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Política, Cidadania e Dignidade

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Aprile 3, 2011 21:00 , by Unknown - | No one following this article yet.

Conflito entre policiais deve ter apuração severa

Dicembre 10, 2013 6:17, by Unknown - 0no comments yet

Audiência Pública avaliou atrito entre corporações e supostas ameaças a PMs em troca de tiros na região de Venda Nova.

Representantes das duas corporações policiais deram depoimentos .
Representantes das duas corporações policiais deram depoimentos . - Foto: Raíla Melo
Esclarecer os excessos das Polícias Civil e Militar durante conflito entre as duas instituições ocorrido em 20 de novembro deste ano, na região de Venda Nova; apurar irregularidades e verificar falhas apontadas no inquérito policial. Esses são alguns dos pontos que, na opinião do presidente da Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG), deputado Durval Ângelo (PT), precisam ser devidamente investigados no episódio.
O assunto foi debatido em audiência pública da comissão, realizada na tarde desta segunda-feira (9/12/13). Durval Ângelo considera importante, também, para a elucidação do caso, apurar a razão de os três policiais civis estarem naquele local e naquelas condições (descaracterizados, portando armas e em veículo sem identificação); analisar o ato do Cabo PM Samuel Cabral de já chegar atirando; e apurar a ordem de desvio da viatura da PM.
A audiência, que atendeu à solicitação da Associação dos Praças e Bombeiros Militares do Estado (Aspra-MG), debateu também supostas ameaças a policiais militares. O conflito ocorreu no Bairro Juliana, Região de Venda Nova, envolvendo  troca de tiros entre o cabo PM Samuel Cabral e três policiais civis descaraterizados, lotados na Regional de Polícia de Vespasiano.
Segundo testemunhos, dois dos policiais civis desceram da viatura (também sem identificação) com armas em punho e caminharam em direção ao comércio da esposa do PM. O militar, ao ver o movimento, teria acreditado se tratar de um assalto e sacado a própria arma, disparando contra o carro e os policiais descaracterizados, ferindo dois deles. Os tiros teriam sido revidados. Após a troca de tiros, ambos os lados se identificaram como policiais, suspendendo o tiroteio e acionando as respectivas instituições. Porém, a chegada das viaturas agravou o conflito, criando um ambiente tempestuoso, com ambos os lados chamando para si a responsabilidade de conduzir o Cabo PM e as testemunhas para a delegacia.
De acordo com o segundo-sargento PM Patrick Medeiros de Jesus, policial que registrou o Boletim de Ocorrência, embora tenha havido troca de tiros, e o procedimento padrão fosse recolher as armas envolvidas, ele só conseguiu apreender a arma do cabo Samuel Cabral. As dos demais envolvidos haviam sido levadas por outros policiais civis. O militar ainda relatou ameaças feitas por policiais civis, cujas viaturas continuavam a chegar intermitentemente. Segundo ele, as viaturas da PM tiveram ordem de retornar às rondas e apenas quatro delas foram autorizadas a permanecer no local, mas as da Polícia Civil continuavam chegando em abundância.
O grande número de viaturas, com policiais civis se portando de forma intimidadora, dirigindo ofensas aos militares e aos comandantes, também foi ressaltado no depoimento do comandante da 13ª Companhia Tático-móvel do 13º Batalhão da Polícia Militar, Capitão Valdomiro Gomes de Almeida Filho. Ele era o responsável pela viatura que conduzia o cabo Samuel à delegacia. Segundo o capitão, um rapaz que testemunhara o tiroteio lhe foi “arrancado das mãos” de forma violenta por policiais civis. Em momento posterior, quando recebeu a ordem de seu comandante para desviar a viatura (que seguia para a delegacia de Venda Nova) ameaçaram “arrancar” também o cabo PM, que estava dentro da viatura acompanhado da esposa. Este teria sido o momento mais tenso. O capitão informou que havia quatro viaturas da PM cercadas por mais 30 carros da Polícia Civil, com agentes gritando insultos e empunhando armas de grosso calibre.
Os representantes da entidade que solicitou a audiência, a Aspra, reiteraram ambos os testemunhos. O diretor jurídico da associação, ressaltou diversas falhas do inquérito que apura o caso, como versões conflituosas de um mesmo fato e tentativa de desqualificar testemunhos. Para ele, a apuração considera exclusivamente a versão dos policiais civis, razão pela qual é preciso apurar melhor os fatos e ouvir ambos os lados com a mesma isenção. Comparando o inquérito ao roteiro de um filme de ficção, ele ressaltou que deixaria uma cópia com os membros da comissão. 
Outra versão - O único que apresentou uma versão divergente foi o delegado da Polícia Civil, Fernando José de Moraes. Ele ressaltou que chegou depois, mas foi informado de que o local da ocorrência havia sido sido modificado pelos militares. Ele também relatou que outro delegado havia alertado para o “clima tenso” e para a necessidade de saírem logo daquele espaço, rumo à delegacia regional de Venda Nova, local que fora acordado entre os dois comandos para a condução do cabo. Ele afirmou não ter visto os agente apontarem armas aos PMs. Porém, destacou que, no momento considerado o mais tenso (em que a viatura da PM de desviou e foi cercada), ele já não estava presente, pois havia seguido na frente para a delegacia.
Autoridades se comprometem com apuração severa
O subcorregedor da Polícia Civil, Antônio Gama Júnior, garantiu que “o fato será apurado em sua plenitude”. Inclusive já teria sido recomendado aos responsáveis que acelerem as investigações. Ele convidou os policiais militares que deram testemunho a comparecerem à Corregedoria para prestar depoimentos. Por fim, respondendo a questionamento do deputado Sargento Rodrigues (PDT), afirmou que a presença de um escrivão em diligências externas não é procedimento habitual, mas não há impedimento (um dos feridos é escrivão). Segundo ele, a presença do escrivão e da testemunha Alex Rodrigues Goulart também será objeto de apuração pela Corregedoria.
O Promotor de Justiça criminal Daniel Malardi, subsecretário de Estado de Promoção da Qualidade e Integração do Sistema de Defesa Social, garantiu que há empenho pela transparência na elucidação dos fatos, com comprometimento das Corregedorias das duas corporações. Ele afirmou já haver uma diretriz de atuação na investigação do caso. Respondendo aos questionamentos sobre o inquérito, ressaltou que a eventual interpretação do delegado não é um fim em si, o Ministério Público vai definir se há elementos para instituir ação ou arquivamento.
Malardi também informou que já há um promotor, designado pelo procurador-geral, para acompanhar as investigações. Segundo ele, em caso de desvio de conduta, tudo será encarado com sobriedade e sanado com severidade.”Não permitiremos que este ou qualquer atrito entre agentes das duas corporações macule a integração das forças policiais. Este caso deve servir como alerta, para que todos adotem posturas mais serenas, tranquilas e responsáveis em situações de ameaça”, concluiu.
O deputado Sargento Rodrigues ressaltou a necessidade de haver punição exemplar, em ambas as corporações policiais, para aqueles que desobedecerem ordens de seus superiores,   inclusive com  transferência dos envolvidos para que “sintam o peso” da penalidade. Para o parlamentar, esse fato é lamentável e deixa o cidadão decepcionado com as duas polícias. Ele também questionou o abuso de equipamentos pertencentes ao Estado “várias viaturas e combustível do Estado envolvidos numa única ocorrência”. Em relação a isto, ressaltou que solicitará à consultoria da ALMG a elaboração de uma minuta de projeto de lei para “instituir punições severas e exemplares”. Por fim, apresentou uma série de requerimentos, entre os quais levar as notas taquigráficas a diversos órgãos do Estado.
Para o deputado Durval Ângelo, num momento em que se necessita tanto de segurança, a ocorrência suscita severa apuração e correção. Ele também questionou o exagero na demonstração de força da Polícia Civil, além de solicitar que as autoridades avaliem a necessidade de proteção a testemunhas e também de reiterar pedido para uma apuração aprofundada, isenta e transparente, ressaltando que a “Comissão vai cobrar isso. Houve erros de ambos os lados e precisamos de procedimentos institucionais para prevenir esse tipo de situação”, finalizou.



O significado de Mandela para o futuro da humanidade

Dicembre 9, 2013 16:50, by Unknown - 0no comments yet


"Essa lição de esperança nos deixa Mandela: nós ainda viveremos se sem dicriminações concretizarmos de fato oUbuntu", escreve Leonardo Boff, teólogo, filósofo e escritor.   
Eis o artigo.
Nelson Mandela, com sua morte, mergulhou no inconsciente coletivo da humanidade para nunca mais sair de lá porque se transformou num arquétipo universal, do injustiçado que não guardou rancor, que soube perdoar, reconciliar pólos antagônicos e nos transmitir uma inarredável esperança de que o ser humano ainda pode ter jeito. Depois de passar 27 anos de reclusão e eleito presidente da Africa do Sul em 1994, se propos e realizou o grande desafio de transformar uma sociedade estruturada na suprema injustiça do apartheid que desumanizava as grandes maiorias negras do pais condenando-as a não-pessoas, numa sociedade única, unida, sem discriminações, democrática e livre.
E o conseguiu ao escolher o caminho da virtude, do perdão e da reconciliação. Perdoar não é esquecer. As chagas estão ai, muitas delas ainda abertas. Perdoar é não permitir que a amargura e o espírito de vingança tenham a última palavra e determinem o rumo da vida. Perdoar é libertar as pessoas das amarras do passado, é virar a página e começar  a escrever outra a quatro mãos, de negros e de brancos. A reconciliação só é possível e real quando há a admissão completa dos crimes  por parte de seus autores e o pleno conhecimento dos atos por parte das vítimas. A pena dos criminosos é a condenação moral diante de toda a sociedade. Uma solução dessas, seguramente originalíssima, pressupõe um conceio alheio à nossa cultura individualista: o ubuntu que quer dizer: “eu só posso ser eu através de você e com você”. Portanto, sem um laço permanente que liga todos com todos, a sociedade estará, como na nossa, sob risco de dilaceração e deconflitos sem fim.
Deverá figurar nos manuais escolares de todo mundo esta afirmação humaníssima de Mandela:”Eu lutei contra a dominação dos brancos e lutei contra a dominação dos negros. Eu cultivei a esperança do ideal de uma sociedade democrática e livre, na qual todas as pessoas vivem juntas e em harmonia e têm oportunidadades iguais. É um ideal pelo qual eu espero viver e alcançar. Mas, se preciso for, é um ideal pelo qual estou disposto a morrer”.
Por que a vida e a saga de Mandela funda uma esperança no futuro da humanidade e de nossa civilização? Porque chegamos ao núcleo central de uma conjunção de crises que pode ameaçar o nosso futuro como espécie humana. Estamos em plena sexta grande extinção em massa. Cosmólogos (Brian Swimm) e biólogos (Edward Wilson) nos advertem que, a correrem as coisas como estão, chegaremos por volta do ano 2030 à culminância desse processo  devastador. Isso quer dizer que a crença persistente no mundo inteiro, também no Brasil, de que ocrescimento econômico material nos deveria trazer desenvolvimento social, cultural e espiritual é uma ilusão. Estamos vivendo tempos de barbárie e  sem esperança.
Cito o o insuspeito Samuel P. Huntington, antigo assessor do Pentágono e um analista perspicaz do processo de globalização no término de seu O choque de civilizações: “A lei e a ordem são o primeiro pré-requisito dacivilização; em grande parte no mundo elas parecem estar evaporando; numa base mundial, a civilização parece, em muitos aspectos, estar cedendo diante da barbárie, gerando a imagem de um fenômeno sem precedentes, uma Idade das Trevas mundial, que se abate sobre a Humanidade”(1997:409-410).
Acrescento a opinião do conhecido filósofo e cientista político Norberto Bobbio que como Mandela acreditava nos direitos humanos e na democracia como valores para equacionar o problema da violência entre  os Estados e para uma convivência pacífica. Em sua última entrevista declarou:”não saberia dizer como será o Terceiro Milênio. Minhas certezas caem e somente um enorme ponto de interrogação agita a minha cabeça: será o milênio da guerra de extermínio ou o da concórdia entre os seres humanos? Não tenho condições de responder a esta indagação”.
Face a estes cenários sombrios Mandela responderia seguramente, fundado em sua experiência política: sim, é possível que o ser humano se reconcilie consigo mesmo, que sobreponha sua dimesão de sapiens  à aquela de demens e inaugure uma nova forma de estar juntos na mesma Casa.
Talvez valham as palavras de seu grande amigo, o arcebispo Desmond Tutu que coordenou o processo de Verdade e Reconciliação: “Tendo encarado a besta do passado olho no olho, tendo pedido e recebido perdão e tendo feito  correções, viremos agora a página — não para esquecer esse passado, mas para não deixar que nos aprisionepara sempre. Avancemos em direção a um futuro glorioso de uma nova sociedade em que as pessoas valham não em razão de irrelevâncias biológicas ou de outros estranhos atributos, mas porque são pessoas de valor infinito, criadas à imagem de Deus”.
Essa lição de esperança nos deixa Mandela: nós ainda viveremos se sem dicriminações concretizarmos de fato oUbuntu.



