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Trama golpista faz Exército “mudar” batalhão dos “kids pretos”

10 de Março de 2025, 14:09 , por Luíz Müller Blog - | No one following this article yet.
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Depois da Intentona golpista, Será que adianta só “mudar” os Kids Pretos, como querem as Forças Armadas? Não seria melhor extinguir este “Batalhão Especial” que tem boa parte de sua Fomação feita nos EUA?

Por Caio de Freitas na Pública

Nos bastidores, a cúpula do Exército admite que as investigações sobre a trama golpista causarão mudanças na caserna. A Agência Pública apurou que, desde a apresentação do relatório final da Polícia Federal (PF) sobre o caso, em novembro de 2024, o comando militar ordenou uma revisão completa na estrutura e na formação das Forças Especiais do Exército, além de implementar alterações no Comando de Operações Especiais (Copesp), o reduto dos “kids pretos”.

Foi nas mesmas instalações do Copesp, em Goiânia, que o tenente-coronel Mauro Cid delatou ao Supremo Tribunal Federal (STF) que ouviu, pela primeira vez, militares das Forças Especiais sugerirem “causar o caos” para impedir a posse do presidente Lula (PT). O fato teria ocorrido em plena crise golpista do fim de 2022, como já reportado pela Pública.

POR QUE ISSO IMPORTA?
Ao menos 12 “kids pretos” foram denunciados por envolvimento na trama golpista que pretendia impedir que o resultado das eleições de 2022 fosse respeitado. Mudanças no batalhão e revisão na formação desses profissionais servem de indicativo de que ataques à democracia não devem passar impunes.
São esperadas mudanças significativas no Copesp para depois de março, mas já há alterações – ainda que tímidas – em andamento. As mudanças iniciais, as primeiras na formação dos “kids pretos” em mais de 15 anos, foram publicadas na edição de 20 de dezembro de 2024 do Boletim do Exército.

O número de vagas, porém, continua igual desde 2009: no máximo 24 vagas para sargentos e outras 24 para oficiais.

“Quem ensinará a nova doutrina, se não os mesmos oficiais que ensinavam a anterior? Para mim, o correto seria encerrar o batalhão”, afirmou Teixeira, que é também professor titular de história na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

“Um dos problemas é que o batalhão tem uma tradição de enviar oficiais para cursos no Exército dos Estados Unidos [em Fort Moore] desde os tempos da Escola das Américas, onde se passa uma noção de ‘ameaça interna’ aos militares latino-americanos. O curso nos EUA tem a função de direcionar eles contra aquilo que os americanos chamam de ‘forças subversivas’, mas das próprias sociedades em que se encontram… se a lógica do ‘inimigo interno’ for mantida, mudanças pontuais não vão adiantar”, disse o professor emérito da Eceme.


Curso de operações psicológicas sai do batalhão dos kids pretos
A Pública apurou que uma das primeiras mudanças em relação aos kids pretos foi a retirada do curso de operações psicológicas do Copesp. A unidade o abrigava desde 2017, quando o curso foi criado pelo então comandante do Exército general Eduardo Villas Bôas. De 2025 em diante, as atividades ocorrerão no Centro de Estudos de Pessoal da Força, no Rio de Janeiro. O Exército agora entende que “não é conveniente” que o curso ocorra “junto ao próprio batalhão”. 

A decisão passa também pelo caso do oficial que, até 8 de fevereiro de 2024, comandava o 1º (e único) Batalhão de Operações Psicológicas do Exército, em Goiânia: o tenente-coronel Guilherme Marques Almeida.

Como outros denunciados, o militar é mais um dos colegas de Mauro Cid na turma de formandos do ano de 2000 da Academia Militar das Agulhas Negras (Aman) envolvidos na trama golpista. A Procuradoria-Geral da República (PGR) denunciou Marques Almeida por suposta participação em “operações estratégicas de desinformação” na trama golpista. 

Durante o governo Bolsonaro, o tenente-coronel Marques Almeida cumpriu “missão” para o Exército Brasileiro atuando como instrutor na “Escola de Operações Psicológicas do Exército Peruano” durante parte do período da pandemia, entre maio de 2020 e janeiro de 2022, segundo o Diário Oficial da União. 

