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Poemas e Outras Artes dos Sentimentos

3 de Abril de 2011, 21:00 , por Desconhecido - | No one following this article yet.

Cordas

8 de Junho de 2015, 20:10, por Mais Poemas e Outras Artes dos Sentimentos

As folhas das árvores da Hercílio ainda entopem os bueiros menores. Vai-se quase uma semana de sol do veranico de Maio que chegou em Junho. Em breve uma onda de frio e vento gelado tirarão as mulheres e seus cãezinhos do caminho das bicicletas. Os ciclistas também não aparecerão depois das 18h, quando as rajadas de noite espantam todos para dentro das paredes. Ninguém sentará nos bancos da avenida para ver o movimento na hora da ave-maria. As janelas do paredão ficarão iluminadamente imponentes. E os gritos dos pneus dos carros dirigidos pelos desatentos serão guardado para a próxima estação. Comprarei uma corda maior no Daora. Amarrarei minhas pernas para me livrar do pesado Inverno. Como tantos outros, ele virá e partirá, deixando e levando alguns pedaços, amassando mais algum vinco da pele ou anestesiando mais alguma memória. E depois as folhas ressurgirão com encantamento, recobrindo a Hercílio, refazendo as sombras. Quantos metros de corda terei que comprar para que o Inverno não me arraste?



Chuva

27 de Maio de 2015, 18:44, por Mais Poemas e Outras Artes dos Sentimentos

jogaram água na Hercílio ao ponto de poças enfileirarem-se em riachos e a mulher de cabelos amarelos espirrar gotas e mais gotas para todos os lados e para as pernas de suas calças brancas enquanto caminha. já não tem mais quem dê conta de folhas caídas com os ventos e com as chuvas, e os as bocas-de-lobo estão encobertas com uma pasta de lodo e folhas, e a mulher do mercado da esquina já não dorme tão tranquila, mesmo fechando a entrada de vidro com  uma parede de aço de um metro de altura, presa a dois vergalhões para suportar o peso da água do rio assim que ele sair do leito e vazar pela avenida. de cima do paredão preparam-se câmeras para registrar os efeitos de tanta água. esperam enquanto cozinham macarrão e bebem café frio, torcendo para que a chuva encha as garagens e proporcione chocantes imagens. por enquanto, os olhares mais frios se voltam para as trabalhadoras da Comcap, que não dão conta de manter a avenida bem limpinha e os bueiros abertos com suas pesadas vassouras e seus carrinhos sempre cheios do lixo que os transeuntes deixam pelo caminho. no fim do dia, elas tomam uma aspirina e sentam em ônibus lotados para voltar para casa, onde encaixam as vassouras de palhas nas mãos e as sentem leves como pluma. por certo depois sonham com a cidade e que amanhã tudo o que retiraram das ruas estará de novo lá, como um castigo.



Tristeza

10 de Abril de 2015, 13:23, por Mais Poemas e Outras Artes dos Sentimentos

ruídos mastigados de dentes rangendo e rangendo as gengivas e as línguas e os sangues coagulados nos sisos e dos olhos talvez lágrimas escorrendo para dentro abaixo da pele e penetrando nos vasos e endurecendo artérias e soldando um ou dois ou três pensamentos e as mãos espalmadas nas aparentes costelas no volvebatur do corpo amolecendo e as memórias ocupadas em segurar bolhas de ar coloridas que dançam diante da retina e quando se afastam explodem em luzinhas e somem em pontos escuros e ninguém escuta o ruído de dentes roendo dentes e os olhos abertos parados na janela e além da janela nos prédios sombrios e os olhos parados olhando aquilo e vendo nada e de dentro brotando universos em estalos elétricos consumindo a lágrima que nunca saiu e a tristeza tão triste que rói os dentes e range nas gengivas e escorre sobre a pele e penetra nas veias e entope de lágrimas e as mãos espalmadas buscam ar e bolhas e cores que se viram em cinzas e de dentro nascem borboletas e luzinhas de plenas vidas curtas e mutantes e mãos espalmadas buscam e buscam e buscam e as luzes se afastam e se retraem e desaparecem e os olhos se perdem nas janelas e nas sombras além delas morrendo e morrendo e morrendo.



Torto

7 de Abril de 2015, 10:26, por Mais Poemas e Outras Artes dos Sentimentos

pequenas pedras no caminho entre um ponto e outro: fantasmas de um tempo da partida e um há-de-vir de uma chegada. pequenos cacos pontudas de vidro no caminho e entre os dedos dos pés lascas de pele em um corpo entorpecido, desemparelhado entre a noite e o dia, ou entre a luz e a sombra, ou entre o bem e o mal. ou entre o nada e o nada. pequenos sentimentos no caminho, esfarelados na fala que imita folhas de rosto de trabalhos escolares enquanto a matilha se aprisiona e para manter a prisão alucina-se imperdoavelmente e espera que as correntes tragam perdão. perdão. vai-se o chão em buracos cheios de alucinações todos os dias. um copo de água e uma pílula estragam a alma e repõem viseiras.



Mar aberto

24 de Março de 2015, 9:00, por Mais Poemas e Outras Artes dos Sentimentos

"muchacha pechos de miel, no corras más,
quedaste hasta el dia..."

a menina corre na praia junto com o entardecer e o vento empurra suas curvas para dentro da água gelada e seus pés quebram ondas miúdas e das pequenas ranhuras das quebraduras na imensidão salgada nascem bolhas, sussurros e saliva que se desprendem do universo e somem em grandes e pequenas imensidões salgadas. a menina corre na praia sem tocar a areia, e quebra pequenas ondas com as curvas do corpo, e seus seios pequenos e doces acalmam as nuvens que ainda rodopiam no horizonte do vento naufragado. mas mesmo assim o céu esfumaçado e pesado ruge. a menina rompe o mar e as ondas que pretendiam se erguer violentas amolecem. o mar aberto e gelado acolhe arrepios cerebrais. a ventania se desprende em riscos de luz e batidas eternas na pele, e a cabeça se perde entre o céu e a terra, e uma onda gigante entra pelos dedos e se destrói em cargas e descargas elétricas que arrebentam a realidade. o corpo molhado lamenta um sorriso e morre.



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