O BRASIL É FEITO POR CADA UM DE NÓS.
January 4, 2015 7:07Por Janael da Silva Alves*
Como cantou o nada exemplar Cazuza: " Meus heróis morreram de overdose", nossas decepções parecem não ter fim. Os delatores do Petrolão da operação Lava Jato, cuja a esposa do juiz que coordena as investigações é advogada do partido PSDB no Paraná, têm afirmado que a corrupção está tão disseminada e entranhada no tecido da república do Brasil que se torna quase impossível separar o podre pruído da carne sadia.
Aos que vinham apontando os militares como exemplo de honestidade e capacidade de recolocar o país nos trilhos da honestidade tem se decepcionado com algumas notícias que nos faz parafrasear o Cazuza. Denúncia na revista Veja em 2013 apontava que Exército apurava denúncia de corrupção envolvendo oficiais Militares que estariam exigindo suborno de empresários que venceram licitações para fornecer equipamento à força terrestre.
O Blog da sociedademilitar.com.br contou que há anos o esquema já estaria ocorrendo e que as suspeitas são de que os oficiais integravam um esquema que fraudou licitações, superfaturou contratos, fez pagamentos em duplicidade e pode ter desviado dos cofres públicos ao menos 15 milhões de reais entre 2003 e 2009, segundo os cálculos do Tribunal de Contas da União (TCU).
As investigações estão sob sigilo da justiça e blogueiros falam em bilhões desviados em contratos superfaturados, com pelo menos dois inquéritos instaurados.

Agora em meio ao lamaçal do Petrolão, a justiça norte americana, conforme divulgado no Wall Street Journal dia 11/12/2014 acaba de firmar acordo de delação premiada com empresa de lá que confessou pagamento de propina a oficiais da FAB.
Os donos da empresa Dallas Airmotive estão colaborando com as investigações e relatam que entre outros métodos eles utilizarem empresas de fachada para pagamento das propinas, pois teria sido beneficiada por contratos para o conserto de motores de avião.

Janael da Silva Alves* Geógrafo, Especialista em Planejamento e Gestão de Trânsito e Mestre em Gestão Pública.
Referências:
http://sociedademilitar.com.br/index.php/forcas-armadas/159-general-enzo-possivelmente-envolvido-em-corrupcao-e-desvio-de-recursos.html
Veja.com
http://www.pco.org.br/nacional/denuncia-de-corrupcao-bilionaria-no-exercito/aebi,b.html
http://www1.folha.uol.com.br/poder/2014/12/1561362-empresa-americana-diz-a-justica-dos-eua-que-pagou-propina-a-oficiais-da-fab.shtml
RUI COSTA DIZ QUE NÃO VAI TOLERAR CRIMES ENVOLVENDO PMS
January 4, 2015 6:58“Tão ou mais importante do que uma polícia reativa é uma polícia preventiva”, disse Rui Costa, empossado Governador da Bahia.
“Quem é policial é pai e mãe de família, que têm filhos, e eles devem voltar para casa depois de cumprir a jornada de trabalho. Da mesma forma, eu quero que eles pensem que quem está na rua é um cidadão, um jovem, e mesmo aquele que está cometendo um delito tem um pai, tem uma mãe, que querem ver o filho, em algum momento, voltar para casa”.
As palavras acima são do governador Rui Costa, ditas após o anúncio do novo comandante geral da PM. Para ele, ” a lei tem que ser cumprida, e a força policial deve ser usada na medida certa para cumprimento da lei. Então, não serei complacente, não vou admitir atos que não honrem a farda e a corporação: 99,99% da corporação não pode pagar o prejuízo de imagem por conta do comportamento de um, de dois, de cinco, de dez, de vinte”.
E prosseguiu com a advertência: “Estes que agirem fora do padrão e da lei serão tratados com o rigor da lei”.
Ele seguiu falando também sobre o papel do coronel Brandão: “E o novo comandante tem, como eu, uma percepção de que, tão ou mais importante do que uma polícia reativa, de ação contra o crime, é uma polícia preventiva”.
O governador Rui Costa disse que a ideia é desenvolver uma polícia que possa atuar na porta das escolas, “dialogando”.
Ele fez referência a experiências existentes no exterior, que eu ele pretende fazer aqui no Brasil, nas quais “carros de polícia são adaptados com vedeogames, com coisas que jovens gostam, para parar na porta das escolas e o jovem jogar com o policial”. (A Tarde)
Blog do Banana
Confia em DEUS!!!
January 4, 2015 6:54"Jamais esqueçamos que Deus está em primeiro lugar em nossas vidas"
Aflições e lágrimas são processos da vida, em
que se te acrescem as energias, a fim de que
sigas à frente, na quitação dos compromissos
esposados, para que se te iluminem os olhos, no
preciso discernimento.
Nos dias difíceis de atravessar, levanta-se para a
vida, ergue a fronte, abraça o dever que as
circunstâncias te deram e abençoa a existência
em que a Providência Divina te situou.
Por maiores se façam a dor que te visite, o golpe
que te fira, a tribulação que te busque ou o
sofrimento que te assalte, não esmoreças na fé e
prossegue fiel às próprias obrigações, porque, se
todo o bem te parece perdido, na fase da tarefa
em que te encontras, guarda a certeza de que
Deus está contigo, trabalhando no outro lado.
Autor: Emmanuel
Psicografia de Francisco Cândido Xavier. Livro: Alma e Coração
Apoio ao Papa Francisco contra seus detratores
January 4, 2015 6:49Esperava uma maior inteligência de fé e mais abertura de Vittorio Messori, não obstante seus méritos de católico, fiel a um modelo clássico de Igreja. |
Está se articulando em várias partes do mundo, mas principalmente na Itália entre cardeais e pessoas da Cúria mas também entre grupos leigos conservadores uma dura resistência e demolição da figura do Papa Francisco. Escondendo-se atrás de um escritor leigo famoso, convertido, Vittorio Messori, mostram seu mal-estar.
Assim que com tristeza li um artigo de Vittorio Messori, no Corriere della Sera de Milão com o titulo:”As opções de Francisco: dúvidas sobre a virada do Papa Francisco”(24/12-2014). Esperou a véspera do Natal para atingir mais profundamente o Papa. O que lhe critica é especialmente a sua “imprevisibilidade que continua perturbando a tranquilidade do católico médio”. Ele admira a perspectiva linear “do amado Joseph Ratzinger”. E sob palavras piedosas instila insidiosamente muito veneno. E o faz, como confessa, em nome de muitos que não têm coragem de expor-se.
Quero propor um contraponto às dúvidas de Messori. Este não percebe os novos sinais dos tempos trazidos por Francisco de Roma. Ademais demonstra três insuficiências: duas de natureza teológica e uma de interpretação da relevância da Igreja do Terceiro Mundo.
Ele se escandalizou com a “imprevisibilidade” deste Pastor “que continua perturbando a tranquilidade do católico médio”. Há de se perguntar pela qualidade da fé deste “católico médio” que sente dificuldade de entender um pastor que tem “odor de ovelhas” e anuncia “a alegria do evangelho”. São geralmente católicos culturais, habituados à figura faraônica de um Papa com todos os símbolos do poder dos imperadores romanos pagãos. Agora comparece um Papa “franciscano”que confere centralidade aos pobres, não “veste Prada”, critica corajosamente o sistema econômico que produz tantos pobres no mudo, que abre a Igreja a todos os seres humanos sem julgá-los, mas acolhendo-os no espírito que ele chamou de “revolução da ternura”, falando aos bispos latinoamericanos.
Há um notável vazio no pensamento de Messori. Estas são as duas insuficiências teológicas: a quase ausência do Espírito Santo e o cristomonismo. Quer dizer: só Cristo conta. Não há propriamente um lugar para o Espírito Santo. Tudo na Igreja se resolve unicamente com Cristo, coisa que não corresponde ao que ensinou Jesus. Por que digo isso? Porque o que ele deplora na ação pastoral do Papa é a “imprevisibilidade”. Ora, esta é a característisca do Espírito no dizer de São João:”Ele sopra onde quer e lhe ouves voz mas não sabes de onde vem nem para onde vai”(3,8). Sua natureza é a irrupção imprevista.
Messori é refém de uma visão linear, própria de seu “amado Joseph Ratzinger” e de outros Papas anteriores. Ora, importa reconhecer que foi exatamente esta visão linear que transformou a Igreja numa fortaleza, incapaz de compreender a complexidade do mundo moderno, isolada no meio das demais Igrejas e caminhos espirituais, sem dialogar e aprender dos outros, também iluminados pelo Espírito Santo. Seria blasfemar contra o Espírito imaginar que os outros somente pensaram erros. Por isso é sumamente importante uma Igreja aberta, como o quer o Papa Francisco, para perceber as irrupções imprevistas do Espípirito na história. Não sem razão alguns teólogos o chamam a “fantasia de Deus”, em razão de sua criatividade e novidade para a história e a Igreja.
Sem o Espírito Santo a Igreja se tornaria uma instituição pesada, e sem criatividade. No fundo, teria pouco a dizer ao mundo a não ser doutrinas sobre doutrinas, sem levar a um encontro vivo com Cristo e sem suscitar esperança e alegria de viver.
Significa um dom do Espírito o fato de que este Papa tenha vindo fora da velha e cansada cristandade européia. Não se apresenta como refinado teólogo, mas como um zeloso Pastor que realiza o mandato de Jesus a Pedro:”confirma os irmãos e as irmãs na fé”(Lc 22,31). Carrega consigo a experiência das Igrejas do Terceiro mundo, particularmente, da América Latina.
Esta é outra insuficiência de Messori: o de não ter dimensionado o fato de que hoje por hoje, o Cristianismo é uma religião do Terceiro Mundo, como tantas vezes o tem enfatizado o teólogo alemão J. B. Metz. Na Europa os católicos não chegam a 25%, enquanto que no Terceiro Mundo alcançam quase 73% e na América Latina cerca de 49%.
Por que não acolher a novidade que se deriva destas Igrejas já que não são mais Igrejas-espelho das velhas Igrejas européias, mas Igrejas-fonte com seus mártires, confessores e teólogos?
Podemos imaginar que num futuro não muito distante a sede do primado não continue mais em Roma com a Cúria, com todas as contradições recentemente denunciadas com coragem pelo Papa Francisco com palavras somente ouvidas da boca de Lutero e no meu livro Igreja: carisma e poder (1984), que lido na ótica de hoje é antes um livro inocente que crítico. Faria sentido que a sede primacial estivesse lá onde se encontra a maioria dos católicos que está na América Latina, Africa e Ásia. Seguramente seria um sinal inequívoco da verdadeira catolicidade da Igreja dentro da nova fase globalizada da humanidade.
Esperava, sinceramente, uma maior inteligência de fé e mais abertura de Vittorio Messori, não obstante seus méritos de católico, fiel a um modelo clássico de Igreja e de notório escritor. Este Papa trouxe esperança e ar fresco para tantos católicos e a outros cristãos que se orgulham dele.
Não percamos esse dom do Espírito por causa de análises antes negativas que positivas e que não reforçam a “alegria do evangelho” para todos.
(*) Leonardo Boff escreveu Francisco de Assis e Francisco de Roma, Mar de Idéias, Rio, 2014.
Os 18 motivos da mudança de postura dos EUA em relação a Cuba
January 4, 2015 6:03As coisas mudaram quando a Rússia e a China reencontraram os velhos companheiros cubanos e começaram a ampliar seus laços em todos os níveis.
Nazanín Armanian

Ninguém estava pressionando um Barack Obama debilitado e exausto para que rompesse o tabu de restabelecer relações diplomáticas com Cuba, lançando-se para os falcões belicosos. Neste mercado da política e da realpolitik, no qual reina a lógica do custo-benefício, o pequeno tamanho do mercado cubano e seus insignificantes recursos naturais não explicam essa histórica decisão de Obama. Que sejam bem-vindas essas nove reuniões em 18 meses com representantes de Cuba, e logo a confissão da derrota, do triunfo do povo cubano e de todas as forças progressistas do mundo que denunciavam o meio século de cruéis e inúteis sanções, atentados, sabotagens, e outros atos de guerra contra a ilha socialista, que se negou a se transformar em outro “estado falido”.
“Não podemos continuar fazendo a mesma coisa e esperar um resultado diferente”. Este é o argumento oficial do Presidente para justificar a nova política. Trata-se, portanto, de mudar as táticas para conseguir o mesmo objetivo, que é provocar a mudança no sistema político cubano a favor de seus interesses, desta vez mediante o uso do poder brando: relações políticas, econômicas, sociais e culturais para “conquistar o castelo de dentro”. Desde a queda da URSS até pouco tempo atrás, Washington já não podia tratar Cuba como uma ameaça à sua segurança nacional.
As coisas mudam quando a Rússia e a China reencontram os velhos companheiros cubanos e começam a ampliar seus laços em todos os níveis, e diante do olhar atento do Conjunto de Operações Especiais do Pentágono, com sede na Flórida. O fato de não impor a Cuba qualquer condição para dar esse passo (ao contrário das exigências feiras a Irã ou Rússia para retirar sanções) se deve a essa preocupação e também ao fato de que Havana não morria de vontade e de necessidade para se ver obrigada a aceitá-lo, ainda que a imprensa democrática – com a finalidade de acalmar as críticas – afirme que haja um compromisso dos cubanos para restaurar o capitalismo, como o preço a pagar pelo fim do bloqueio.
Os três níveis das razões “não oficiais”
A. No contexto da política interna dos EUA, os seguintes fatores contaram na tomada de decisão por Obama:
1. O fato de o próprio presidente pertencer à corrente de políticos que admite a decadência do império e a existência de uma nova ordem multipolar, opondo-se aos falcões vestidos de armadura e presos à ficção de se ver como a única e todo-poderosa superpotência. Já em 2004, como senador, ele criticou o embargo.
2. O fato de ter feito isso a pouco tempo de deixar seu cargo, e não durante os seis primeiros anos de mandato, é porque não tem nada a perder: entrará para a história sem pagar qualquer custo político.
3. A impossibilidade de encontrar ou criar um líder carismático entre os opositores exilados capaz de provocar um levante em Cuba: pois as rebeliões populares surgem e triunfam sobre fundamentos objetivos e não pela eloquência de salvadores de todo tipo. Além disso, as sanções incrementavam os sentimentos anti-EUA do povo cubano, e também quanto à legitimidade de seu governo. As medidas tomadas por Washington estão sendo apoiadas inclusive pela maioria dos exilados cubanos, que assim poderiam ampliar seus laços com a ilha.
4. Os EUA pretendem estar presente em Havana quando houver a mudança geracional de seus líderes para poder influir sobre eles de dentro.
5. Para a opinião pública norte-americana, esse gesto em relação ao vizinho cubano é mais importante que os desastres deixados por Obama no Iraque, Afeganistão, Paquistão, Iêmen, Ucrânia ou Síria. Além disso, alivia a decepção dos eleitores democratas pelo descumprimento de suas promessas eleitorais na política exterior.
B. No contexto da política regional:
1. Após o fracasso da estratégia de “Regresso à Ásia” para conter a China, de ter sido arrastado às guerras do Oriente Próximo, e do surgimento de governos de esquerda em vários países da região, Obama decidiu “Regressar à América” para recuperar a influência debilitada sobre os centenas de milhões de almas da América. Vai desenterrar a Doutrina Monroe para aplicá-la à sua maneira, apesar de que John Kerry ter dito no ano passado que essa doutrina havia morrido (mas também disseram “saímos do Iraque, do Afeganistão, e fecharemos Guantánamo”).
2. As fortes e contínuas pressões dos países latino-americanos sobre Washington deram frutos: por fim, conseguiram que Cuba estivesse presente na Cúpula das Américas.
