Manhã úmida de Sul. O fantasma da Hercílio está em exílio. As grandes abas do Paredão abrigam os famintos. Um viciado em sonhos dorme escondido sob o papelão com a cabeça recostada em um lenço sujo - longíssima lembrança da medieva aventura há pouco acabada? Manhã úmida de Sul. As gotículas se desprendem do céu e se ajuntam na janela. Dali escorrem como pequenos riachos e a mais outros se amoldam sobre o asfalto. A Hercílio, empapada, olha para o céu pedindo um rasgo nas nuvens. A Hercílio goteja. Droga-se em tanta água. A mocinha, de cabelos frisados e o rosto embelecido com pós e lápis multicoloridos, afugenta-se para dentro. De tanta água não poderá manter-se intacta para beijar o seu amor. Com as grandes curvas do batom, beija a janela. Ele espera, no final do Paredão, pelas gotas pintadas de carmim.
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