Apenas 30% dos presos do país têm assistência à saúde

Dicembre 9, 2013 16:44, by Unknown - 0no comments yet


A constatação do governo federal de que é impossível garantir, na prisão, os cuidados médicos necessários ao ex-deputado José Genoino deve soar óbvio à maioria dos 548 mil detentos abrigados em 1.478 estabelecimentos penais do país. Afinal, passados dez anos do lançamento do Plano Nacional de Saúde no Sistema Penitenciário, as ações de assistência dentro das unidades prisionais cobrem apenas cerca de 30% da população carcerária, segundo o Ministério da Justiça.
A reportagem é de Karine Rodrigues e publicada pelo jornal O Globo, 08-12-2013.
De acordo com o Sistema de Informações Penitenciárias (Infopen), quando o plano que estabelece a inclusão da população carcerária no Sistema Único de Saúde (SUS) foi criado, existia um contingente de 308 mil pessoas nas prisões, que já sofriam os reveses de um déficit de 60 mil vagas. Uma década depois, o número de presos aumentou 78%, os estabelecimentos agora carecem de 203 mil vagas e, embora todos os estados e o Distrito Federal tenham aderido a plano, nenhum possui equipes de saúde prisional suficientes para garantir assistência a todos os detentos – no total, são apenas 272.
Se a regra fosse cumprida, os condenados teriam à disposição dois médicos para cada grupo de 1.000 pessoas, valor acima do preconizado pela Organização Mundial de Saúde (OMS), que é de 1 para cada 1.000, e superior ao registrado no Brasil (1,48 por 1.000), considerando os números do Cadastro Nacional de Estabelecimentos de Saúde (CNES), por meio do qual são realizados os repasses de recursos públicos.
Diante da baixa de tão baixa efetividade, os ministérios da Saúde e da Justiça criaram um comitê interministerial para discutir o assunto. O grupo concluiu, então, que a estratégia atual “está obsoleta” e que, para ampliar a cobertura, é necessária uma “política de Estado, alinhada aos princípios e diretrizes do Sistema Único de Saúde (SUS)”, segundo nota, após solicitação de entrevista sobre o tema. Foi, então, elaborada uma portaria, que institui a Política Nacional de Atenção Integral à Saúde das Pessoas Privadas de Liberdade no Sistema Prisional (Pnaisp), a ser publicada em breve.
Assessora técnica do Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass), Lourdes Almeida observa que, não bastasse a insuficiência de recursos humanos para ações de promoção e assistência à saúde dentro das prisões, a situação dos estabelecimentos, em geral, torna o ambiente propício à disseminação de doenças infecto-contagiosas, como as sexualmente transmissíveis, respiratórias e dermatológicas.
— Há uma série de dificuldades para efetivação das ações, mas os detentos têm direito à saúde, como todas as pessoas. As penitenciárias costumam ser muito insalubres. Como promover a saúde em um lugar precário? É importante que se diga que garantir a assistência médica aos presos não depende só da área da saúde. A Justiça também precisa melhorar a infraestrutura, as condições sanitárias — destaca Lourdes, acrescentando que, embora as informações epidemiológicas da população carcerária sejam esparsas, sabe-se que há um quadro preocupante em relação à Aids e à tuberculose.
Política vai incluir presos provisórios e em regime aberto
Professor do Instituto de Medicina Social da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj) e pesquisador da área de saúde penitenciária, Martinho Silva participou das primeiras discussões sobre a criação de uma política para o setor e concorda com a assessora do Conass.
— Abrir um serviço de saúde dentro de uma prisão não é fácil. Tem que ter profissionais, financiamento, infraestrutura. E existem ainda os elementos que a gente pode chamar de culturais, pois estamos falando sobre assistência à saúde de pessoas que foram afastadas da sociedade por terem cometidos infrações — enfatiza o pesquisador, lembrando que, atualmente, o plano nacional contempla as pessoas recolhidas em penitenciárias, presídios, colônias agrícolas e agroindustriais e hospitais de custódia e tratamento.
A limitação apontada por Martinho vai mudar a partir da entrada em vigor da política nacional, uma vez que a minuta da portaria interministerial estabelece que as ações de saúde serão direcionadas também para os presos provisórios.
Segundo o pesquisador da Uerj, que realizou para a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) um estudo sobre a efetividade do plano, no qual ouviu gestores, pesquisadores, trabalhadores, egressos do sistema e familiares de presos, havia uma reivindicação da sociedade civil organizada pela ampliação da população-alvo.
É importante incluir também os presos provisórios. Mas se a portaria for aprovada como está hoje, permanecerão de fora outras pessoas privadas de liberdade, como as que estão cumprindo medidas socioeducativas. Embora elas não estejam no sistema prisional, estão confinadas, e, por isso, deveriam ser incluídas também — avalia.

A assessora do Conass lembra, porém, que a saúde prisional é de responsabilidade do mesmo SUS que enfrenta entraves variados, como a falta de médicos. A ampliação da ação assistencial prevista na nova política governamental, portanto, terá de se dar dentro de um contexto já problemático, no qual a escassez de profissionais tenta ser resolvida por meio do programa Mais Médico, que inclui a contratação de estrangeiros.
“O gestor está mais preocupado em evitar rebeliões”
A minuta da portaria já foi aprovada na Comissão Intergestores Tripartite — que reúne representantes da União, dos estados e dos municípios —, e o governo estabeleceu como meta garantir assistência ao total da população prisional até 2019, embora, ao longo dos últimos 10 anos, a ação tenha alcançado apenas 30% dos detentos.
Atualmente, quem adere ao plano ganha um incentivo financeiro anual do governo federal, compartilhado entre os gestores da Saúde (70%) e da Justiça (30%). Infelizmente, porém, ano após anos, recursos deixaram de ser utilizados. Durante as reuniões para discussão da política, integrantes da área técnica de saúde prisional do Ministério da Saúde revelaram que, entre 2003, quando o plano foi criado, e 2008, o total de recursos executados não chegou nem a 10% do que foi disponibilizado.
Diante da permanência do problema, em 2010, o Departamento Penitenciário Nacional (Depen) editou uma portaria suspendendo, temporariamente, a transferência do incentivo oriundo da Justiça, condicionando a retomada dos repasses à comprovação da execução dos recursos enviados. Foi o que ocorreu com o Rio, por exemplo. De acordo com o Fórum Permanente de Saúde no Sistema Penitenciário, por não ter prestado contas, o estado deixou de receber recursos a partir de 2011. Uma das integrantes da secretaria-executiva da entidade, a psicóloga Márcia Badaró diz que o problema no financiamento agravou a situação da saúde prisional no estado.
— Como não prestou contas de R$ 12 milhões repassados, o governo federal suspendeu o envio de verbas. O Rio, que já foi referência na área de saúde prisional até o início dos anos 2000, passou a enfrentar uma série de problemas. Tínhamos um grande hospital com centro cirúrgico, no Complexo de Frei Caneca, que foi demolido e também perdemos, em 2011, um hospital em Niterói, especializado em doenças sexualmente transmissíveis, como a Aids — diz ela, observando que, na década de 1990, existiam cerca de 1.200 profissionais de saúde para 9 mil presos, e que, recentemente, os recursos humanos caíram à metade, embora o número de detentos tenha pulado para cerca de 33 mil.
Segundo Márcia, quando se trata de sistema prisional, a preocupação maior de quem administra o sistema é evitar rebeliões:
— Os gestores do sistema prisional, em geral, estão preocupados com a contenção, com o controle da população, para não deixar ocorrer motins, mas as pessoas estão morrendo dentro do sistema prisional por causa de problemas de saúde — alerta, informando que a unidade que é a porta de entrada dos detentos no Rio, instalada emSão Gonçalo, está sem médico.
— Se a pessoa que está entrando na prisão apresenta sintomas de tuberculose, como a gente vai saber que ela está doente, se não há médico? Até a semana passada, também não havia aparelho de raio-x. Com isso, a contaminação acaba indo além dos muros das prisões e atinge também quem está fora do sistema, como os familiares dos presos.
A Secretaria de Estado de Administração Penitenciária (Seap) confirmou a falta de médico na unidade de ingresso no sistema prisional no Rio e informou que existe um processo em andamento para a contratação de um profissional, mas garantiu que os dois aparelhos de raio-x estão em funcionamento. Sobre os R$ 12 milhões encaminhados pelo governo federal, declarou ter prestado contas em março deste ano e, atualmente, aguarda parecer sobre o caso.
Equipes de saúde mental e bucal serão inseridas no sistema
A minuta da portaria que institui a política estabelece também mudanças nas equipes de atenção básica de saúde que vão atuar dentro das unidades prisionais. Com a nova política, serão formadas equipes para saúde mental e bucal. Além disso, o funcionamento mínimo dos serviços passa a ganhar uma nova conformação. Se hoje a divisão se dá em grupos de até 100 e até 500 presos, agora deve passar para três grupos: com até 100 presos, a carga horária semanal passa de 4h para 6h; entre 101 e 300 presos, a carga horária será de 18h; e entre 301 e 700, serão 30 horas semanais.
Serão criados ainda dois tipos de equipe de atenção básica, uma delas com médico, enfermeiro, técnico ou auxiliar de enfermagem; e outra com médico, enfermeiro, técnico ou auxiliar de enfermagem, assistente social, psicólogo e outro profissional de nível superior, que pode ser um terapeuta ocupacional, um fisioterapeuta, um nutricionista ou um farmacêutico. Assim como ocorre com o plano, a política nacional vai exigir um processo de adesão.
Atualmente, para cada grupo de até 500 presos, é necessária uma equipe mínima formada por médico, enfermeiro, odontólogo, assistente social, psicólogo, auxiliar de enfermagem e auxiliar de consultório dentário.
– Antes, o estado trabalhava com uma opção apenas, que exigia cinco pessoas de nível superior e duas de nível médio. Vejo como vantagem o fato de a política facilitar o cadastro da equipe, que agora pode contar com um número menor de pessoas de nível superior. Atualmente, se o gestor não tem qualquer um dos cinco profissionais de nível superior, não pode cadastrar a equipe. E, com isso, não há acesso à assistência — pontua Martinho, citando como outra vantagem da política o grau de intersetorialidade.
Na nota enviada pelo Ministério da Justiça, também aprovada pelo Ministério da Saúde, segundo a assessoria de imprensa do referido órgão, o governo diz que pretende “qualificar os dados epidemiológicos, pactuar metas e indicadores sobre saúde no sistema penitenciário, revisar formas de financiamento, monitoramento e avaliação e elaborar uma norma para atendimento a pessoas portadores de transtorno mental em conflito com a lei”. E enfatiza, que, para isso, será necessário, “levantar esforços conjuntos para qualificar as condições de estrutura do Sistema Penitenciário; o financiamento das ações de saúde; os processos de educação e formação dos profissionais de saúde e de segurança; e, por fim, melhorar o acesso e a qualidade da atenção”.
Os efeitos da portaria interministerial que criou o plano serão mantidos durante o período de transição para adesão à política nacional. O prazo previsto termina em 31 de dezembro de 2016.



Moradores de rua são alvo de protesto em Florianópolis: “Não precisamos de mendigos: Fora!”