3. A necessidade de recuperar a projeção hegemônica em uma região no auge econômico, e fazer isso com o controle dos grandes projetos de infraestrutura, como o da ampliação do Canal do Panamá e das explorações petrolíferas no Golfo do México.
4. Recuperar a Venezuela, e não apenas mediante o “dumping” dos preços do petróleo (planejado com a cumplicidade da Arábia Saudita) ou com provocações internas; mas sobretudo gerando distanciamento entre Havana e Caracas. Cuba continua representando a resistência diante do imperialismo, e há quem, inclusive na esquerda, chame de “vacilo” a acertada política de Havana.
5. Trazer o Brasil para perto de si e tirá-lo dos Brics. Para os estrategistas da Casa Branca, é inadmissível que se desfaça do dólar em suas transações e, além disso, equipe seu exército com bilhões de dólares de armas russas.
C. No contexto internacional:
1. Cuba em troca da Crimeia? Ainda que não tenham nada a ver, essa iniciativa foi, sem dúvida, a jogada mais magistral de Obama contra a China e a Rússia, que se atreveram a entrar de cheio no quintal dos EUA. Passou despercebida a Resolução 758, aprovada em dezembro pelo Congresso dos EUA, e que insta o governo e os países aliados não só a armar a Ucrânia, mas a tomar medidas militares contra a Rússia.
Moscou, que se sente acurralada, em manobras sem precedentes, exibiu no dia 31 de outubro o voo de seus quatro aviões Tu-95 (equivalente aos B-52 americanos) no céu da OTAN, desde o Báltico até Portugal.
2. Não é motivo de preocupação para os EUA que a China, o principal inimigo do império para Obama, tenha se transformado no segundo sócio comercial de Cuba (e de outros países latinos) depois de ninguém menos que a Venezuela?
3. O temor de que o aumento das relações de China e Rússia com a região inclua também sua presença militar. Por isso, resgatam a memória da crise dos mísseis de 1962 para justificar a difusão do medo. A imprensa do dia 12 de novembro ressaltou que o ministro da Defesa russo, Sergei Shoigu, organizou patrulhas nas águas do Golfo do México, ainda que tenha desmentido que a Rússia fosse reativar as instalações de espionagem eletrônica de Lourdes (Cuba), o mais potente centro de escutas da URSS no exterior para monitorar as comunicações dos EUA. Lourdes foi fechada em 2001 por problemas financeiros e também pela pressão de Washington.
4. Os EUA, que agora dedicam poucos recursos na defesa de suas fronteiras (enquanto investe quantidades absurdas para desestabilizar as fronteiras dos demais, recorrendo à excepcionalidade dos EUA), se verão forçados a investir dinheiro nisso e aumentar a militarização da região. Este é um fator contraproducente para atrair a confiança de estados que ele pretende iludir.
5. Obviamente, o peso do temor de perder a América Latina é muito maior que o de fazer negócio com um pequeno e pobre país como Cuba (não se trata de um Irã, de 80 milhões de consumidores e suas imensas reservas de petróleo). Foi casual o fato de, um dia antes de anunciar a boa notícia, Obama ameaçar Moscou com novas sanções?
6. Há cinco meses, quando houve a queda do avião malaio sobre a Ucrânia, passou despercebida a notícia da visita de Vladimir Putin na América Latina; poucos perceberam que Moscou havia perdoado 90% dos 26 bilhões de euros da dívida que Cuba havia contraído com a União Soviética. Putin também assinou com Cuba importantes contratos de investimento na indústria petrolífera da ilha, a construção do novo aeroporto da capital, a criação de uma empresa aérea russo-cubana, e a cooperação na produção de produtos farmacêuticos, agrícolas, de transporte, mineração e turismo. Mas agora que a Rússia (assim como a Venezuela) foi tocada pela queda dos preços do petróleo e pelas sanções econômicas (e dificilmente possa cumprir os acordos), Mr. Marshall pensa em chegar com seus milhões ao país que empobreceu previamente.
7. Para os russos, Cuba é mais do que uma questão geopolítica ou de reputação. É uma questão sentimental. E acreditam que arranha a imagem russa o fato de que agora os norte-americanos queiram ocupar seu lugar na Ilha.
Moscou e Pequim opinam
Dmitry Rogozin, vice-primeiro-ministro russo, considera que a tática calculada do novo enfoque da Casa Branca, mesmo sendo positivo para os cubanos, não é mais do que um “abraço de urso” para estrangular Cuba.
A China elogia Obama por demonstrar que é um estadista que soube transformar “um jogo de nenhum ganhador em um no qual todos ganham”, e o vê como o “legado mais memorável de sua presidência”.
Os EUA não aprendem com seus erros
Reconhecer que o bloqueio econômico, comercial e financeiro contra Cuba não provocou um levante popular contra o governo socialista não significa que Washington vá deixar de utilizar essa tática – que, segundo o direito internacional, é uma declaração ilegal de guerra contra uma nação. Nem sequer funcionou contra o governo impopular de Saddam Husein no Iraque, e é improvável que provoque mudanças nas políticas de Putin.
Cuba, que se beneficia com a entrada de tecnologia e capital norte-americanos – agora que a Rússia e a Venezuela estão sofrendo com a sabotagem petrolífera –, não poderia nem deveria perder essa oportunidade com o governo Obama: afinal, os mais belicosos ameaçam ocupar o Salão Oval em 2016. Para além de toda a especulação sobre o futuro de Cuba, hoje, vendo as nações inteiras que ardem no fogo das guerras, o primordial é a defesa da diplomacia nos conflitos entre os estados. A paz é a condição prévia para qualquer ação democrática.
É possível que o presidente Obama, com esse “pequeno” passo que deu com Cuba, esteja dando um passo gigante para conseguir o grande prêmio de sua política externa: Irã (e este é o 18º motivo). Ele conseguirá?
Créditos da foto: Fernanda LeMarie - Cancillería del Ecuador.
Um grito de alerta aos pais que batem em seus filhos
January 3, 2015 7:51* PLANTÃO POLICIAL
A maioria dos pais querem o melhor para seus filhos. Mas, quando se trata de disciplina, alguns equivocadamente usam a força física para punir ou intimidar. Bater e machucar desnecessariamente crianças nunca se justifica, e nunca é bom.
O governo australiano ratificou a Convenção das Nações Unidas sobre os Direitos da Criança (1989). Em outras palavras, a Austrália reconhece as crianças como pessoas com direitos. Por isso, o governo do país, para se juntar aos outros 33 países “esclarecidos” do mundo, precisa proibir o castigo físico de crianças em todas as suas formas.
A proibição bem sucedida na punição física das crianças também deve ser acompanhada de uma campanha para apoiar e educar os pais a mudar atitudes ultrapassadas como essas.
Os malefícios do castigo físico
O castigo físico, mesmo quando é chamado de “disciplina” ou “palmadas”, pode causar a curto e longo prazo danos às crianças. Sabemos agora, através da investigação rigorosa, que existem associações entre a punição física e a adoção de comportamentos agressivos e violentos, saúde mental prejudicada, e outros problemas de saúde e desvantagens.
Mesmo sem a evidência da pesquisa, sabemos intuitivamente que bater e ferir pessoas desnecessariamente afeta o relacionamento social e a confiança. As nossas crianças são os adultos do futuro. Como nós tratamos os nossos filhos hoje afetará sua saúde, autoestima e sensação de bem-estar futuramente.
Mudando o comportamento
A Austrália tem estado na vanguarda de muitas reformas da saúde pública, tais como cintos de segurança nos carros, controle do tabagismo e uso de preservativo, mas ainda falta um semelhante despertar sobre a punição física.
Mas como fazer os pais mudarem seu comportamento – ou seja, parar de dar “palmadas” nos filhos?
Campanhas recentes, como o grande sucesso animado educativo intitulado “Maneiras idiotas de morrer”, é um bom exemplo de como uma campanha de publicidade pode ajudar a mudar atitudes ultrapassadas e comportamentos de risco. Neste caso, o vídeo promove a segurança ferroviária para os jovens através de anúncios em jornais, rádio, outdoors, redes sociais, etc. A campanha visa “envolver um público que realmente não quer ouvir qualquer tipo de mensagem de segurança”.
Uma campanha de educação como esta, com apoios e incentivos para encorajar os pais a adotar métodos disciplinares positivos, pode ser suficiente para mudar comportamentos de risco na educação infantil.
Tal campanha poderia ser tanto contundente quanto inspiradora; retratando os impactos imediatos e possíveis do castigo físico através de palavras e imagens. Ela também pode fornecer informações importantes sobre o desenvolvimento normal da infância, e maneiras positivas de interagir e estabelecer limites razoáveis para as crianças.
Na Suécia, os castigos corporais e outras formas de tratamento humilhante a crianças foram proibidos em 1979, e panfletos foram fornecidos para todas as famílias, bem como informações foram postas em caixas de leite, incentivando o diálogo entre pais e filhos. O resultado? Famílias suecas mais modernas praticam disciplina positiva, sem violência. As crianças são respeitadas, e os pais são valorizados e apoiados no seu importante papel como modelos para os seus filhos.
Alterando a lei
Alguns adultos responsáveis irão voluntariamente modificar suas atitudes e comportamentos à luz da evidência que a motiva. Mas a mudança comportamental, por vezes, só ocorre em resposta a legislação ou reforma da mesma.
Pode ser uma opção criar legislação pertinente em cada um dos estados e territórios da Austrália para remover explicitamente a “correção legal” em defesa para a agressão e enviar uma mensagem clara aos pais de que o castigo físico não é mais uma forma perdoável de disciplina ou controle das crianças. As crianças terão a mesma proteção contra a agressão conferida aos adultos.
Claro que essa lei deve proteger contra a criminalização dos pais que, ocasionalmente, “dão pequenos corretivos” em seus filhos, mas a punição física será fortemente desencorajada.
Dar voz às crianças
Bater e desnecessariamente ferir crianças degrada-as. Quando dadas a oportunidade de comentar sobre a punição física, as crianças dizem que ela dói fisicamente e emocionalmente.
Ao mesmo tempo, as crianças simpatizam com os pais que estão cansados e estressados, mas perdem o controle – elas entendem e acreditam que a questão dos pais que batem é como um ato de ensino de uma lição, pra ter bom comportamento.
Muitos pais têm manifestado arrependimento por terem recorrido a bater em seus filhos – eles preferiam ter utilizado meios alternativos de disciplina que não resultam em raiva, lágrimas e ressentimento. Em casos extremos, os arrependimentos dos pais são inúteis, quando seus filhos foram gravemente feridos.
Alguns comentários infantis sobre o assunto esclarecem parte do problema. Como disse uma criança de oito anos de idade: “Como os adultos são mais velhos, eles pensam que sabem mais coisas, mas às vezes não… Às vezes eles estão enganados”. Outra sugeriu que os adultos não “tem que bater, porque podem escolher”.
Incentivar as crianças a falar sobre questões como essa, e ouvir o que elas têm a dizer, deve nos levar a questionar nossas perspectivas desatualizadas. O castigo físico de crianças continuará a ser tolerado até que adultos responsáveis e esclarecidos reconheçam que as crianças não são menos dignas que os adultos. [MedicalExpress]
Lei da Previdência social com a medida provisória 664/2014
January 3, 2015 7:50
* PLANTÃO POLICIAL
Em 30 de dezembro de 2014, houve a edição da Medida Provisória 664/2014 que reforma alguns dispositivos sobre a previdência social.
Esta medida, segundo os representantes do atual governo visa “reorganizar” o caixa da Previdência Social.
Dentro da comunidade jurídica, está sendo vista com grandes reservas, e talvez até com grande estranheza.
Os principais pontos de alteração da nova Medida Provisória serão discutidos ao decorrer deste texto.
25 IV. Carência de 24 meses para a concessão de pensão por morte, exceto se o segurado estiver gozando de auxilio doença, ou aposentadoria por invalidez.
Nos causa espanto condicionar a pensão por morte a tempo de contribuição por um único motivo: A MORTE É UM EVENTO INESPERADO!
A nosso ver, esta medida está restringindo os benefícios, na medida em que existem casos em que a pessoa pode não ter completo o período de carência e pode vir a morrer.
Muitos se perguntarão, como é possível não chegar a este período?
Basta pensarmos em um jovem trabalhador, que sustente sua casa, e está em seu primeiro emprego com registro em carteira de trabalho. Digamos que viesse a falecer com menos de 24 meses de contribuição. Seus pais, ou mesmo um possível filho ou companheira, estariam completamente descobertos.
26 I. Independem de carência o Auxilio Acidente e o Salário Família
Foram retirados desta lista de benefícios que independem de carência a pensão por morte, já discutida acima, e também o auxílio reclusão.
Mas o que realmente nos causa estranheza, é que a nova medida provisória não tratou do auxílio reclusão, criando o que chamamos de um “limbo jurídico”, na medida em que a regra anterior previa que não haveria carência para a concessão do benefício, e a nova regra, o excluiu dos benefícios que não teriam carência, mas também não especificou qual seria a carência necessária para sua concessão.
Desta forma, permanece o auxílio acidente, que para ser concedido, segundo o site da previdência social:
Para concessão do auxílio acidente não é exigido tempo mínimo de contribuição, mas o trabalhador deve ter qualidade de segurado e comprovar a impossibilidade de continuar desempenhando as mesmas atividades, por meio de exame da perícia médica da Previdência Social.
Para manter a qualidade de segurado, é necessário que as contribuições estejam em dia.
E o salário família, que somente será concedido enquanto o trabalhador estiver empregado. Quem paga o salário família é o empregador, que depois pode compensar este valor na guia da previdência que paga para seus funcionários.
Para quem ganha até R$ 682,50, o benefício será de R$ 35,00 por filho de até 14 anos incompletos. Já para quem ganha até R$ 1025,81, o benefício será de R$ 24,66.
Na norma geral da Previdência social, a lista com as doenças e afecções que permitem a concessão auxílio-doença e aposentadoria por invalidez, seria editada uma vez a cada três anos, e com a medida provisória essa periodicidade para a edição foi retirada, sendo que, portanto, pode ser editada a qualquer momento sem respeitar nenhuma periodicidade.Prevê que a forma de cálculo do auxílio doença, será a média aritmética simples dos 12 últimos salários de contribuição.Previsão de que o período inicial de afastamento de 30 dias deverá ser suportado pela empresa.
No regime da Lei 8213/91 a previsão era de que apenas os 15 primeiros dias seriam suportados pela empresa.
Esta previsão é um desestímulo aos empregadores, e cria mais um encargo. Fatalmente , se a medida for transformada em lei, teremos a médio prazo uma sutil redução no quadro de empregados para suportar monetariamente este encargo.
Desta forma, o empregado SOMENTE DEVE ser encaminhado para a previdência após o 31º dia.
Prevê também a criação de convênios para que as perícias médicas do INSS possam ser realizadas mediante acordo de cooperação técnica entre empresas.
Esta descentralização do serviço público, mediante parceria a nosso ver traz uma instabilidade ainda maior ao sistema. Se dentro do órgão público existem desvios e abusos, o que acontecerá fora do “olho fiscalizador” do Estado?
Previsão da NÃO CONCESSÃO do benefício de auxílio doença, caso seja decorrente de doença preexistente, a menos que o pedido tenha como demonstrar que houve um agravamento d doença ou lesão.
Este é um dos principais problemas desta medida provisória a nosso ver. Como o empregado poderá comprovar que foi por conta do agravamento de uma lesão ou doença que decorreu sua incapacidade? Terá que juntar todo seu prontuário médico, e levar ao perito, é o que eu acredito que os nobres leitores estão a pensar, mas a situação é um pouco mais grave.
Os médicos peritos do INSS possuem uma sobrecarga de trabalho que não os permite verificar um histórico médico completo, para aferir se realmente houve o agravamento da doença ou lesão.
