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Poemas e Outras Artes dos Sentimentos

3 de Abril de 2011, 21:00 , por Desconhecido - | No one following this article yet.

Legato

6 de Novembro de 2014, 18:04, por Mais Poemas e Outras Artes dos Sentimentos

A cobra envolveu a cabeça de Mainglof com as mandíbulas. Ela rapidamente engoliu ele . Ela lutava com ele escorrendo pelo visco enquanto ele apalpava as raízes das tetas da cobra. Como uma bola de pelo no estômago da cobra, Mainglof vomitou gelo e fumaça. A cobra tentou digerir Mainglof e se retorceu a noite toda entre um pesadelo e outro. Revolveu passados e futuros. Na manhã seguinte, ela botou um ovo apenas. Mainglof nasceu do ovo nu e foi-se para a cidade para contar que era bicho do mato. Mainglof não foi atropelado e morto na primeira esquina. (Leia o primeiro aqui)



Preparatória II

4 de Novembro de 2014, 17:47, por Mais Poemas e Outras Artes dos Sentimentos

O relógio tocou. 5h30min. Desativei o maldito despertador. Ainda tinha 5 ou 7 minutos. Sempre estava adiantado. Eu. Alguma luz além da janela de vidro aberta e suja, escondida atrás de uma cortina de plástico. Pardais também começavam o dia, mas com um barulhinho ao longe. Eu quieto, tentando uma conexão com hoje e ontem, quando a mulher de cabelos pintados exageradamente caminhava sob um céu nublado com o guarda-chuva aberto, com grandes óculos de sol, que lhe cobriam quase toda a face. Pele branca. No meio do pescoço, quase do tamanho da ponta do meu dedo indicador, um sinal. O que será que ela tinha nos olhos? Olhei na direção dos óculos escuros. Ela não moveu a cabeça, olhando para a mesma direção desde que subira o meio-fio da General Bittencourt. Olhava para o outro lado da avenida Mauro Ramos, a parada de ônibus para a Lagoa da Conceição? Ela passou com o seu guarda-chuva preto e grande sobre a cabeça, segurando-o com as duas mãos, como se prendesse a conta de um rosário. Seus imensos óculos pretos cobrindo quase todo o rosto, a sua pele extremamente branca e a sua pinta escura no pescoço. Deslocou uma leve brisa ao passar. Sem nenhum odor. Talvez usasse um perfume discreto, ou nada. Mas tinha um cheiro adocicado, quase de sangue. A poucos passos, caminhando lentamente, uma mulher com quase trinta anos. Olhos gigantes, azuis. Tristes. Cansados. Àquela hora da tarde, sob o céu cinzento e agoniado entre uma tempestade com raios e trovões e um vento Sul que levasse as nuvens para o mar, qualquer um de olhos claros deveria estar sofrendo. Claridade que fura as nuvens e reflete no asfalto e rebate nas janelas envidraçadas e espelhadas dos prédios do entorno. Cabelos escuros, tingidos desde a raiz, escorridos. Boca fechada. Lábios finos, extremamente apertados, com um leve toque de um batom vermelho já gasto de tanto passar a língua. Sob a camiseta de malha leve e fina, os peitos balançavam suavemente, raspando os bicos contra a trama do tecido. Passos muito curtos, como se fosse um esforço enorme arrancar um pé do chão e colocá-lo adiante do outro. Uma brisa morna e seus cabelos pouco se moveram. Olhou em meus olhos castanho-esverdeados com aqueles enormes olhos azuis e duas pequenas rugas apareceram na pele branca ao lado das sobrancelhas. Suas pernas ganharam agilidade e força. Ela foi em direção ao meio-fio da esquina com a avenida Mauro Ramos. Olhou o movimento dos carros e ônibus, e atravessou entre os canteiros. Sumiu na pequena multidão que se aglomerava sob o teto da parada de ônibus. Nuvens negras se moviam rapidamente no céu, vindas do Cambirela. Sem pressa, quadris largos enfiados em uma calça amarela de academia , cabelos desgrenhados e sujos, olhos pretos, desviando pequenas ranhuras da calçada com seus pés minúsculos, ela apontou o nariz pequeno e passou rapidamente. Olhou para trás, quase parando. Olhou para a minha bunda torcendo mais o pescoço. Assim, pisou em uma lajota quebrada da calçada. Deu passinhos mais curtos, como se mentalmente acertasse um passo, que errou ao ficar desatenta por alguns segundos. Sorri às 5h35min da manhã quando o gato começou a empurrar a porta e eu imaginei que ele viesse ronronar atravessando seus pelos em minhas pernas. Ele queria apenas a janela, de onde concentrava seus olhos nos voos dos pardais. Dava para ver a energia de sua espécie se concentrando em todo o corpo para um bote. Mas ele sabia que se alcançasse a presa, poderia morrer na queda. Eu, não.