Dicembre 9, 2013 16:43, by Unknown - 0no comments yet


Segurando cartazes como “Não precisamos de mendigos: Fora!”, moradores da região da praia da Canasvieiras, em Florianópolis, protestaram contra a presença de pessoas em situação de rua na cidade.
A praia é uma das preferidas de turistas argentinos, que costumam lotar os hotéis da região e o turismo é a principal preocupação dos “incomodados”. “Estamos tentando limpar a praia para a chegada do turista. Isso está queimando nossa imagem”, afirmou Luciana da Silva, uma das organizadoras do protesto, à Folha de S. Paulo.
A reportagem é de Igor Carvalho e publicada por Fórum, 08-12-2013.
No blogue SOS Canasvieiras, organizado por moradores da região, em um texto intitulado “Turismo Insustentável”, os insatisfeitos desfilam uma série de argumentos para que se expulse a população de rua da região. “Não podemos deixar esta situação se agravar, porque junto vem a sujeira, as drogas, os desentendimentos e até os homicídios, comprometendo a nossa qualidade de vida e a fama negativa perante o Brasil e o mundo”, afirma o autor.
Em outro trecho, a preocupação com a “vocação pelo turismo” do bairro é lembrada. “Mas não é este tipo de turistas [moradores de rua] que precisamos e queremos, nem na baixa temporada, nem na temporada de verão”. Para encerrar, o autor exalta a cobertura por parte da imprensa. “Até a grande mídia tem noticiado o “descarte” de seres humanos, ditos mendigos, aqui em Canasvieiras.”
“Importação”
Sites de notícias locais, como o Tudo Sobre Floripa, noticiam uma “suposta importação de  mendigos”. “Segundo o secretario Alessandro Balbi Abreu, a denúncia partiu de um morador do local. Ele contou que a prefeitura deBalneário Camboriú, no litoral Norte, teria despejado mendigos daquela cidade em Canasvieiras”, diz a reportagem.
A Folha de S. Paulo afirma ter flagrado, durante a manifestação, um cartaz que reclamava da “importação” de pessoas em situação de rua, motivado pelas: “Balneário Camboriú, para de jogar mendigos na nossa praia (que vergonha)”.
O caso da “suposta importação” de ser alvo de uma “abordagem” do Ministério Público e da Polícia Militar para se descobrir a origem dessas pessoas em situação de rua. Em entrevista ao Tudo Sobre Floripa, o secretário municipal de Assistência Social de Florianópolis, Alessandro Balbi Abreu, demonstrou preocupação. “O problema é que eles não querem ser ajudados, porque essa época é muito rentável pra eles.”
Um novo protesto contra a a presença das pessoas em situação de rua na praia da Canasvieiras está marcado para a próxima quarta-feira (11).



Moradores de rua são alvo de protesto em Florianópolis: “Não precisamos de mendigos: Fora!”

Dicembre 9, 2013 16:43, by Unknown - 0no comments yet


Segurando cartazes como “Não precisamos de mendigos: Fora!”, moradores da região da praia da Canasvieiras, em Florianópolis, protestaram contra a presença de pessoas em situação de rua na cidade.
A praia é uma das preferidas de turistas argentinos, que costumam lotar os hotéis da região e o turismo é a principal preocupação dos “incomodados”. “Estamos tentando limpar a praia para a chegada do turista. Isso está queimando nossa imagem”, afirmou Luciana da Silva, uma das organizadoras do protesto, à Folha de S. Paulo.
A reportagem é de Igor Carvalho e publicada por Fórum, 08-12-2013.
No blogue SOS Canasvieiras, organizado por moradores da região, em um texto intitulado “Turismo Insustentável”, os insatisfeitos desfilam uma série de argumentos para que se expulse a população de rua da região. “Não podemos deixar esta situação se agravar, porque junto vem a sujeira, as drogas, os desentendimentos e até os homicídios, comprometendo a nossa qualidade de vida e a fama negativa perante o Brasil e o mundo”, afirma o autor.
Em outro trecho, a preocupação com a “vocação pelo turismo” do bairro é lembrada. “Mas não é este tipo de turistas [moradores de rua] que precisamos e queremos, nem na baixa temporada, nem na temporada de verão”. Para encerrar, o autor exalta a cobertura por parte da imprensa. “Até a grande mídia tem noticiado o “descarte” de seres humanos, ditos mendigos, aqui em Canasvieiras.”
“Importação”
Sites de notícias locais, como o Tudo Sobre Floripa, noticiam uma “suposta importação de  mendigos”. “Segundo o secretario Alessandro Balbi Abreu, a denúncia partiu de um morador do local. Ele contou que a prefeitura deBalneário Camboriú, no litoral Norte, teria despejado mendigos daquela cidade em Canasvieiras”, diz a reportagem.
A Folha de S. Paulo afirma ter flagrado, durante a manifestação, um cartaz que reclamava da “importação” de pessoas em situação de rua, motivado pelas: “Balneário Camboriú, para de jogar mendigos na nossa praia (que vergonha)”.
O caso da “suposta importação” de ser alvo de uma “abordagem” do Ministério Público e da Polícia Militar para se descobrir a origem dessas pessoas em situação de rua. Em entrevista ao Tudo Sobre Floripa, o secretário municipal de Assistência Social de Florianópolis, Alessandro Balbi Abreu, demonstrou preocupação. “O problema é que eles não querem ser ajudados, porque essa época é muito rentável pra eles.”
Um novo protesto contra a a presença das pessoas em situação de rua na praia da Canasvieiras está marcado para a próxima quarta-feira (11).



Moradores de rua são alvo de protesto em Florianópolis: “Não precisamos de mendigos: Fora!”

Dicembre 9, 2013 16:43, by Unknown - 0no comments yet


Segurando cartazes como “Não precisamos de mendigos: Fora!”, moradores da região da praia da Canasvieiras, em Florianópolis, protestaram contra a presença de pessoas em situação de rua na cidade.
A praia é uma das preferidas de turistas argentinos, que costumam lotar os hotéis da região e o turismo é a principal preocupação dos “incomodados”. “Estamos tentando limpar a praia para a chegada do turista. Isso está queimando nossa imagem”, afirmou Luciana da Silva, uma das organizadoras do protesto, à Folha de S. Paulo.
A reportagem é de Igor Carvalho e publicada por Fórum, 08-12-2013.
No blogue SOS Canasvieiras, organizado por moradores da região, em um texto intitulado “Turismo Insustentável”, os insatisfeitos desfilam uma série de argumentos para que se expulse a população de rua da região. “Não podemos deixar esta situação se agravar, porque junto vem a sujeira, as drogas, os desentendimentos e até os homicídios, comprometendo a nossa qualidade de vida e a fama negativa perante o Brasil e o mundo”, afirma o autor.
Em outro trecho, a preocupação com a “vocação pelo turismo” do bairro é lembrada. “Mas não é este tipo de turistas [moradores de rua] que precisamos e queremos, nem na baixa temporada, nem na temporada de verão”. Para encerrar, o autor exalta a cobertura por parte da imprensa. “Até a grande mídia tem noticiado o “descarte” de seres humanos, ditos mendigos, aqui em Canasvieiras.”
“Importação”
Sites de notícias locais, como o Tudo Sobre Floripa, noticiam uma “suposta importação de  mendigos”. “Segundo o secretario Alessandro Balbi Abreu, a denúncia partiu de um morador do local. Ele contou que a prefeitura deBalneário Camboriú, no litoral Norte, teria despejado mendigos daquela cidade em Canasvieiras”, diz a reportagem.
A Folha de S. Paulo afirma ter flagrado, durante a manifestação, um cartaz que reclamava da “importação” de pessoas em situação de rua, motivado pelas: “Balneário Camboriú, para de jogar mendigos na nossa praia (que vergonha)”.
O caso da “suposta importação” de ser alvo de uma “abordagem” do Ministério Público e da Polícia Militar para se descobrir a origem dessas pessoas em situação de rua. Em entrevista ao Tudo Sobre Floripa, o secretário municipal de Assistência Social de Florianópolis, Alessandro Balbi Abreu, demonstrou preocupação. “O problema é que eles não querem ser ajudados, porque essa época é muito rentável pra eles.”
Um novo protesto contra a a presença das pessoas em situação de rua na praia da Canasvieiras está marcado para a próxima quarta-feira (11).



Moradores de rua são alvo de protesto em Florianópolis: “Não precisamos de mendigos: Fora!”

Dicembre 9, 2013 16:43, by Unknown - 0no comments yet


Segurando cartazes como “Não precisamos de mendigos: Fora!”, moradores da região da praia da Canasvieiras, em Florianópolis, protestaram contra a presença de pessoas em situação de rua na cidade.
A praia é uma das preferidas de turistas argentinos, que costumam lotar os hotéis da região e o turismo é a principal preocupação dos “incomodados”. “Estamos tentando limpar a praia para a chegada do turista. Isso está queimando nossa imagem”, afirmou Luciana da Silva, uma das organizadoras do protesto, à Folha de S. Paulo.
A reportagem é de Igor Carvalho e publicada por Fórum, 08-12-2013.
No blogue SOS Canasvieiras, organizado por moradores da região, em um texto intitulado “Turismo Insustentável”, os insatisfeitos desfilam uma série de argumentos para que se expulse a população de rua da região. “Não podemos deixar esta situação se agravar, porque junto vem a sujeira, as drogas, os desentendimentos e até os homicídios, comprometendo a nossa qualidade de vida e a fama negativa perante o Brasil e o mundo”, afirma o autor.
Em outro trecho, a preocupação com a “vocação pelo turismo” do bairro é lembrada. “Mas não é este tipo de turistas [moradores de rua] que precisamos e queremos, nem na baixa temporada, nem na temporada de verão”. Para encerrar, o autor exalta a cobertura por parte da imprensa. “Até a grande mídia tem noticiado o “descarte” de seres humanos, ditos mendigos, aqui em Canasvieiras.”
“Importação”
Sites de notícias locais, como o Tudo Sobre Floripa, noticiam uma “suposta importação de  mendigos”. “Segundo o secretario Alessandro Balbi Abreu, a denúncia partiu de um morador do local. Ele contou que a prefeitura deBalneário Camboriú, no litoral Norte, teria despejado mendigos daquela cidade em Canasvieiras”, diz a reportagem.
A Folha de S. Paulo afirma ter flagrado, durante a manifestação, um cartaz que reclamava da “importação” de pessoas em situação de rua, motivado pelas: “Balneário Camboriú, para de jogar mendigos na nossa praia (que vergonha)”.
O caso da “suposta importação” de ser alvo de uma “abordagem” do Ministério Público e da Polícia Militar para se descobrir a origem dessas pessoas em situação de rua. Em entrevista ao Tudo Sobre Floripa, o secretário municipal de Assistência Social de Florianópolis, Alessandro Balbi Abreu, demonstrou preocupação. “O problema é que eles não querem ser ajudados, porque essa época é muito rentável pra eles.”
Um novo protesto contra a a presença das pessoas em situação de rua na praia da Canasvieiras está marcado para a próxima quarta-feira (11).



Sistema carcerário. 'É o caos'

Dicembre 9, 2013 16:39, by Unknown - 0no comments yet


Na esteira das prisões do mensalão, o ministro Gilmar Mendes (STF) diz que já é hora de discutir de maneira franca um sistema carcerário em que homens amontoados fazem até as necessidades uns sobre os outros 
A prisão de condenados do mensalão deu relevância a um tema que pouco mobiliza o país: as péssimas condições dos presídios brasileiros.

