Um desses projetos foi implantado em 15 áreas do município de Cansanção, no território de identidade Sisal. Antes degradadas devido ao manejo incorreto do solo, desmatamento e queimadas sucessivas, os locais agora abrigam frutíferas, leguminosas e áreas de preservação com plantas nativas da Caatinga, tudo em sistema agroflorestal. As mudanças significam um potencial de sequestro de carbono de -4.269 toneladas de carbono equivalente (tCO2-e), considerando um período de 10 anos de impacto.
A avaliação é resultado da adoção, pelo projeto da CAR, Bahia Produtiva, da ferramenta Ex-ACT (Ex-Ante Carbon Balance Tool), desenvolvida pela Organização das Nações Unidas para estimar o balanço dos GEE em projetos agropecuários e florestais.
Uma das associações beneficiadas pelo projeto, em Cansanção, é a Associação dos Pequenos Agricultores de Capoeira (Apac), que recebeu para cada uma das 15 áreas um aprisco para a criação de animais, uma cisterna de 16 mil litros; e área cercada para produção, contando com consultoria para o mapeamento e a separação de 20% da área para a preservação da Caatinga. Além disso, os agricultores e agricultoras tiveram o acompanhamento da prestadora de assistência técnica e extensão rural (ATER), Humana Brasil.
O técnico da Humana Brasil, Anderson Ferreira, enaltece a mudança de postura de agricultores e agricultoras da comunidade de Capoeira. “O povo resistia muito a essa questão do reflorestamento, mas hoje essa comunidade é um exemplo, tanto é que outros agricultores que não foram beneficiados pelo projeto já nos solicitaram esse apoio no mapeamento das áreas. Aqui tinha o costume de tocar fogo nas matas, mas hoje é tudo muito separado: os cultivos de cada agricultor e a área de preservação”.
O cuidado com as questões climáticas e de sustentabilidade resultam também em mais renda. O agricultor Rafael Moreira está satisfeito e comemora os resultados da sua produção. “Eu já estou tendo renda com o projeto e já comercializei o aipim para o Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE), aqui do município. É importante também para o nosso consumo, porque hoje eu já tenho melancia, umbu, caju, licuri, feijão de corda, maxixe e tudo a gente consome em família”.
Quem também está animada com o projeto é a agricultora Ceres Fernandes, que já consegue enxergar evolução na sua área. “Foram muitos benefícios! A área estava muito degradada e agora é lindo quando eu venho aqui e vejo essa diversidade de plantas. A gente aprendeu muito, com a assistência técnica, a fazer a cobertura do solo para conter a umidade. A cisterna também foi muito importante para a gente poder molhar as plantas e o aprisco tem a vantagem de ser um lugar de sombra seguro para as minhas cabras e eu tenho como alimentá-las melhor”.
Mais tecnologias
Os investimentos na agricultura familiar do local não param por aí. Além dos sistemas agroflorestais, outras 25 famílias aguardam a chegada de mais tecnologias socioambientais importantes para a convivência com o Semiárido. Em breve, outras 16 famílias receberão cisternas de 52 mil litros com canteiros econômicos para a produção, seis famílias vão ter acesso a um biodigestor e três famílias serão contempladas com o sistema de bioágua. Tudo isso representa um investimento total de mais de R$ 1 milhão.
“O biodigestor vai nos ajudar com a economia do uso do botijão de gás, pois vai gerar gás para o cozimento dos alimentos e também pode gerar um biofertilizante para as hortas das famílias. O sistema de bioágua vai ser bom para reutilizar a água normalmente desperdiçada na pia e as cisternas vão fortalecer a produção da agricultura familiar, o que vai possibilitar uma melhora tanto na alimentação das famílias, quanto na comercialização via PNAE e Programa de Aquisição de Alimentos (PAA)”, ressaltou o Agente Comunitário Rural (ACR), Adriano Silva, que atua na comunidade de Capoeira.