Por Elton Pacheco
Ferramenta utilizada no ensino da matemática para cegos, o Multiplano será incluído no projeto pedagógico das 41 escolas públicas de Barbalha, município localizado a 553 quilômetros de Fortaleza (CE). A informação é da prefeitura da cidade, que recebeu, na semana passada, 17 kits do método. Eles serão repassados às escolas locais. A iniciativa deverá beneficiar diretamente os quase 10 mil estudantes da rede pública de ensino da cidade – cegos ou não, já que o método também pode ser utilizado no ensino regular para melhorar o desempenho na disciplina.
A doação dos kits é resultado de um acordo firmado entre a Fundação Banco do Brasil e o Instituto Bancorbras, com o apoio do Conselho Estadual das AABB (Cesabb) e das secretarias de educação das cidades. Ao todo, como resultado do acordo, foram distribuídos 459 kits do método a 25 municípios cearenses – média de 17 por cidade – além de Barbalha. “A cidade está conquistando, aos poucos, resultados positivos quando o assunto é educação. Nossos alunos têm dificuldades em algumas disciplinas, como a matemática, mas percebemos uma melhora com a utilização do método”, afirma João Paulo Olegário, professor que já utiliza o Multiplano em sala de aula desde 2012 na escola onde leciona.
Hoje ele trabalha como multiplicador do projeto, que já é realidade nas escolas de Senador Martiniano de Alencar, Edson Olegário, Maria Valquíria, Raul Coelho e Josefa Alves de Sousa. “A ideia era utilizar apenas na Edson Olegário, mas percebemos que poderíamos alcançar resultados maiores se conseguíssemos apoio com a prefeitura local. Os resultados já são positivos e estamos extremamente contentes por terem comprado nossa ideia”, afirma. O trabalho resultou em um site, criado por ele, para difundir a ferramenta: www.multiplanobarbalha.com.
Criado pelo professor Rubens Ferronato, o Multiplano está revolucionando o ensino da matemática para deficientes visuais no país. O método permite que alunos cegos entendam conteúdos de matemática, como gráficos, equações, funções e conceitos de trigonometria e geometria, dificilmente compreendidos sem desenhos feitos pelo professor no quadro. Com a ferramenta, as ilustrações são demonstradas em uma placa perfurada, com pinos e elásticos para formar, por exemplo, figuras geométricas que permitem o toque dos estudantes.
A invenção foi certificada como tecnologia social pela Fundação Banco do Brasil em 2003. Em 10 anos, foram distribuídos sete mil kits do método para instituições de ensino brasileiras. “A Fundação BB valorizou a criação da tecnologia social e nos motivou a continuar o desenvolvimento do projeto. A certificação, naquele ano, ajudou na reaplicação da tecnologia, na organização de cursos e na aquisição de materiais e apoio a professores que participam do curso”, afirma Rubens.
Antes da certificação, lembra o professor, os kits eram ainda artesanais. “Todas as peças eram confeccionadas por mim. Na época, eu já havia iniciado um trabalho com o material nas aulas em que eu ministrava na universidade, onde os alunos faziam uso, em especial um aluno cego. Eu utilizava o Multiplano para a resolução das atividades de cálculos e ele concluía com êxito, da mesma forma que os demais alunos da classe”, diz Ferronato.
O método deu certo e, em uma década, vários estudantes brasileiros foram beneficiados pelo Multiplano. Um deles é Lucas Falcão Radaelli, primeiro aluno cego do curso de ciências da computação da Universidade Federal do Paraná (UFPR). “A ferramenta melhora a comunicação entre a pessoa cega e o educador. O método dá voz a essas pessoas e a chance de elas aprenderem mais”, avalia o jovem.
Para Ferronato, o trabalho de inclusão ajuda a mudar a história desses estudantes. “Vejo os alunos cegos hoje trabalhando em sala de aula da mesma forma que os demais estudantes. É um prazer muito grande, como professor, conseguir transformar a vida dessas pessoas”. Ele esteve no munícipio, em evento realizado na semana passada, para capacitação de 70 professores da cidade. Na oportunidade, foram entregues os kits do método, que serão repassados para as escolas de Barbalha. A expectativa é que o Multiplano passe a ser utilizado por escolas em todo o país.
Fonte: Fundação Banco do Brasil
http://www.fbb.org.br/reporter-social/metodo-que-ensina-matematica-para-cegos-vira-politica-publica-no-ceara.htm
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