A reportagem é de Mônica Bergamo e publicada pelo jornal Folha de S. Paulo, 08-12-2013.
Na semana passada, a coluna conversou com o ministro Gilmar Mendes, do STF (Supremo Tribunal Federal), sobre o assunto. Quando ocupou a presidência da corte, ele visitou presídios em todos os Estados do país e chegou a soltar 22 mil pessoas que já tinham cumprido suas penas e mofavam no cárcere.
Eis a entrevista.
O ex-deputado José Genoino, recém-operado do coração, bebeu água de torneira na Papuda, presídio que não tem sequer plantão médico. É um lugar destruidor e parece compreensível a preocupação da família dele.
É claro. É claro. Nós deveríamos discutir essa questão de uma maneira muito aberta e franca para superarmos realmente esse quadro caótico que é o das prisões. Não faz sentido que, num país como o Brasil, nós tenhamos presídios sem as mínimas condições para um tratamento digno das pessoas. Deveríamos chamar a atenção para a responsabilidade de todos os setores.
Quais?
Do governo federal, via Ministério da Justiça, que tem um fundo significativo para a melhoria das condições penitenciárias. Das secretarias estaduais de Justiça. Do Ministério Público, que deveria fiscalizar os presídios. Do Judiciário. É uma cadeia de responsabilidades que não cumpre a sua função.
Quando presidiu o STF (Supremo Tribunal Federal) e o CNJ (Conselho Nacional de Justiça), em 2008, o senhor organizou mutirões carcerários e visitou presídios em todo o país. O que encontrou?
Um quadro de desmando completo, de abandono, de pessoas amontoadas. O preso está mal, com problema de saúde, ele é colocado fora da grade, mas deitado no chão. No presídio de Pedrinhas, no Maranhão, encontramos um sujeito com o ventre aberto. No Espírito Santo, presos estavam num contêiner. Os de cima faziam necessidades nos que estavam embaixo.
E todos sabem que é assim.
A relação de pouco caso da sociedade com o sistema [carcerário] se traduz na relação do poder público com ele. Se faltam recursos, os primeiros cortes são nessa área. É um quadro de abandono.
E a pressão social é zero.
Não há nenhuma crítica da sociedade. Não há nenhum partido que verbalize isso. Certa vez me perguntaram por que o STF só cuidava de réus ricos. Não. O tribunal cuida de réus ricos e de pobres. Mas a imprensa só se interessa pelos ricos.
Parcela da população acha que criminosos não merecem qualquer consideração.
O preso só perdeu a liberdade, nada mais. A legislação não permite outras sanções. Por outro lado, essas más condições dos presídios representam uma ameaça à segurança pública. A omissão do Estado é suprida por organizações criminosas. Os privilégios são dados não pelo sistema estatal, mas pelo sistema informal que se organiza no presídio.
O banqueiro Edemar Cid Ferreira, ao contar a sua experiência quando foi preso, disse que os detentos só pensam em uma coisa: que a mulher e a filha estão se prostituindo para se sustentar. No desespero, encontram amparo nas organizações criminosas.
Sem dúvida nenhuma. A falta de cuidados do Estado faz com que a atividade supletiva [aos presos] seja dada pelas organizações. Elas passam a prestar um serviço que deveria ser do Estado, das ONGs, dos segmentos da comunidade. Oferecem advogados, assistência à família do preso. E se fortalecem.
O preso, no desamparo...
[interrompendo] Ele aceita qualquer oferta. Por isso é preciso realmente discutir esse tema com seriedade. Não é só um problema de direitos humanos. É uma questão séria de segurança pública. 
E ninguém se importa.
Aparentemente há um certo desleixo, uma certa desídia. Nós já nos acostumamos com essa situação. Esse é um quadro que nos envergonha.
O que mais os mutirões carcerários revelaram?
Em cerca de um ano, detectamos algo como 22 mil presos há três, quatro, sete anos, sem inquérito concluído. NoCeará, encontramos uma pessoa presa há 14 anos sem julgamento. Há aqueles que já cumpriram a pena e estão esquecidos nos presídios. 
E que explicação o juiz dá?
Sempre se diz que é um problema de falta de infraestrutura. Terceiriza-se a responsabilidade. Mas hoje nós não podemos dizer que os juízes não têm responsabilidade sobre o caos do sistema prisional. No CNJ, verifiquei que nós tínhamos juízes da execução penal que nunca tinham visitado um presídio.
Mas é a obrigação deles.
Talvez isso seja a concretização dessa pré-compreensão negativa que a própria sociedade tem em relação aos presídios. Isso talvez contamine a ideologia e a percepção do próprio juiz.
Ou seja, "dane-se".
Pois é. E, por outro lado, as corregedorias não exigem [dos juízes], o Ministério Público não cumpre a sua função, que é a de fiscalizar as condições dos presídios. Por isso o CNJ editou várias resoluções determinando que se fizessem verificações sucessivas das prisões provisórias. No patamar tecnológico que nós atingimos, temos condições de saber tudo o que acontece no sistema prisional. O próprio CNJ teria condições de monitorar isso.
E os advogados?
OAB não tem nenhum interesse sobre isso. Aliás, os setores de direitos humanos em geral. Eles quase sempre focalizam o quê? É o preso político, é o caso [do italiano Cesare] Battisti. Mas eles não se interessam pelos presos comuns. Esse desprezo da sociedade para com a comunidade de presidiários contamina todos os segmentos.
E os defensores públicos?
Não há defensores suficientes para a demanda.
Fortalecer as defensorias não poderia ser uma solução?
Elas são órgãos estaduais. E hoje existe toda uma disputa corporativa. Os defensores querem equiparação [salarial com juízes e promotores]. Os governadores [que arcam com os custos] veem esse quadro com desconfiança. Isso [a obrigação de se criar defensorias] está na Constituição de 1988 de forma muito clara. Passados 25 anos, nós ainda não temos um modelo estruturado. Há Estados grandes que têm 20 defensores. Nós temos hoje 70 mil presos em delegacias, o que é ilegal. E não temos advogados para viabilizar esse debate.
O país estaria precisando de um "Mais Advogados"?
Talvez você não precise contratar advogados. Há um campo interessante para um experimentalismo institucional. Poderíamos pensar num serviço civil obrigatório para todo jovem egresso das faculdades de direito das universidades públicas. Eles ficariam um ano fazendo estágio no sistema prisional. Conheceriam a realidade do Brasil! E prestariam um serviço relevante ao país. Veja, nós temos hoje um número enorme de bacharéis em direito. Se tivéssemos um advogado em cada presídio ou delegacia, é óbvio que teríamos um outro quadro em termos de direitos humanos. Certamente, nas delegacias, neste momento em que conversamos, estão ocorrendo torturas.
E por que a ideia não vinga?
Porque nós temos um quadro corporativo no país. A OAB defende os advogados privados. A Defensoria Pública entende que não deve atuar com voluntários. Eu até já brinquei: não se preocupem, há pobres para todos.
Há também a questão dos ex-detentos.
No Brasil se diz que nós temos um dos maiores índices de reincidência do mundo, de 70%. E por quê? Porque ninguém cuida. O único programa institucionalizado, e ainda assim hoje tocado sem muito entusiasmo, é o Começar de Novo, do CNJ. É preciso intensificar. Porque aqui está o controle da criminalidade. Se a pessoa consegue se ressocializar, obviamente você quebra o ciclo de envolvimento dela com o crime. De novo: não é só uma questão de direitos humanos. O problema é que segurança pública, hoje, virou apenas aparato policial. 
Lugar de bandido é na cadeia.

A mensagem, em geral, é a do endurecimento. Nada contra. Mas isso dá uma ilusão de ótica para a sociedade. Não é a resposta adequada a todas as mazelas. O sistema de segurança pública é mais complexo. Não basta colocar o sujeito no presídio. Ele pode ser solto no momento seguinte, porque o juiz não deliberou e houve excesso de prazo, por exemplo. E aí, na comunidade, a repercussão negativa é enorme. A justiça criminal envolve o Ministério Público, a Defensoria Pública, o sistema prisional, a polícia. É por isso que eu digo: nós temos que olhar as árvores e a floresta. O sistema é de uma disfuncionalidade completa. É preciso um freio de arrumação, uma "concertación", um grande mutirão institucional nessa área. Nós temos aqui também o retrato do Brasil: é o caos, graças à má gestão.
O Estado é o caos na hora em que vai fazer Justiça.
Com certeza. A grande prioridade hoje em matéria de continuidade da reforma do Judiciário deveria ser a justiça criminal, como um tema de direitos humanos e de segurança pública. Quantos inquéritos ficam sem conclusão no país? Em Alagoas, encontramos 4.000 homicídios sem sequer inquérito aberto. 
A Justiça é injusta.
De todo lado nós temos injustiça aqui.



As ruas em movimento e a democracia direta.

Dicembre 9, 2013 16:38, by Unknown - 0no comments yet

Entrevista especial com Bruno Lima Rocha

"Hoje precisamos de uma cultura política que desconstrua lideranças carismáticas e devote ao coletivo e ao indivíduo associado, organizado em grupos de interesse ou de ideias, o protagonismo da política", afirma o jornalista e cientista político.
“Precisamos de modelos democráticos nos quais o tempo social seja compartilhado também com a participação política, além do lazer (ócio criativo), do descanso e do processo produtivo. Isso só se assegura com a democracia de tipo direto, participativo, deliberando em coletivo e formando politicamente uma ampla parcela da população. A democracia representativa está superada porque a figura do tribuno como alguém acima, e não a serviço de quem o elegeu, é algo próximo do absurdo. Hoje precisamos de uma cultura política que desconstrua lideranças carismáticas e devote ao coletivo e ao indivíduo associado, organizado em grupos de interesse ou de ideias, o protagonismo da política.” A análise é do professor Bruno Lima Rocha, que concedeu entrevista por e-mail à IHU On-Line.

De acordo com ele, vivemos hoje uma crise de representação, marcada pela ausência de instrumentos de democracia direta e por uma prática política voltada à governabilidade — portanto, caracterizada pelo barramento das mobilizações sociais. “É preocupante imaginar que as únicas esquerdas válidas para o Estado brasileiro venham a ser as agrupações eleitorais de todo tipo, as que reforçam o modelo de intermediação, o partido de tipo burguês, ou quando muito uma vanguarda autoconvocada que insiste na ‘tática’ eleitoral.
O conceito dos Black Blocs é — por sua natureza — pulverizado, e os governos de turno estão reprimindo uma nova cultura política, apenas isso. Temos de pensar na violência sistemática da repressão de uma polícia militarizada e que encara a população como sendo um alvo e suspeito permanente. No Brasil, a segurança é patrimonial e voltada contra a pobreza. A revolta das ruas é decorrente desta percepção, e não o contrário”, destaca.


Bruno Lima Rocha é cientista político, com mestrado e doutorado pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul – UFRGS, e jornalista graduado pela Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ. É professor de Relações Internacionais na ESPM-Sul e de Comunicação Social – Jornalismo na Unisinos.




