Desde que me tornei um ser consciente, comecei a ter apreço pela verdade. Eu a buscava em tudo o que fazia, lia, ouvia e procurava conhecer. Não sei se por fruto da educação ou da cultura, mas a busca pela verdade imanente das coisas movia a minha sede de saber e isso durou um longo tempo.
De uns tempos para cá, lendo livros de filosofia, linguística e comunicação, fiz uma descoberta que pode ser boba, mas foi importante: a verdade é subjetiva. Sim. Ano passado, creio eu, conversando com o professor Ivo Lucchesi, recebi um complemento importante para minha descoberta: a verdade é subjetiva, nem na natureza ela é objetiva.
De qualquer modo, a simples descoberta mudou minha visão de mundo. Fiquei me sentindo mais livre para olhar, sem amarras de qualquer espécie. Mais ou menos nesse mesmo período, descobri a importância e a diferença entre a verdade e os fatos.
Vejo que muitas pessoas confundem fatos e verdades, mas são elementos diferentes. Pode-se dizer que eu sou um ser humano e isso é um fato. Nenhum leitor desse texto irá discordar. Mas, por exemplo, também posso dizer que todo ser humano tem pré-disposição a ser bom e embasar meus pensamentos com uma série de outros fatos. Nesse caso, muitos leitores irão discordar: alguns dirão que sim, somos bons; outros dirão que não, somos maus e ainda outros provavelmente digam que nem bons e nem maus e assim por diante.
Isso são as verdades, que por sua vez são subjetivas, e que usamos como uma linha para costurar os fatos (linguagem, discurso). O fato é que somos seres humanos, mas usar outros fatos mais para concluir que somos bons ou maus já faz parte do plano do imaginário, dos discursos que podem ser refutados.
Imagine as evidências materiais da cena de um crime. São evidências, fatos, apresentadas materialmente. Porém, esses mesmos fatos são usados de diferentes modos para se construir verdades (linguagem): um é a verdade do discurso de defesa e o outro da acusação. Esse é um pequeno exemplo de como se pode construir inúmeras verdades (subjetivas) em torno dos mesmos fatos. As deduções que cada pessoa pode fazer sobre as evidências de um crime.
Diante disso, abandonei a busca pelas verdades e me agarrei aos fatos. Imaginei que ninguém poderia ignorá-los nus e crus e que diante deles, haveriam de se render. Isso incentivou meus estudos em jornalismo e por muito tempo estive apoiado nos fatos, até que um dia conheci o poder das idéias.
Claro que já havia notado a força das idéias contra os fatos inúmeras vezes, mas alguns eventos nesse ano mudaram profundamente minha visão. Um deles foi o Complexo do Alemão e a “guerra ao tráfico”, outro foi um debate sobre bater ou não nos filhos e mais alguns sobre temas religiosos.
Nas ocasiões procurei exibir tão somente os fatos e nenhuma idéia minha sobre o assunto e os acontecimentos. Durante as conversas, usei dados estatísticos como argumentos que contrariavam as idéias que me exibiam e mostrei também outros dados e fatos que iam além da cobertura da mídia, um lugar no qual mais bebiam suas idéias.
Tanto no Complexo do Alemão quanto nos outros eventos, o que me assustou não foi a resistência das idéias diante dos fatos, mas o modo como essa resistência se apresentava. A insistência e até mesmo a violência verbal usadas na defesa de idéias de paz, amor, democracia e evolução, fazia com que cada idéia defendida se tornasse inconsistente. Então percebi que os fatos não resistem diante das idéias e que as idéias são tomadas por muitas pessoas como verdades.
Por este motivo, veículos midiáticos como Globo, Folha e Veja trabalham fortemente no plano das idéias e batem tanto na mesma tecla até que ela se torne uma verdade (subjetiva). Usam os fatos jornalísticos na construção de discursos monológicos e fechados até que consigam plantar nas mentes desavisadas uma idéia qualquer. Família Marinho, Frias, Civita e Macedo não são muito diferentes.
Este próprio ensaio que escrevi é um apanhado de idéias que tive ao longo da vida, com muitos fatos, porém, acabou se transformando, subjetivamente, em minha verdade. E por ser a minha verdade subjetiva, não será defendida com fanatismo, apenas partilhada com vocês para lhes dar outras idéias e fatos e assim, quem sabe, alterar suas outras verdades.
Leia mais: http://comunicatudo.blogspot.com/2010/12/ensaio-sobre-verdade-os-fatos-e-as.html#ixzz1uQBEPPq6
Under Creative Commons License: Attribution Non-Commercial No Derivatives
0sem comentários ainda
Por favor digite as duas palavras abaixo