Do Site Brasil247,
Em sua edição 2287, de 19 de setembro de 2012, Veja vendeu ao público uma entrevista com Marcos Valério, anunciada por seus blogueiros como o fato político mais importante desde que Pedro Collor de Mello concedeu entrevista gravada e filmada à revista, em 1992, abrindo o caminho para o impeachment de seu irmão Fernando Collor.
Vinte anos depois, na entrevista que não houve, Veja colocou as seguintes frases na boca de Marcos Valério, que, supostamente, teria falado a interlocutores próximos:
“Lula era o chefe”.
“Dirceu era o braço direito do Lula, o braço que comandava”.
“O Delúbio dormia no Alvorada. Ele e a mulher dele iam jogar baralho com o Lula à noite”.
“O caixa do PT foi de 350 milhões de reais”.
“(Depois da descoberta do escândalo), meu contato com o PT era o Paulo Okamotto. O papel dele era tentar me acalmar”.
“O PT me fez de escudo, me usou como boy de luxo. Mas eles se ferraram porque agora vai todo mundo para o ralo”.
“Vão me matar. Tenho de agradecer por estar vivo até hoje”.
Poderia ser um caso apenas de propaganda enganosa, da revista de Roberto Civita contra seus leitores, mas era também uma tentativa preventiva de golpe contra Lula. A mensagem era clara: se Lula ousasse querer voltar a participar de forma mais ativa do jogo político, seria também alvo de uma ação criminal relacionada ao mensalão. Portanto, estava em impedimento técnico.
Nos meios de comunicação, Ricardo Noblat, do Globo, foi o primeiro a falar na existência de fitas não publicadas, em razão de um acordo de Veja com Marcos Valério. Depois, José Roberto Guzzo, membro do conselho editorial da Abril, também argumentou numa de suas colunas que Lula tinha medo de que as “gravações” aparecessem.
Sem comentar o assunto, o ex-presidente recebeu uma nota em solidariedade assinada por presidentes de seis partidos políticos, denunciando a iniciativa golpista.
Aqui, no 247, desde o início da história, argumentamos que Veja não tinha fita alguma e que apenas blefava em relação a Lula. Jogava truco, brincando com instituições democráticas, sem ter a carta forte: o Zap, ou seja, as fitas.
Neste sábado, o jornalista Eurípedes Alcântara, diretor de Veja, pela primeira vez falou abertamente sobre o tema, em entrevista ao jornal O Globo. E o conteúdo é estarrecedor. Eurípedes disse que Veja fez um acordo com Marcos Valério, que acaba de ser condenado a mais de 40 anos de prisão. E que por isso não apresenta suas evidências – que já não são mais gravadas ou filmadas.
“Temos as provas necessárias para demonstrar que as afirmações são o que no STF se chamaria de ´verbis´, ou seja, transcrições ao pé da letra do que ele disse. Marcos Valério decide se as provas serão divulgadas, apenas porque nossa combinação com ele foi a de que se ele desmentisse a reportagem estaria quebrando o que foi acordado e, assim, ficaríamos dispensados de cumprir nossa parte”, disse Eurípedes, por email, ao Globo.
E inacreditável, mas Eurípedes tenta convencer o Brasil do seguinte: por uma questão de honra, um acordo no fio do bigode com Valério (condenado a 40 anos de prisão), Veja não irá apresentar as provas que diz ter contra Lula – um personagem a quem a revistou já deu provas continuadas do seu apreço.
Eurípedes, no entanto, aponta razões éticas para não quebrar seu acordo com Marcos Valério.
“O fato de um indivíduo estar condenado não dá direito ao jornalista de, aproveitando-se de fragilidade inerente a sua situação, abusar de sua confiança. Pessoa nessa situação merece a mesma consideração ética e humana que ele dispensaria a celebridade ou autoridade no auge da fama ao poder.”
O diretor de Veja, no entanto, mantém a ameaça a Lula e diz que as provas ainda podem vir a aparecer no futuro – caso seja necessário.
Assim como lá atrás, a revista continua blefando. A “entrevista” de Valério, um golpe contra os leitores, era e continua sendo uma farsa.
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