Por Renata Arruda
Débora e Mihail se conheceram através de um jogo do Facebook. Conversa vai, conversa vem; entre pedidos de animais para fazenda e curiosidades sobre filmes os dois se apaixonaram e, dois anos depois, decidiram que era a hora de se casar. Seria mais um romance iniciado através da rede, cada vez mais popular nos dias de hoje, não fosse um detalhe: Mihail Stefanov, 25, é búlgaro e deixou para trás seu país, seu trabalho como engenheiro naval e sua família para vir ao Brasil se casar com a professora de inglês Débora, 28, que hoje assina com o sobrenome Stefanov.
Antes de tomar a decisão definitiva, Mihail juntou dinheiro e veio ao Brasil conhecer a namorada após um ano de contato virtual. Quando se viram, não tiveram a menor dúvida dos sentimentos que nutriam um pelo outro, mas o visto de turista e a saudade de casa não permtiram a Mihail que ficasse muito tempo por aqui. Porém, o amor falou mais alto e oito meses depois Mihail estava de volta, pronto para pedir Débora em casamento. “Ele veio para casar; já chegou aqui com as alianças!”, ri Débora, para logo depois lamentar: “Era a única maneira de ficarmos juntos. Ficar indo e voltando seria inviável”.
Decisão difícil
Ainda que o senso comum diga que as mulheres são mais emocionais que os homens , por isso, elas estão propensas a largar toda a sua vida para viver um romance, diferente deles que valorizariam mais seus empregos e suas raízes, é possível encontrar histórias de rapazes que não pensaram duas vezes antes de ir em busca do seu amor. O escritor David Nobrega, 45, não precisou ir tão longe como Mihail: natural de São Paulo, conheceu sua cara-metade, a gaúcha e também escritora Letícia Coelho, 29, em 2007 através do blog coletivo que mantinha, “pseudo-poemas”, e logo na primeira vez em que se viram peceberam, nas palavras de David, que “daria samba”. “Eu não estava preparado realmente para encontrá-la, linda desse jeito. Foi amor a primeira vista”, relembra. O que ele não sabia é que Letícia já nutria por ele uma paixão virtual:
- Eu me apaixonei pelo David antes de vê-lo ao vivo. Naquela época, a gente falava bastante sobre poesia e ele corrigia alguns de meus poemas, acabou rolando um sentimento mais forte de minha parte. Naquele dia, ele me roubou um beijo, foi um selinho, coisa rápida mas ali estava selado o amor a primeira vista que eu senti no momento que ele atravessou a rua para me encontrar.
Entre se conhecer e morar juntos, David e Letícia sustentaram seis meses de namoro on-line, que terminou com uma decisão, veja só, racional de David: ” Foi uma questão de perspectiva: tendo a família dela por perto, eu me sentiria mais seguro em entrar no relacionamento, principalmente porque havia criança envolvida [Lucas, 9, filho de Letícia]. É uma decisão difícil, mas pesando os prós e contras, preferi agauchar-me”.
Finais nem tão felizes
Nem tão feliz foi o final do relacionamento do jornalista Marcus Losanoff, 34. Conheceu a argentina Catarina* em uma boate durante viagem de uma semana à Buenos Aires. Trocaram e-mails na despedida e descobriram por seus nicknames que ambos eram fãs do cantor francês Manu Chao, “isso já ajudou a criar um certo clima, claro”, conta Marcus. De volta ao Brasil, Marcus envou-lhe um e-mail e logo começaram a trocar mensagens.
- O problema é que a internet e seus facilitadores de comunicação potencializam muito essas coisas pra quem tem o mínimo de interesse. Por mais paradoxal que pudesse parecer pra mim em 2007, me dei conta que a “fria” internet, sim, aproximava.
Em poucos meses já combinavam encontros e passeios para as próximas férias de Marcus, porém a ideia de um romance nunca ficou explicitada. Logo que retornou ao país, Catarina levou Marcus para sua casa, onde passou quarenta e dois dias. Ele conta que mesmo que ambos deixassem claro que o relacionamento não passaria daqueles dias, “iniciativa dela, admito “, a teoria não funcionou cem por cento na prática. Ambos se apaixonaram, mas o convívio foi sufocante para a moça, acostumada a viver sozinha.
- No fim, deixei o país numa mistura de sensações. Comprei câmera e microfone pra falarmos via skype e fazíamos juras de amor por esse meio virtual. Tudo muito sofrido porque sempre vinha acompanhado de “o que vamos fazer de nossas vidas?”, “como solucionar isso?”
Hoje não nos falamos, mas temos amigos em comum. Sei que ela se casou e teve uma filhinha recentemente. Exatamente o nome que ela me disse que daria caso tivesse uma menina.
Indefinido ainda é o futuro de Débora e Mihail Stefanov. Mesmo recém-casados, Débora só conhece a família do marido pela internet e o casal ainda não decidiu se continua no Brasil, onde mora com a família dela, ou se mudará para a Bulgária.
- Meus amigos olham pra mim como se eu fosse louco, mas sempre tive muita certeza do que eu queria. Agora nós estamos esperando para ver o que acontece. Débora acabou de passar em um concurso público, que era o sonho dela, e eu vou tentar arranjar um emprego por aqui. Eu sinto muita saudade da minha família, mas não me arrependo de ter vindo.
*Nome fictício
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