Confira a entrevista.
IHU On-Line - Qual foi a contribuição dos protestos pela redução do preço das passagens ocorridos no início de 2013 em Porto Alegre para as manifestações que eclodiram pelo país em junho?
Bruno Lima Rocha - Total. Se não houvesse os protestos, aliás, organizados todos os anos a partir do verão de 2005, as passagens urbanas em Porto Alegre não teriam sofrido a redução. Assim, podemos analisar uma situação clássica. O protesto social levou a um impasse político, considerando que a Justiça se viu obrigada a intervir, “emparedando” o prefeito José Fortunatti (PDT). Repito, se não fosse a mobilização convocada pelo Bloco de Lutas e o empenho das forças político-sociais que o compõem, nada haveria acontecido. Lembro-me de haver escutado nas maiores emissoras de rádio do estado declarações tanto do prefeito como do vice (Sebastião Melo, PMDB) afirmando que o aumento era inexorável. Ou seja, o Poder Executivo da capital não retrocederia mesmo tendo a maior parte dos votos no conselho que executa ou refuta os aumentos. Uma vez que houve esta vitória pontual, como se diz na política, “abriu a porteira”, criou-se um precedente, levando o exemplo para São Paulo e Rio. Uma vez que o início dos protestos organizados pelo Movimento Passe Livre (MPL-SP)  sofreu uma brutal repressão da Polícia Militar naAvenida Paulista — sendo que o governo de Geraldo Alckmin (PSDB) comanda a PM e a causa tinha como alvo o aumento aprovado pelo [prefeito paulistano e] ex-ministro da Educação Fernando Haddad (PT) —, percebeu-se a unidade política para conter as forças sociais e políticas (à esquerda da tal da governabilidade). O resultado, com o advento dos atos no Rio — sendo que tanto o governo fluminense como o carioca também são alvos de investigação e escândalos de grande envergadura —, foi a nacionalização das manifestações e sua decorrente radicalização.
IHU On-Line - A partir desta pressão popular e de um pedido de liminar protocolado pelo PSOL, o juiz Hilbert Maximiliano Obara, da 5ª Vara Judicial da Fazenda Pública, suspendeu em abril o reajuste das tarifas alegando "fortes indícios" de aumento abusivo. A decisão do magistrado tem mérito individual ou é um indicativo de que a voz das ruas está pressionando o imobilismo estatal?
Bruno Lima Rocha - Mérito coletivo. Eu sempre afirmei que considerava “menos utópico” querer estabelecer outra forma de vida em sociedade, querer uma revolução social ou transformação radical e profunda, do que reformar o sistema capitalista com idealismo de tipo liberal radical ou jacobino. É certo que o juiz procedeu de forma correta, mas sem a pressão popular e a falta da legitimidade do aumento — reforçada com as suspeitas sobre a nota técnica do ano anterior — e a recusa das concessionárias em abrirem suas planilhas, deram-se as condições técnicas para a execução de algo que já havia sido ganho na rua. Uma ação de estilo jacobino — aliás, corretíssima — como a das operações federais a respeito de supostos crimes contra o Estado e o mercado financeiro, levadas a cabo pelo ex-delegado federal Protógenes Queiroz (hoje deputado federal pelo PCdoB/SP) e com o aval do juiz Fausto de Sanctis, resultou numa reversão de expectativas e na punição dos operadores policiais e jurídicos. Quando o que está em jogo é o interesse popular, só as ruas decidem, e, por vezes, o Poder Judiciário pode acompanhar ou o Poder Executivo vir a reverter uma decisão já tomada em função do ônus político daí decorrente.
IHU On-Line - As manifestações de junho também foram precedidas pelos protestos durante a Copa das Confederações — no jogo de abertura, em Brasília, e nas partidas seguintes do Brasil. Estes protestos pediam menos recursos para os megaeventos e mais recursos para a saúde e a educação. Como eles contribuíram para as manifestações seguintes, organizadas principalmente pelo Movimento Passe Livre?
Bruno Lima Rocha - Esta parte da jornada de protestos é muito interessante. Os Comitês Populares da Copa iniciaram ainda em 2010 e eram coordenações de entidades de base e ativistas remando contra a maré do ufanismo advindo da escolha do país como sede do evento da FIFA em 2014 e do COI [Comitê Olímpico Internacional] em 2016. Mas, a partir do mau exemplo e das más consequências da Copa do Mundo da África do Sul para a população mais pobre do país — estive lá em um congresso em julho de 2012 e constatei os efeitos, além de ter contato com vasta literatura a este respeito —, somado ao aumento da navegação por internet, fazendo com que as minorias organizadas tivessem uma base de recepção, opinando a respeito do tema para além da “futebolização” cotidiana, vimos algo inimaginável no país.
Nunca se imaginou um movimento de multidões protestando contra a realização de um evento esportivo no Brasil, menos ainda um evento teste para a Copa do Mundo. Isto representa um câmbio na cultura política do país, encerrando a estampa de que vivemos de “pão e circo” ou então do “futebol como ópio do povo”. É interessante observar que tais manifestações não eram contra o esporte como cultura de massas, mas julgavam — e seguem julgando — inapropriadas as exigências da FIFA e os gastos decorrentes.
Os protestos e a questão da Copa no Brasil foram reforçados pelo evento do Pan-americano do Rio, em 2007, quando o orçamento estourou, as obras não foram bem feitas (vide a cobertura do estádio do Engenhão) e houve uma explosão de violência policial na cidade do Rio e em sua área metropolitana (conhecida como Rio Body Count). Ah, não podemos nos esquecer da tentativa de demolição do conjunto arquitetônico do Maracanã (Estádio Célio de Barros, Parque Aquático Júlio Delamarque, Aldeia Maracanã), cuja resistência ganhou visibilidade e expôs relações pouco ou nada ortodoxas entre o Poder Executivo do Rio e os grupos interessados na gerência da obra após sua privatização. Mudou a pauta do país, e isso é uma vitória do movimento popular e mérito dos pioneiros que organizaram os Comitês Populares da Copa.
IHU On-Line - Este conjunto de manifestações tem alguma relação com os protestos realizados em outubro em São Paulo e no Rio de Janeiro, marcados pela violência?
Bruno Lima Rocha - Sim, tem sim. Observe-se que, no Rio, a luta se qualifica com a junção do Sindicato Estadual dos Profissionais em Educação (SEPE) e os manifestantes de junho. O aumento da violência policial eleva a capacidade de resposta da utilização da tática conhecida como “Black Bloc”. Já em São Paulo, os protestos mais populares têm o perfil típico da revolta das periferias ou então dos movimentos em defesa da moradia. Não posso esconder o fato de que, por vezes, são convocados protestos de forma desvinculada da luta popular mais cotidiana (como a dos trabalhadores em educação), mas, se tomarmos o Rio como epicentro da continuidade após julho, a situação lá se assemelha ao narrado no filme Tropa de Elite 2
Há uma percepção de conluio e corrupção endêmica entre o poder político e o agente econômico (como no episódio lamentável do Papódromo, conhecido também como Piscinão de Guaratiba), e esta ideia atravessa os protestos, assim como a CPI [Comissão Parlamentar de Inquérito] na Câmara de Vereadores [do Rio de Janeiro] a respeito dos concessionários de linhas de ônibus. A violência no Rio explode também em função da desaparição forçada do pedreiro Amarildo e do agendamento desta luta. A palavra de ordem “a polícia que reprime na avenida é a mesma que mata na favela” unifica setores importantes e gera uma identidade comum.
IHU On-Line - Dentro desta perspectiva, é possível apontar para onde a democracia representativa irá nos levar?
Bruno Lima Rocha - Para onde já estamos. Uma crise de representação, a ausência de mecanismos de tipo democracia direta — por isso a tragédia da ausência dos elementos de democracia eletrônica de forma plebiscitária que constavam no relatório original da reforma política — e o reforço da lógica do descolamento do representante para os supostos representados. Infelizmente, no jogo real, assume-se a máxima que “voto é marketing, o resto é política”. A democracia representativa gera o pacto pela tal da governabilidade e necessita do estancamento das mobilizações populares.
IHU On-Line - E a violência poderá nos levar para onde?
Bruno Lima Rocha - A violência policial elevou o nível de protesto no Brasil e isso pode implicar uma escalada repressiva e de perseguição política como a que já estamos vivendo em forma inicial aqui no Rio Grande do Sul e noRio de Janeiro. É preocupante imaginar que as únicas esquerdas válidas para o Estado brasileiro venham a ser as agrupações eleitorais de todo tipo, as que reforçam o modelo de intermediação, o partido de tipo burguês, ou quando muito uma vanguarda autoconvocada que insiste na “tática” eleitoral. O conceito dos Black Blocs é — por sua natureza — pulverizado, e os governos de turno estão reprimindo uma nova cultura política, apenas isso. Temos de pensar na violência sistemática da repressão de uma polícia militarizada e que encara a população como sendo um alvo e suspeito permanente. No Brasil, a segurança é patrimonial e voltada contra a pobreza. A revolta das ruas é decorrente desta percepção, e não o contrário.
IHU On-Line - A democracia representativa está superada?
Bruno Lima Rocha - Sim e não. Não está porque é um instrumento considerado válido pela maior parte das forças políticas. E sim porque esta democracia não garante o mando do povo (demo + cratos) como nos explicam os radicais gregos do termo. Precisamos de modelos democráticos nos quais o tempo social seja compartilhado também com a participação política, além do lazer (ócio criativo), do descanso e do processo produtivo. Isso só se assegura com a democracia de tipo direto, participativo, deliberando em coletivo e formando politicamente uma ampla parcela da população. A democracia representativa está superada porque a figura do tribuno como alguém acima, e não a serviço de quem o elegeu, é algo próximo do absurdo. Hoje precisamos de uma cultura política que desconstrua lideranças carismáticas e devote ao coletivo e ao indivíduo associado, organizado em grupos de interesse ou de ideias, o protagonismo da política.
IHU On-Line - É possível conceber um modelo de organização política democrática sem a presença de partidos?
Bruno Lima Rocha - Sem partidos de tipo burguês, de tipo intermediário, sim. Sem vanguardas autoeleitas e autoimbuídas da liderança da classe ou qualquer outra sensação semelhante de “destino histórico”, também. Sem minorias organizadas, ideológica e politicamente organizadas, não. Precisamos de organizações políticas não eleitorais para que a população entenda que a política pode estar a serviço das maiorias, trabalhar para organizar o tecido social e não tomar proveito de suas expressões sociais.
IHU On-Line - Qual é a contribuição do anarquismo para as manifestações de junho e de outubro?
Bruno Lima Rocha - São dois temas distintos. Já afirmei em outras ocasiões que o anarquismo organizado, o anarquismo que se manifesta através da Coordenação Anarquista Brasileira (CAB), é diretamente responsável pela existência mesma das manifestações. Não se trata de hegemonia, mas de influência, de participação direta, de trabalho de base de no mínimo uma década, de haver insistido na rearticulação do tecido social mesmo durante o “co-governo” atual (Lula e Dilma). Esta é a contribuição do anarquismo conhecido como de linha especifista, ou organicista, ou organizado politicamente.
Já o emprego da tática conhecida como Black Bloc não passa pelas federações ou coletivos filiados na CAB, mas sofre influência da transmissão de símbolos advindos da chamada autonomia europeia, que depois deriva para os protestos antiglobalização (como Seattle 1999  e Gênova 2001) e assume o emprego atual. As denúncias da violência cotidiana são parte constitutiva do pensamento anarquista desde sua estruturação na ala federalista da 1ª Associação Internacional dos Trabalhadores (AIT, 1864-1871), quando o pensamento político que entende a liberdade individual e coletiva como confluentes com a justiça social e a igualdade de direitos se expressa por dentro das lutas operárias e populares da época. Como o anarquismo também é a expressão ideológica do antimilitarismo, este conjunto de ideias fornece os elementos para expressar estas denúncias.
IHU On-Line - Como se manifestam as violências praticadas pelo Estado e pela organização do capital no cotidiano?
Bruno Lima Rocha - Creio que parte desta pergunta eu respondi antes. Mas posso reforçar que o modelo pós-fordista, que nos obriga a trabalhar, estar conectados, estudar em turnos extras e fazer cursos de formação infindáveis, acaba operando como elemento de violência, sujeitando os sentidos, uma versão cibernética do queFoucault conceitua como a subordinação dos corpos para o mundo do trabalho — ou para a ação militar. As violências do Estado no cotidiano são visíveis, e por isso mesmo os brasileiros têm uma péssima apreciação das polícias visíveis. Já o mundo do trabalho nos força a pensar de forma individual, nos atomiza, nos fragmenta, gera a “individuação”, fruto da fragmentação social. Eu diria que a violência do modelo pós-fordista é mais constrangedora do que a violência física da repressão policial ou das formações paralelas, como as redes de narcotráfico ou os para-policiais (a exemplo das milícias no Rio).
IHU On-Line - Gostaria de comentar algum ponto adicional?
Bruno Lima Rocha - Entendo que o debate a respeito da soberania popular e do destino coletivo está seriamente ameaçado pela crescente criminalização dos protestos sociais no Brasil. É preciso atenção sobre o tema e um posicionamento político. 2014 não será um ano tranquilo para o país, em todos os sentidos.



Nunca nos arrependeremos:

Dicembre 9, 2013 9:13, by Unknown - 0no comments yet



De ceder em questões sem valor essencial;

De guardar paciência em quaisquer lances difíceis;

De usar indulgência para com as faltas do próximo, 

entendendo que todos temos erros a corrigir;

De ouvir atenciosamente, seja a quem for;

De reconhecer que o nosso pensamento ou cultura tem as suas limitações;

De observar que o nosso tipo de felicidade nem sempre é o tipo de felicidade das pessoas que amamos, competindo-nos, por isso, acatá-las como são, assim como desejamos ser respeitados como somos;

De admitir que os outros não são obrigados a pensar com a nossa cabeça;

De não agir contra a própria consciência, seja antes, durante ou depois das experiências que consideramos menos felizes;

De entregar à bondade de Deus as aflições e problemas que estejam fora da nossa capacidade de solução;

De servir sempre.