Fatalmente em médio prazo, teremos uma sobrecarga ainda maior de processos contra o INSS por conta deste dispositivo incluído, e que tem por intenção cada vez menos conceder benefícios.
Previsão de que NÃO SERÁ concedido o benefício de pensão por morte caso o beneficiário seja condenado por crime doloso contra a vida do segurado.
Este dispositivo é um dos poucos que são realmente justos, pois aquele que tentou contra a vida de outro não deve receber qualquer benefício que advenha da pessoa que foi morta.
Previsão de que o benefício de pensão por morte não será concedido se o casamento ou a união estável contar com menos de 2 anos de duração. Entretanto, quando se avalia o dispositivo posterior, percebe-se que o legislador pretendeu resguardar o direito daquelas pessoas que estão de boa fé.
Perceba que pode ser bastante comum a prática de casamentos com pessoas que á estão doentes e próximo da morte, apenas para a concessão do benefício de pensão por morte.
O legislador, então incluiu um dispositivo que prevê que caso o acidente que deu causa a morte ocorra posterior ao casamento, os direitos estarão reservados.
A medida provisória prevê que o valor do benefício de pensão por morte será de 50% do valor da aposentadoria que recebia ou a que este teria direito, acrescido de tantas quotas de 10% para cada dependente do segurado, até no máximo 5 dependentes.
O dispositivo da Lei 8213/91 previa que o benefício seria de 100% do valor da aposentadoria que este recebia ou a que ele teria direito.
Desta forma, com a medida provisória, devemos perceber que a base do benefício é de 50% e se somará 10% a cada dependente, com no máximo 5 dependentes.
Em uma família de 3 pessoas onde o genitor faleceu, 50% da base e mais 2 dependentes, somando neste entendimento 70% do que teria direito se aposentado fosse.
Neste caso, existe a previsão de que se houver a cessação da qualidade de dependente, cessará também a quota parte do benefício.
Institui que a pensão por morte poderá ser temporária, de modo que caso a (o) dependente seja jovem e possa ser inserido no mercado de trabalho, sua pensão será temporária.
Se a intenção do legislador é limitar a dependência da previdência, percebe-se que em alguns dispositivos, isso será alcançado, mas a possibilidade de desvios, e má conduta continuam a existir. E temos também a previsão de muitas demandas judiciais quanto à questão das doenças preexistentes.
Certamente com esta restrição em alguns direitos, criação de novos encargos, e diminuição dos valores/tempo de benefício haverá grandes repercussões para aqueles que dependem da previdência, e que ganham o piso da previdência, pois estes sim serão os mais afetados com as mudanças.
Conheça os direitos e benefícios de deficientes e portadores de doenças graves
January 3, 2015 7:50* PLANTÃO POLICIAL
A legislação brasileira possui algumas normas de benefícios e isenções fiscais para portadores de deficiência e de doenças graves. A advogada paulista Cláudia Timóteo alerta que existe também uma previsão legal de isenção de impostos na aquisição de automóveis para deficientes físicos e mentais. Se a moléstia resultar em deficiência física incapacitante, o deficiente pode pleitear as seguintes isenções dos seguintes impostos na compra de veículos: ICMS, IOF, IPI e IPVA.
A advogada relata que “devido ao caráter pessoal destes benefícios, a sua concessão está vinculada à comprovação da condição física do beneficiário, pouco importando se a deficiência é congênita ou decorrente de moléstia grave ou acidente, desde que seja incapacitante ou dificulte sobremaneira a condução de automóvel comum”.
Ela refere, por exemplo, as mulheres que sofreram mastectomia total ou parcial. Em virtude do câncer, elas podem pleitear o benefício, pois são consideradas incapacitadas para dirigir um veículo comum. “O mesmo benefício pode ser pleiteado por aquelas pessoas que possuem algum tipo de limitação em membros do corpo”, afirma.
São consideradas doenças graves aquelas que a legislação determina, e que estão relacionadas, entre outros instrumentos normativos, no artigo 1º da lei nº. 11.052/04: câncer, aids, moléstia profissional, tuberculose ativa, alienação mental, esclerose múltipla, neoplasia maligna, cegueira, hanseníase, paralisia irreversível e incapacitante, cardiopatia grave, doença de Parkinson, espondiloartrose anquilosante, nefropatia grave, hepatopatia grave, estados avançados de doença de Paget (osteíte deformante), contaminação por radiação, síndrome de imunodeficiência adquirida, e fibrose cística (mucoviscidose).
Entre os benefícios e isenções determinados pela legislação para os considerados doentes graves estão a isenção de imposto de renda, a aposentadoria por invalidez, o saque do FGTS e a aposentadoria integral para o servidor público.
A advogada Cláudia Timóteo ressalta que para se beneficiar de qualquer tipo de isenção ou direito, o portador de doença grave ou deficiente deve comprovar com um laudo médico. “Para pleitear qualquer isenção fiscal ou benefício, há a necessidade da comprovação da moléstia mediante laudo pericial emitido por serviço médico oficial da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios”, explica.
Confira nos quadros:
I - Os direitos e benefícios dos portadores de deficiências físicas;
II - Peculiaridades de quem sofre de câncer ou aids;
III - As doenças graves e todas as moléstias de trabalho.
I - PORTADORES DE DEFICIÊNCIAS
BENEFÍCIO
QUEM TEM DIREITO
PECULIARIDADES
ICMS – isenção na compra de automóveis para deficientes
Cada Estado da Federação possui sua própria legislação. Em São Paulo a previsão é expressa através do Decreto nº. 45.490/00
O veículo só poderá ter até 127 HP de potência, ser de passageiros e de fabricação nacional. O deficiente que vender o automóvel em menos de três anos da data da compra, terá que pagar todos os impostos devido s.
IOF - isenção nas operações de financiamento para aquisição de veículos (Lei 8.383/91, art.72)
Portadores de deficiências físicas atestado pelo DETRAN do Estado onde residirem.
Além das mesmas exigências referentes à isenção de ICMS, este benefício só poderá ser concedido uma única vez.
IPI - isenção na Compra de veículos de passageiros (Lei 10.690/03)
Pessoas portadoras de deficiência física, visual, mental severa ou profundas, ou autistas. O veículo pode ser adquirido diretamente pelo deficiente condutor ou através de seu representante legal.
Válido somente para veículos de fabricação nacional, equipados com motor de cilindrada não superior a dois mil centímetros cúbicos, de no mínimo quatro portas inclusive a de acesso ao bagageiro, movidos a combustíveis de origem renovável ou sistema reversível de combustão. Só poderá ser utilizado uma vez, salvo se o veículo tiver sido adquirido há mais de três anos.
IPVA – isenção na compra de veículos por deficientes
As disposições quanto à isenção poderão variar conforme dispuser a legislação de cada Estado. Em São Paulo a previsão é expressa através da Lei do IPVA.
Esta isenção é válida para a compra de um único veículo. Não se estende a outras taxas como DPVAT, LIC ou multas.
II - CÂNCER OU AIDS
BENEFÍCIO
QUEM TEM DIREITO
PECULIARIDADES
Imposto de Renda - isenção nos proventos de aposentadoria reforma ou pensão.
Leis nºs 8541/92 e 9250/95.
Os portadores da moléstia, ainda que tenha surgido após aaposentadoria.
A comprovação da doença será mediante laudo pericial emitido por serviço médico oficial da União, Distrito Federal, Estados, e Municípios.
As isenções aplicam-se aos rendimentos recebidos a partir do mês de concessão da aposentadoria, reforma ou pensão; do mês da emissão do laudo ou parecer que reconhecer a moléstia ou da data em que a doença foi contraída, quando identificada no laudo pericial, aplicando-se também a isenção à complementação de aposentadoria, reforma ou pensão.
Aposentadoria por invalidez.
Não basta ter a doença, há a necessidade da pessoa não ter mais condições de exercer qualquer atividade profissional.
O benefício independe de carência (número de contribuições). Caso o segurado necessite da assistência permanente de outra pessoa, o valor do benefício será acrescido de 25%.
Aqueles que possuírem financiamento imobiliário por um dos agentes do Sistema Financeiro da Habitação SFH, podem requerer a quitação do imóvel pela seguradora, na proporção estipulada no contrato de financiamento.
Aposentadoria Integral, para o Servidor Público, mesmo não tendo o tempo completo de serviço. Lei 8.112/90, art. 186, §1º
Servidor Público Federal aposentado por invalidez permanente, decorrente de acidente em serviço, moléstia profissional, doenças graves, contagiosas ou incuráveis, mesmo contraídas após a concessão do benefício. Os Servidores municipais e estaduais são regidos por legislação específica que seguem as mesmas regras da Lei Federal.
Comprovação efetiva da doença e da declaração de invalidez por junta médica oficial, ainda que por profissional da confiança do servidor. A aposentadoria por invalidez será precedida por licença saúde não superior à 24 meses. O Servidor já aposentado terá direito aos proventos legais, a partir da data do laudo médico pericial que comprove o diagnóstico.
PIS/PASEP - Saque de Quotas Resoluções nº. 1 de 15/10/96 e nº. 2 de 17/12/92
Portadores da enfermidade ou seus dependentes. Não é necessário ser aposentado.
Para requerer: PIS: qualquer agência da CEF; PASEP: qualquer agência do Banco do Brasil.
Saque do FGTS (Leis 8.922/94 e Lei 7.670/88)
O trabalhador ou qualquer de seus dependentes devidamente inscritos na Previdência Social
Não é necessário ser aposentado para usufruir de tal benefício. O saque dos valores depositados na conta vinculada será efetuado isento do IR e CPMF.
III - MOLÉSTIA PROFISSIONAL, ESCLEROSE-MÚLTIPLA, TUBERCULOSE ATIVA, HANSENÍASE, PARALISIA IRREVERSÍVEL E INCAPACITANTE, CARDIOPATIA GRAVE, DOENÇA DE PARKINSON, ESPONDILARTROSE ANQUILOSANTE, NEFROPATIA GRAVE, HEPATOPATIA GRAVE, OSTEÍTE DEFORMANTE, FIBROSE CÍSTICA E CONTAMINAÇÃO POR RADIAÇÃO.
BENEFÍCIO
QUEM TEM DIREITO
PECULIARIDADES
Aposentadoria Integral, para servidores públicos, mesmo não tendo o tempo completo de serviço. Lei 8.112/90, art. 186, §1º
Servidor Público Federal aposentado por invalidez permanente, decorrente de acidente em serviço, moléstia profissional, doenças graves, contagiosas ou incuráveis, mesmo contraídas após a concessão do benefício.
Os Servidores municipais e estaduais são regidos por legislação específica que seguem as mesmas regras da Lei Federal.
Comprovação efetiva da doença e da declaração de invalidez por junta médica oficial, ainda que por profissional da confiança do servidor. A aposentadoria por invalidez será precedida por licença saúde não superior à 24 meses. O Servidor já aposentado terá direito aos proventos legais, a partir da data do laudo médico pericial que comprove o diagnóstico.
Imposto de Renda - isenção nos proventos de aposentadoria ou reforma.
Leis nºs 8541/92, 9250/95 e 7.713/88
Os portadores da moléstia, ainda que tenha surgido após a aposentadoria.
A comprovação da doença será mediante laudo pericial emitido por serviço médico oficial da União, Estado, Distrito Federal e Municípios.
As isenções aplicam-se aos rendimentos recebidos a partir do mês de concessão da aposentadoria, reforma ou pensão; do mês da emissão do laudo ou parecer que reconhecer a moléstia ou da data em que a doença foi contraída, quando identificada no laudo pericial, aplicando-se também a isenção à complementação de aposentadoria, reforma ou pensão.
Poderá ser pleiteada a restituição do imposto já recolhido, retroativamente, até a data em que foi constatada a doença.
Aposentadoria por invalidez
Não basta ter a doença, há a necessidade da pessoa não ter mais condições de exercer qualquer atividade profissional.
O benefício independe de carência (número de contribuições). Caso o segurado necessite da assistência permanente de outra pessoa, o valor do benefício será acrescido de 25%.
Aqueles que possuírem financiamento imobiliário por um dos agentes do Sistema Financeiro da Habitação SFH, podem requerer a quitação do imóvel pela seguradora, na proporção estipulada no contrato de financiamento.
* Para elaboração de todas as alternativas levantadas, a advogada Cláudia Timóteo (da Innocenti Advogados e Associados), consultou as seguintes obras: Constituição Federal, Código Tributário Nacional, a legislação federal, estadual e municipal, jurisprudências e doutrinas, tais como "Câncer – Direito e Cidadania" (Ed.Arx, de autoria da também advogada Antonieta Barbosa).
Fonte: http://www.athosgls.com.br/comportamento_visualiza.php?contcod=15281
TJ concede indenização a vítima de saidinha de banco
January 3, 2015 7:49* PLANTÃO POLICIAL
Decisão | 11.11.2014
A 17ª Câmara Cível do Tribunal de Justiça de Minas Gerais (TJMG) reformou sentença de Primeira Instância e condenou o banco Bradesco a indenizar um cliente de Belo Horizonte que foi assaltado logo após fazer um saque e sair da agência bancária. Ele vai receber R$ 12 mil por danos morais, além de ser ressarcido do valor roubado – R$ 1.320.
De acordo com o processo, no dia 9 de agosto de 2010 o eletricista L.C.S. retirou R$ 1.320 na agência do Bradesco situada na avenida Olinto Meireles, bairro Milionários, em Belo Horizonte. Ao sair do banco, foi assaltado por dois indivíduos armados, que levaram, além do dinheiro, objetos pessoais e documentos do cliente. Após o roubo, os assaltantes fugiram em uma motocicleta, conforme o boletim de ocorrência.
L. ajuizou a ação contra o banco, mas a juíza da 1ª Vara Regional do Barreiro extinguiu o processo, por considerar a instituição bancária como parte ilegítima no processo, já que o roubo se deu fora do estabelecimento.
Esse não foi, porém, o entendimento da 17ª Câmara Cível do Tribunal de Justiça. Ao analisar o recurso do eletricista, o desembargador Leite Praça entendeu ser inconteste a legitimidade do banco, “pois a ele foi atribuída a conduta ilegal, qual seja, não atender à obrigação legal de assegurar a segurança dos consumidores e, via de consequência, a responsabilidade pelos danos causados ao autor”.
“Sabe-se que é dever das instituições financeiras garantir a segurança de seus clientes, providenciando um sistema de segurança adequado para tanto, sem o qual não será autorizado a funcionar”, continua.
Segundo o desembargador, a legislação vigente visa impedir ou ao menos dificultar o crime conhecido como “saidinha de banco”. Ele entendeu que, caso a legislação tivesse sido cumprida, os assaltantes não poderiam ter acesso à movimentação do cliente, que certamente não seria alvo do crime logo após deixar a agência bancária.
Reconhecida a responsabilidade do banco no presente caso, o desembargador determinou o pagamento de indenização por danos morais, por ser “incontestável que os fatos geraram angústia, dor e medo à vítima”, fixando o valor em R$ 12 mil.
O magistrado determinou também o ressarcimento ao cliente de R$ 1.320, que foram roubados.
Os desembargadores Evandro Lopes da Costa Teixeira e Luciano Pinto acompanharam o relator.
Leia a íntegra da decisão e acompanhe a movimentação processual.
Assessoria de Comunicação Institucional - Ascom
TJMG - Unidade Raja Gabaglia
HOMICÍDIO COMETIDO POR POLICIAL MILITAR CONTRA CIVIL: ATRIBUIÇÃO INVESTIGATIVA DA POLÍCIA CIVIL OU DA POLÍCIA MILITAR?
January 3, 2015 7:49*PLANTÃO POLICIAL
Escrito por Bruno Zanotti
Uma grande questão, presente em muitos Estados da Federação, diz respeito aos limites e possibilidades da atribuição investigativa da Polícia Civil nos crimes de homicídio cometidos por policial militar contra civil. Existem entendimentos diversos, certo que em determinados Estados a titularidade da investigação é da Policia Militar e, em outros estados, a titularidade é da Polícia Civil. Afinal, na forma da Constituição, de qual órgão é a atribuição investigativa?
