"Ao contrário das expectativas, consegui uma ordem do Tribunal de Justiça para manter as famílias ali, o que foi uma semente da organização dos camponeses, pois até então a legislação proibia a organização de sindicatos rurais”, contou.
Presos políticos - O advogado do Sindicato dos Petroleiros de Minas Gerais (Sindipetro-MG), Carlos Cateb, atuou entre 1967 e 1968 na defesa de mais de 50 perseguidos políticos pela ditadura. Ele falou das grandes dificuldades para exercer sua profissão nos anos de chumbo. “Os processos de presos políticos eram julgados por juntas com quatro militares e um juiz togado”, disse, revelando a falta de isenção do julgamento.
Ele citou o julgamento do Colina (Comando de Libertação Nacional). “Fui o primeiro orador, com a incumbência de fazer a defesa ideológica do Colina. Eram 38 indiciados num teatro lotado, com militares armados na plateia”, disse. Segundo ele, ao final, todos foram condenados em um julgamento que durou sete dias. E seu colega advogado Afonso Maria da Cruz foi preso por um coronel.
Igreja perplexa e opositores partem para a luta armada
O Frei Osvaldo Augusto Rezende Júnior, prior do Convento dos Frades Dominicanos em Belo Horizonte, lembrou que as tentativas de golpe contra a democracia começaram, na verdade, muito antes de 1964. “O Brasil era bem diferente. Em 1954, os golpistas tentaram contra Getúlio Vargas, que parou tudo se matando com uma bala no coração. Em 1955, tentaram impedir Juscelino Kubitscheck de tomar posse. Em 1961, com a renúncia de Jânio Quadros, tentaram impedir a posse do presidente João Goulart. Mas em 1964 deu tudo certo para eles. Eles tomaram o poder e logo demonstraram que não iam largar mais”, contou.
Na análise do religioso, muito se falou de um golpe comunista que estava sendo tramado pelo presidente João Goulart. “Isso nunca existiu, é uma mentira. Quando isso ficou claro, uma ditadura encurralada editou o AI-5, um crime contra a nação brasileira. E tudo isso por reformas pelas quais até hoje continuamos lutando”, lembrou. Ele lamentou a postura inicial de perplexidade pela maior parte da Igreja diante do golpe, ao contrário da Ordem dos Dominicanos, que, segundo ele, sempre se manteve firme em suas posições pela justiça social e pela liberdade.
Outro convidado, Welington Moreira Diniz, foi estudante de Sociologia em Belo Horizonte e participou da luta armada contra a ditadura como integrante do organização clandestina Vanguarda Armada Revolucionária Palmares (VAR-Palmares), o que o levou a ser exilado no Chile e no México. Ele lembrou os locais em que foi preso e torturado, como a antiga sede do Departamento Estadual de Operações Especiais (Deoesp), órgão da Polícia Civil, na Avenida Afonso Pena. “Não vou descrever todas as atrocidades das quais fui vítima. Faço delas um ato de fé e de amor. Me sinto orgulhoso de ser brasileiro, pois entreguei meu corpo e meu espirito na luta pela liberdade”, afirmou Welington, que classificou o dia 1º de abril de 1964, data em que eclodiu o golpe, como o mais tenebroso que o Pais já viveu.
O ex-guerrilheiro denunciou que a tortura no Brasil teve duas fases distintas, sendo a “mais profissional” a partir de 1970, com a colaboração de especialistas americanos trazidos diretamente da Guerra do Vietnã. “No quartel de Juiz de Fora (Zona da Mata) foi organizado um curso de tortura com plenário e tudo, na qual vários oficiais não aguentaram e vomitaram, para se ter uma ideia do que representa a tortura. É por isso que o mais importante agora é reforçar nossa crença na força da juventude para que se busque sempre primeiro o diálogo. Mas também tenho fé de que essa mesma juventude não hesitará em pegar novamente em armas contra qualquer ditadura”, afirmou, arrancando aplausos dos presentes.
Estudantes - Já o ex-vice-presidente da União Brasileira de Estudantes Secundaristas (Ubes), o economista Cléber Consolatrix Maia, lembrou, com bom humor, que chegou a participar da coleta de ouro em uma campanha das autoridades para dar suporte ao novo governo. “Mas logo em junho de 1964, com as prisões e desaparecimentos, descobrimos que havia alguma coisa errada. Em 1965, com a onda de cassação de opositores, os estudantes começaram a fazer a campanha do voto nulo, que, no ano seguinte, à medida em que eram aprimorados os métodos de opressão, evoluíram para as pixações com as inscrições de abaixo a ditadura”, lembra.
E a partir do assassinado do estudante Edson Luís, no Rio de Janeiro, em 1968, a postura dos estudantes passou a ser o confronto direto. Em 1969, logo após a edição do AI-5, ele foi preso quando preparava um congresso da Ubes. “A revista Realidade descobriu que tinham me levado para o Rio Grande do Sul e, pelo que pude apurar, somente assim escapei de darem cabo na minha vida. É por isso que temos que seguir insistindo nas conquistas para a sociedade pelas quais estamos lutando há 50 anos”, defendeu.