(Do livro “Encontro de Paz” – Espírito Albino Teixeira – Médium Chico Xavier)



LOBÃO QUER LULA NA COMISSÃO DA VERDADE

Dicembre 9, 2013 7:15, by Unknown - 0no comments yet


:
Cantor carioca, que tem se notabilizado por críticas ácidas ao PT, está divulgando pela internet um abaixo-assinado em que cobra a inclusão do ex-presidente Lula como um dos interrogados pela Comissão da Verdade; o motivo é o livro do delegado Romeu Tuma Júnior, que acusa o ex-presidente de ter sido "informante da ditadura"; há poucos dias, no Roda Viva, Lobão agrediu a presidente Dilma, a quem chamou de "inapta" e "estúpida"; Lobão tem feito de tudo para ocupar uma posição de destaque na galeria dos neoconservadores brasileiros
247 – O polêmico Lobão, colunista ultraconservador de Veja, que na semana passada foi muito agressivo em críticas à presidente Dilma Rousseff (PT) durante entrevista no programa “Roda Viva”, está agora promovendo um abaixo-assinado na internet que pede a inclusão do nome do ex-presidente Lula como testemunha a ser ouvida na Comissão da Verdade.
O argumento utilizado pelo abaixo-assinado é a matéria da revista Veja que anuncia a chegada de um "livro bomba", assinado pelo delegado Romeu Tuma Júnior (defenestrado da Secretaria Nacional de Justiça em 2010, quando seu nome foi vinculado à máfia de contrabandistas chineses), mas escrito pelo jornalista Claudio Julio Tognolli, que também atuou em "50 anos a mil", do cantor e compositor Lobão. Trata-se de "Assassinato de reputações - um crime de Estado". Tuma Júnior diz que Lula foi "informante da ditadura". "Eu e o Lula vivemos juntos esse momento. Ninguém me contou. Eu vi o Lula dormir na sala do meu pai. Presenciei tudo", diz o delegado.
O texto do abaixo-assinado: “Excelentíssima Sra.Ministra Maria do Rosário, Em função das graves denúncias publicadas pela Revista Veja que dão conta da atuação do Senhor Luís Inácio Lula da Silva como informante do Departamento de Ordem Política e Social (DOPS) durante o período do Regime Militar, nós, cidadãos brasileiros, solicitamos à vossa excelência a inclusão de seu nome como testemunha a ser ouvida pela Comissão Nacional da Verdade a fim de que fique claro qual foi sua atuação naquela época tão polêmica da nossa história política”.
Lobão já assinou o documento pela internet e enviou por email o link dele pedindo o apoio das pessoas. “Concordo com este abaixo-assinado e cumpro com o dever de o fazer chegar ao maior número de pessoas”, diz no email. Pelo Twitter, o cantor também está divulgando a petição. Até o momento (15h deste domingo), a adesão tem sido pequena. Cerca de 300 pessoas assinaram o documento (disponível neste link).
Lobão, que afirmou recentemente que ele e o jornalista Reinaldo Azevedo (da Veja.com e Folha) são os verdadeiros críticos do Brasil, disse no programa Roda Viva que a presidente Dilma é completamente inapta e estúpida. Ele é também autor do Manifesto do Nada na Terra do Nunca, no qual critica o governo do PT e a figura do intelectual de esquerda. Pelo que tem dito e escrito, o cantor carioca vai se tornando uma figura quase folclórica que escreve e fala aquilo que os adversários do PT e da esquerda querem ouvir.



Livro de Tuminha tira esqueletos do armário, diz senador

Dicembre 9, 2013 6:37, by Unknown - 0no comments yet

Romeu Tuma Júnior – o mais novo herói do PSDB – aposentou-se a toque-de-caixa ( impetrando Mandado de Segurança ) para fugir de demissão a bem do serviço público por usar seu prestígio para aprovar namorado da filha em concurso público



Edição de 'Assassinato de Reputações - Um Crime de Estado' promete colocar o dedo em feridas ainda abertas no PT



Celia Froufe - Agência Estado


O livro do ex-secretário nacional de Justiça Romeu Tuma Júnior ainda nem foi lançado e já começa a movimentar Brasília a partir de amanhã, 09. A edição de "Assassinato de Reputações - Um Crime de Estado", que deve chegar às livrarias esta semana, promete colocar o dedo em feridas ainda abertas no Partido dos Trabalhadores (PT), como o caso da morte do prefeito de Santo André (SP) Celso Daniel, criação de dossiês e o Mensalão, entre outros. O PSDB promete convidar o autor para dar mais detalhes sobre as denúncias no Congresso.
"É importante aprofundar questão colocadas por Tuma Júnior no livro. Ele retirou do armário alguns esqueletos que ainda não foram totalmente retirados", disse o senador Álvaro Dias (PSDB-PR). Denúncias como a confecção de "falsos" ou "esquentados" dossiês contra adversários políticos do governo, conforme o parlamentar, são mais conhecidas, mas é preciso ouvir diretamente do policial que fez parte do governo informações sobre Mensalão e o episódio de Santo André, citado por Dias como um "crime insolúvel".
O ideal, de acordo com o tucano, é que Tuminha, como é conhecido, faça um depoimento oficial na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado. "É preciso ver se ele tem documentos que possam dar credibilidade às denúncias. Ele é um policial experiente, não faria isso (denunciar) sem ter algum material (que comprove as acusações)", considerou. Essa participação de Tuma Júnior no Congresso pode gerar como desdobramento a criação de inquéritos. "Ouvindo o Tuma oficialmente teremos subsídios para protocolar a denúncia na Procuradoria Geral da República (PGR) e instaurar inquéritos", disse.
Dias admitiu que a ação da oposição precisar ser rápida, afinal, o fim do ano está próximo. "No final do ano, não temos muito tempo. Temos que convidar primeiro o Tuma e depois ver as providências subsequentes", explicou, quando questionado sobre se o atual ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, também poderia ser chamado a prestar depoimentos. "É impossível fazer isso na pauta na virada do ano, temos que agir rápido agora para criar um fato oficial, que não fique apenas como revelações fantásticas, mas que adotem providências oficiais."
A promessa de ação do PSDB surgiu após entrevista concedida por Tuminha à revista Veja neste final de semana. Segundo ele, o PT tinha uma "fábrica de dossiês". O líder do PSDB na Câmara, Carlos Sampaio (SP), chamou a entrevista do ex-secretário de "esclarecedora e estarrecedora" por meio de nota. Ele vai requerer no início da semana à Comissão de Segurança Pública e Combate ao Crime Organizado da Câmara a realização de audiência pública com a presença de Tuma Júnior para esclarecer as denúncias.
"O ex-secretário Tuma Júnior, que fez parte do alto escalão do governo Lula por três anos, confirmou tudo aquilo que sempre denunciamos: a fábrica de dossiês petista, o até hoje obscuro assassinato político do prefeito Celso Daniel e a existência de uma conta no exterior para onde foram enviados os recursos do Mensalão, entre outras afirmações graves ", disse Carlos Sampaio.
Até mesmo a investigação sobre o cartel do metrô em São Paulo, que o ministro Eduardo Cardozo negou ter sido fruto de exploração político-partidária, obedeceu ao modus operandi usual, segundo Sampaio. Ele disse esperar agora que Cardozo tenha a mesma agilidade e disposição apresentada no caso do metrô de São Paulo, que envolveria políticos tucanos, para investigar o conteúdo do livro que demonstrou em relação ao dossiê apócrifo vazado à imprensa.

PF mostra lobby de Tuma Jr. em favor de 'genro'

Ligações mostram que delegado ficou irritado quando soube que namorado da filha não foi aprovado em concurso para escrivão da Polícia Civil

06 de maio de 2010 | 0h 00
Rodrigo Rangel / BRASÍLIA - O Estado de S.Paulo
Novos diálogos interceptados pela Polícia Federal revelam detalhes de uma articulação do secretário nacional de Justiça, Romeu Tuma Júnior, para conseguir aprovar o genro em um concurso público para preenchimento de vagas de escrivão da Polícia Civil de São Paulo.
De acordo com as gravações, às quais o Estado teve acesso, antes mesmo da aplicação das provas, Tuma Júnior já havia feito chegar à Academia de Polícia de São Paulo, órgão encarregado de realizar os concursos da Polícia Civil, o heterodoxo pedido: queria, de todo modo, que o namorado da filha fosse aprovado.
As conversas mostram que Tuma Júnior ficou irritado quando soube que seu "futuro genro" havia ficado fora da lista de aprovados. É quando começa uma sucessão de telefonemas para tentar reverter o resultado. Do outro lado da linha, em todos os diálogos, estava o policial Paulo Guilherme Mello, o Guga, braço direito de Tuma Júnior no Ministério da Justiça.
Mello, um dos alvos da investigação da Polícia Federal, havia sido encarregado por Tuma Júnior para cuidar da "aprovação" do genro do secretário.
"Pedidos". O próprio secretário nacional de Justiça trata do assunto num dos telefonemas, em 19 de junho do ano passado. "Vê com aqueles cornos lá o que aconteceu lá, naquele rapaz lá, que cê foi falar aquela vez", ordenou a Mello.
Como o resultado já estava publicado, o próprio Tuma sugeriu que uma solução seria o genro apresentar um recurso - o que, em sua avaliação, poderia ajudar a reverter a reprovação. "Eu mandei ele fazer recurso", disse o secretário.
O assessor Mello relata as providências que adotara para atender ao pedido do chefe. "Eu falei com a pessoa que cê mandou eu falar (...) e aquele dia mesmo ele já ligou pra alguém, né, na minha frente." Tuma Júnior lamenta mais uma vez: "Que sacanagem, cara". Nas conversas, nem ele, nem seu assessor dizem o nome do genro do secretário.
Ao ouvir a cobrança do chefe, o assessor afirma que voltou à pessoa que havia procurado inicialmente para transmitir o pedido: "Eu falei inclusive hoje de novo com ele, com o moço lá, e ele... ele falou que ia falar com o cara." Por fim, Mello atalha: "Agora, se tem essa possibilidade do recurso, depois eu entro em contato com ele, já me dá uma cópia aí eu levo pra ele de novo."
A pessoa com quem Mello disse ter conversado, de acordo com os relatórios da Polícia Federal, é o delegado Antônio Carlos Bueno Torres, atualmente lotado no Denarc.
No contato, duas horas antes do diálogo com Tuma, Mello cobrou do delegado: "Escuta, você lembra que eu fui te visitar e o Leocádio (segundo a PF, Leocádio é como o assessor se refere a Tuma) pediu pra eu te passar o nome de uma pessoa?". "Positivo", responde Torres. "Então, ele chegou (...) de viagem hoje cedo e me cobrou isso aí, falou que não virou lá o negócio, né, e pediu pra ligar pra você pra perguntar o que aconteceu (...) Depois você liga pra ele lá, hein."
O delegado Torres de pronto lembra do pedido - "P., era do futuro genro dele" - e afirma ter repassado a demanda para um certo Adilson, que a PF ser o delegado Adilson Vieira Pinto, diretor da Academia de Polícia de São Paulo. "Pô, falei direto com o Adilson, que é o diretor lá. Eu vou tentar reconstituir aí", diz o delegado. "Então, ele vai te cobrar aí", afirma o assessor. O delegado promete empenho: "C..., eu vou correr atrás aí..."
OUTROS DIÁLOGOS INTERCEPTADOS
19 de junho de 2009
10h44min05s
Paulo Guilherme Mello, assessor de Romeu Tuma Jr., telefona para o delegado Antônio Carlos Bueno Torres para cobrar explicações. O delegado se mostra surpreso e diz ter levado o assunto a "Adilson, diretor de lá", que a PF identifica como Adilson Vieira Pinto, diretor da Academia de Polícia de SP.
Guilherme: Escuta, você lembra que eu fui te visitar e o Leocádio pediu pra eu te passar o nome de uma pessoa?
Antonio: Positivo.
Guilherme: Então, ele chegou aí da... da... da onde ele tava, de viagem hoje cedo e me cobrou isso aí, falou que não virou lá o negócio lá, né? E pediu pra ligar pra você pra perguntar o que aconteceu. Mas tudo bem, depois vê se você liga pra ele lá, hein?
Antonio: Puta, que era do futuro genro dele.
Guilherme: É isso mesmo. Falou que não virou.
Antonio: Pô, falei direto com o Adilson, que é o diretor lá. Eu vou tentar reconstituir aí.
Guilherme: Então, ele vai te cobrar aí. Eu sei, eu falei isso pra ele, que na minha frente você já, já fez uma... um trabalho, entendeu? No momento que eu tava aí. Mas tudo bem.
Antonio: Cacete, eu vou correr atrás aí.
Guilherme: Positivo. TKS, Antônio Carlos.
Antonio: Abraço.
19 de junho de 2009
12h57min24s
Tuma Jr., que se mostra irritado, pergunta a Guilherme a razão da não aprovação de seu genro e propõe uma solução para reparar o problema.
Guilherme: Doutor Romeu.
Romeu: Vê com aqueles cornos lá que que aconteceu lá naquele rapaz lá que cê foi falar aquela vez. Eu mandei ele fazer recurso.
Guilherme: Eu falei lá com a pessoa que cê mandou eu falar e naquele dia mesmo é... aquele dia mesmo ele já ligou pra alguém, né, na minha frente, então ele ficou meio surpreso até. Mas é isso aí.
Romeu: Que sacanagem, cara! Então tá, deixa eu falar: a Regiane acho que tava querendo falar com você, eu não lembro que que era. Não, acho que é negócio do passaporte lá, precisava te perguntar um negócio. Depois chama ela no rádio pra mim.
Guilherme: Positivo.
Guilherme: Viu, eu falei inclusive hoje de novo com ele, com o moço lá, e ele...ele falou que ia falar com o cara, agora se tem essa possibilidade do recurso depois você é...eu entro em contato com ele, já me dá uma cópia aí eu levo lá pra ele de novo.
Romeu: Positivo.



