Logo depois, Dolores foi para Salvador. Lá, entrou na UFBA – Universidade Federal da Bahia no curso de teatro. Se formou e deu seguimento ao seu sonho, atuar e dirigir no teatro. Após sua formatura, premiações como diretora em Salvador, ela retornou à sua cidade natal, Paulo Afonso. E foi quando nos encontramos novamente.
No ano de 1992, nos encontramos e escrevemos juntos um texto para o teatro onde denunciávamos as cercas que separam o rio São Francisco dos milhares que moram no sertão da Bahia e não conseguem ter acesso à água para o consumo humano e para os animais que morrem de sede, mesmo vendo o líquido à sua frente, mas não conseguem beber porque os donos dos lotes à beira do rio cercaram tudo.
A intenção era fazer apresentações nas cidades do sertão para levar a mensagem. Naquele ano, fizemos a primeira apresentação no Sindicato dos Eletricitários e na plateia tinha uma pessoa que estava viajando pelo estado e selecionando atrações para participarem do evento, Eco 92, que aconteceria na cidade do Rio de Janeiro e que teria representantes de todo o mundo. O curador gostou tanto do texto e da apresentação do grupo que convidou e foi assim que aqueles atores foram os representantes da Bahia na área de teatro. A felicidade era contagiante em todos.
Nos reunimos, Dolores e eu, e fizemos algumas mudanças na cenografia. Se era para chamar a atenção e não sermos mais um, decidimos levar carcaças de animais mortos. Saímos a catar restos dos animais pelo mato em Paulo Afonso e Glória. Ela sabia que nos destacaríamos. E aconteceu.
Quando chegamos ao Rio de Janeiro, percebemos que algo estava errado. Ficamos em um local fora da programação oficial. Mesmo assim, Dolores não abaixou a cabeça e após nossa primeira apresentação, o grupo foi convidado a estar dentro do espaço oficial que ficava no Aterro do Flamengo. Todos os outros grupos que tinham ido em nome da Bahia não acreditaram que aquele grupo de artistas do sertão do estado tinha conseguido se destacar novamente.
Dentro do espaço oficial da Eco 92 e a cada apresentação que realizávamos, aumentava o número de pessoas para assistir. Em um dos dias, vários jornalistas de países da Ásia e da Europa estavam lá gravando imagens.
Este registro é para celebrar você, minha querida comadre. Sim, Dolores Moreira se tornou minha comadre. Ela é a madrinha do meu filho, Flávio Roque.
Dolores Moreira, foi uma luz cintilante no palco da vida, cujo talento e paixão pelo teatro ressoaram em cada canto de Paulo Afonso, na Bahia e no Brasil. Sua jornada, desde aqueles ensaios no CPA até a consagração na UFBA, foi marcada por uma determinação inabalável e um amor profundo pela arte. Dolores não era apenas uma atriz ou diretora, ela era uma contadora de histórias, uma voz para os sem voz. Seu trabalho no teatro transcendeu o palco, tocando corações e provocando reflexões. Cada personagem que ela interpretou, cada peça que dirigiu, era um testemunho de sua habilidade em capturar a essência da condição humana. Mesmo diante de adversidades, ela nunca desistiu da sua arte, Dolores nunca se deixou abater. Ela usou esses obstáculos como degraus para alcançar novas alturas, provando que a verdadeira arte não pode ser contida. Dolores, sua presença será eternamente sentida nos corações daqueles que tiveram o privilégio de testemunhar sua magia no palco. Seu legado continua a inspirar, a emocionar e a iluminar o mundo do teatro.
Vai com Deus, Dolores, e use seus dons para fazer muita gente feliz no céu.
Dolores, presente!
Sempre presente em nossos corações e em cada aplauso ecoando nos teatros de Paulo Afonso.