Acabo de ler nos jornais que o julgamento de cinco acusados pela morte do prefeito Celso Daniel, de Santo André, envolve um “duro embate” entre o ministério público e o PT. É uma piada.
A polícia civil de São Paulo fez uma investigação e concluiu, após ouvir todas as testemunhas disponíveis, que ocorreu um crime comum. Meses depois, o inquérito foi reaberto. Chegou-se a mesma conclusão. Quatro anos depois da morte de Celso Daniel, uma delegada, Elizabeth Satto, foi encarregada de refazer a investigação. Chegou ao mesmo resultado: crime comum. Por determinação do presidente Fernando Henrique Cardoso, a Policia Federal colocou um delegado para investigar o caso. Ele chegou a mesma conclusão.
Há um confronto de opiniões, sim, mas entre a Polícia Civil + a Polícia Federal, contra o Ministério Público. Os procuradores dizem que foi um crime encomendado, ou de mando.
Você pode ter qualquer opinião sobre o caso. Quem diz que é um conflito político entre o MP e o PT deveria admitir a hipótese oposta, de que esteja ocorrendo um “embate” entre a Policial Civil e o PSDB.
Deve reconhecer que existam interesses políticos por trás desse imenso esforço para contrariar dois inquéritos diferentes, conduzidos por dois delegados diferentes, que chegaram a uma mesma conclusão.
Seguindo nessa visão conspiratória de que vai ocorrer um “embate” político, também é lícito reconhecer que é bem mais fácil demonstrar as ligações entre o ministério público estadual e o PSDB do que entre e o PT e a polícia paulista. Alguma dúvida?
Como ensinam os psicanalistas, ocorreu um ato falho. E como sabem os analisandos, um ato falho nunca é gratuito.
O pressuposto deste ato falho é político e é tucano. Considera que só o PT pode ter interesses políticos no caso. E o PSDB, não tem? Será que não pretende usar uma sentença judicial como instrumento para atacar o adversário?
Paulo Moreira Leite na http://colunas.revistaepoca.globo.com
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