Chegada da Caminhada na Ponte dos Açorianos em Porto AlegreFoto: Felipe Prestes/Sul21

Assim como emPorto Alegre, Milhares de brasileiros no Rio de Janeiro, São Paulo, Brasília e diversas outras cidades ontem, foram as ruas, unificados por um grito que ecoa muito além da simples indignação: “Sem Anistia”.

A mobilização popular coloca novamente o Congresso Nacional contra a parede, em um movimento de pressão similar ao que barrou a infame PEC da Bandidagem. O recado das urnas foi soberano, mas o recado das ruas é urgente: a sociedade civil não aceitará passivamente a impunidade.

A atenção agora se volta, com gravidade, para o Senado Federal. Se a Casa Alta avalizar a anomalia jurídica e moral aprovada na Câmara dos Deputados — sob a batuta e articulação de Hugo Motta —, estaremos diante de uma ruptura perigosa. Validar o perdão aos golpistas de 8 de janeiro não é apenas um erro político; é colocar em xeque a própria democracia e o delicado equilíbrio entre os poderes. A aprovação dessa medida seria um salvo-conduto para futuros ataques às instituições, normalizando o inaceitável.

No entanto, as manifestações de ontem transcenderam a pauta punitivista. As faixas e discursos trouxeram à tona uma ferida aberta no cofre da União: a exigência do fim das Emendas PIX e do descontrole das emendas parlamentares. O povo percebeu a conexão nefasta entre a instabilidade política e a sangria econômica.

Estamos falando de um mecanismo que sequestra anualmente mais de R$ 50 bilhões do orçamento federal. São recursos drenados diretamente da Educação, da Saúde, da Infraestrutura e da Segurança Pública para priorizar interesses paroquiais e a perpetuação de poder dos mesmos parlamentares que, periodicamente, ameaçam a democracia.

O Congresso opera hoje uma engenharia perversa: usa o dinheiro público para manter currais eleitorais e usa sua força política para negociar a própria lei em benefício de criminosos.

As manifestações provam que o brasileiro acordou para essa dupla ameaça. Anistiar golpistas e manter o orçamento refém de interesses privados são duas faces da mesma moeda.

O Senado tem agora a chance de ouvir o clamor das ruas ou confirmar que o Parlamento decidiu, definitivamente, virar as costas para o Brasil.