Fonte: Editorial da edição 604 do Jornal Brasil de Fato
1. A REFORMA POLÍTICA
Nos últimos meses, construíram-se vários espaços unitários e plenárias setoriais entre os mais diferentes movimentos sociais para discutir os problemas brasileiros e tomar iniciativas de mobilizações populares.
Houve grande afinidade e unidade que articulou praticamente todos os movimentos sociais do país em torno da necessidade de uma reforma política. Já que consideramos que o financiamento privado das campanhas faz com que as empresas sequestrem a democracia brasileira e elejam apenas os seus escolhidos. Nessa campanha serão gastos mais de R$ 4 bilhões, por apenas 117 empresas financiadoras!
Para conseguirmos a reforma política plena e ampla, só há um caminho possível: a convocação de uma assembleia constituinte soberana e exclusiva. Nessa semana conheceremos os resultados do plebiscito popular sobre a necessidade de convocação de uma assembleia constituinte. Depois, nos dias 14 e 15 de outubro, a coordenação da campanha convocou uma plenária nacional massiva, em Brasília (DF), onde devem chegar um ônibus de militantes por estado. Lá em Brasília, os movimentos vão entregar o resultado do plebiscito para as autoridades dos Três Poderes da República. E também anunciarão o início da coleta de assinaturas entre senadores e deputados para um decreto legislativo que convoque um plebiscito legal e obrigatório para que toda população se manifeste se quer ou não uma assembleia constituinte soberana para realizar uma reforma política.
Se tudo der certo, o plebiscito obrigatório seria realizado no primeiro semestre de 2015, para que então possamos eleger os constituintes de forma independente, no segundo semestre de 2015 ou início de 2016.
Sem uma reforma política ampla, que envolva inclusive o Poder Judiciário e o controle dos meios de comunicação como parte do sistema político brasileiro, é impossível realizar as reformas estruturais que necessitamos para resolver os problemas do povo. E para isso, deveremos seguir nos mobilizando nas ruas.
2. AS REFORMAS ESTRUTURAIS
Nesse contexto, um conjunto de mais de 60 movimentos sociais, da maior amplitude setorial de nosso povo, debateu e apresentou uma plataforma política sobre as mudanças estruturais necessárias. Essa plataforma política dos movimentos sociais (vide nessa edição e na pagina http://www.brasildefato.com.br/node/29832 ) representa um programa unitário dos movimentos sociais, para a luta permanente na nossa sociedade, que ultrapassa o calendário eleitoral.
As eleições são importantes e necessárias. Podem alterar a correlação de forças institucionais. Porém, os movimentos e as forças populares devem ter um programa de mudanças, que oriente suas lutas sociais, suas mobilizações e seja uma espécie de bússola para o caminho a seguir. Desde as campanhas das Diretas Já e as eleições de 1989, não havíamos logrado tamanha unidade programática entre os movimentos sociais. E isso é muito significativo diante da crise política de representação institucional que vivemos. Assim, esse programa unitário representa um avanço enorme, e certamente servirá de baliza para as ações comuns.
3. AS ELEIÇÕES
Os debates que houveram em torno das eleições demonstraram que há visões diferenciadas sobre a forma como se comportar. Há unidade de que devemos colocar nossas energias para eleger o maior número possível de parlamentares comprometidos com a classe trabalhadora, que existem em todos os partidos. Apesar da desigualdade imposta nas campanhas pelo poder econômico.
Há unidade também, de que devemos colocar energias para eleger os candidatos a governador que representam posições progressistas e de esquerda, frente à ofensiva conservadora que estamos assistindo nos estados.
Em relação à eleição presidencial, a maioria dos movimentos quer manter sua autonomia como organização. Portanto, suas direções não deliberaram por este ou aquele candidato, como forma de manter a autonomia política e preservar os princípios de movimentos sociais. Embora, há alguns movimentos, sobretudo sindicais, que tomaram a deliberação nas suas direções de apoiar este ou aquele candidato.
No entanto, entre os dirigentes e militantes de movimentos sociais, percebe-se que a ampla maioria está apoiando a candidatura da Dilma, apesar das críticas aos limites do programa neodesenvolvimentista dos últimos anos. Alguns militantes estão fazendo campanha para Luciana Genro, como espécie de voto de protesto e em reconhecimento à sua postura política não sectária durante a campanha. E, em número cada vez menor, há também militantes que apostam na possibilidade da candidatura Marina Silva, embora as críticas a essa candidatura aumentem a cada dia, em função de suas alianças conservadoras, às suas vacilações sobre temas polêmicos, como recursos do Pré-Sal, transgênicos, união civil homoafetiva etc. E muitos militantes estão lhe fazendo oposição aberta, por suas posturas de defender a independência do Banco Central, as críticas a Cuba e Venezuela, e outros sinais claramente a favor da classe dominante brasileira.
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