por Ana Prestes
A semana que passou foi de grande movimentação no cenário internacional. Posse de Putin para o quarto mandato como presidente da Rússia, crise cambial na Argentina, saída dos EUA do acordo nuclear com o Irã foram os temas com maior destaque dos últimos dias.
Na mesma semana em que Moscou sediou mais uma parada militar pelo Dia da Vitória, celebrado a cada 9 de maio para marcar o dia em que os nazistas se renderam aos soviéticos, Putin tomou posse para mais um mandato presidencial. Empossado no dia 7, no dia 9 Putin fez uma demonstração ao mundo do poderio militar russo, com a apresentação de novos armamentos. Recebeu ainda a visita do premiê israelense Benjamin Netanyahu para depositar flores no túmulo do soldado desconhecido em memória dos judeus mortos na segunda guerra mundial. A presença de Netanyahu ao lado de Putin ao longo de uma semana em que EUA e Israel imprimiram forte pressão sobre o Irã é uma demonstração da importância do presidente russo no jogo de peças internacionais nos dias atuais. Putin está aliado ao Irã na tentativa de estabilização dos conflitos na Síria e retomado da hegemonia do governo de Bashar Al Assad no país. Enquanto Israel tem se apoiado nos EUA e seus parceiros europeus, como França e Reino Unido, para minar o que até agora parece ser um desfecho dos conflitos na Síria. O trânsito de Putin com os líderes turcos, iranianos, sírios, libaneses e israelenses no Oriente Médio é algo que os EUA não tem.
Enquanto Putin tomava posse, Trump preparava a declaração de saída dos EUA do acordo nuclear com o Irã. Apesar de ser uma decisão esperada e previsível, pelo histórico de negação do atual presidente americano das negociações multilaterais (não foi à Cúpula das Américas e saiu do Acordo Climático de Paris), as consequências desta saída ainda não são totalmente previsíveis. A decisão foi considerada grave por uma série de questões, desde o descarte de 12 anos de construção diplomática, o fato do Irã não ter descumprido o acordo, o desrespeito com os demais signatários do acordo, a perda de credibilidade dos EUA na arena internacional, os riscos iminentes de um conflito com Israel em um momento de tensão na fronteira de Israel com a Síria, a leviandade da decisão por uma retaliação política e não técnica ao regime iraniano. Poderia ser feita uma lista ainda maior de agravantes da decisão, mas o mais importante é ressaltar o grande complicador mundial, para um mundo já nada simples, inserido com a decisão. O que será colocado no lugar deste vácuo desestabilizador? Ao se quebrar um ponto mínimo de estabilidade, multiplicam-se os vários pontos de instabilidade na região mais conflagrada do mundo. A associação entre um cenário com múltiplos pontos de conflito e o enfraquecimento de um elo de razoabilidade, que era o acordo nuclear iraniano, gera o ambiente perfeito para a ação imprevisível e inconsequente como o do regime de Israel.
Do lado de cá da América Latina a semana foi de muita atenção à situação da vizinha Argentina no enfrentamento de uma crise cambial de grandes proporções. A escalada do preço do dólar e da infação em uma economia altamente dolarizada levou o a uma alta estratosférica da taxa de juros, chegando aos 40%. Com uma sucessão de imprevistos e erros nos ajustes dos parâmetros econômicos, Macri resolveu recorreu ao FMI que tem um péssimo histórico de relação com a sociedade e os governos argentinos. Muitos se viram voltando ao pesadelo de 2001 quando o pânico por não conseguir tirar suas reservas do banco e a sucessão de trocas de presidentes levou milhares de pessoas às ruas. Naquela época o país chegou a ter cinco presidentes e dois ministros de economia em dez dias. Na atual crise, ainda em curso, as trapalhadas do presidente Macri não tem sido poucas. No afã de dar uma resposta à opinião pública, anunciou como acordo uma conversação que ainda está em curso, sem que os termos tenham sido pactuados. Anunciou algo que na prática ainda não existe, um empréstimo sem que estejam claras as contrapartidas. Por óbvio, os membros do Fundo exigem flexibilização das leis trabalhistas, reforma da previdência, arrocho nos programas sociais.
A próxima semana não será menos intensa, com a inauguração da Embaixada dos EUA em Jerusalém no dia 14, reta final da eleição presidencial na Venezuela, marcada par ao dia 20 e as negociações da Argentina com o FMI.
Bom fim de semana.
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