Sensação de insegurança assusta

Dicembre 9, 2013 6:34, by Unknown - 0no comments yet

O medo paralisa. Impede que a pessoa saia de casa e busque o que a cidade oferece. A estratégia do caranguejo, porém, nem sempre funciona. É o que acontece no Brasil. A Pesquisa Nacional de Vitimização, feita pelo Ministério da lustiça em parceria com a ONU, a Universidade Federal de Minas Gerais e o Datafolha, ouviu moradores de municípios com mais de 15 mil habitantes. De tão preocupante, o resultado não pode ser ignorado pelas autoridades. Exige respostas efetivas.

Não são poucas as vítimas de violência de norte a sul do país. Um em cada cinco brasileiros sentiu na pele a ação de bandidos. Os crimes variam. Vão de ofensas, discriminação e fraudes, passam por furtos, roubos e agressões, chegam a sequestros, estupros e acidentes de trânsito. Não só os diretamente atingidos sofrem as conseqüências da barbárie. Muitos antecipam a tragédia. A sensação de insegurança é tal que interfere na vida do cidadão.

Nada menos de 63,3% dos pesquisados acham que a criminalidade piorou nos últimos 12 meses. Evitam andar pelas ruas à noite. Para não correr risco, abrem mão do lazer e de atividades sociais. Quase 65% temem morrer assassinados. O índice é maior em três capitais. Teresina, no Piauí, atingiu o inacreditável percentual de 86,8% da população. Em outras palavras: de cada 100 moradores, 87 sentem medo. Belém, no Pará, vem logo abaixo, com 80,7%. João

Pessoa, na Paraíba, ficou com 80,6%.

Os crimes que mais assustam talvez expliquem a prosperidade da indústria da segurança. Ter a residência invadida ou roubada tira a paz de 71,9% dos cidadãos. Relacionado com a desprote-ção da casa, está o temor de 70,7% dos brasileiros de ter objetos de valor tomados à força, seja no lar, seja na rua. Câmeras, portões eletrônicos, cercas eletrificadas e blindagem de carros se tornaram itens quase obrigatórios no orçamento familiar.

Preocupante é o comportamento dos agredidos. Só 19,9% das vítimas registraram ocorrência. O fato, além de demonstrar pouca fé na ação da polícia, compromete as estatísticas. Subnotifi-cados, os dados oficiais mostram realidade falsa, que recebe resposta insuficiente — aquém das necessárias para frear ó avanço da violência cada vez mais desenvolto. A pesquisa ora divulgada traz informações valiosas que permitem traçar linhas de ação eficazes.

O governo só se mobiliza quando ocorre tragédia que ganha repercussão nacional. Aí, faz promessas e anuncia medidas. Passada a comoção, os projetos caem no esquecimento até que novo horror ocupe as manchetes. A brinca-deirinha de faz de conta cobra preço alto. A violência e a sensação de insegurança, além de comprometerem o exercício da cidadania, sobrecarregam a previdência e o equipamento hospitalar. Roubam vidas. Deixam escorrer pelo ralo 10% do PIB. Até quando?

Correio Braziliense

Visão do Correio



O LIVRO-BOMBA – Tuma Jr. revela os detalhes do estado policial petista.

Dicembre 8, 2013 14:27, by Unknown - 0no comments yet


Partido usa o governo para divulgar dossiês apócrifos e perseguir adversários. Caso dos trens em SP estava na lista. Ele tem documentos e quer falar no Congresso. Mais: diz que Lula foi informante da ditadura, e o contato era seu pai, então chefe do Dops

Romeu Tuma Júnior conta como funciona o estado policial petista
Romeu Tuma Junior conta como funciona o estado policial petista
O “estado policial petista” não é uma invenção de paranoicos, de antipetistas militantes, de reacionários que babam na gravata dos privilégios e que atuam contra os interesses do povo. Não! O “estado policial petista” reúne as características de todas as máquinas de perseguição e difamação do gênero: o grupo que está no poder se apropria dos aparelhos institucionais de investigação de crimes e de repressão ao malfeito — que, nas democracias, estão submetidos aos limites da lei — e os coloca a seu próprio serviço. A estrutura estatal passa a servir, então, à perseguição dos adversários. Querem um exemplo? Vejam o que se passa com a apuração da eventual formação de cartel na compra de trens para a CPTM e o metrô em São Paulo. A questão não só pode como deve ser investigada, mas não do modo como estão agindo o Cade e a PF, sob o comando de José Eduardo Cardozo, ministro da Justiça. As sentenças condenatórias estão sendo expedidas por intermédio de vazamentos para a imprensa. Pior: as mesmas empresas investigadas em São Paulo se ocuparam das mesmas práticas na relação com o governo federal. Nesse caso, não há investigação nenhuma. Escrevi a respeito nesta sexta.
Quando se anuncia que o PT criou um estado policial, convenham, não se está a dizer nenhuma novidade. Nunca, no entanto, alguém que conhece por dentro a máquina do governo havia tido a coragem de vir a público para relatar em detalhes como funciona o esquema. Romeu Tuma Junior, filho de Romeu Tuma e secretário nacional de Justiça do governo Lula entre 2007 e 2010, rompe o silêncio e conta tudo no livro “Assassinato de Reputações – Um Crime de Estado”, publicado pela Editora Topbooks (557 págs., R$ 69.90). O trabalho resulta de um depoimento prestado ao longo de dois anos ao jornalista Cláudio Tognolli. O que vai ali é de assustar. Segundo Tuma Junior, a máquina petista:
1: produz e manda investigar dossiês apócrifos contra adversários políticos;
2: procura proteger os aliados.
O livro tem um teor explosivo sobre o presente e o passado recente do Brasil, mas também sobre uma história um pouco mais antiga. O delegado assegura que o sindicalista Luiz Inácio Lula da Silva — que nunca negou ter uma relação de amizade com Romeu Tuma — foi informante da ditadura. A VEJA desta semana traz uma reportagem sobre o livro e uma entrevista com o ex-secretário nacional da Justiça. Ele estava lá. Ele viu. Ele tem documentos e diz que está disposto a falar a respeito no Congresso. O delegado é explícito: Tarso Genro, então ministro da Justiça, o pressionou a divulgar dados de dossiês apócrifos contra tucanos. Mais: diz que a pressão vinha de todo lado, também da Casa Civil. A titular da pasta era a agora presidente da República, Dilma Rousseff.
Segue um trecho da reportagem de Robson Bonin na VEJA desta semana. Volto depois.
(…)
Durante três anos, o delegado de polícia Romeu Tuma Junior conviveu diariamente com as pressões de comandar essa estrutura, cuja mais delicada tarefa era coordenar as equipes para rastrear e recuperar no exterior dinheiro desviado por políticos e empresários corruptos. Pela natureza de suas atividades, Tuma ouviu confidências e teve contato com alguns dos segredos mais bem guardados do país, mas também experimentou um outro lado do poder — um lado sem escrúpulos, sem lei, no qual o governo é usado para proteger os amigos e triturar aqueles que sio considerados inimigos.
(…)
Segundo o ex-secretário, a máquina de moer reputações seguia um padrão. O Ministério da Justiça recebia um documento apócrifo, um dossiê ou um informe qualquer sobre a existência de conta secreta no exterior em nome do inimigo a ser destruído. A ordem era abrir imediatamente uma investigação oficial. Depois, alguém dava urna dica sobre o caso a um jornalista. A divulgação se encarregava de cumprir o resto da missão. Instado a se explicar, o ministério confirmava que, de fato, a investigação existia, mas dizia que ela era sigilosa e ele não poderia fornecer os detalhes. O investigado”, é claro, negava tudo. Em situações assim, culpados e inocentes sempre agem da mesma forma. 0 estrago, porém, já estará feito.
No livro, o autor apresenta documentos inéditos de alguns casos emblemáticos desse modus operandi que ele reuniu para comprovar a existência de uma “fábrica de dossiês” no coração do Ministério da Justiça. Uma das primeiras vítimas dessa engrenagem foi o governador de Goiás, Marconi Perillo (PSDB). Senador época dos fatos, Perillo entrou na mira do petismo quando revelou a imprensa que tinha avisado Lula da existência do mensalão. 0 autor conta que em 2010 o então ministro da Justiça, Luiz Paulo Barreto, entregou em suas mãos um dossiê apócrifo sobre contas no exterior do tucano. As ordens eram expressas: Tuma deveria abrir urna investigação formal. 0 trabalho contra Perillo, revela o autor, havia sido encomendado por Gilberto Carvalho, então chefe de gabinete do presidente Lula. Contrariado, Tuma Junior refutou a “missão” e ainda denunciou o caso ao Senado. Esse ato, diz o livro, foi o primeiro passo do autor para o cadafalso no governo, mas não impediu novas investidas.
(…)
Celso Daniel, trens, mensalão…
Vejam o que vai acima em destaque. Qualquer semelhança com os casos Alstom e Siemens, em São Paulo, não é mera coincidência. O livro traz revelações perturbadoras sobre:
a: o caso do cartel de trens em São Paulo:
b: o dossiê para incriminar Perillo;
c: o dossiê para incriminar Tasso Jereissati (com pressão de Aloizio Mercadante);
d: a armação para manchar a reputação de Ruth Cardozo;
e: o assassinato do petista Celso Daniel, prefeito de Santo André;
f: o grampo no STF (todos os ministros foram grampeados, diz Tuma Junior);
g: a conta do mensalão nas Ilhas Cayman…
Tuma - grampo Gilmar
E muito mais. Tuma Júnior está com documentos. Tuma Junior quer falar no Congresso. Tuma Junior tem de ser ouvido. Abaixo, seguem trechos de sua entrevista à VEJA.
(…)
Por que Assassinato de Reputações?
Durante todo o tempo em que estive na Secretaria Nacional de Justiça, recebi ordens para produzir e esquentar dossiês contra uma lista inteira de adversários do governo. 0 PT do Lula age assim. Persegue seus inimigos da maneira mais sórdida. Mas sempre me recusei. (…) Havia uma fábrica de dossiês no governo. Sempre refutei essa prática e mandei apurar a origem de todos os dossiês fajutos que chegaram até mim. Por causa disso, virei vítima dessa mesma máquina de difamação. Assassinaram minha reputação. Mas eu sempre digo: não se vira uma página em branco na vida. Meu bem mais valioso é a minha honra.
De onde vinham as ordens para atacar os adversários do PT?
Do Palácio do Planalto, da Casa Civil, do próprio Ministério da Justiça… No livro, conto tudo isso em detalhes, com nomes, datas e documentos. Recebi dossiês de parlamentares, de ministros e assessores petistas que hoje são figuras importantes no atual governo. Conto isso para revelar o motivo de terem me tirado da função, por meio de ataque cerrado a minha reputação, o que foi feito de forma sórdida. Tudo apenas porque não concordei com o modus operandi petista e mandei apurar o que de irregular e ilegal encontrei.
(…)
O Cade era um dos instrumentos da fábrica de dossiês?
Conto isso no livro em detalhes. Desde 2008, o PT queria que eu vazasse os documentos enviados pela Suíça para atingir os tucanos na eleição municipal. O ministro da Justiça, Tarso Genro, me pressionava pessoalmente para deixar isso vazar para a imprensa. Deputados petistas também queriam ver os dados na mídia. Não dei os nomes no livro porque quero ver se eles vão ter coragem de negar.
O senhor é afirmativo quando fala do caso Celso Daniel. Diz que militantes do partido estão envolvidos no crime.
Aquilo foi um crime de encomenda. Não tenho nenhuma dúvida. Os empresários que pagavam propina ao PT em Santo André e não queriam matar, mas assumiram claramente esse risco. Era para ser um sequestro, mas virou homicídio.
(…)
O senhor também diz no livro que descobriu a conta do mensalão no exterior.
Eu descobri a conta do mensalão nas Ilhas Cayman, mas o governo e a Polícia Federal não quiseram investigar. Quando entrei no DRCI, encontrei engavetado um pedido de cooperação internacional do governo brasileiro às Ilhas Cayman para apurar a existência de uma conta do José Dirceu no Caribe. Nesse pedido, o governo solicitava informações sobre a conta não para investigar o mensalão, mas para provar que o Dirceu tinha sido vítima de calúnia, porque a VEJA tinha publicado uma lista do Daniel Dantas com contas dos petistas no exterior. O que o governo não esperava é que Cayman respondesse confirmando a possibilidade de existência da conta. Quer dizer: a autoridade de Cayman fala que está disposta a cooperar e aí o governo brasileiro recua? É um absurdo.
(…)
O senhor afirma no livro que o ex-presidente Lula foi informante da ditadura. É uma acusação muito grave.
Não considero uma acusação. Quero deixar isso bem claro. O que conto no livro é o que vivi no Dops. Eu era investigador subordinado ao meu pai e vivi tudo isso. Eu e o Lula vivemos juntos esse momento. Ninguém me contou. Eu vi o Lula dormir no sofá da sala do meu pai. Presenciei tudo. Conto esses fatos agora até para demonstrar que a confiança que o presidente tinha em mim no governo, quando me nomeou secretário nacional de Justiça, não vinha do nada. Era de muito tempo. 0 Lula era informante do meu pai no Dops (veja o quadro ao lado).
O senhor tem provas disso?
Não excluo a possibilidade de algum relatório do Dops da época registrar informações atribuídas a um certo informante de codinome Barba.
(…)
Tuma imagem mensalão
Encerro
Encerro por ora. É claro que ainda voltarei ao tema. Tuma Junior estava lá dentro. Tuma Junior viu e ouviu. O deputado Ronaldo Caiado (DEM-GO) quer que o delegado preste depoimento à Câmara sobre o que sabe.
O estado policial petista tem de parar. E parte da imprensa precisa deixar de ser o seu braço operativo.
Por Reinaldo Azevedo



O LIVRO-BOMBA – Tuma Jr. revela os detalhes do estado policial petista.

