Tenho por hábito ir à feira do produtor (nos fundos do ginásio Chico Neto) todo sábado de manhã, onde adquiro parte relevante dos hortifrutigranjeiros que consumo. Há três anos faço isso, desde que me mudei para a Zona Sete. Nesta feira circulam pessoas de todo tipo, com objetivos os mais variados; quase sempre compram as coisas como eu, e vão embora. Outras, no entanto, também comem pastéis na barraca perto da banca de revistas, após as compras. Há, ainda, as que vão ali apenas para consumirem tais frituras, como os jovens recém saídos de suas festas, geralmente bêbados, gritando alto.
Eram mais ou menos seis horas quando hoje me deparei com uma cena lamentável: um grupo de doze jovens, mais ou menos, duas ou três mulheres no meio, discutiam alto ao lado da barraca, na calçada, ao que parece, embriagados. Não deu pra ouvir muito o significado das palavras. De repente, a briga. Tapas e sopapos pra cá e pra lá. Foi aí que notei que daquele grupo apenas dois rapazes levavam a pior. Um ou dois faziam parte do “deixa disso”, o restante mais batia do que apanhava dos dois rapazes. Enquanto um era cercado por cinco brigões, caído no asfalto, entre os carros que esperavam o semáforo ser aberto, levando chutes e pontapés, o outro chegou a acertar com um capacete e um murro a cara de um dos três que o cercava, não sem antes ser alvejado com socos na boca, que ficou vermelha com o sangue entre os dentes.
Pois foi somente a esta altura, agora com os olhos de alguns freqüentadores da feira mais atentos, porém estáticos, que notei algo estranho que me fez gritar, uníssono, em meio aos barulhos dos xingamentos e lamentos dos lutadores e expectadores, “Polícia, chamem a polícia!”: os dois rapazes que apanhavam em rodas diferentes eram um negro e um pardo, com roupas simples, enquanto que os que batiam covardemente eram todos brancos, bem vestidos. A cena que me fez suspeitar de um ódio além do comum eu a assisti há dez metros de distância: um dos agressores brancos, o que levou a capacetada, sendo seguro por outros três, esbravejava, apontando para o homem pardo com o acessório da moto que serviu de arma - agora já sozinho, observando o colega que já levantara do asfalto e discutia com os cinco que o alvejara, todos indo à direção de seus carros nada modestos -: “Bandido! Você é um bandido! Vocês dois são bandidos! Bandido! Bandido, sujo!”.
Os dois afrodescendentes conseguiram montar numa moto e saíram jurando os adversários. Eu voltei à feira para terminar minhas compras e não pude deixar de reflexionar sobre esse lastimoso ato.
Postado por Marcos "Maranhão" em 04 de novembro de 2006, às 20:21h
COMENTÁRIOS
Márcio Maia disse...
Isso sempre acontece, não é só na Banca de Pastel ...Isso sempre acontece, não é só na Banca de Pastel da Feira, também acontece no Clube no Domingo, nas Escolas "públicas" (vendo os carrões que param na porta da escola para deixar de seus filhos, fica difícil entender o "pública") e privadas, no Shopping, na academia. Sempre houve isso onde há um "filhinho de papai" que não teve uma educação de qualidade (porque não houve limites colocados por seus tão ocupados e inteligentes pais, que sempre acharam que estavam educando muito bem seus "maravilhosos" filhinhos) coitadinhos né, precisamos entender, os Super-Pais que dizem: "Meu filho jamais faria isso". Isto é uma vergonha e deve ser combatida, não se pode assistir cenas como esta e ficar calado.
Sou branco, universitário, classe média-baixa, e nem por isso sou melhor que ninguém, no meu interior ainda consigo ser pior do que muitas outras pessoas.
20/11/06, às 09:09h
João Batista Cohen disse...
Você não viu nada! Experimenta (sendo um negro ou ...Você não viu nada! Experimenta (sendo um negro ou pardo) ir procurar emprego no mercado maringaense.
Já ouvi, de um empresário, dizer que os negros não são inteligentes e não tem a capacidade dos brancos e dos asiáticos. Ainda completou que os negros só são superiores - aos brancos e asiáticos - fisicamente.
Só sei que você tem que mostrar ser no mínimo 3 vezes melhor pra poder ter um reconhecimento, mas o salário não entra nesse reconhecimento.
Experimenta ainda ostentar algum status social/financeiro pra ver o que vão dizer de você!
20/11/06, às 14:53h
0sem comentários ainda
Por favor digite as duas palavras abaixo