Trata-se de mais uma questão investigativa de importante reflexo constitucional, tal como inúmeras abordadas no livro "Delegado de Polícia em Ação", escrito em coautoria com o Excelentíssimo Cleopas Isaías Santos, Delegado de Polícia. A resposta ao questionamento gira em torno da interpretação de um dispositivo constitucional inserido pela Emenda Constitucional nº 45 de 2004, conhecida como reforma do Poder do Poder Judiciário, qual seja:
Art. 125, §4º - Compete à Justiça Militar estadual processar e julgar os militares dos Estados, nos crimes militares definidos em lei e as ações judiciais contra atos disciplinares militares, ressalvada a competência do júri quando a vítima for civil, cabendo ao tribunal competente decidir sobre a perda do posto e da patente dos oficiais e da graduação das praças.
O citado parágrafo foi inserido por questões históricas e fatídicas decorrentes da participação de inúmeros membros da Polícia Militar na execução criminosa de criança e adolescentes em nosso país, o que justificou a alteração constitucional para descaracterizar como delito castrense os ilícitos penais cometidos por policiais militares no exercício da função de policiamento ostensivo . Isso possibilitou o julgamento dos Policiais militares pelo Tribunal do Júri, vinculado à Justiça Comum. Nesse sentido, é possível citar farta jurisprudência, como dois do STJ e outro do TJ-ES:
CONFLITO DE COMPETÊNCIA. PENAL. HOMICÍDIO PRATICADO POR MILITAR CONTRA CIVIL. INQUÉRITO POLICIAL. TESE DE LEGÍTIMA DEFESA PUTATIVA.NECESSIDADE DE EXAME DETALHADO E CUIDADOSO DO CONJUNTO PROBATÓRIO.PRINCÍPIO IN DUBIO PRO SOCIETATE. COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA COMUM.1. A legítima defesa, ou qualquer outra excludente, só pode ser acolhida na fase inquisitorial quando se apresentar de forma inequívoca e sem necessidade de exame aprofundado de provas, eis que neste momento pré-processual prevalece o princípio do "in dubio pro societate".2. No caso, mostra-se prematuro o trancamento do inquérito policial, mormente por constatar a necessidade de dilação probatória para a aferição da verdade real, inclusive quanto ao elemento subjetivo (dolo), somente possível mediante instrução processual realizada sob o crivo do contraditório e da ampla defesa.3. O parágrafo único do art. 9º do CPM, com as alterações introduzidas pela Lei nº 9.299/96, excluiu dos rol dos crimes militares os crimes dolosos contra a vida praticado por militar contra civil, competindo à Justiça Comum a competência para julgamento dos referidos delitos.3. Conflito conhecido para declarar competente o Juízo de Direito da 1ª Vara Criminal de Ribeirão das Neves – MG.(CC 45134/MG, Rel. Ministro OG FERNANDES, TERCEIRA SEÇÃO, julgado em 29/10/2008, DJe 07/11/2008)
HABEAS CORPUS. PROCESSUAL PENAL. HOMICÍDIOS QUALIFICADO TENTADO E CONSUMADO PRATICADO POR POLICIAL MILITAR CONTRA CIVIS. COMPETÊNCIA DO TRIBUNAL DO JÚRI. ORDEM DE HABEAS CORPUS DENEGADA.
1. O Tribunal do Júri é competente para condenar Policial Militar, que pratica crime de homicídio contra civil, bem assim para aplicar, como efeito da condenação o disposto no art. 92, inciso I do Código Penal. Precedentes desta Corte.
2. Habeas corpus denegado.
(HC 173.873/PE, Rel. Ministra LAURITA VAZ, QUINTA TURMA, julgado em 20/09/2012, DJe 26/09/2012)
Ementa: EMBARGOS DE DECLARAÇAO NO RECURSO EM SENTIDO ESTRITO. PRONÚNCIA. OMISSAO QUANTO ÀS QUESTÕES RELACIONADAS À COMPETÊNCIA PARA O JULGAMENTO DO FEITO. HOMICÍDIO PRATICADO POR MILITAR CONTRA CIVIL. JUSTIÇA COMUM. CONSTITUCIONALIDADE DA LEI 9299 /96. APLICABILIDADE IMEDIATA. EMBARGOS PROVIDOS PARA SANAR A OMISSAO APONTADA. I A jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça, mesmo antes do advento da Emenda Constitucional n. 45 /04, era firme no sentido de que competia à Justiça Comum Estadual processar e julgar os crimes dolosos contra a vida, supostamente praticado por militar contra civil, a teor do que dipunha a Lei 9.299 /96. II - A Lei 9.299 /96, que alterou a redação do art. 9º, II, do C.P. M., tem natureza processual, devendo, em razão disso, ter aplicação imediata sem prejuízo da validade dos atos realizados sob a vigência da redação anterior. III - A transferência à Justiça Comum do julgamento dos crimes especificados pela Lei 9.299 /96 se opera automaticamente, mesmo que o fato tivesse ocorrido antes de sua entrada em vigor. Desta forma, a referida sistemática legal impôs a remessa imediata dos autos da ação penal, oriunda de homicídio praticado por militar contra civil, ao Tribunal do Júri, a quem caberia o destino da persecutio criminis, tal como se deu no caso em exame. IV - Recurso provido para sanar a omissão apontada, sem, contudo, proceder à qualquer alteração no resultado do julgamento. TJ-ES - Embargos de Declaracao Rec Sentido Estrito ED 24089014260 ES 24089014260 (TJ-ES) , julgado em 25/09/2009.
Pelo exposto, se houve a descaracterização do delito como crime militar, como é perfeitamente visível no julgado do STJ acima que resolveu conflito de competência, de modo a concluir pela competência do Tribunal do Júri; pelo mesmo motivo, a titularidade para a sua investigação compete à Polícia Civil. Afinal, como se observa pelo art. 144, §§ 4º e 5º, da Constituição Federal, a Policia Militar somente investiga crimes militares, que não é a hipótese em tela.
Há quem sustente, talvez por falta de conhecimento, que o STF possui posicionamento sobre o tema e que a questão foi decidida por ocasião do suposto julgamento da ADI 1494-3. A assertiva não é verdadeira! No curso da ADI 1494-3, houve somente o julgamento da medida cautelar no dia 04/09/97, na qual os Ministros do STF não visualizaram o periculum in mora e o fumus boni iuris para a suspensão do art. 82, § 2º, do CPPM. Ao final, a ação foi extinta sem julgamento de mérito, uma vez que não reconheceram a legitimidade ativa da ADEPOL da Brasil para a propositura da ADI. Em outras palavras, não houve decisão de mérito sobre o caso e não houve um pronunciamento do STF sobre a legitimidade da investigação conduzida pela Polícia Militar no caso de crime doloso contra a vida praticado por policial militar contra civil, diferentemente do que se observa pelas decisões acima do STJ e do TJ-ES que concluíram pela competência da Justiça Estadual e, portanto, pela atribuição investigativa da Polícia Civil.
Outro argumento equivocadamente utilizado para sustentar que a atribuição investigativa dos crimes de homicídio praticados contra civil por policial militar foi abordado por ocasião do julgamento da medida cautelar no curso da ADI 1494-3, qual seja, o art. 82, § 2º, do CPPM. O art. 82, § 2º, do CPPM, incluído em 1996, dispõe que: "Nos crimes dolosos contra a vida, praticados contra civil, a Justiça Militar encaminhará os autos do inquérito policial militar à justiça comum". Note a questão temporal dos fatos. A medida cautelar, tomada em 1997, e o artigo incluído em 1996 são anteriores à Emenda Constitucional nº 45 de 2004, o que torna ainda mais forte o argumento de que, atualmente, a interpretação veiculada em alguns manuais não mais encontra respaldo jurídico, seja porque o dispositivo não foi recepcionado pela Emenda Constitucional nº 45 de 2004, seja porque ele não mais possui aplicabilidade, já que não há mais o que ser investigado, como se observa pelos entendimentos expostos nas jurisprudências acima mencionadas.
Por não ser hipótese de crime militar, por determinação constitucional, a investigação de tais crimes é atribuição em caráter indelegável da Polícia Civil. Entendimento em sentido contrário configuraria uma grave inadmissibilidade das provas produzidas pela Polícia Militar pelo Poder Judiciário (provas produzidas de forma contrária ao texto da Constituição), de modo a contribuir para a impunidade dos envolvidos. Nesse sentido, tem-se, ainda, as diretrizes elencadas na Resolução nº 08 de 21 de dezembro de 2012, editada pela Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República, notadamente os seguintes dispositivos estabelecidos pelo artigo 2º da referida espécie regulamentar:
Art. 2º Os órgãos e instituições estatais que, no exercício de suas atribuições, se confrontarem com fatos classificados como "lesão corporal decorrente de intervenção policial" ou "homicídio decorrente de intervenção policial" devem observar, em sua atuação, o seguinte:
I -os fatos serão noticiados imediatamente a Delegacia de Crimes contra a Pessoa ou a repartição de polícia judiciária, federal ou civil, com atribuição assemelhada, nos termos do art. 144 da Constituição, que deverá:
a) instaurar, inquérito policial para investigação de homicídio ou de lesão corporal;
b) comunicar nos termos da lei, o ocorrido ao Ministério Público.
II-a perícia técnica especializada será realizada de imediato em todos os armamentos, veículos e maquinários, envolvidos em ação policial com resultado morte ou lesão corporal, assim como no local em que a ação tenha ocorrido, com preservação da cena do crime, das cápsulas e projeteis até que a perícia compareça ao local, conforme o disposto no art. 6.º, incisos I e II; art. 159; art. 160; art. 164 e art. 181, do Código de Processo Penal;
III -é vedada a remoção do corpo do local da morte ou de onde tenha sido encontrado sem que antes se proceda ao devido exame pericial da cena, a teor do previsto no art. 6.º, incisos I e II, do Código de Processo Penal;
IV -cumpre garantir que nenhum inquérito policial seja sobrestado ou arquivado sem que tenha sido juntado o respectivo laudo necroscópico ou cadavérico subscrito por peritos criminais independentes e imparciais, não subordinados às autoridades investigadas;
V -todas as testemunhas presenciais serão identificadas e sua inquirição será realizada com devida proteção, para que possam relatar o ocorrido em segurança e sem temor;
Pacificado o entendimento acerca do tema, é possível citar um exemplo de repercussão nacional: o caso do desaparecimento de Amarildo na Rocinha do Rio de Janeiro após entrar numa viatura da Polícia Militar, cujo fato está sendo investigado pela Polícia Civil por haver a possibilidade de se tratar de um crime doloso (tentado ou consumado) contra a vida de um civil praticado por policiais militares.
Em síntese, atualmente, o entendimento, na forma da Constituição, da lei e da jurisprudência, é no sentido de que a Polícia Civil possui a atribuição exclusiva para investigar crimes dolosos (tentados ou consumados) cometidos por um policial militar contra a vida de um civil.
Fonte: http://pensodireito.com.br/
DE ÂNIMO FIRME
January 3, 2015 6:59LUZ E PAZ!!!
Não temas as provas de hoje.
Supera o mal com o bem.
todos temos um amanhã.
Supera o mal com o bem.
todos temos um amanhã.
No entanto, porque o futuro nos pertença
não menosprezes o momento de agora.
Se sofrestes desgostos
não lhes conserves os remanescentes no coração.
não menosprezes o momento de agora.
Se sofrestes desgostos
não lhes conserves os remanescentes no coração.
Esquece afrontas e ofenças.
O perdão desata quaisquer algemas
entre vítima e agressor.
Serve sempre.
O perdão desata quaisquer algemas
entre vítima e agressor.
Serve sempre.
Não cultive enfermidades imaginárias,
nem te amofines por aflições
que talvez não chegues a conhecer.
nem te amofines por aflições
que talvez não chegues a conhecer.
Emmanuel
Falsas vítimas
January 3, 2015 5:35"Depois de dois anos e meio de trabalho, a CNV mostrou como o país foi governado, durante vinte anos, por governos que implementaram uma política sistemática e consciente de medo, assassinato, tortura, estupro e ocultação de cadáveres, não apenas contra militantes comunistas, mas contra todos os que podiam se apresentar como ameaça à perpetuação do regime. Durante vinte anos, o Brasil foi simplesmente um Estado ilegal governado por bandidos", escreve Vladimir Safatle, professor de Filosofia, em artigo publicado pelo jornal Folha de S. Paulo, 16-12-2014.
Segundo ele, "a Lei de Anistia, como aplicada no Brasil, é uma simples farsa imoral. Como é farsesca a ideia de, agora, dar voz àqueles que passaram à história brasileira eliminando as vozes dos descontentes".
Eis o artigo.
Depois de pressões vindas de vários setores da sociedade pelo reconhecimento dos excessos cometidos por ambos os lados, o governo alemão resolveu inaugurar um memorial aos oficiais da Gestapo mortos por militantes comunistas alemães.
"Devemos colocar o problema da ascensão do nazismo em seu contexto. Afinal, havia o medo da ameaça comunista, por pouco uma revolução comunista não eclodiu na Alemanha. Claro que ninguém apoia o nazismo, mas do outro lado não havia apenas santos", disse a chanceler Angela Merkel na inauguração.
Não, esta não é uma notícia verdadeira. Mas, guardada as devidas proporções, alguns querem nos levar a um raciocínio parecido diante das exigências postas pelo relatório da Comissão Nacional da Verdade.
Depois de dois anos e meio de trabalho, a CNV mostrou como o país foi governado, durante vinte anos, por governos que implementaram uma política sistemática e consciente de medo, assassinato, tortura, estupro e ocultação de cadáveres, não apenas contra militantes comunistas, mas contra todos os que podiam se apresentar como ameaça à perpetuação do regime. Durante vinte anos, o Brasil foi simplesmente um Estado ilegal governado por bandidos.
Diante disso, o mínimo que se poderia esperar era uma pressão nacional para que as Forças Armadas oferecessem à nação um mea-culpa, como foi feito em países como Argentina e Chile, entre tantos outros. As Forças Armadas brasileiras devem decidir se querem ser uma instituição à altura das exigências de uma sociedade democrática ou um clube de defesa de torturadores, estupradores e assassinos.
Mas, como não poderia deixar de ser, levantam-se vozes para falar sobre "as vítimas do outro lado". Então, militares aparecem com listas de vítimas das ações de grupos de luta armada (para variar, listas falsas com pessoas ainda vivas), filhos de torturadores escrevem cartas indignadas contra o governo.
Pessoas que morreram por defender uma ditadura criminosa ou que são atualmente denunciadas por isso querem agora ser vistas como vítimas. Mas vítimas do quê? Do direito de resistência contra a tirania? Os colaboracionistas franceses mortos pela resistência foram "vítimas"?
Como se não bastasse, há de se lembrar que todos os membros da luta armada que participaram de crimes de sangue NÃO foram anistiados (por favor, leiam novamente, "não foram anistiados"). Eles ficaram na cadeia depois de 1979 e, por isso, pagaram suas penas. Os únicos que não pagaram nada foram os militares.
A Lei de Anistia, como aplicada no Brasil, é uma simples farsa imoral. Como é farsesca a ideia de, agora, dar voz àqueles que passaram à história brasileira eliminando as vozes dos descontentes.
A omissão silenciosa e o avanço da precarização trabalhista: as perspectivas do governo Dilma em 2015.
January 3, 2015 5:31Entrevista especial com Giovanni Alves
“Caso não tenhamos crescimento do PIB em 2015 — e muito provavelmente também em 2016 —, teremos anos difíceis devido à política de ajuste e ao cenário adverso da economia internacional”, adverte o sociólogo.
