Sete anos após uma apresentação feita no IV Fórum GNOME em 2007 com esse mesmo título, finalmente, eu consegui publicar, em parceria com Genauto França Filho (meu orientador de Doutorado), o resultado da pesquisa que tentou responder uma questão que ronda o ecossistema dos projetos de software livre: "quem pode se permitir fazer um trabalho profissional a troco de nada?" Mais especificamente, esse artigo foi publicado na revista (acadêmica) Sociologias - uma publicação quadrimestral do Programa de Pós-Graduação em Sociologia da UFRGS, destinada a promover intercâmbio entre cientistas sociais.
No entanto, é importante ressaltar que essa questão norteadora da nossa pesquisa foi, inicialmente, levantada por Biil Gates na histórica "Carta Aberta aos Hobbistas" escrita em 1976 - um ano depois da fundação da então "Micro-Soft". Além dele, quatro décadas depois, mais especificamente em outubro de 2006, ela foi "remixada" por Jô Soares, no seu programa de televisão. Em uma de suas entrevistas, ao ser informado pelo Sérgio Amadeu (Prof. da UFABC) e pelo Júlio Neves (Prof. da UNiRio) sobre um possível engajamento voluntário de hackers ligados ao projetos de software livre, Jô Soares ressalta que, na visão dele, "por trás do fato do que é dado (software) de graça há uma intenção de ser vendido. (...) ou é um pessoal que é tudo monge Franciscano?"
O ponto de partida desse que escrevemos na Sociologias é que ainda são poucos os estudos que procuram analisar as características e a natureza desse novo contexto digital (de relações mediadas por dispositivos móveis como computadores, tablets e celulares) para além de um entendimento que tem como base apenas as noções de uma racionalidade utilitária ou do simples interesse econômico. Afinal, podemos dizer que mais recorrente do que esse tipo de pergunta é o tipo de resposta comum (e apressada) que diz que "ninguém trabalha de graça" ou que "sempre há um interesse financeiro nisso tudo".
Para evitar os limites de uma única forma de resposta "apressada" (para não dizer "equivocada") e, com isso, restringir a compreensão sobre a ação dos hackers nesses projetos, avaliamos que era importante respondê-la com um olhar mais científico e aprofundado. Assim, realizamos uma análise mais qualitativa sobre esse "fenômeno" que se apoiou em uma pesquisa de dois anos na comunidade do Projeto GNOME. Essa pesquisa resultou então na minha dissertação de mestrado na UFBA, em um dos capítulos do livro "Software Livre, Cultura Hacker e Ecossistema da Colaboração" e agora nesse artigo publicado na Revista Sociologias.
Membros da Comunidade GNOME por Louis Villa
Em termos de publicação, o diferencial então dessa edição v. 16, n. 36 (2014) da Revista Sociologias é o resgate da obra maussiana que fundamentou conceitualmente essa pesquisa sobre o Projeto GNOME - e, agora, serve também de base do meu projeto de Doutorado. Esse resgaste se dá no contexto de surgimento de uma crítica anti-utilitarista dentro do universo das ciências sociais contemporâneas, a qual foi concretizada pela fundação do MAUSS (Movimento Anti-Utilitarista nas Ciências Sociais).
Contudo, vale ressaltar que esse paradigma sociológico da dádiva busca ir além: mais do que a importância da sua vertente analítica, o MAUSS demonstra ser uma corrente sociológica implicada com a produção de pesquisas que se desenvolve a partir de um paradigma basilar, não apenas nas sociedade tradicionais como também para a sociedade contemporânea: a vida associativa e, em especial, a tripla ação de compartilhar, receber e retribuir. Vale então conferir essa edição da Sociologia da Dádiva na íntegra.
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