A fila dupla de carros e ônibus estacionou a Mauro Ramos a partir das 16 horas de ontem. É um treinamento. Uma preparação para o Verão que se anuncia pela luminosidade, aragem e o olhar aflito da estudante de pernas de fora que atravessou ruas e ainda conseguiu subir no ônibus em frente ao Instituto Estadual de Educação. Sem aquele mal súbito de mobilidade e a partir de agora frequente, estaria em pé na parada esperando o próximo Lagoa. E esperaria demais. Mas mesmo assim se benzeu depois de passar o cartão magnético que abria a catraca e assegurava o passaporte para uma bela paisagem. O agradecimento tem um motivo: não precisaria atravessar a ponte. E muito menos andar na BR-282. E ir a Coqueiros ou ao Estreito, ou Palhoça, São José, Biguaçu ou Paulo Lopes àquelas horas de quase final de dia, e de qualquer dia. Benzeu-se porque seguia para casa e veria no alto do Morro, quando as luzes das estrelas já estivessem sumindo, submetidas às luzes da cidade, todos aqueles turistas rindo, gravando imagens em seus celulares e postando estas imagens nas redes sociais. Eles depois iriam para a Rendeiras e seus carros andando vagarosamente fariam a mobilidade transforma-se em imobilidade da Barra, passando pela Mole, com efeitos até a Joaquina. Ela, com o ônibus andando às sacudidas, esperava descer logo o morro e chegar em casa e tirar os sapatos, e tomar um banho, e comer qualquer coisa, e deitar no sofá e dormir com a televisão ligada. E amanhã de manhã acordar, tomar uma banho, beber um café feito no microondas, calçar os sapatos largados ao lado do sofá e correr até o terminal, e subir num ônibus quase lotado, e subir o morro lentamente de volta ao Centro, benzendo-se para que nenhum carro quebrasse na subida. Lá no alto estariam os mesmos turistas da noite, clicando, clicando, rindo alto e saudando a natureza tão bela. E aquele ônibus passando, vagarosamente passando, carregando semblantes dos trabalhadores de rostos já cansados porque caminharam quadras e mais quadras até o terminal, porque saíram da Costa da Lagoa antes do sol raiar e já sacudiram os estômagos nos barcos; rostos colados nas janelas querendo aquela liberdade, e mães cansadas segurando filhos no colo, e ela reclamando que as janelas não abrem, e que o calor é infernal àquelas horas da manhã. Mas tem sempre um motivo para chamar a bênção. Pelo menos não teria que ir para o Continente naquele dia ou em qualquer outro dia.
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