Uma das grandes reflexões que ficaram meio que "ocultas" no debate em torno dos projetos de Lei SOPA e PIPA, apresentados nos EUA, está muito além da questão dos diretos autorais e da publicação de conteúdo digital da internet. Sendo bem direto, uma das oportunidades trazidas pelo debate em tornos desses projetos está associada ao motivo pelo qual a aprovação de uma lei nos EUA impactaria tanto, de forma imediata, aqui no Brasil.
No dia 17 de fevereiro de 2012, o site do Instituto Humanitas Unisinos – IHU publicou uma entrevista comigo, onde aproveitei a oportunidade para colocar essa questão [1] em pauta:
A SOPA e todas as leis que estão sendo debatidas nos Estados Unidos em relação ao conteúdo na internet acabam mostrando uma fragilidade: o quanto nós, brasileiros, somos dependentes tecnologicamente das soluções que são oferecidas nos Estados Unidos. “Hoje, do ponto de vista da produção tecnológica, existe um nível de desigualdade muito grande, porque a maioria da infraestrutura que garante o funcionamento da internet é dos Estados Unidos.
Então, hoje, tudo o que impacta nos Estados Unidos em termos de internet acaba também impactando para o mundo de uma forma muito intensa. Para se discutir e para se viabilizar uma governança mais ou menos equânime, dentro de uma geopolítica internacional, é necessário que também os países em desenvolvimento, como Brasil, China, Índia e todos os outros, também entrem nesse processo de emancipação tecnológica, ou seja, precisam ser produtores de serviços e de infraestrutura para a internet"
Não sei exatamente o motivo pelo qual a entrevista foi publicada com o título "Pirataria de software: uma estratégia de marketing das grandes multinacionais" - para mim, esse deveria ser o título de outra entrevista - com todo respeito a simpática jornalista que fez a entrevista desse ano, pois ela entende muito mais sobre entrevistas e produção de notícias do que eu.
Contudo, dentro da liberdade que a internet nos possibilita, eu mudaria o título para algo do do tipo "Depois da 'SOPA', entenda porque o Brasil precisa se emancipar quando o assunto é produção de Tecnologia para internet".
Assim, dando então continuidade nesse ponto do debate, uma blogueira baiana, a Ane Oiticica, publicou um artigo no Blog "Destravando" que fez uma metáfora bem bacana sobre essa questão:
"Imagine algo que você gosta muito. Chocolate! Conheço pouquíssimas pessoas que resistam a guloseima. Pense que hoje em dia, toda sua vida está atrelada ao chocolate. Sua rotina, seu trabalho, até sua diversão. Só que tem um problema: o único lugar que produz chocolate é uma pequena cidade no interior da Suíça e de repente, uma lei considera a produção da especiaria ilegal, atingindo toda população mundial e deixando todo mundo na vontade. O que você vai fazer?"
Achei tão legal essa metáfora, que sugerir para ela publicar esse artigo no Blog da Colivre com o seguinte título: "Chocolate, SOPA e Internet: porque o Brasil precisa se emancipar!" :)
Porém, é incrível como essas questões ainda são marginais quando se fala numa política de desenvolvimento para nosso país, seja dentro das políticas governamentais, seja pelas reivindicações da organizações sociedade civil, do empresariado nacional e, até mesmo, pela nossa comunidade científica.
Infelizmente, em nossa boa terra, ainda predomina-se uma espécie de "síndrome de colônia", histórica, que não nos permite enxergar o potencial criativo (singular!) do povo brasileiro, como uma grande oportunidade (estratégica!) de sermos desenvolvedores de tecnologia seja para internet ou qualquer outra área! Tudo isso, para quem sabe um dia, criarmos condições para falar em "soberania" e autonomia na atual Era da Informação.
Por outro lado, felizmente, existem muitos tecnólogos e hackers (na essência desse termo) brasileiros que pensam e agem, na contra-mão dessa "síndrome" conservadora. Não por caso, grande parte desses indivíduos estão ligados as comunidades inovadoras de uso e desenvolvimento de tecnologias Livres e padrões abertos. Entender, portanto, como podemos superar essa situação de dependência tecnológica por meio desse movimento inovador (pró-tecnologias livres e padrões abertos), singnifica enxergar a grande oportunidade estratégica que temos para viabilizar uma real política de emancipação tecnológica e desenvolvimento nacional.
Entretanto, isso é assunto para um próximo post... ;)
[1] "Programe ou seja Programado" é um livro de Douglas Rushkoff que aborda essa importante temática da autonomia tecnológica.
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