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Foto: Ultra Downloads |
As dificuldades do próximo governo Dilma estão diretamente relacionadas com o cenário internacional, que ainda se recupera das consequências da crise econômica de 2008. Diante da instabilidade externa, a meta do segundo mandato será “crescer o PIB”, já que o crescimento da economia é a condição necessária para dar continuidade à política de aumento progressivo do salário mínimo, à manutenção dos empregos e à ampliação das políticas sociais. “O desafio do novo governo Dilma é fazer omeletes sem quebrar ovos, isto é, fazer o proclamado ajuste fiscal sem reduzir significativamente o gasto público e degradar programas sociais”, pontua Giovanni Alves, em entrevista concedida àIHU On-Line por e-mail.
Ao enfrentar um dos “mais conservadores congressos da história da República brasileira”, o segundo mandato dapresidente Dilma deverá ser marcado por uma “omissão silenciosa” ao não se empenhar para ampliar direitos trabalhistas, nem para deter “inciativas parlamentares que signifiquem o aumento da precariedade salarial”. “Provavelmente, o governo não deve apoiar a aprovação da redução da jornada de trabalho, nem colocar-se contra a ampliação da terceirização”, lamenta. E acrescenta: “A eleição para a presidência da Câmara dos Deputados é um importante elemento de conjuntura política logo no começo de 2015. Caso ganhe Eduardo Cunha, do PMDB, o governo deverá ter muitas dificuldades para fazer passar seus projetos no Legislativo”.
Giovanni Alves (foto abaixo) é professor da Faculdade de Filosofia e Ciências do Departamento de Sociologia e Antropologia da Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho – Unesp, no campus de Marília. Livre-docente em teoria sociológica, é mestre em Sociologia e doutor em Ciências Sociais pela Unicamp. Atualmente, desenvolve o projeto de pesquisa “A derrelição de Ícaro – Sonhos, expectativas e aspirações de jovens empregados do novo (e precário) mundo do trabalho no Brasil (2003-2013)”. É autor de, entre outras obras, Dimensões da precarização do trabalho – Ensaios de sociologia do trabalho (Bauru: Projeto editorial praxis, 2013).
Confira a entrevista.
IHU On-Line - Como avalia a reeleição da presidente Dilma?
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Foto: Anamatra |
Giovanni Alves - A reeleição da presidente Dilma Rousseffocorreu num cenário político-eleitoral caracterizado, por um lado, pela pesada manipulação midiática por parte da direita organizada contra o governo e o PT; e por outro lado, por uma conjuntura política, social e econômica, interna e externa, bastante adversa para as forças progressistas de esquerda que compõem a frente política do neodesenvolvimentismo. A eleição presidencial de 2014 foi uma das eleições para presidente da República mais acirradas desde 1989. Não se tratou apenas da persistente campanha da grande mídia — rádio, TV, revistas e jornais — contra o governo e o PT, visando desgastar a sua imagem. Na verdade, desde 2003, o desgaste da imagem do PT tem sido ininterrupto. Apesar disso, pesquisas de opinião ainda consideram o PT o partido político preferido dos brasileiros — principalmente nas regiões Norte e Nordeste, tendo em vista a sua identificação com uma das lideranças políticas de esquerda mais carismática da vida nacional: Luís Inácio Lula da Silva.
Portanto, apesar da campanha midiática contra Lula e Dilma e o PT, o mais paradoxal é que grande parte da população brasileira beneficiada pelos programas sociais do governo manteve-se fiel a eles, votando no governo, embora não votando necessariamente em parlamentares do PT e de esquerda. Outros problemas de conjuntura tornaram esta eleição presidencial uma das mais difíceis para o PT — pelo menos desde 2003. Primeiro, a conjuntura política mostrou um governo debilitado pela corrosão de sua base política no Congresso, com parte do PMDB se rebelando contra o governo. A frente política do neodesenvolvimentismo fraturou-se com a saída do PSB, que lançou como candidato Eduardo Campos à presidência da República. Às dificuldades com sua base parlamentar, que reclamava da falta de diálogo de Dilma com os parlamentares, somava-se a crise da economia brasileira — o baixo crescimento do PIB e as pressões inflacionárias passaram a preocupar o Palácio do Planalto.
Os aumentos contínuos da taxa básica de juros pelo Banco Central mostravam um governo disposto a ceder às pressões do capital financeiro para evitar a escalada inflacionária. Entretanto, os empresários mantinham-se indispostos a investir, não apenas pela discordância com a macroeconomia heterodoxa do Ministro da FazendaGuido Mantega, mas principalmente pela recusa da presidenta Dilma em fazer uma Reforma Trabalhista que significasse a redução do “custo Brasil” por meio da espoliação de direitos trabalhistas. Mas o problema dos investimentos privados na economia brasileira tinha a ver também com as incertezas da economia mundial, cuja crise financeira global de 2008 reacendeu a paralisia dos investimentos produtivos, provocando a queda do PIB nos países capitalistas centrais em 2012-2014. Na última metade da década de 2010, no plano internacional o cenário da economia mundial é bastante desanimador para os países ditos “emergentes" — como o Brasil — devido principalmente à queda dos preços das commodities (incluindo o petróleo) e à desaceleração da economia da China e também da União Europeia. Ao mesmo tempo, o crescimento da economia nos EUA é medíocre, apesar dos esforços do Federal Reserve de levantá-la por meio da redução da taxa de juros.
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"Nos últimos dez anos, os governos neodesenvolvimentistas voltaram-se prioritariamente para atender às demandas dos ‘pobres’. Entretanto, fizeram muito pouco para melhorar a qualidade de vida das camadas médias assalariadas nas metrópoles brasileiras" |
Segundo governo Dilma
Portanto, o segundo governo Dilma deverá encontrar uma conjuntura internacional bastante adversa e totalmente diferente daquela conjuntura do capitalismo global da década de 2000, que caracterizaram os governos Luiz Inácio Lula da Silva. Ao mesmo tempo, em 2014 assistimos, por conta da questão da Ucrânia, o surgimento da “nova guerra fria" (EUA X Rússia), com os EUA buscando preservar a todo custo a hegemonia do dólar no mercado mundial; como parte da disputa geopolítica mundial temos a presença na América Latina de dois modelos de protagonismo capitalista (Aliança do Pacífico versus Mercosul). Como não poderia deixar de ser, a eleição brasileira tornou-se parte da geopolítica do xadrez internacional. O que significa que a direita brasileira tornou-se mais voraz, pressionada pela nova escalada de ofensiva do capital que ocorre hoje no plano geopolítico mundial.
No plano social, acumularam-se, no Brasil, insatisfações nas camadas médias desde as jornadas de 2013. Nos últimos dez anos, os governos neodesenvolvimentistas voltaram-se prioritariamente para atender às demandas dos “pobres". Entretanto, fizeram muito pouco para melhorar a qualidade de vida das camadas médias assalariadas nas metrópoles brasileiras. Pelo contrário, o “choque de capitalismo” do neodesenvolvimentismo, o modo de vida just-in-time, vida reduzida (tempo de vida reduzido a tempo de trabalho) e os péssimos serviços públicos provocaram, nas camadas médias assalariadas, profunda insatisfação social. Apesar da inquietação social, os protestos de rua em 2014, principalmente durante a Copa do Mundo, não conseguiram repetir os fenômenos das jornadas de massa de 2013. Apesar disso, os indicadores sociais do governo Dilma mantiveram-se positivos em 2014 — o desemprego aberto nas metrópoles manteve-se baixo, apesar do crescimento medíocre da economia brasileira.
No cenário eleitoral, a morte de Eduardo Campos num acidente aéreo ainda não explicado fez ascender o fenômeno político da terceira via da candidatura de Marina Silva, que ocupou a vice-presidência da chapa do PSB. Pela primeira vez, diminuíram-se, naquele momento, as chances de reeleição de Dilma Rousseff logo no primeiro turno. Entretanto, com o tempo, a candidatura de Marina Silva perdeu fôlego eleitoral para a candidatura de Aécio Neves, do PSDB. Ocorreu a polarização clássica direita x esquerda, ou seja, PSDB x PT. O discurso antipetista cresceu principalmente nos estados de hegemonia liberal — Sul e Sudeste. O recorte de classe na sociedade brasileira tornou-se nítido nas eleições de 2014: as camadas populares, a classe trabalhadora e a população mais pobre beneficiada pelos programas sociais identificavam-se com a candidatura de Dilma Rousseff; e uma parcela das novas camadas médias e a classe média tradicional e a grande burguesia industrial-financeira passaram a identificar-se com as candidaturas de Marina Silva e Aécio Neves. A disputa crucial era saber quem iria enfrentar a candidata do PT, Dilma Rousseff, no segundo turno das eleições presidenciais.
A esquerda e a incapacidade alternativa
Por outro lado, o PSOL e a esquerda socialista radical (PCB, PCO, PSTU), mais uma vez dividida politicamente, incapaz de constituir uma frente política de esquerda socialista capaz de disputar a hegemonia social com a frente política do neodesenvolvimentismo e com a direita reacionária e conservadora, demonstraram, mais uma vez, sua insignificância política. O segundo turno das eleições foi bastante disputado, com as pesquisas eleitorais indicando empate técnico entre Dilma e Aécio. Por muito pouco, Dilma Rousseff ganhou as eleições presidenciais, com o apoio da militância social e dos estados mais beneficiados pelos programas sociais do neodesenvolvimentismo. Os erros de estratégia política do PSDB também custaram caro. As eleições de 2014 demonstraram ser, na reta final, uma disputa clara entre esquerda e direita e, principalmente, uma disputa de classe.
É importante salientar o significado da vitória de Dilma Rousseff para o cenário da disputa geopolítica internacional: a vitória de Dilma Rousseff significou, no plano da política externa, a persistência do não alinhamento automático com a política externa dos EUA e o prosseguimento do projeto hegemônico dos BRICS como modelo de desenvolvimento capitalista alternativo — o que não é pouca coisa. Estamos vivendo um período de aprofundamento dos conflitos silenciosos entre os dois blocos de poder do capital (EUA-União Europeia versus Rússia-China). No cenário interno, a vitória de Dilma significou derrotar eleitoralmente a direita conservadora e reacionária que, após as eleições, frustrada em seu intento de chegar ao governo, prossegue com sua verve midiática de sangrar persistentemente a imagem do “governo do PT”.
Na verdade, devido à escalada da ofensiva do capital no plano mundial, a direita no Brasil — e na América Latina — tende a adotar a política de “guerra permanente”, buscando desgastar a imagem do governo. A vitória de Dilmamostrou, apesar dos pesares de um partido que se burocratizou e distanciou-se dos movimentos sociais e das lutas populares, a capacidade de luta da militância e dos simpatizantes do PT. A questão é saber se o governo Dilma e o PTsaberão aproveitar a força da militância nesta conjuntura ímpar de reação conservadora. O que se percebe é que, diante da pressão midiática e das dificuldades da economia interna e externa, sob fogo cruzado da direita reacionária, o segundo governo Dilma vacila e titubeia, correndo o risco de paralisar-se. A vitória de Dilma representou a vitória da centro-esquerda num cenário político, social e econômico adverso, uma adversidade sistemática nunca vista pelos governos neodesenvolvimentistas. Deve-se exigir do governo Dilma o compromisso de manter conquistas da classe trabalhadora, sob pena de frustrar sua base eleitoral. Ao expor seus candentes limites e seu próprio mal-estar, o neodesenvolvimentismo acirrou as disputas internas no interior da frente política.
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"A esquerda não tem quadros hábeis política e ideologicamente para administrar o país. O partido não forma quadros médios, não investe em formação e educação capazes de dar um horizonte político-ideológico às lideranças políticas" |
Congresso conservador
Em seu segundo mandato, Dilma Rousseff enfrenta um dos mais conservadores congressos da história da República brasileira. Coloca-se cada vez mais a necessidade de um salto de qualidade na intervenção social dos partidos de esquerda que apoiam o governo — PT e PCdoB, principalmente no plano da comunicação social, inserção nos movimentos sociais e luta ideológica na sociedade brasileira, sob pena de a ação voraz da direita organizada pautada pela mídia hegemônica pôr em risco a própria democracia. O eleitor que vota na esquerda, em geral, é muito frágil politicamente porque historicamente o PT nunca investiu na formação política — inclusive de quadros políticos. Na verdade, a esquerda não tem quadros hábeis política e ideologicamente para administrar o país. O partido não forma quadros médios, não investe em formação e educação capazes de dar um horizonte político-ideológico às lideranças políticas. O que explica a perda da esquerda na luta pela hegemonia social. Burocratizado, afastado dos movimentos sociais, mero partido eleitoral, parte dele envolvido em escândalos de corrupção, o PT precisa renovar-se sob pena de não conseguir ir além dos limites do neodesenvolvimentismo.
A eleição para a presidência da Câmara dos Deputados é um importante elemento de conjuntura política logo no começo de 2015. Caso ganhe Eduardo Cunha, do PMDB, o governo deverá ter muitas dificuldades para fazer passar seus projetos no Legislativo. Talvez o maior desafio para a presidente Dilma seja chegar incólume em 2018, evitando, deste modo, as práticas golpistas de direita.
IHU On-Line - A presidente e sua equipe econômica anunciaram que no próximo ano serão feitos alguns cortes, incluindo cortes sociais, embora durante a campanha eleitoral o discurso fosse de manter os investimentos sociais. Como esses cortes devem repercutir em relação aos salários dos trabalhadores? Qual deve ser a tendência do governo Dilma em relação à pauta trabalho?
Giovanni Alves - O Brasil é um país capitalista, portanto, o salário dos trabalhadores é uma variável do crescimento do PIB da economia. Caso o país volte a crescer com mais pujança, haverá boas negociações coletivas no setor privado, melhores condições para se negociar salários e planos de carreira no setor público e aumento real do salário-mínimo. Entretanto, caso não tenhamos crescimento do PIB em 2015 — e muito provavelmente também em 2016 —, teremos anos difíceis devido à política de ajuste e ao cenário adverso da economia internacional. A prioridade de ajuste das contas públicas e os juros elevados contribuirão para o baixo crescimento do PIB.
A preocupação do governo é que isso implique em aumento dos índices de desemprego e crescimento daprecarização salarial. A adoção de políticas de austeridade faz o governo Dilma correr o risco de corroer sua base social e seu capital político. Por outro lado, visando garantir a retomada dos investimentos, o novo governo Dilma deve evitar confrontar os empresários — pelo contrário, a crise das contas públicas tornou-se motivo das pressões do capital para reduzir direitos dos trabalhadores. Provavelmente, o governo não deve apoiar a aprovação da redução da jornada de trabalho, nem colocar-se contra a ampliação da terceirização. A regra é a omissão silenciosa — não se empenhará para ampliar direitos trabalhistas, nem deterá iniciativas parlamentares que signifiquem o aumento da precariedade salarial (seria difícil imaginar Dilma vetando a PL 4330, o projeto de lei que amplia a terceirização do trabalho no país, caso passe pelo Congresso Nacional — só se houver ampla mobilização popular — o que é improvável). Provavelmente Dilma adotará a política clássica do lulismo, um lulismo de crise — o que é pior. Entretanto, não acredito que a política macroeconômica ortodoxa a ser adotada pelo novo governo não tenha freios que possam evitar que programas sociais historicamente vitrines dos governos neodesenvolvimentistas sejam prejudicados. Numa situação de crise externa e ofensiva interna da Direita, o governo deve manter-se na defensiva, visando preservar trincheiras sociais (eis, por exemplo, o equilíbrio dinâmico entre Joaquim Levy na Fazenda e Nelson Barbosa no Planejamento).
