No ano passado, durante investida conjunta contra o governo federal que levou ao pedido de demissão de alguns ministros, as principais empresas de comunicação incentivaram protestos contra a corrupção em todo o país, com o objetivo de atingir o governo Dilma. Para mexer com os brios das pessoas, citaram os eventos da primavera árabe, onde partiram das redes sociais os protestos que culminaram com a queda de alguns governos totalitários.
Um artigo de um jornal estrangeiro que perguntava o porquê dos Brasileiros não protestarem foi intensamente reproduzido e comentado pelos analistas ligados a grande imprensa, que passou a estimular protestos marcados pelo Facebook, fazendo um esforço muito grande para ajudar na divulgação. Os protestos se revelaram absolutos fracassos, e as poucas pessoas que compareceram sequer elegeram o governo federal como seus alvos.
Ao tomar conhecimento do envolvimento direto de um diretor de jornalismo da revista VEJA com criminosos presos pela Polícia Federal, a reação inicial de Folha, Globo, Estadão e da Própria VEJA foi de primeiro ignorar, convencidos que ainda possuíam o poder exclusivo de pautar as discussões. A operação abafa não deu certo a medida que a revista Carta Capital, a rede Record, o site Brasil 247 e blogs, como o de Luis Nassif, furaram o bloqueio que um dia foi possível.
Após a constatação que as pessoas estavam tomando conhecimento das denúncias apesar da omissão daqueles veículos, vieram as teorias da vitimização. Os pedidos de explicação não foram respondidos e para se esquivar de tentar explicar o que não pode ser explicado (a influência de Cachoeira na publicação de matérias e o endeusamento de um parlamentar que sempre souberam fazer parte de uma quadrilha) a revista e seus aliados ajustaram o discurso, as denúncias baseadas em uma investigação da Polícia Federal eram apenas ataques em represália contra a revista que denunciou esquemas de corrupção no governo.
Como era de se esperar para declarar a inocência da VEJA, foram distorcidos depoimentos realizados na CPMI do Cachoeira, sendo retirados trechos do contexto do comentário de depoentes de modo a favorecer a tese que nada existe contra a revista e seu funcionário. Nesse momento já surgiam movimentos nas redes sociais com a intenção de se contrapor a essa iniciativa imoral de auto-absolvição, sobretudo no Twitter onde surgiram duas hashtags1 que lideraram os assuntos mais comentados do dia na rede: a #VejaBandida e #VejaNaCPI.
Acostumada a ser pedra e não vidraça a revista VEJA produziu uma matéria de capa tentando criminalizar as manifestações no Twitter, e usando de um artifício cada vez mais frequente nas suas edições, a mentira, acusando perfis de usuários reais de serem robôs2 e insetos comandados pelo Presidente do PT para atingir a revista. Uma usuária do Twitter, @Lucy_in_Sky que teve o seu nome citado pela VEJA como sendo um robô, foi entrevistada pelo usuário @pagina2 e provou que a revista mentiu mais uma vez, além de poder ser processada. A entrevista pode ser lida aqui.
A incoerência do discurso que prega a “imprensa livre perseguida pelos censores” com a tentativa tosca de controlar e desqualificar protestos contra ela própria. A reação das redes sociais foi imediata, promovendo manifestações bem humoradas, onde usuários do Twitter colocaram avatares3 de robôs e insetos, e colocando no mesmo dia, e praticamente durante todo o dia, as hashtags #VejaComMedo e #VejaTemMedo em 1º lugar dos assuntos mais comentados na rede. Hoje, segunda-feira, mais uma manifestação está em andamento enquanto esse texto é escrito, a hashtag #VejaCensuraInternet está em primeiro nos TTs Brasil4.
A primavera tão sonhada pelos barões da mídia, que seria usada para a tentativa de enfraquecer mais um governo eleito legitimamente, enfim chegou ao Brasil, mas como aqui não vivemos uma ditadura, o que é preciso extirpar são aqueles que conspiram contra a democracia se aliando com criminosos. A Primavera Brasileira chegou para libertar a verdadeira imprensa livre de uma máfia que sobrevive muito em função de dinheiro público.
Por enquanto são apenas manifestações virtuais bem humoradas, mas podem ganhar as ruas, e pior ainda (pra eles), atingir o humor de anunciantes incomodados com as suas marcas estampadas em canal de baixa reputação pública. Estamos presenciando o que pode ser o início de uma revolução que significa o nascimento de uma imprensa séria e não corrompida e a queda do jornalismo a serviço do crime organizado e interesses espúrios.
Hashtags1 – Assuntos mais comentados no Twiiter
Robôs2 – Usuários do twitter controlados por scripts usados para spam (repetição de mensagens ou expressões com finalidade política ou comercial).
Avatares3 – imagens utilizadas por usuários em seus perfis nas redes sociais
TTs Brasil4 - ou Trending Topics Brasil, estatísitca com os 10 assuntos mais comentados por Brasileiros no Twitter.
Originalmente postado em http://pontoecontraponto.com.br/?p=6974
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