Dicembre 8, 2013 14:27, by Unknown - 0no comments yet


Partido usa o governo para divulgar dossiês apócrifos e perseguir adversários. Caso dos trens em SP estava na lista. Ele tem documentos e quer falar no Congresso. Mais: diz que Lula foi informante da ditadura, e o contato era seu pai, então chefe do Dops

Romeu Tuma Júnior conta como funciona o estado policial petista
Romeu Tuma Junior conta como funciona o estado policial petista
O “estado policial petista” não é uma invenção de paranoicos, de antipetistas militantes, de reacionários que babam na gravata dos privilégios e que atuam contra os interesses do povo. Não! O “estado policial petista” reúne as características de todas as máquinas de perseguição e difamação do gênero: o grupo que está no poder se apropria dos aparelhos institucionais de investigação de crimes e de repressão ao malfeito — que, nas democracias, estão submetidos aos limites da lei — e os coloca a seu próprio serviço. A estrutura estatal passa a servir, então, à perseguição dos adversários. Querem um exemplo? Vejam o que se passa com a apuração da eventual formação de cartel na compra de trens para a CPTM e o metrô em São Paulo. A questão não só pode como deve ser investigada, mas não do modo como estão agindo o Cade e a PF, sob o comando de José Eduardo Cardozo, ministro da Justiça. As sentenças condenatórias estão sendo expedidas por intermédio de vazamentos para a imprensa. Pior: as mesmas empresas investigadas em São Paulo se ocuparam das mesmas práticas na relação com o governo federal. Nesse caso, não há investigação nenhuma. Escrevi a respeito nesta sexta.
Quando se anuncia que o PT criou um estado policial, convenham, não se está a dizer nenhuma novidade. Nunca, no entanto, alguém que conhece por dentro a máquina do governo havia tido a coragem de vir a público para relatar em detalhes como funciona o esquema. Romeu Tuma Junior, filho de Romeu Tuma e secretário nacional de Justiça do governo Lula entre 2007 e 2010, rompe o silêncio e conta tudo no livro “Assassinato de Reputações – Um Crime de Estado”, publicado pela Editora Topbooks (557 págs., R$ 69.90). O trabalho resulta de um depoimento prestado ao longo de dois anos ao jornalista Cláudio Tognolli. O que vai ali é de assustar. Segundo Tuma Junior, a máquina petista:
1: produz e manda investigar dossiês apócrifos contra adversários políticos;
2: procura proteger os aliados.
O livro tem um teor explosivo sobre o presente e o passado recente do Brasil, mas também sobre uma história um pouco mais antiga. O delegado assegura que o sindicalista Luiz Inácio Lula da Silva — que nunca negou ter uma relação de amizade com Romeu Tuma — foi informante da ditadura. A VEJA desta semana traz uma reportagem sobre o livro e uma entrevista com o ex-secretário nacional da Justiça. Ele estava lá. Ele viu. Ele tem documentos e diz que está disposto a falar a respeito no Congresso. O delegado é explícito: Tarso Genro, então ministro da Justiça, o pressionou a divulgar dados de dossiês apócrifos contra tucanos. Mais: diz que a pressão vinha de todo lado, também da Casa Civil. A titular da pasta era a agora presidente da República, Dilma Rousseff.
Segue um trecho da reportagem de Robson Bonin na VEJA desta semana. Volto depois.
(…)
Durante três anos, o delegado de polícia Romeu Tuma Junior conviveu diariamente com as pressões de comandar essa estrutura, cuja mais delicada tarefa era coordenar as equipes para rastrear e recuperar no exterior dinheiro desviado por políticos e empresários corruptos. Pela natureza de suas atividades, Tuma ouviu confidências e teve contato com alguns dos segredos mais bem guardados do país, mas também experimentou um outro lado do poder — um lado sem escrúpulos, sem lei, no qual o governo é usado para proteger os amigos e triturar aqueles que sio considerados inimigos.
(…)
Segundo o ex-secretário, a máquina de moer reputações seguia um padrão. O Ministério da Justiça recebia um documento apócrifo, um dossiê ou um informe qualquer sobre a existência de conta secreta no exterior em nome do inimigo a ser destruído. A ordem era abrir imediatamente uma investigação oficial. Depois, alguém dava urna dica sobre o caso a um jornalista. A divulgação se encarregava de cumprir o resto da missão. Instado a se explicar, o ministério confirmava que, de fato, a investigação existia, mas dizia que ela era sigilosa e ele não poderia fornecer os detalhes. O investigado”, é claro, negava tudo. Em situações assim, culpados e inocentes sempre agem da mesma forma. 0 estrago, porém, já estará feito.
No livro, o autor apresenta documentos inéditos de alguns casos emblemáticos desse modus operandi que ele reuniu para comprovar a existência de uma “fábrica de dossiês” no coração do Ministério da Justiça. Uma das primeiras vítimas dessa engrenagem foi o governador de Goiás, Marconi Perillo (PSDB). Senador época dos fatos, Perillo entrou na mira do petismo quando revelou a imprensa que tinha avisado Lula da existência do mensalão. 0 autor conta que em 2010 o então ministro da Justiça, Luiz Paulo Barreto, entregou em suas mãos um dossiê apócrifo sobre contas no exterior do tucano. As ordens eram expressas: Tuma deveria abrir urna investigação formal. 0 trabalho contra Perillo, revela o autor, havia sido encomendado por Gilberto Carvalho, então chefe de gabinete do presidente Lula. Contrariado, Tuma Junior refutou a “missão” e ainda denunciou o caso ao Senado. Esse ato, diz o livro, foi o primeiro passo do autor para o cadafalso no governo, mas não impediu novas investidas.
(…)
Celso Daniel, trens, mensalão…
Vejam o que vai acima em destaque. Qualquer semelhança com os casos Alstom e Siemens, em São Paulo, não é mera coincidência. O livro traz revelações perturbadoras sobre:
a: o caso do cartel de trens em São Paulo:
b: o dossiê para incriminar Perillo;
c: o dossiê para incriminar Tasso Jereissati (com pressão de Aloizio Mercadante);
d: a armação para manchar a reputação de Ruth Cardozo;
e: o assassinato do petista Celso Daniel, prefeito de Santo André;
f: o grampo no STF (todos os ministros foram grampeados, diz Tuma Junior);
g: a conta do mensalão nas Ilhas Cayman…
Tuma - grampo Gilmar
E muito mais. Tuma Júnior está com documentos. Tuma Junior quer falar no Congresso. Tuma Junior tem de ser ouvido. Abaixo, seguem trechos de sua entrevista à VEJA.
(…)
Por que Assassinato de Reputações?
Durante todo o tempo em que estive na Secretaria Nacional de Justiça, recebi ordens para produzir e esquentar dossiês contra uma lista inteira de adversários do governo. 0 PT do Lula age assim. Persegue seus inimigos da maneira mais sórdida. Mas sempre me recusei. (…) Havia uma fábrica de dossiês no governo. Sempre refutei essa prática e mandei apurar a origem de todos os dossiês fajutos que chegaram até mim. Por causa disso, virei vítima dessa mesma máquina de difamação. Assassinaram minha reputação. Mas eu sempre digo: não se vira uma página em branco na vida. Meu bem mais valioso é a minha honra.
De onde vinham as ordens para atacar os adversários do PT?
Do Palácio do Planalto, da Casa Civil, do próprio Ministério da Justiça… No livro, conto tudo isso em detalhes, com nomes, datas e documentos. Recebi dossiês de parlamentares, de ministros e assessores petistas que hoje são figuras importantes no atual governo. Conto isso para revelar o motivo de terem me tirado da função, por meio de ataque cerrado a minha reputação, o que foi feito de forma sórdida. Tudo apenas porque não concordei com o modus operandi petista e mandei apurar o que de irregular e ilegal encontrei.
(…)
O Cade era um dos instrumentos da fábrica de dossiês?
Conto isso no livro em detalhes. Desde 2008, o PT queria que eu vazasse os documentos enviados pela Suíça para atingir os tucanos na eleição municipal. O ministro da Justiça, Tarso Genro, me pressionava pessoalmente para deixar isso vazar para a imprensa. Deputados petistas também queriam ver os dados na mídia. Não dei os nomes no livro porque quero ver se eles vão ter coragem de negar.
O senhor é afirmativo quando fala do caso Celso Daniel. Diz que militantes do partido estão envolvidos no crime.
Aquilo foi um crime de encomenda. Não tenho nenhuma dúvida. Os empresários que pagavam propina ao PT em Santo André e não queriam matar, mas assumiram claramente esse risco. Era para ser um sequestro, mas virou homicídio.
(…)
O senhor também diz no livro que descobriu a conta do mensalão no exterior.
Eu descobri a conta do mensalão nas Ilhas Cayman, mas o governo e a Polícia Federal não quiseram investigar. Quando entrei no DRCI, encontrei engavetado um pedido de cooperação internacional do governo brasileiro às Ilhas Cayman para apurar a existência de uma conta do José Dirceu no Caribe. Nesse pedido, o governo solicitava informações sobre a conta não para investigar o mensalão, mas para provar que o Dirceu tinha sido vítima de calúnia, porque a VEJA tinha publicado uma lista do Daniel Dantas com contas dos petistas no exterior. O que o governo não esperava é que Cayman respondesse confirmando a possibilidade de existência da conta. Quer dizer: a autoridade de Cayman fala que está disposta a cooperar e aí o governo brasileiro recua? É um absurdo.
(…)
O senhor afirma no livro que o ex-presidente Lula foi informante da ditadura. É uma acusação muito grave.
Não considero uma acusação. Quero deixar isso bem claro. O que conto no livro é o que vivi no Dops. Eu era investigador subordinado ao meu pai e vivi tudo isso. Eu e o Lula vivemos juntos esse momento. Ninguém me contou. Eu vi o Lula dormir no sofá da sala do meu pai. Presenciei tudo. Conto esses fatos agora até para demonstrar que a confiança que o presidente tinha em mim no governo, quando me nomeou secretário nacional de Justiça, não vinha do nada. Era de muito tempo. 0 Lula era informante do meu pai no Dops (veja o quadro ao lado).
O senhor tem provas disso?
Não excluo a possibilidade de algum relatório do Dops da época registrar informações atribuídas a um certo informante de codinome Barba.
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Tuma imagem mensalão
Encerro
Encerro por ora. É claro que ainda voltarei ao tema. Tuma Junior estava lá dentro. Tuma Junior viu e ouviu. O deputado Ronaldo Caiado (DEM-GO) quer que o delegado preste depoimento à Câmara sobre o que sabe.
O estado policial petista tem de parar. E parte da imprensa precisa deixar de ser o seu braço operativo.
Por Reinaldo Azevedo



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