O novo governo deve operar no interior daquilo que chamei de limites do neodesenvolvimentismo. O governo encontra-se refém do Estado neoliberal que ele próprio preservou como estratégia de governabilidade. Diante do esgotamento das forças vivas do neoliberalismo no sentido de incapacidade de conduzir novos avanços sociais por conta do gasto público, é preciso colocar no horizonte as reformas sociais que, para serem efetivadas, pressupõem areforma política capaz de resgatar a representação popular e construir uma nova institucionalidade democrática. Uma reforma política progressista torna-se indispensável para a tradição política das demandas dos movimentos sociais ascendentes e o resgate da representação política do povo brasileiro. É preciso mudar o Estado brasileiro caso o governo neodesenvolvimentista queira avançar, senão tornar-se-á não apenas refém de seus limites, mas cairá irremediavelmente para a direita neoliberal.
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"O tema da valorização do salário-mínimo deve ser mais um elemento de disputa interna no governo" |
IHU On-Line - Será possível continuar aumentando progressivamente o valor do salário mínimo?
Giovanni Alves - Existe um acordo entre o governo e as Centrais Sindicais pelavalorização do salário-mínimo. Nesse caso, o salário-mínimo é reajustado de acordo com o índice de crescimento do PIB da economia mais um percentual real. Portanto, a valorização do salário-mínimo depende, deste modo, do crescimento do PIB da economia brasileira. Em 2015 deve ocorrer uma nova negociação entregoverno e centrais sindicais, num cenário de fragilização política e social do sindicalismo brasileiro. Enfim, não vai ser fácil manter a Política de Valorização do Salário-mínimo tal como está, devido a pressões da direita ortodoxa que incrustou-se no Ministério da Fazenda. Por outro lado, a valorização do salário-mínimo tornou-se um trunfo para as forças progressistas do governo Dilma. Portanto, em 2015, o tema da valorização do salário-mínimo deve ser mais um elemento de disputa interna no governo. Mais uma vez teremos a disputa política no interior do governo entre as duas almas do neodesenvolvimentismo (entre aqueles que cultuam o ajuste das contas públicas a qualquer custo e aqueles que priorizam o crescimento e desenvolvimento social).
IHU On-Line - O senhor concorda com as análises que afirmam que o governo está preparando uma “minirreforma da previdência”, sem utilizar esse nome para não assustar os trabalhadores? Em que consiste essa minirreforma?
Giovanni Alves - Não sei se o governo está preparando uma minirreforma da Previdência Social para 2015. Há muita especulação política. O próprio ministro Guido Mantega desmentiu que isso pudesse ocorrer, embora o certo é que ocorra um ajuste fiscal. A nova equipe da economia brasileira, visando acalmar o mercado, pode propor algo neste sentido. Não me estranharia caso o fizesse — governos capitalistas nas condições de crise estrutural do capital devem adequar-se aos parâmetros sociorreprodutivos da ordem burguesa. Tendo em vista as novas tendências demográficas, redução da base contributiva e aumento da expectativa de vida, o capital tende a pressionar pelo aumento da faixa etária para a aposentadoria e aumento da alíquota de contribuição, ao mesmo tempo, que reduz progressivamente benefícios e direitos para os novos (e precários) trabalhadores assalariados — principalmente do setor público. É uma tendência mundial do novo capitalismo flexível: precarizar as condições de vida e trabalho de jovens e idosos que cada vez mais não conseguem se liberar do trabalho estranhado. O aumento da expectativa de vida, que poderia ser considerado uma conquista civilizatória para a humanidade, nas condições do capitalismo do século XXI, quando o tempo de vida se reduz cada vez mais a tempo de trabalho, tende a tornar-se um flagelo humano, pois não implica em qualidade de vida principalmente num país como o Brasil, que não está preparado no campo da saúde pública para dar conta do aumento de idosos que trabalham, submetido às novas condições de superexploração da força de trabalho, com impactos na saúde da pessoa que trabalha.
IHU On-Line - Como recebeu a notícia de que o aumento salarial despencou no Brasil e ficou abaixo da média mundial, considerando o aumento progressivo que vinha sendo feito desde o governo Lula? Esse aumento foi sustentável?
Giovanni Alves - Não acredito que o aumento salarial tenha despencado no Brasil, ficando abaixo da média mundial. Em 10 anos ocorreu a valorização do salário mínimo e mesmo no governo Dilma preservaram-se os rendimentos salariais médios. Muitas categorias assalariadas fizeram acordos coletivos com reposição salarial acima da inflação. Mas como salientamos, para o Brasil, como economia capitalista, a chave é o crescimento do PIB, que não ocorreu porque o gasto público não foi acompanhado do investimento privado; além disso, tivemos os constrangimentos nada desprezíveis da economia mundial salientados acima. Pela lógica do capital, apenas com o crescimento da economia e a melhoria da produtividade do trabalho, os aumentos salariais serão sustentáveis, dinamizando, deste modo, o mercado de consumo interno e produzindo um ciclo virtuoso — na perspectiva da acumulação de capital.
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"O governo Dilma tenta contornar, no mar revolto da economia global, a profunda crise dos mercados, procurando manter – e inclusive ampliar - programas sociais e, ao mesmo tempo, manter o crescimento - mesmo que mínimo - da economia brasileira" |
Como dissemos, a conjuntura da economia mundial da década de 2010 inverteu-se totalmente. Nos governos Lula, a conjuntura mundial era totalmente outra — o preço das commodities no mercado mundial estava elevado e as contas do governo estavam melhor organizadas. Ao eleger-se em 2010, Dilma elege-se sob o estigma da crise mundial e seu aprofundamento na década de 2010. O governo Dilma tenta contornar, no mar revolto da economia global, a profunda crise dos mercados, procurando manter — e inclusive ampliar — programas sociais e, ao mesmo tempo, manter o crescimento — mesmo que mínimo — da economia brasileira. Ao mesmo tempo, acirra-se a ofensiva política da direita reacionária e conservadora. Poderíamos dizer que o governo Dilma, por adotar um lulismo sem Lula, buscava conciliar interesses antagônicos entre o Capital e o Trabalho num cenário de conflito distributivo por conta das taxas medíocres de crescimento do PIB. Entretanto, manter gastos públicos em cenário de desaceleração da economia e boicote do investimento privado desajustou as contas públicas do país (em 2014, o Brasil não conseguiu cumprir a meta do superávit primário), assustando investidores e ameaçando a credibilidade do país nas agências de rating. Para evitar um ataque especulativo contra o real, o governo Dilma recém-eleito rende-se à macroeconomia ortodoxa no Ministério da Fazenda (Joaquim Levy, homem das finanças), mas sem deixar de colocar contrapeso na Secretaria do Planejamento (Nelson Barbosa, economista de perfil desenvolvimentista). É um jogo complexo de equilíbrio dinâmico buscando navegar por águas turvas.
IHU On-Line - Quais serão os principais desafios do governo Dilma em relação à manutenção ou aumento do emprego, e aumento do salário mínimo, tendo em vista a estagnação econômica e o baixo crescimento para o próximo ano?
Giovanni Alves - O desafio é crescer o PIB. A estagnação da economia brasileira significa impossibilidade de manter o estoque de emprego, o que significa aumento do desemprego total; e também impossibilidade de manter a valorização do salário mínimo. Enfim, o desafio do novo governo Dilma é fazer omeletes sem quebrar ovos, isto é, fazer o proclamado ajuste fiscal sem reduzir significativamente o gasto público e degradar programas sociais. Por um lado, recuperar a confiança dos investidores e fazê-los investir; e, ao mesmo tempo, promover a recuperação do gasto público visando à retomada do crescimento do PIB em 2016 ou 2017, às vésperas da próxima eleição presidencial. Pode-se supor que Dilma deixe para seu sucessor, em 2018, a economia brasileira com fundamentos macroeconômicos mais sólidos do que ela recebeu no final de seu primeiro governo. Mas o cenário mundial não é nada desprezível. A economia brasileira está bastante integrada no mercado mundial. Como salientamos acima, a economia mundial voltou a apresentar instabilidades sistêmicas — queda de investimentos produtivos, aumento da capacidade industrial ociosa, aumento do endividamento público, etc. — e os efeitos sobre países capitalistas ditos “emergentes" são deveras difíceis.
A direita reacionária e conservadora no Brasil não dará trégua ao segundo governo Dilma. O cerco midiático será permanente. Por um lado, apostam no golpismo do impeachment da presidente Dilma Rousseff, caso a crise econômica e social se aprofunde; e, por outro lado, investem no sangramento paulatino do PT visando debilitá-lo como direção política, degradando, ainda mais, sua identidade de classe, isolando, deste modo, o governo refém de sua tibieza pragmática. Não me iludo: a precariedade do mundo do trabalho deve aumentar por conta das pressões empresariais pela ampliação da terceirização — o que significa que aumentará a pressão parlamentar pela corrosão de diretos trabalhistas e pelo esvaziamento da Justiça do Trabalho. O governo mantém-se indiferente ao lobby empresarial no Congresso pela ampliação da terceirização. A situação de crise da economia brasileira coloca dificuldades para a negociação coletiva no setor privado — e principalmente no setor público. Não vai ser fácil atender reivindicações dos trabalhadores que implique aumento do gasto público com pessoal.
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" O último governo Dilma opera nos limites do neodesenvolvimentismo, gerando um verdadeiro mal-estar" |
Giovanni Alves - Deve-se entender que o último governo Dilma opera nos limites do neodesenvolvimentismo, gerando um verdadeiro mal-estar. Limite não é esgotamento, mas dificuldades crescentes para cumprir o programa social doneodesenvolvimentismo; o governo encontra-se cada vez mais refém do Estadoneoliberal; o governo é refém de si mesmo, incapacidades do reformismo e a reposição contínua da direita voltar diante da incompetência da esquerda social-democrata. A saída é um salto de qualidade na organização sindical e popular e na capacidade de luta política e ideológica disputando a hegemonia social numa nova frente política e social de esquerda visando ao aprofundamento da democracia.
Nesse momento de crise do neodesenvolvimentismo, torna-se mais clara a necessidade crucial da Reforma Políticacomo patamar de nova institucionalidade democrática capaz de traduzir politicamente as demandas sociais e a luta de classes do trabalho. Faz falta ao Brasil uma institucionalidade democrática sensível às demandas populares, assim como faz falta partidos e movimentos sociais capazes de expô-las hegemonicamente. A Reforma Política é a mãe de todas as reformas de base, embora, mais importante do que ela, é a capacidade de resgatar o partido político capaz de representar os interesses da classe trabalhadora. Ao lado do pessimismo da razão temos o otimismo da vontade. Enfim, é importante continuar avançando apesar das dificuldades da nova conjuntura de ofensiva do capital no plano mundial.
(Por Patricia Fachin)
“A flexibilização do Direito do Trabalho se dá de forma silenciosa, sem a crítica da sociedade”.
January 3, 2015 5:29Entrevista especial com Grijalbo Coutinho
“Está ocorrendo uma reforma trabalhista silenciosa sem a participação da sociedade, capaz de impactar mais de 50 milhões de trabalhadores e o Brasil inteiro, porque são 50 milhões de trabalhadores com suas famílias que podem estar perdendo seus direitos. Temos de avaliar por que isso acontece”, afirma o desembargador do Tribunal Regional do Trabalho - TRT da 10ª Região (Distrito Federal e Tocantins).
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Foto: Portal Cesed |
A decisão do Supremo Tribunal Federal – STF de reduzir para cinco anos o prazo para o trabalhador requerer na Justiça o Fundo de Garantia por Tempo de Serviço – FGTS é uma entre outras tentativas de flexibilizar ainda mais os direitos trabalhistas no Brasil. O recurso de requerer o FGTSera de 30 anos, mas durante a campanha presidencial a Suprema Corte decidiu diminuir o prazo, por entender que “aConstituição de 1988 não estabelece diferença para qualquer crédito de natureza trabalhista no que se refere à prescrição, que é de cinco anos, nos termos do artigo 7º”, explica Grijalbo Fernandes Coutinho à IHU On-Line.
Na entrevista a seguir, concedida por telefone, o desembargador do Tribunal Regional do Trabalho – TRT da 10ª Região diz que “é forçoso concluir que o Supremo fez uma opção interpretativa capaz de restringir a efetividade de direito fundamental dos empregados brasileiros”. Em contrapartida, ele argumenta que “o próprio texto constitucional pronuncia que são direitos sociais dos empregados todos aqueles previstos no elenco do artigo 7º, além de outros que visem à melhoria das condições sociais dos trabalhadores”.
Na avaliação de Coutinho, “os empregados são os grandes prejudicados” com a decisão do STF, “mas os projetos habitacionais do governo, com financiamento da Caixa Econômica Federal, também vão sofrer impacto, porque a redução do prazo prescricional para reclamar o FGTS, de algum modo, vai estimular parte do setor empresarial a ter menor cuidado com essa sua obrigação mensal. Ou seja, as empresas tendem a relaxar quanto ao recolhimento doFGTS daqueles contratos mais longos, porque uma coisa é o trabalhador dispor do prazo de 30 anos para reclamar, assim como a empresa ter ciência de que pode ser demandada durante o referido prazo, enquanto durar o contrato; outra muito diferente, no entanto, é quando ela percebe que esse prazo é bastante reduzido. Então, o efeito prático dessa mudança pode importar no estímulo à ausência do cumprimento patronal relativo aos depósitos mensais regulares do FGTS”.
Coutinho ressalta ainda que as decisões do Supremo devem ser respeitadas, contudo pontua que a decisão da Suprema Corte demonstra a falta de consenso entre as duas instâncias jurídicas, à medida que as pautas aprovadas pelo TST nem sempre são consideradas pelo STF. “Na prática, portanto, tem acontecido muito de o Supremo Tribunal Federal desconstituir decisões do Tribunal Superior do Trabalho e, normalmente, o tem feito por essa via flexível ou do enfraquecimento do direito do trabalho”, critica.
De acordo com o desembargador, atualmente o TST é mais criterioso em relação às pautas trabalhistas, assumindo uma postura mais progressista do que a dos anos 1990. Entretanto, os ministros que compõem o STF, escolhidos pelosgovernos Lula e Dilma, assumem uma postura mais conservadora. “Por que um governo de centro-esquerda tem um Supremo que olha de uma forma tão diferente para o Direito do Trabalho, quando se compara com a visão do TST?”, questiona. E acrescenta: “Temos mais de 50 milhões de trabalhadores regidos pela CLT, sem contar os informais. Ou seja, são mudanças trabalhistas as quais impactam a sociedade inteira. Não estamos tratando de uma questão menor. É o prazo da prescrição sensivelmente reduzido, é a redução de garantias dos trabalhadores com a nova lei de falências, é a terceirização que se encaminha para ser liberada de forma geral, sendo que tudo isso tem ficado muito restrito ao debate entre os operadores do mundo jurídico”.
Juiz do Trabalho desde 1992, Grijalbo Coutinho é mestre em Direito e Justiça pela Universidade Federal de Minas Gerais - UFMG e mestre em Teoria Crítica dos Direitos Humanos e Globalização pela Universidade Pablo de Olavide, de Sevilla, Espanha. Concluiu, ainda, curso de Pós-Graduação em Direito Constitucional pela Universidade de Brasília e de Direito e Processo do Trabalho pela PUC-Minas, além do curso de Especialista em Economia do Trabalho e Sindicalismo pela Unicamp. Foi presidente da Associação dos Magistrados da Justiça do Trabalho da 10ª Região nas gestões 1999/2001 e 2001/2003, da Associação Nacional dos Magistrados da Justiça do Trabalho na gestão 2003/2005 e da Associação Latino-Americana de Juízes do Trabalho no biênio 2006/2008.
Confira a entrevista.
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Foto: Site BancáriosDF |
IHU On-Line - Em que consiste a decisão do Supremo Tribunal Federal – STF, de que os trabalhadores só podem requerer na Justiça depósitos do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço – FGTS dos últimos cinco anos e não mais dos últimos 30 anos?