Pré-ditadura - Já a fundadora e secretária do Movimento Feminino pela Anistia e membro da Ordem Franciscana Secular, Zélia Rogedo, lembrou da época pré-ditadura. “Vivíamos num país inteligente e politizado. Conversávamos sobre Sartre, Simone de Beauvoir...”, rememorou. Para ela, o golpe militar foi um crime contra toda essa movimentação política e cultural.
Zélia Rogedo considerou que, com a eclosão da ditadura, os vários movimentos que a União Nacional dos Estudantes (UNE) desenvolvia até então, assim como a própria entidade, foram desestruturados. Segundo ela, com o golpe, a sociedade se dividiu em duas grandes frentes. De um lado, de acordo com ela se postava a direita, formada por banqueiros, latifundiários e setores da igreja, que se posicionavam contra as organizações populares. Na outra ponta, ficavam os movimentos populares, de estudantes, de operários e outros, se articulando em apoio às reformas de base do presidente João Goulart e contra a direita, conforme ela destacou.
Após o golpe, continuou a ativista, as várias lideranças se dividiram em grupos diferentes, com alguns indo para a luta armada. Outra parte ficou na reorganização do movimento estudantil e outra, na chamada “luta institucional”, atuando na periferia, em sindicatos. "Toda essa ação política criou um 'celeiro de militância', que contribuiu muito para a democracia atual, na qual há muito ainda a ser feito”, disse.
Censura é sentença de morte para a classe artística
Pedro Paulo Cava é diretor, ator, autor, dramaturgo, produtor e professor de teatro. Mas toda essa versatilidade não o livrou da censura durante a ditadura militar. Curiosamente, conforme lembrou, começou no teatro em 1964, o ano do golpe, e por isso teve que conviver com um dos lados mais perversos da ditadura, que condenava os artistas a um outro tipo de morte, a representada pelo ostracismo.
“É preciso dizer que fazer arte no Brasil é difícil com ou sem uma ditadura, mas com a censura dos militares, muita gente boa desistiu. Mais de 500 peças caíram na gaveta do esquecimento de 1968 a 1984, assim como filmes, discos, livros e revistas, entre outras produções culturais. Todo o pensamento de uma geração foi jogado na lata de lixo”, lamentou.
Pedro Paulo Cava lembrou a montagem da estrutura de censura no Brasil, que teve até concurso público e curso em Brasília para os advogados selecionados. “Eles foram lá aprender como nós pensávamos. É por isso que sempre tive mais medo do guarda da esquina do que do general. Esses militares que não marchavam fizeram um estrago muito grande. Curiosamente, era muito mais fácil passar pornografia pela censura, desde que não falássemos contra o regime. Eles sabiam do poder da palavra, e tinham razão”, avaliou.
Sirlan de Jesus, compositor e cantor censurado e perseguido pela ditadura militar, deu a exata dimensão do poder repressor da censura. “Não fui preso nem torturado. Mas passei por uma pressão psicológica das mais terríveis. Foi difícil não cair na depressão e cometer suicídio. Na minha melhor fase como artista, tudo o que produzi foi censurado. Me tiraram de circulação e acabaram com a minha carreira. Só consegui gravar um disco em 1979, mas aí o quadro das gravadoras já era adverso por outros motivos”, contou. Como Chico Buarque, outro alvo frequente dos censores e de quem é amigo, Sirlan ganhou fama nos festivais de música da época, mas suas letras engajadas levaram à proibição até das suas aparições públicas, sob ameaça de prisão.
“O mais importante é que nós, os artistas da minha geração, continuamos pensando e produzindo, e estamos vivos para ter a noção critica de tudo isso. E a luta ainda não terminou, pois ainda há muito a ser conquistado. A ditadura militar criou um abismo cultural na sociedade brasileira pelo qual paga-se caro até hoje”, avaliou.
Denúncia de truculência da Guarda Municipal e da PM
Durante os debates, a presidente do Instituto Helena Greco, Heloísa Greco, denunciou que foi vítima de violência policial na noite do último domingo (30), na Praça Duque de Caxias em Santa Tereza, em Belo Horizonte. Ela relatou que estava junto com o funcionário do instituto, Bruno Soares, fotografando o busto de Duque de Caxias que estava com um panfleto pregado. “Fomos abordados de forma truculenta pelos guardas municipais Itamar Silva e Jardel Henrique, que nos ameaçaram com dois tasers, que são armas de tortura”, contou.
“Me empurraram, jogaram Bruno no chão e passaram a dar choques nele por cinco minutos”, relatou. Segundo ela, logo depois chegaram policiais militares que os colocaram numa viatura e os levaram para a carceragem da antiga Delegacia de Furtos e Roubos, onde passaram a noite toda, só sendo libertados na manhã seguinte. Esse fato levou a militante a concluir que o aparato repressivo continua atuando. “Não podemos aceitar isso. Exigimos o desmantelamento do aparato repressivo. Desmilitarização da PM para nós é pouco. Exigimos o fim das polícias, da guarda municipal e da Força Nacional de Segurança. Temos que acabar com a tortura como política de Estado”, exigiu.