No dia seguinte à votação do infame PL da Dosimetria, parte do golpe continuado à democracia promovido pelo Centrão e pela extrema-direita, os noticiários já davam conta de que a votação veio em represália ao atraso nos pagamentos de emendas parlamentares. As malditas emendas parlamentares, que têm sido o pano de fundo das grandes barbáries da política brasileira nos últimos anos.
O governo federal, chantageado e de mãos atadas, fica sem dinheiro para investir porque o Congresso transformou o orçamento numa máquina de negociatas espúrias. Cada votação vira moeda de troca. Cada atraso vira ameaça. Cada deputado age como dono de um pedaço do Estado. É o dinheiro público sendo usado para manter estruturas de poder, não para melhorar a vida do povo.
Mesmo com todos os esforços dos governos Lula e Dilma, após o golpe de 2016 — que veio acompanhado de um ciclo brutal de retirada de direitos e aprofundamento da agenda neoliberal — nos deparamos com milhões de jovens mais pobres que seus pais. Isso dói, revolta e revela uma verdade incômoda: as elites econômicas e políticas brasileiras nunca tiveram, e nem permitem, um projeto que coloque a classe trabalhadora no centro do debate para um desenvolvimento socialmente justo e economicamente sustentável. O que existe é a velha captura do orçamento público por parte de quem sempre tratou nosso povo como moeda de troca.
Enquanto nós, operários e trabalhadores, batalhamos para sobreviver, cresce sem freio a “grilagem do orçamento” pelas emendas parlamentares. Em 2014, foram R$ 6,1 bilhões. Com o golpe de 2016, Temer e Bolsonaro institucionalizaram a sacanagem, dando superpoderes aos parlamentares, e em 2025 serão R$ 58,4 bilhões — recursos que deveriam construir escolas, hospitais, moradias e empregos, mas viram instrumento eleitoral de quem pensa primeiro em si e nunca no povo.
O efeito disso é devastador:
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Bloqueia o futuro do Brasil.
Bilhões que poderiam impulsionar o desenvolvimento acabam pulverizados para garantir votos, não direitos. -
Ameaça a democracia.
Deputados deixam de debater o país e passam a “comprar prestígio” com dinheiro público. O Parlamento vira balcão. O povo vira espectador.
E essa lógica é tão forte que contamina até quem deveria estar lutando por mudanças profundas. Por isso, é urgente recuperar o sentido original da política: organizar o povo, educar politicamente, enfrentar privilégios e disputar o rumo do país ao lado da classe trabalhadora.
Enquanto as emendas existirem, elas precisam ser retiradas das mãos do individualismo e colocadas sob controle popular. Que saiam do controle dos mandatos e fiquem sob responsabilidade do partido e, a partir das grandiosas experiências do Orçamento Participativo, façamos com que o povo decida integralmente o destino dos recursos. Que esse Orçamento Participativo volte a ser instrumento de mobilização, debate e construção coletiva — como nos ensinou Olívio Dutra: não existe “limonada” possível quando o limão é a própria lógica do privilégio e da apropriação individualista da coisa pública.
Hoje, os mandatos federais do PT administram cerca de R$ 450 milhões por ano em emendas. Esse valor, se planejado e deliberado com participação popular, pode transformar cidades, regiões e vidas. Pode gerar desenvolvimento real, não só placas e inaugurações vazias.
É isso que queremos: uma política que não busque o atalho, que olhe nos olhos do povo trabalhador, que explique de onde vem o dinheiro, para onde vai e como pode servir à maioria — e não aos de sempre.
Esse é o nosso compromisso: reconstruir um projeto de país baseado em justiça social, igualdade, solidariedade, democracia verdadeira e dignidade humana. Um Brasil que pertença àqueles que constroem sua riqueza com o próprio suor: a classe trabalhadora.
*Naiton Gama – É Operário, educador popular e militante do PT