Grijalbo Coutinho – O FGTS sempre teve um prazo prescricional diferente, bem mais amplo. Desde a sua criação, em 1966, esse prazo foi entendido pela jurisprudência trabalhista como sendo de 30 anos, pois se considerava que a referida parcela tinha uma natureza fiscal/previdenciária. Com a Lei 8036 de 1990, o legislador, de modo expresso, estabeleceu que a prescrição é de 30 anos, o que já vinha sendo proclamado pela jurisprudência pacificada do Tribunal Superior do Trabalho - TST e, evidentemente, há uma razão para isso: o empregado, durante o contrato de trabalho, tem enormes dificuldades para demandar contra a empresa, até mesmo pelo nível das relações de trabalho, que ainda são profundamente autocráticas. Deste modo, o empregado normalmente só demanda contra a empresa e reclama seus direitos após o final do contrato, o que é absolutamente lamentável, mas faz parte de uma triste realidade. Então, um empregado com 10, 15, 20 anos de trabalho poderia, até a decisão do Supremo, reclamar todo o FGTS não recolhido até o limite de 30 anos, embora relações de emprego com 30 anos no Brasil sejam cada vez mais raras.
De todo modo, o FGTS foi criado, inclusive, em substituição a uma garantia muito maior, que era a estabilidade no emprego, conferida aos trabalhadores regidos pela CLT. Todo empregado que contasse com dez ou mais anos de serviço na mesma empresa tinha garantida a sua estabilidade, ou seja, não poderia ser dispensado sem justa causa, mas o governo ditatorial-militar acabou com essa conquista social vigente desde os anos 1940, atendendo, assim, o desejo das empresas nacionais e multinacionais. Em contrapartida, veio o FGTS. Embora o regime do FGTS fosse opcional até a Constituição de 1988, na prática, porém, os empregadores, quando contratavam, exigiam que os empregados assinassem o tal termo de “opção” para liquidar com a hipótese de estabilidade.
O FGTS é um direito do empregado dotado de função social muito importante para além do contrato de trabalho. Hoje os empregados não dispõem do FGTS mês a mês, e como sabemos, o FGTS vai para uma conta administrada pelo governo federal, que passa a realizar financiamentos habitacionais, incluindo grandes obras públicas. O empregado só dispõe desse valor quando é dispensado sem justa causa ou pela ausência de movimentação da referida conta pelo prazo de três anos, bem como em outras hipóteses excepcionais previstas em lei. Então, concretamente, o prazo diferenciado para reclamar a realização ou o complemento dos depósitos do FGTS era uma garantia fundamental para preservar os direitos dos empregados, à medida que havia um prazo prescricional de 30 anos para ele exigir do seu empregador a comprovação dos respectivos depósitos mensais.
Implicações para os trabalhadores
Com a decisão do Supremo, a redução do prazo é drástica, considerando que, na prática, o trabalhador só vai poder reclamar o FGTS dos últimos cinco anos, sendo alcançado pela prescrição todo o restante (os créditos de FGTS dos anos anteriores aos últimos cinco demandados). Foi estabelecida, na decisão do STF, uma regra de transição, mas que não resolve muita coisa para os empregados. O prejuízo para os trabalhadores é imenso. E do ponto de vista jurídico, a decisão do Supremo, evidentemente, é muito questionável.
Adotou-se o entendimento de que a Constituição de 1988 não estabelece diferença para qualquer crédito de natureza trabalhista, no que se refere à prescrição, que é de cinco anos, nos termos do artigo 7ª, XXIX. No entanto, o próprio texto constitucional pronuncia que são direitos sociais dos empregados todos aqueles previstos no elenco do artigo 7º, além de outros que visem à melhoria das condições sociais dos trabalhadores. É forçoso concluir que o Supremo fez uma opção interpretativa capaz de restringir a efetividade de direito fundamental dos empregados brasileiros. Sem dúvida, os trabalhadores perdem muito com a decisão do Supremo, porque as empresas não recolhem com exatidão oFGTS. Inúmeras são as empresas que deixam de recolher o FGTS durante o contrato, assim como tantas outras providenciam os depósitos em valores não condizentes com a remuneração efetivamente paga. Esta é uma das parcelas mais reivindicadas pelos trabalhadores perante a Justiça do Trabalho.
Tudo que se observou antes diz respeito aos casos em que a empresa não recolhe o FGTS ou o faz em quantia menor do que aquela efetivamente devida mês a mês, na conta vinculada. Se a empregadora recolhe o FGTS de maneira correta, não haverá problema, ou seja, o empregado vai receber o seu crédito total no momento próprio. Trata-se de obrigação da empresa depositar mensalmente o FGTS na conta vinculada de cada empregado. Quando ela recolhe, não tem problema, o crédito é do empregado, e não da empresa. Independentemente do prazo que o trabalhador for reclamar, ele vai receber tudo que lhe é de direito. Quando há recolhimento regular, o trabalhador não depende da empresa para sacar o FGTS.
O que nós estamos discutindo, na verdade, em relação ao recolhimento do FGTS, é quando a empresa deixa de fazê-lo. Se ela fizer, perfeito. O empregado pode trabalhar 40 anos na empresa, que se estiver tudo recolhido, ele vai receber normalmente quando sair do emprego. O imbróglio surge quando o FGTS deixa de ser depositado ou é recolhido a menor, o que é muito frequente e ocorre com inúmeras empresas pequenas, médias e de porte elevado. No particular, temos duas questões: a primeira é aquela empresa que simplesmente deixa de recolher durante muitos meses, ou durante todo o contrato de trabalho; e a outra, em relação às que recolhem de forma insuficiente, por exemplo, recolhem só sobre o salário básico, sem tomar em conta as comissões e outras vantagens pagas ao empregado, e isso dá uma diferença significativa. Com a mudança promovida pelo STF, o empregado, na prática, somente vai ter direito a receber os créditos do FGTS dos últimos cinco anos, desde que presentes as irregularidades antes apontadas.
Implicações para projetos habitacionais
Sem nenhuma dúvida, os empregados são os grandes prejudicados, mas os projetos habitacionais do governo, com financiamento da Caixa Econômica Federal, também vão sofrer impacto, porque, a meu juízo, a redução do prazo prescricional para reclamar o FGTS, de algum modo, vai estimular parte do setor empresarial a ter menor cuidado com essa sua obrigação mensal. Ou seja, as empresas tendem a relaxar quanto ao recolhimento do FGTS daqueles contratos mais longos, porque uma coisa é o trabalhador dispor do prazo de 30 anos para reclamar, assim como a empresa ter ciência de que pode ser demandada durante o referido prazo, enquanto durar o contrato; outra muito diferente, no entanto, é quando ela percebe que esse prazo é bastante reduzido. Então, o efeito prático dessa mudança pode importar no estímulo à ausência do cumprimento patronal relativo aos depósitos mensais regulares do FGTS.
IHU On-Line – Mas o trabalhador tem como acompanhar se a empresa está recolhendo?
Grijalbo Coutinho – Sim. Na verdade, ele dispõe do extrato a ser retirado em qualquer terminal eletrônico bancário e pode acompanhar as movimentações (depósitos) e atualizações da conta FGTS como se fosse uma conta normal. Mas quantos trabalhadores não realizam essa tarefa de forma cotidiana? Devo dizer que o primeiro obstáculo surge com a própria interpretação dos dados constantes no extrato da conta FGTS. São números e dados ali presentes os quais demandam um olhar cuidadoso para se saber o que de fato ocorreu. Nesse sentido, o extrato precisa ser aperfeiçoado, porque atualmente ele mais confunde do que explica; muitas vezes não é possível saber facilmente se a empresa depositou ou não o valor na data efetiva, bem como o valor do principal e as importâncias devidas a títulos de juros e atualização monetária. Além do mais, o depósito pode ser a menor. E muitas vezes, reitere-se, o empregado não sabe qual é o valor que deve ser recolhido a tal título, especialmente quando parcelas variadas integram a sua remuneração.
O fornecimento facilitado do extrato é uma medida interessante, mas não resolve tudo, porque a sua leitura nem sempre é de fácil compreensão, pelos leigos e não leigos. Ademais, como citado anteriormente, mesmo tendo conhecimento da irregularidade no depósito do FGTS, bem sabemos que o empregado encontra sério obstáculo para demandar judicialmente contra a sua empregadora durante a vigência do contrato. Quando o faz, lamentavelmente, há represália consistente na dispensa sem justa causa. Muitas empresas não toleram o fato de o empregado ir ao Judiciário antes do término da relação. No mundo real, não é fácil para o empregado no Brasil exercer essa cidadania consagrada em todas as constituições democráticas. O empregado perde, portanto, parte significativa de direito seu, a partir da redução de 30 para cinco anos para reclamar os créditos do FGTS.
"Nós da Justiça do Trabalho, que analisamos de forma crítica o processo que ora se desenvolve, temos percebido que o Supremo Tribunal Federal, na prática, tem afastado do mundo jurídico decisões progressistas do TST em temas de grande relevância, conferindo ao direito do trabalho um caráter mais civilista ou de igualdade entre as partes da relação de emprego" |
IHU On-Line - Como o senhor interpreta essa decisão? Por que e em que contexto histórico e político se dá essa mudança? É possível fazer uma análise nesse sentido?
Grijalbo Coutinho – Para entender o contexto em que se dá essa medida, é preciso fazer uma análise do que vem ocorrendo nos últimos anos. O Tribunal Superior do Trabalho sempre foi tido como uma Corte razoavelmente conservadora em relação à proteção do direito do trabalho, especialmente nos anos 1990. A partir dos anos 1990, registre-se, com o processo de flexibilização do direito do trabalho no mundo inteiro, bem intenso no Brasil, por ações variadas, o TST flexibilizou, em alguma medida, o direito do trabalho, não de forma avassaladora, mas é certo que alguns temas mereceram olhar menos protetivo. Contudo, o TST mudou nos últimos anos: é um Tribunal muito mais progressista, mais protetivo do direito do trabalho, ao aplicar os princípios orientadores do juslaboralismo. Na verdade, houve uma mudança no perfil daquele tribunal. O TST foi recomposto, pois muitos ministros se aposentaram, assim como foram criados mais dez cargos com a reforma do Judiciário, em 2004, e a partir de 2005 esses cargos começaram a ser providos. Hoje o TST tem 27 ministros, cujo perfil médio dos seus integrantes é nitidamente progressista, tendo ocorrido uma significativa mudança de sua jurisprudência, como tem se revelado cada vez mais frequente em decisões importantes ali proferidas. Não é o caso específico da prescrição do FGTS, que tem na Lei o prazo de 30 anos para o empregado reclamar judicialmente contra eventuais irregularidades, aspecto esse declarado inconstitucional pelo Supremo, como vimos antes. De todo modo, o TST tem muitas decisões recentes apontando no sentido de proteger efetivamente os direitos sociais conquistados pela classe trabalhadora.
Decisões do STF
O setor empresarial não está, evidentemente, satisfeito com algumas decisões do Tribunal Superior do Trabalho, dirigindo agora todas as suas insatisfações para o Supremo Tribunal Federal, com ações diretas de inconstitucionalidade e recursos extraordinários — é o que temos percebido, nos últimos cinco ou seis anos, e com maior velocidade nos últimos três ou quatro. Em boa medida, o Supremo Tribunal Federal tem acolhido esses recursos e julgado procedentes as ações do setor patronal. Na prática, portanto, tem acontecido muito de o Supremo Tribunal Federal desconstituir decisões do Tribunal Superior do Trabalho e, normalmente, o tem feito por essa via flexível ou doenfraquecimento do direito do trabalho.
Tais casos merecem um estudo sociológico, político e também jurídico, evidentemente. Mas nós da Justiça do Trabalho, que analisamos de forma crítica o processo que ora se desenvolve, temos percebido que o Supremo Tribunal Federal, na prática, tem afastado do mundo jurídico decisões progressistas do TST em temas de grande relevância, conferindo ao direito do trabalho um caráter mais civilista ou de igualdade entre as partes da relação de emprego. Esse é um dado preocupante, para o qual os trabalhadores devem olhar atentamente. Algumas entidades de trabalhadores, imagino, já devem ter percebido isso. A decisão do FGTS se inclui neste contexto. O STF é também a corte constitucional brasileira além da “última instância” do poder Judiciário, o tribunal que deve garantir os direitos fundamentais, não só os direitos civis e políticos, evidentemente. É necessário reafirmar que o STF deve garantir todos os direitos fundamentais.
Direitos fragilizados
"O debate que precisamos travar com a sociedade é de como, na prática, esses direitos sociais estão sendo reduzidos" |
Alguns direitos sociais têm sido bastante fragilizados por ações dos poderes constituídos. A decisão relativa ao menor tempo para reclamar contra as irregularidades nos depósitos do FGTS foi a de maior repercussão pública, mas há tantas outras, como uma que está se encaminhando para a liberação da terceirização geral, seja no âmbito do Parlamento ou do Poder Judiciário. É algo realmente preocupante.
O debate que precisamos travar com a sociedade é de como, na prática, essesdireitos sociais estão sendo reduzidos. Não se discute a legitimidade das decisões tomadas pelos poderes constituídos, embora seja necessário, sempre, reafirmar o apreço pelo Direito do Trabalho protetivo, pelo Direito do Trabalho concebido para regular uma relação entre pessoas marcadas por notória diferença econômica, cuja desigualdade jurídica existe para tentar equilibrar a disputa entre o capital e o trabalho nos marcos definidos pelo Estado. Embora o mundo tenha mudado, as razões de ser do Direito do Trabalho, amparado em princípios, não se alteraram. Ao contrário, as desigualdades entre o capital e o trabalho são ainda enormes, elas continuam da mesma forma, senão muito mais intensas na época da globalização neoliberal, justificando, por isso mesmo, os direitos do trabalho fundados em princípios protetivos.
"Embora o mundo tenha mudado, as razões de ser do Direito do Trabalho, amparado em princípios, não se alteraram" |
IHU On-Line – Como entender essa falta de consenso em decisões importantes em relação ao trabalho, entre o STF e o TST, ainda mais considerando que tal falta de consenso se dá no governo do Partido dos Trabalhadores?
Grijalbo Coutinho – As indicações para o Tribunal Superior do Trabalho se constituem, a meu ver, em uma das razões das mudanças da jurisprudência. Os governos dos últimos 12 anos, ou seja, os governos dos presidentes Lula e Dilma, deram uma contribuição para essa mudança de perfil, a qual pode não ter sido enorme, mas é uma contribuição, até porque o presidente da República não escolhe livremente os ministros do TST; estes são escolhidos a partir de listas tríplices elaboradas pelo próprio TST. A presidência escolhe a partir de determinados limites impostos pelo TST. Mas, de qualquer modo, houve sim, nesses últimos 12 anos, escolhas de ministros com perfil mais alinhado ao Direito do Trabalho clássico e isso, sem nenhuma dúvida, tem repercutido na jurisprudência do Tribunal Superior do Trabalho. É apenas a minha impressão sobre o tema.
No âmbito do Supremo, a escolha é livre a partir de critérios de reputação ilibada e notório saber jurídico. O presidente da República escolhe livremente os ministros do Supremo, os quais passam depois pelo crivo do Senado Federal. E osgovernos Lula e Dilma escolheram quase todos os ministros do Supremo. Então, esse é um desafio: por que um governo de centro-esquerda indicou um Supremo que olha de uma forma tão diferente para o Direito do Trabalho, quando se compara com a visão do TST, por exemplo? Isso deve ser estudado. Acredito que os juristas ligados ao Direito do Trabalho são muito desprestigiados no momento das escolhas presidenciais. Só uma ex-ministra do TST é integrante do Supremo, que é a ministra Rosa Weber, de grande visão social, registre-se, além do ministro MarcoAurélio, que deixou o TST em 1990.
