O núcleo do Rio de Janeiro do Centro de Estudos de Mídia Alternativa Barão de Itararé realizou, na sexta-feira, uma confraternização de final de ano reunindo representantes de diversos segmentos da sociedade civil – como estudantes, advogados, garis, professores, jornalistas, ativistas entre outros.
A grande marca do encontro foi um rico debate iniciado pelos convidados Orlando Guilhon (coordenador do Fórum Nacional pela Democratização da Comunicação – FNDC), André Fernandes (Agência de Notícias das Favelas – ANF), Arthur William (Fale-Rio) e Filipe Peçanha (Mídia Ninja/Fora do Eixo). A apresentação e coordenação do debate couberam a, respectivamente, Theófilo Rodrigues e Larissa Ormay, ambos coordenadores do Barão de Itararé-RJ.
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Ao final da confraternização, o livro “Perseguindo um sonho – a história da fundação da primeira agência de notícias de favelas do mundo”, doado por André Fernandes, foi sorteado e entregue a Carla Santos. A confraternização se estendeu para a Praça Tiradentes (Estudantina), na segunda edição da festa Esquerda Festiva.
Leia na íntegra como foi a confraternização e o debate:
Theófilo lembrou que o “Barão” surgiu em 2010, em contexto em que, pela primeira vez, a Internet se mostrava fundamental à dinâmica eleitoral. No Rio de Janeiro, a organização se instala no dia 24 de abril de 2013, a partir de quando passa a se organizar e a promover, articular e realizar várias ações em prol da democratização da mídia: protocolização de denúncia sobre sonegação da Globo no Ministério Público, redação do projeto de lei que tramita na Alerj para a criação de uma cota de 20% dos recursos com publicidade estatal a ser destinada à mídia alternativa do Rio, realização do RioBlogProg, participação em encontros como o Facção, a República, o Zona Eleitoral e outros.
A seguir, Guilhon traçou uma detalhada análise da conjuntura política atual. Afirmou que, neste ano, o campo progressista “levou um susto”, sendo preciso tirar lições. A direita cresceu, perdeu a timidez, e o projeto democrático está em xeque. Com isto, o cenário que se apresenta é difícil para a afirmação e efetivação da democracia popular, processo que deve enfrentar crises muito sérias nos próximos anos, com uma personagem protagonista: o chamado PIG (Partido da Imprensa Golpista), isto é, a velha mídia comercial. Por um lado, houve uma maior visibilidade dos movimentos sociais, porém é preciso união nas concordâncias, senão a fragmentação não dá força de sustentação política suficiente às lutas.Guilhon destacou também que há, claro, a necessidade de democratizar a mídia e fazer a reforma política no Brasil – agora o plebiscito desta deve ser oficial. E finalizou: “ou vamos às ruas ou a direita irá – aliás, já está indo”.
André Fernandes enfatizou as dificuldades práticas do dia-a-dia da mídia alternativa, que tem no financiamento seu grande gargalo. Para não ficar com o “pires na mão”, é preciso ter política editorial e enfrentar as burocracias, disse ele.
Arthur William iniciou sua fala destacando que a comunicação é um direito humano fundamental e, portanto, deve ser garantido por políticas públicas. Lembrou da grande conquista de 2014 que representou a aprovação do marco civil da Internet, mas que práticas contrárias a ele já estão acontecendo e que a luta, agora, deve ser travada para a regulamentação do marco adequada ao direito à comunicação. Além disso, ter atenção à nova lei de direito autoral, que tem impacto direto na liberdade de expressão, à regulamentação do direito de resposta, ao fortalecimento da EBC (Empresa Brasil de Comunicação) e ao Canal da Cidadania, à necessidade de implantação dos canais da cultura e da educação (respectivos ministérios têm de reivindicá-los) e ao direito de blogueiros e midialivristas de ter acesso ao fundo setorial da Ancine de audiovisual. Ressaltou, ainda, a importância da pressão sobre o governo por parte dos movimentos sociais – que, afinal, apoiaram a reeleição de Dilma Rousseff à Presidência da República. Relembrando Ramonet, Arthur frisa que, diante da crise na mídia, em que reina uma péssima qualidade financiada pelo Estado, é necessário mudar de uma mídia de massa para uma massa de mídia.
Diante do recorrente grito das massas de “Fora Rede Globo” e a queda de audiência dessa emissora, Filipe Peçanha pergunta para onde vai a atenção dos espectadores, “para onde vai essa audiência?” e enxerga três eixos de organização de luta pela democratização da mídia: 1) criação e fortalecimento de espaços, como este ambiente promovido pelo Barão, 2) mobilização da periferia e 3) aprofundamento do debate sobre estética e linguagem na mídia alternativa. A qualidade de conteúdo está em disputa e é preciso, além dos debates, organização e ação. Filipe (também conhecido como Carioca) apontou que no próximo ano será comemorado o aniversário de 450 anos da cidade do Rio de Janeiro e a ocasião merece ser explorada com um possível mote ‘O Rio que queremos’. Em 2015 a cidade ainda sediará a Bienal da União Nacional dos Estudantes (Une) e, ao que tudo indica, contará com uma Casa Fora do Eixo. Assim, é necessário aproveitar o ano que vem, que não terá eleição nem Copa do Mundo, para nos mobilizarmos.
Alexandre Teixeira (blog MegaCidadania/Mega TV) pontuou que a Globo faz 50 anos em 2015 e é preciso contrapor a propaganda com demonstrações de repúdio a esse antidemocrático conglomerado de comunicação. Ressaltou também que o vereador Reimont (PT/RJ) conseguiu, no último mês, a aprovação de um projeto de lei na Câmara dos Vereadores que beneficia o financiamento da mídia alternativa no município.
Míriam, professora de comunicação da Unirio, falou sobre a dificuldade de alcançar unidade na diversidade e criticou o papel que se confere ao Ibope de ser o único medidor de audiência atualmente no país.
Heloísa, professora de cinema da Uff, identifica como ponto central da discussão o papel da estética, o que se colocar, por assim dizer, no lugar da Globo.
O jornalista Juliano sublinhou que é preciso que os militantes da mídia alternativa se conscientizem de que, mais do que nunca, a comunicação não é informação, mas entretenimento, e a disputa tem de ser travada dentro da realidade capitalista.
Monique, comunicóloga, questionou sobre o papel da estética, demonstrando preocupação com um certo discurso de censura no que se refere a como um conteúdo deve ser. Também pontuou que as teles estão crescendo muito mais rápido do que a grande mídia, sobretudo em face do fenômeno da convergência.
Luana Bonone, recém-integrada ao núcleo do Rio do Barão, chama atenção para a ideologia envolvida na produção de comunicação e diz que nossa forma, que é tão importante quanto o conteúdo, deve ser a da alegria e da esperança. O que expressamos geralmente, entretanto, é arrogância.
Carla Santos, coordenadora Barão de Itararé, destacou a importância do encontro para a luta pela democratização da mídia.
A economista Clara falou sobre a necessidade de construirmos e seguirmos uma agenda de ações concretas e efetivas.
Pedro, presidente do DCE da Facha, asseverou que não se pode deixar de lado a discussão sobre a inserção do/a jornalista no mercado de trabalho.
Gilberto (Jornal Correio do Brasil) pautou a escandalosa atuação do deputado Jair Bolsonaro (PP/RJ) e suas ligações com a ditadura militar.