MARIA JOSÉ PEREIRA DA SILVA (minha mãe): uma história a ser investigada


Estas são as duas fotos que tenho de minha mãe - nessa da direita ela aparece de perfil junto com meu pai e eu, seis meses antes de sua morte. Um irmão matrilinear meu prometeu-me, quando passou um dia aqui em minha casa no ano passado, enviar-me uma cópia de outra foto onde ela aparece de corpo inteiro. Presumo que o fato de eu ainda não ter sido atendido na promessa que me foi feita seja pelo fato de que a rara imagem tenha se extraviado na casa do mano. Resta-me procurar nas casas de outros parentes maternos que sei devem ainda existir lá pelas bandas de Buriti Bravo, Maranhão, lugar que ainda não tive oportunidade de visitar. Planejo ir lá em breve.
A parte branca que ajudou a constituir-me vem dela. Os sobrenomes de seus pais e avós indicam origem européia - português (Pereira, Silva), celta e teutônico - indo-germânica (Coimbra, Rodrigues).
Nasceu em 1934 no lugar “Morrinhos”, cidade de Buriti Bravo, Maranhão. Colhi estas informações no seu Registro de Nascimento, 2ª via expedida em 1967, que guardo desde quando meu pai morreu (1987).
Depois de ficar viúva do seu primeiro marido (pai de meu mano supracitado), trazendo o casal de filhos cujo mais velho não passava de seis anos, minha mãe emigra (por volta de 1966) pra Caxias, no mesmo Estado, onde se junta com meu pai (também viúvo), com quem tem dois filhos: eu, primogênito, e Isidro Junior. Através das anotações de uma agenda de bolsa que pertencia a meu pai - documento importantíssimo que está sob a minha guarda -, fiquei sabendo que meus pais casaram-se em 15/06/1968 na Igraja (Capela Santo Antonio). No dia 03 de outubro de 1970 ela falece.
Dez dias antes de eu completar três anos, mamãe morreu. Durante boa parte de minha infância e adolescência eu cria na idéia de que lembrava dela em pelo menos duas ocasiões. Uma dessas “lembranças” seria dela me entregando um calção branco, para provar, que acabara de costurar (ela ajudava meu pai em sua profissão de alfaiate, deve ter aprendido com ele – meu pai me contava que ela fazia bordados pra vender). Mas a que me vinha mais à mente era ela no seu leito de morte: uma mulher de cabelos pretos, lisos e longos, deitada numa porta, (sim, uma porta, era comum naquela região se velar o defunto no meio da sala, estirado numa porta de madeira apoiada por quatro tamboretes, até ficar pronto o caixão). Mas acredito que foram fantasias que eu criei a partir de relatos ouvidos.
Toda vez que eu perguntava a meu pai sobre a causa da morte dela, eu ouvia: “Morreu do coração”. Detalhara-me ele que, numa noite em que ambos estavam sentados na porta de casa, para “pegar" o ventinho das nove, ela o deixou só, lá pelas 10 horas, dizendo que já ia deitar. Meia hora depois, meu pai entra no quarto e a encontra dando os últimos suspiros dentro de uma rede. Não dera tempo nem de o Dr. Marcelo, que morava há alguns quarteirões dali, chegar. Isso é tudo.
Na viagem que fiz ano passado ao Maranhão, descobri, ao conversar com o seu Antonino, um vizinho, que minha mãe era fumante cronicamente viciada. Dizia que ela fumava muitos cigarros durante o dia; que sempre estava na quitando do Seu “Riba” (pai do vizinho) comprando cigarros. Foi a primeira vez que fiquei sabendo disso. É possível que ela tenha adotado o vício durante os quatro anos em que viveu com meu pai, que era fumante. Não sei. É provável que o fumo tenha contribuído para a fraqueza de seu organismo (era magérrima, segundo relatos), mas não creio que tenha sido a causa única de seu falecimento, afinal, tinha 36 anos.
Na minha adolescência, a Dona “Lili”, uma senhora que hoje beira os cem anos, com quem estive nessa viagem recente, mas que aparentou não ter me reconhecido (vive na cama, muito debilitada), contou-me que Dona Maria José, quando, a muitas penas, conseguiu entrar na casa do meu pai pra viver com ele (meus manos paternos – eram sete – sempre foram contra a junção dos dois, quer quando eram amigados, quer quando casaram na Igreja), passou a conviver num clima de constantes brigas com os que ficaram na casa do pai – o primogênito era mais novo do que minha mãe apenas quatro anos. Isso é compreensível, até certo ponto, sobretudo pelo fato de que estavam órfãos de mãe havia dois a três anos, no máximo. Uma de minhas irmãs, mais ou menos com a mesma idade da mamãe, em suas constantes discussões com ela, chegou a ameaçá-la com uma tesoura – Dona “Lili” jurou-me ter visto esta cena da janela de sua casa, que dava de frente pra nossa.
O início do convívio dos meus pais não foi naquele casarão da esquina das Ruas Teixeira Mendes e Bom Pastor, no Centro de Caxias, mas em outras casas que ambos alugaram ali próximo, até que o bi-viúvo decidiu encarar os filhos e trazer a mulher pra dentro da casa que ainda lhe era de direito. Conta-se que no dia em que isso aconteceu os mais velhos que já eram casados, ou estavam separados, mas que ali residiam, saíram de casa.
Não posso fazer julgamentos apressados, mas acredito que a rejeição da madrasta de meus manos paternos (é bom lembrar que ela trazia mais duas bocas, além da sua) naquele lar, possa ter contribuído para seu fim. É possível que ela tenha se amargurado mais com tamanha rejeição. Queria apenas ter uma segunda chance depois que o seu primeiro marido sucumbiu, e viu isso quando o meu pai engraçou-se dela, certamente querendo salvá-la da prostituição, já que aquela rua era famosa.
Bom. O fato é que não tenho atestado de óbito dela. Em 1999 fui ao fórum de Caxias na expectativa de conseguir uma cópia deste documento. Não encontraram. Resta agora, nesta ânsia louca de querer investigar a História de Dona Maria José, procurar documentos e fazer entrevistas com contemporâneos seus quando eu puder viajar pra lá.
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Postado por Marcos "Maranhão" em 27 de dezembro de 2007, às 11:50h






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