"Acredito que os juristas ligados ao Direito do Trabalho são muito desprestigiados no momento das escolhas presidenciais" |
Mas essa não é a questão mais importante, na minha compreensão. O eventual desprezo ao Direito do Trabalho tem a ver, até mesmo, com o preconceito mais antigo que começa nos bancos escolares das faculdades de Direito, que considera o Direito do Trabalho um direito menor. Há uma série de razões para isso; se diz que é um direito menor exatamente porque é um direito do empregado, então, no fundo, é um preconceito social que repercute para sempre, que vai se ampliando em diversos setores e órgãos do próprio Estado. Percebemos que os conceitos básicos do Direito do Trabalho, os princípios, fundamentos e normas, muitas vezes passam ao largo de um debate mais profundo. Uma análise mais cuidadosa demandaria investigação acadêmica. São compreensões jurídicas as quais respeito profundamente, mas com as quais não posso comungar.
IHU On-Line – Quais as implicações diretas dessa mudança para o trabalhador?
Grijalbo Coutinho - Os trabalhadores perdem um prazo que era largo para os contratos longos — estou me referindo aos contratos que têm mais de cinco anos de duração, porque os de até cinco anos não serão afetados. E isso faz uma diferença porque os créditos serão reduzidos sensivelmente e os trabalhadores não poderão reclamar de falta de depósito ou depósito irregular superior ao tempo de cinco anos e, ao mesmo tempo, isso também vai impactar na multa de 40% sobre o FGTS: quando o empregado é dispensado sem justa causa, no final do contrato, além do FGTS que está recolhido em conta própria, ele tem direito à multa de 40% sobre os depósitos, que dá um acréscimo, dependendo do tempo de contrato, significativo. Aliás, até poderão reclamar em relação a tempo superior aos cinco anos, mas os eventuais créditos de FGTS para além desse lapso temporal estarão alcançados pela prescrição quinquenal.
IHU On-Line – Qual foi a repercussão dessa mudança entre os sindicatos, centrais sindicais, e no Ministério do Trabalho? O senhor acompanhou se houve muita repercussão entre as instituições que representam os trabalhadores?
Grijalbo Coutinho – Li em páginas da internet algumas manifestações e preocupações. A decisão foi publicada no meio da campanha eleitoral para cargos diversos da República. Imagino que os sindicatos e outras organizações de trabalhadores estavam, de algum modo, envolvidos com a demanda eleitoral. Isso é natural, não é censurável de jeito nenhum, porque as pessoas têm que fazer opções políticas, escolher de forma altiva os seus representantes, e os sindicatos estão dentro desse contexto.
Sindicato apartidário não existe; os trabalhadores têm as suas preferências. Não sei quais foram as posições dos técnicos e dos ministros do Poder Executivo Federal. Não vi absolutamente nada, pelo menos, de forma pública não houve nenhuma manifestação das autoridades do Ministério do Trabalho e Emprego. Percebi manifestações entre juristas do Trabalho a partir de listas de debate que frequento: juízes, advogados, membros do Ministério Público do Trabalho ficaram preocupados, mas não houve manifestação.
Alguns colegas escreveram artigos sobre o assunto para ver como vão interpretar ou aplicar a decisão do Supremo. Mas acredito que no âmbito do Tribunal Superior do Trabalho também tenha repercutido bastante. Esse papel de crítica mais contundente é do movimento sindical. Se os movimentos não o fizerem, os juízes irão manifestar nos autos suas impressões sobre a decisão do Supremo quando chegar um caso concreto para análise ou quando instados a se manifestar em debates públicos com a sociedade.
A leitura feita pelo Tribunal partiu da premissa de que a Constituição não estabelece qualquer distinção no tocante ao prazo prescricional a incidir sobre os créditos de natureza trabalhista, ou seja, aplica-se sempre o prazo de cinco anos. Essa interpretação pode ser discutida. A Constituição, no artigo 7º, diz que são direitos dos trabalhadores todos os ali previstos expressamente, além de outros que visem à melhoria da sua condição social.
O fato é que o texto constitucional não encerra o elenco de direitos concedidos aos empregados: todos aqueles que são mais benéficos, previstos em normas ordinárias legais e convencionais, devem ser respeitados pelos empregadores. Tal mandamento constitucional está em plena sintonia com o Direito do Trabalho clássico, que tem, entre outros princípios, o da norma mais benéfica e o da condição mais favorável, além do princípio da proibição doretrocesso social: tudo aquilo que foi incorporado ao patrimônio jurídico do trabalhador não pode ser dele retirado abruptamente, ainda mais sem qualquer contrapartida.
Existem várias normas internacionais no mesmo sentido do caput do artigo 7º da Constituição de 1988: direitos humanos fundamentais não podem ser retirados do mundo jurídico. Qualquer ato que possa reduzir os direitos sociais já conquistados e incorporados aos diplomas jurídicos nacionais e internacionais, em tal cenário, compromete a eficácia do próprio Direito do Trabalho. Essa é apenas uma vertente, mas há outras análises jurídicas as quais poderiam demonstrar que, por exemplo, a prescrição de que trata o artigo 7º não é um direito, pelo contrário, quando se trata de prescrição se fala em restrição do exercício de direito. Portanto, não se pode tratar essa restrição como se fosse um crédito trabalhista.
IHU On-Line – Durante a campanha eleitoral, a presidente Dilma disse que manteria os direitos trabalhistas no próximo mandato. Contudo, com o anúncio da nova equipe econômica e a partir das declarações da própria presidente, temem-se cortes sociais para o próximo ano e, inclusive, alguns economistas já falam que o governo prepara uma minirreforma da previdência para 2015. Concorda com esse tipo de análise? Em que consistiria essa minirreforma?
Grijalbo Coutinho – Durante a campanha, a presidente Dilma se comprometeu com os direitos sociais dos trabalhadores. Ela tem uma frase famosa, se contrapondo aos adversários no primeiro turno, dizendo que não retiraria nenhum direito dos trabalhadores “nem que a vaca tussa”. Esse foi um compromisso importante que a candidata assumiu, mas nós não somos ingênuos e sabemos que há um movimento intenso do capital para flexibilizar o direito do trabalho, para liberar de forma generalizada a terceirização, para diminuir os direitos previdenciários, e o governo está num momento político de dificuldades por várias razões, a exemplo do caso da Petrobras, que na atual circunstância o coloca, de certa forma, na defensiva. Por isso mesmo, o governo precisou inclusive indicar uma equipeeconômica mais tradicional e ortodoxa do ponto de vista monetário, até para acalmar os ânimos do mercado.
Tem-se a impressão de que a presidenta reeleita não tem a intenção de flexibilizar os direitos do trabalho, mas sabemos que o sistema é muito maior do que a pessoa. Nesse início de governo, até estabilizar a economia ou passar a crise da Petrobras, ela vai ter que compor com setores mais conservadores da sociedade e é isso que parece fazer no atual momento. Se setores conservadores patronais vão conseguir seu intento trabalhista e previdenciário, não sabemos, até porque a Presidência da República tem o apoio do movimento sindical, da CUT e de outras centrais, que estão vigilantes e, imagino, reagirão contra quaisquer reformas capazes de tirar os direitos de seus representados.
Correlação de forças no segundo mandato
Essa correlação de forças é que vai determinar a ação política do segundo mandato da presidente. Se o governo dela se fortalecer e conseguir mostrar para a sociedade que não tem envolvimento com o caso da Petrobras, ela terá condições de rejeitar as tentativas empresariais. Mas se o governo estiver mais frágil, o palco vai estar aberto para a flexibilização no campo legislativo.
Quanto ao Supremo, ela terá oportunidade de indicar vários nomes: já tem uma vaga aberta, com outras três ou quatro ao longo do mandato. É a hora de a presidente olhar, no momento das indicações, para o direito social. Não precisa nomear, necessariamente, juristas do mundo do trabalho, embora seja interessante que também prestigie os juslaboralistas, mas escolha, sobretudo, pessoas com perfil identificado com a causa dos direitos humanos em sua integralidade, porque os direitos humanos não se resumem aos clássicos direitos liberais, os civis e políticos; osdireitos econômicos, sociais e culturais também são direitos humanos.

"Direitos trabalhistas, direitos humanos por excelência assim reconhecidos por normas nacionais e tratados internacionais, estão sendo reduzidos por atos diversos"
IHU On-Line – Deseja acrescentar algo?
Grijalbo Coutinho – Gostaria de dizer que a flexibilização ou precarização do Direito do Trabalho se dá quase de forma silenciosa, sem a crítica ou participação da sociedade brasileira, lamentavelmente. Temos mais de 50 milhões de trabalhadores regidos pela CLT, sem contar os informais. Ou seja, são mudanças trabalhistas as quais impactam a sociedade inteira. Não estamos tratando de uma questão menor. É o prazo da prescrição sensivelmente reduzido, é a redução de garantias dos trabalhadores com a nova lei de falências, é a terceirização que se encaminha para ser liberada de forma geral, sendo que tudo isso tem ficado muito restrito ao debate entre os operadores do mundo jurídico.
Está ocorrendo uma reforma trabalhista silenciosa sem a participação da sociedade, capaz de impactar mais de 50 milhões de trabalhadores e o Brasil inteiro, porque são 50 milhões de trabalhadores com suas famílias que podem estar perdendo seus direitos. Temos de avaliar por que isso acontece. A sociedade brasileira precisa dizer o que quer: se está de acordo com a flexibilização e precarização do direito do trabalho, que diga. Se não está, que também se manifeste, porque na prática, direitos trabalhistas, direitos humanos por excelência assim reconhecidos por normas nacionais e tratados internacionais, estão sendo reduzidos por atos diversos.
(Por Patricia Fachin)
SEIS MORTOS POR HORA – Brasil matou três vezes mais do que a guerra no Iraque
January 3, 2015 5:25Brasil matou três vezes mais do que a guerra no Iraque; especialistas propõem soluções para resolver o problema FLÁVIA FARIA DA EDITORIA DE TREINAMENTO Os números da violência brasileira assustam. Em dez anos, o Brasil matou três vezes mais que a guerra no Iraque. De 2003 a 2013, foram quase 560 mil assassinatos. São 153 mortos por dia, seis por hora ou um a cada dez minutos. Os dados indicam que o problema é grande – e está aumentando. Entre 2002 e 2012, os índices de homicídios cresceram em quase todo o país. Em 13 Estados, o aumento foi superior a 40%. Numa comparação global, o Brasil é o 16º que mais mata, segundo o Relatório Global de Homicídios da ONU lançado no ano passado. Contraditoriamente, é o quarto que mais prende, de acordo com o Centro Internacional de Estudos Prisionais (ICPS, em inglês), da Universidade de Londres. Embora não haja um consenso sobre o que se deve fazer para contornar a situação, especialistas concordam em alguns temas, como polícia, recursos e sistema carcerário. A Folha conversou com alguns pesquisadores da área. Abaixo, você confere os principais problemas e soluções para a questão da violência brasileira. 1. Não basta aumentar a verba para segurança pública, é preciso aplicá-la de maneira estratégica.Os recursos para a área consomem em média 8,3% do orçamento dos Estados, o que não é pouco, mas ainda não é suficiente. ![]() ”É basicamente custeio para manter efetivo policial. Há baixíssima capacidade de investimento, de modernização”, alerta o professor da FGV e vice-presidente do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, Renato Sérgio de Lima. Para ele, é preciso investir em inteligência e atualização dos sistemas de segurança. 2. As polícias precisam trabalhar de maneira integrada.Polícia Civil e Militar precisam dividir informações e operar em conjunto. Alguns especialistas defendem ainda a desmilitarização e a criação de uma polícia unificada. De acordo com André Zanetic, pesquisador do Núcleo de Estudos de Violência da USP, as corporações não dialogam e por vezes desconfiam do trabalho uma da outra. “O país precisa de uma polícia de ciclo completo, que faça da prevenção à investigação”, afirma. Três propostas de emenda à Constituição (PECs) em tramitação na Câmara e no Senado estabelecem a criação de polícias estaduais únicas. 3. Desenvolvimento econômico sem redução significativa das desigualdades sociais não é suficiente para conter a violência.A região Nordeste, que registrou aumento do PIB acima da média do Brasil, teve crescimento de 91,5% nos índices de homicídio em dez anos. De acordo com o sociólogo Luiz Lourenço, da UFBA (Universidade Federal da Bahia), o dinamismo econômico, se não for aliado à diminuição da desigualdade social, cria mais alvos em potencial. Isso pode aumentar os crimes contra o patrimônio (roubos e furtos) e proporcionar um consumo maior de drogas, atraindo o tráfico. “No Nordeste, existem áreas tão degradadas que, por mais que tenham melhorado, continuam muito ruins”, diz. 4. É preciso melhorar a qualidade dos dados.![]() Em dezembro do ano passado, foi criado o Sinesp, uma plataforma que reúne informações de todas as unidades federativas e tem como objetivo dar suporte ao planejamento, diagnóstico e avaliação de políticas de segurança. Apesar de ser um grande avanço, ainda não há padrões nacionais para o modo como os dados são contabilizados. “Não é cada polícia que vai decidir como contar os dados de letalidade policial, por exemplo. É preciso ter estatísticas padronizadas e fazer com que os Estados entendam que elas são ferramentas de planejamento e prestação de contas”, diz Renato Sérgio de Lima, do Fórum Brasileiro de Segurança Pública. 5. O sistema penitenciário precisa ser reformado urgentemente.Em junho de 2013, havia 574 mil presos no país, cerca de 256 mil a mais do que o sistema é capaz de suportar. Do total de presos, 43,8% são provisórios (ainda não foram julgados). As condições do sistema prisional são degradantes e há poucos programas de ressocialização dos presos. Quase metade da população carcerária (47%) é reincidente, segundo estudo do PNUD. 6. É preciso unificar a política de combate à violência em um plano nacional de combate aos homicídios.“O ponto zero, prioridade alta, é que exista um plano nacional de combate aos homicídios. Uma sociedade que acha que tudo bem morrerem tantas pessoas em um ano é uma sociedade violenta. Precisamos mudar essa mentalidade”, afirma Ivan Marques, da ONG Sou da Paz. ![]() De acordo com Regina Miki, secretária nacional de Segurança Pública, a próxima gestão da presidente Dilma Rousseff (PT) deve buscar mudanças constitucionais para dar maior poder à União em relação à segurança pública. A intenção, ela diz, é que o governo federal possa criar um padrão para alguns procedimentos operacionais, a exemplo de regras para investigação e perícia. 7. Crimes graves não podem continuar impunes.“Prendemos muito, mas prendemos mal. Deixamos na rua quem é responsável pelos crimes mais violentos”, diz Ivan Marques, da ONG Sou da Paz. Para ele, o Judiciário brasileiro tende a prender criminosos de menor potencial ofensivo, enquanto a polícia tem índices muito baixos de resolução de crimes mais graves, como homicídio ou roubo. Um estudo publicado em 2010 pela UFRJ constatou que o índice de solução de assassinatos em capitais como Rio de Janeiro, Recife, Belo Horizonte e Porto Alegre gira em torno de 15%. 8. As instituições precisam agir em conjuntoMinistério Público, Judiciário e polícia precisam dialogar. Também carecem de integração os poderes federal, estadual e municipal. “O MP bate cabeça com a Polícia Federal, o Judiciário não conversa com governo estadual. As soluções dependem de como a gente gere um sistema que hoje induz mais às disputas do que à cooperação”, analisa Renato Sérgio de Lima, do Fórum Brasileiro de Segurança Pública. Enquanto o Mapa da Violência reúne números do DataSus, base de dados do Ministério da Saúde, o Anuário de 2014, produzido pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública, usa como fonte o Sinesp (Sistema Nacional de Informações de Segurança Pública). |