Ir para o conteúdo

Luiz Muller Blog

Voltar a Blog
Tela cheia Sugerir um artigo

Corpos nas ruas e nas casas, urubus entre mortos: o Equador pode ser o Brasil amanhã (Por Murilo Matias) vídeo

2 de Abril de 2020, 14:44 , por Luíz Müller Blog - | No one following this article yet.
Visualizado 12 vezes

No Diario do Centro do Mundo 

Urubus na Puente del Velero, Guayaquil

Para os próximos dias são esperadas quase três mil mortes na cidade que já convive com cadáveres nas ruas, desabastecimento e o medo do caos absoluto

Quando a chegada do Covid-19 começava a preocupar a América Latina o Equador foi o onde o alerta acendeu com mais força ao registrar os maiores números de disseminação em meados de março entre os países da região. Um mês depois a crise detonou em Guayaquil situações de absoluto descontrole com a impressionante queima de corpos nas ruas da cidade e o colapso do sistema de saúde e funerário.

“Guayas é a Lombardia da América Latina. Hospitais colapsados, com dezenas de cadáveres no chão, pessoas com defuntos em suas casa por até cinco dias esperando que o governo retire o cadáver para proceder ao enterro. Alguns corpos foram deixados ou queimados nas ruas. De acordo com um porta voz do governo são esperadas entre 2.500 e 3000 em Guayaquil mortes devido ao coronavírus”, afirma o deputado Héctor Yepes comparando a situação com a localidade mais afetada da Itália, com picos próximos de mil mortes ao dia.

Os números reconhecidos pelo governo apontando 98 mortos em todo o território  não convencem quando confrontados com a realidade de hospitais superlotados, funerárias sobrecarregas e solicitações não atendidas – num intervalo de 24 horas a Polícia registrou chamadas para retirar-se 450 cadáveres de dentro de lares somente em Guayaquil, a cidade mais populosa do país.

“Até poucos dias havia um cerco midiático enorme, mas os meios começam a dizer a verdade e contestam as cifras oficiais. Já não há como esconder, todos temos conhecidos  ou familiares de amigos que faleceram. Vivemos em constante estado de angústia e medo. Se fecharam as fronteiras da cidade, já há desabastecimento de frutas e verduras, me dá terror cada vez que preciso ir ao mercado. Estamos abandonados”, conta a advogada Maria Cecilia Herrera.

O toque de recolher encolhido para às 14h a nível local deixa as ruas vazias de pessoas enquanto circulam fotos de urubus em áreas nas quais haveria o descarte de corpos.

“O local de uma dessas fotos que percorrem o país e o mundo fica a duas quadras de minha casa, se chama Puente del Velero. Circularam imagens de outros também, com essas aves sobrevoando hospitais devido ao cheiro ocasionado por tantas mortes”, complementa Maria.

A avaliação de que o governo reacionou tarde para conter o vírus extrapola a pressão das redes sociais com #SOS Guayaquil e ameaça a instabilidade social diante das também frágeis medidas tomadas no campo econômico.

O bônus de 60 dólares a 400 mil famílias cadastradas ao sistema de seguridade, a nível nacional, deixa de fora enorme contingente da população, incluindo a maioria dos informais, seis em cada dez trabalhadores do país, além dos desempregados.

Cobrado pelas políticas neoliberais adotadas ao largo de sua gestão, incluindo o arrocho e demissões no setor da saúde, Lenín Moreno usa as redes sociais para tentar mostrar as ações empreendidas. “Reforçamos a atenção pela Covid19 em Guayaquil. O Hospital Monte Sinaí será exclusivo para casos confirmados. Terá mais de 130 camas e 37 unidades de cuidados intensivos. O pessoal médico contará com todos os insumos para garantir sua bioseguridade enquanto salva vidas”, tuitou em 31 de março.

A insegurança em relação à atuação do aparato estatal entretanto aumenta à medida em que as mortes avançam ao passo que faltam testes, materiais de segurança, afora a iminência de uma crise alimentar nas periferias urbanas e em comunidades indígenas e do interior.

A renúncia da então ministra da saúde,Catalina Andramuño, em 21 de março, alegando falta de financiamento estatal como uma das razões fundamentais para sua saída foi sintomática ao expor a errática postura que aflige grande parcela dos equatorianos.

“O governo não diz a verdade aos 16 milhões de cidadãos. Queremos o direito à vida de nós mesmos, de nossos pais e avós e não enterros dignos como fala esse presidente”, indigna-se o o estudante Diego Farfán Alvárez, da capital Quito referindo-se ao plano governamental de construção de um “campo santo” para enterros coletivos das vítimas da pandemia.

A situação no Equador, particularmente em Guayaquil, é excepcionalmente grave. Os vídeos são terríveis. Quem tiver estômago que clique na hashtag #EcuadorEnEmergencia. O quadro é tão dramático que fez um repórter ter um colapso emocional ao vivo. pic.twitter.com/CQpUxIr6Dc

— Alexandre Aguiar (@alexaguiarpoa) April 2, 2020

Fonte: https://luizmuller.com/2020/04/02/corpos-nas-ruas-e-nas-casas-urubus-entre-mortos-o-equador-pode-ser-o-brasil-amanha-por-murilo-matias-video/

Novidades