Transporte ligeiro de superfície Ilha-Continente

23 de Outubro de 2012, 22:00, por Rubens Lunge - 0sem comentários ainda

Soube que o Colombo da Coxilha Rica recebeu mais um projeto para dar solução ao trânsito da Ilha de Santa Catarina e arredores. Certos portugueses propuseram o metrô ligeiro de superfície entre o Terminal Central, que é um grande carrossel de ônibus, e o Ceasa, em São José. Quer dizer, vai ligar o olho do furacão a coisa nenhuma, a menos que esta seja um reivindicação dos repolhos roxos. O percurso seria de 10 Km. A dúvida dos atentos engenheiros de além-mar é se o trem de superfície vai passar sobre faixas das pontes Pedro Ivo Campos e Colombo Salles, entre as pontes ou abaixo delas. Tenho uma ideia para essa questão, já que somente a etapa das pontes custará pelo menos R$ 1,5 bilhão: com essa dinheirama, o governo estatiza o transporte no mesmo trecho por muito menos. Para tanto, usa o espaço em que cresce capim no entorno do fabuloso merdário, na frente do Terminal Rita Maria, e põe ali um estacionamento de ligeiros cavalinhos de pau. Nós vamos até ali, montamos no ligeiro cavalinho de pau e atravessamos a ponte e devolvemos o amado meio de transporte no estacionamento do Continente. Minha ideia é boa e é de graça. Eu sei qual é o problema, eu tenho a solução e eu sei quanto custa.



Pedrinhas no feijão

20 de Setembro de 2012, 21:00, por Rubens Lunge - 0sem comentários ainda

Enquanto separava feijões das pedrinhas que sempre os acompanham, mesmo nas melhores marcas, pensei em Mari. Ela era parente-empregada de uma conhecida. A conhecida era mulher de João, que havia sido, por mais de 40 anos, trabalhador na Sadia. O seu turno começava na madrugada e ele trabalhava na fábrica de sabão. A rima, pobre, é efeito da realidade. Ele acordava antes do sol e entrava na fábrica, e só saía quando o sol cutucava a noite. O trabalho de João não o deixou triste. Ele era filho de caboclo do Contestado; comia carne quando caçava, e dançava sobre o chão batido quando algum vizinho distante chamava a todos para um arrasta-pé de levantar poeira, e tocava rabecão, feito com linhas de pesca e um pau trabalhado com canivete. João lembrava dessas coisas, de quando corria pelos matos do Irani, e de quando passava a vida mexendo a gigantesca colher da pau na fábrica de sabão em Concórdia. João elogiava o feijão que Mari preparava para ele e para todos que eram da sua casa, e para os que chegavam espertamente perto do meio-dia. Agora, quando separo o feijão das pedrinhas, lembro da Mari, que me faz lembrar de João, e que ele cresceu solto no Irani, foi operário, e se escondeu em um toco oco pra não ver as diabruras de um dos monges João Maria.



Inverno

4 de Julho de 2012, 21:00, por Rubens Lunge

Manhã úmida de Sul. O fantasma da Hercílio está em exílio. As grandes abas do Paredão abrigam os famintos. Um viciado em sonhos dorme escondido sob o papelão com a cabeça recostada em um lenço sujo - longíssima lembrança da medieva aventura há pouco acabada? Manhã úmida de Sul. As gotículas se desprendem do céu e se ajuntam na janela. Dali escorrem como pequenos riachos e a mais outros se amoldam  sobre o asfalto. A Hercílio, empapada, olha para o céu pedindo um rasgo nas nuvens. A Hercílio goteja. Droga-se em tanta água. A mocinha, de cabelos frisados e o rosto embelecido com pós e lápis multicoloridos, afugenta-se para dentro. De tanta água não poderá manter-se intacta para beijar o seu amor. Com as grandes curvas do batom, beija a janela. Ele espera, no final do Paredão, pelas gotas pintadas de carmim.



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