Tenente-coronel Marques Almeida, denunciado pela PGR por suposta participação em “operações estratégicas de desinformação”
A acusação da PGR se baseia, entre outros elementos, em áudios atribuídos ao tenente-coronel – nos quais ele dizia atuar para “influenciar” grupos mobilizados no WhatsApp com desinformações sobre as urnas.

Em um dos áudios obtidos pela PF, o militar especialista em operações psicológicas fala em “direcionar o povo” para “a frente do Congresso” e em “explorar a dimensão informacional” disso – nas palavras dele, essa seria “a nossa parte”, sem detalhes.

Em outro áudio, Marques Almeida descreve com exatidão as cenas que todos veriam no dia 8 de janeiro de 2023 em Brasília: uma multidão fora de controle invadindo as sedes dos Três Poderes, funcionando como um “mecanismo de pressão” contra a posse de Lula. “Dá pra fazer um ‘trabalho bom’ nisso aí”, disse ainda o militar.

Ao mesmo tempo que afirmava que os militares tinham “os meios e gente” para conduzir as atividades contra a posse do presidente eleito, o tenente-coronel disse que, “dentro das Forças Armadas, ninguém quer se arriscar” para não “acabar preso depois”.

A PF não informou a data da gravação dos áudios do militar, mas a denúncia da PGR sugere que o material foi produzido durante a crise do acampamento golpista no Quartel-General do Exército em Brasília, no fim de 2022.

Seis meses após o fatídico 8 de janeiro de 2023, Marques Almeida foi promovido a comandante do 1º Batalhão de Operações Psicológicas. A promoção foi publicada no Diário Oficial da União em 7 de junho de 2023, assinada pelo atual comandante do Exército, general Tomás Paiva.

Pouco depois, em fevereiro de 2024, o tenente-coronel foi um dos alvos da Operação Tempus Veritatis, da PF, noticiada pela Pública. Chama atenção que Marques Almeida foi removido do comando do batalhão no mesmo dia dessa operação, 8 de fevereiro de 2024, também a mando do comandante do Exército. 

A reportagem não localizou a defesa do tenente-coronel Guilherme Marques Almeida até a publicação desta reportagem. 


Exército quer revisão completa sobre “kids pretos” até março
As mudanças em andamento na unidade dos kids pretos começaram oficialmente em 13 de dezembro de 2024, com a criação de um grupo de trabalho para “levantar as ações visando o aprimoramento da capacidade de Operações Especiais” do Exército.

De acordo com o Boletim nº 51/2024, o grupo foi criado por ordem do Estado-Maior do Exército – responsável por elaborar a política militar terrestre e o planejamento estratégico e orientar o preparo e o emprego dos recursos.

O grupo tem de se reunir no quartel-general do Exército semanalmente e deve entregar um relatório final, “com todas as informações para a tomada de decisão” quanto à reestruturação do Copesp (desde seu ensino e doutrina até a sua estrutura e efetivo) até o próximo dia 28 de março.
O grupo de trabalho é coordenado pelo terceiro subchefe do Estado-Maior do Exército, general de divisão Jayro Rocha Júnior. O material de conclusão do grupo será submetido à chefia do Estado-Maior, a cargo do general e membro do Alto-Comando do Exército Richard Nunes.

“O relatório final [para o “aprimoramento” das Operações Especiais] deverá apresentar as conclusões acerca dos trabalhos realizados e a proposta de uma Diretriz específica sobre o tema”, de acordo com o que foi determinado pelo Comando do Exército.

Ao todo, o grupo de trabalho possui 12 oficiais, lotados no gabinete do comandante do Exército; no Centro de Inteligência e no Centro de Comunicação Social do Exército; no Comando de Operações Terrestres e no Comando Militar do Planalto (que gere as Forças Especiais); no Departamento de Educação e Cultura e no Departamento-Geral de Pessoal do Exército.

Vale lembrar: ao menos 12 kids pretos já foram denunciados por envolvimento na trama golpista. O número pode aumentar, dada a falta de respostas sobre quem são os militares que vigiaram e planejaram a “neutralização” (assassinato) do ministro Alexandre de Moraes, do STF, por meio da “operação Copa 2022”.

Procurado, o Exército ainda não se manifestou sobre as mudanças em andamento no batalhão dos kids pretos. Em caso de resposta, esta reportagem será atualizada.


Fonte: https://luizmuller.com/2025/03/10/trama-golpista-faz-exercito-mudar-batalhao-dos-kids-pretos/

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