ISIDRO JUNIOR (meu único irmão germano)

“Isidim”, assim nós chamávamos meu irmão menor quando éramos criança. Talvez porque nasceu prematuro (sete meses) e sofreu as conseqüências de várias carências comuns a muitos nordestinos pobres como nós, meu único irmão germano até hoje é mais magro, daí o diminutivo do nome. Isidro (esse da foto aí em cima) não parece gostar muito desse nome. Prefere ser chamado de Junior por alguns colegas. Mas na família é e sempre será Isidro ou “Isidim”. Acredito que esse desgosto se deva mais porque algumas pessoas não souberam pronunciar seu nome certo, ou às alcunhas que inventaram a partir do mal-entendido, como, por exemplo, “Isquisito”, com “i” mesmo, pra ficar mais parecido com o nome original. Pura brincadeira. Acredito que hoje ele não liga muito pra isso. Acho que se sente honrado por trazer o nome do nosso pai. Mexe muito com minha mente o porquê da escolha do nome de papai feito pelos meus avós em 1911. Variante ortográfica de Isidoro, que significa “dádiva de Isís”, deusa egípcia que quer dizer “Espírito Supremo”, o nome Isidro vem do grego.
Sem casa para morar, como eu, depois de ficar órfão de papai, aos 18 anos, “Isidim” também perambulou por casas de parentes. Vem, inclusive, tentar morar comigo em Maringá por volta de 1992. Naquela época não deu certo ficarmos juntos, sobretudo porque ainda tínhamos ninharias trazidas da infância e adolescência, competições normais entre irmãos, como gostos diferentes, por exemplo. Aí brigamos. Ele voltou pro Maranhão e depois foi pra Brasília. Essa é a explicação que minha consciência capita, mas o meu inconsciente tenta mostrar de outra forma o porquê de não termos morado juntos mais que nove meses debaixo do mesmo teto. Acredito que foi devido ao meu receio de não ter que presenciar (ou ser motivo de) possíveis infortúnios a que todos estamos sujeitos, principalmente aos ligados a falecimento, por exemplo. Este é um sentimento natural. Todos nós tememos a morte. Mas quem acabara de passar por tão horrendo sofrimento como o do fim do mestre-alfaiate Isidro, a pancada seria muito dura. Assim, é possível que os pequenos desentendimentos que provoquei, motivos de sua volta, tenham sido apenas para encobrir a verdadeira causa. Não me perdôo até hoje. Sempre me senti culpado pelos sofrimentos que Isidro Junior passou (e passa) em Brasília. É possível, até, (só indo ao psiquiatra pra ter certeza) que isso tenha se refletido no fato de que ainda não me casei.
Bom. O fato é que Isidro terminou indo pra Brasília e, segundo seu próprio relato, penou muito, chegando até a pedir comida nas casas alheias, mesmo tendo parentes próximos. Não que eu ache que os parentes lhe negariam um prato de comida, mas talvez isso tenha acontecido porque, como eu, também tenha se sentido abandonado por uma série de acontecimentos (o derradeiro deles, e talvez o determinante para aventurar-se mundo afora, como eu fiz, foi o fato de, depois da morte do nosso velho, não termos casa para morar).
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Mas o que vale é o que hoje está feito. Não teve condições de seguir os estudos (parou no 1º. Grau) – mês passado me ligou dizendo que vai volta a estudar em casa, acho que fará o supletivo. Por causa disso, não tem uma profissão específica. Já trabalhou em diversos serviços penosos. Hoje labuta como ajudante geral numa academia de ginástica de Taguatinga. Tenta conseguir ajuntar algumas economias a fim de levar à sua filha Sabrina, que mora com a mãe, que largou meu mano pra se juntar com outro. Devido a isso, o mano anda perdendo as esperanças de encontrar outra mulher (ele não confia mais na maioria delas). Quero falar-lhe, pessoalmente, para abandonar esta idéia, e volte a ter esperanças. E mais: que se espelhe no exemplo do pai, que, após ficar viúvo da primeira mulher, procurou nossa mãe, mesmo ela já trazendo dois filhos. Sou testemunha da fidelidade dele à mãe da menina, e de sua honestidade – esta última qualidade, diga-se de passagem, é a maior herança que nosso pai nos deixou; e é por isso que o Isidro Junior constitui, hoje, o maior depositário de confiança meu.
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Postado por Marcos "Maranhão" em 7 de janaeiro de 2008, às 18:29h






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